A sala ficou em um silêncio profundo, depois que ela fez a pergunta. As palmas das mãos de Deirdre estavam cheias de suor e seu coração martelava rapidamente no peito.― Se você não quer responder à pergunta... ―― Eu não sou. ―De repente, uma voz veio da cama. Não era a voz fria e mecânica do telefone, mas a voz profunda e magnética de um homem. Kyran falou, mais uma vez:― Eu não sou mudo. ―Sua voz estava rouca, devido à sua condição. Embora Deirdre se sentisse surpresa com a resposta dele, ela ficou aliviada ao mesmo tempo. A voz era totalmente diferente da de Brendan.― Se você não é mudo, então por que não me contou sobre isso? Por que você sempre usa o telefone quando está falando comigo? ― Deirdre franziu a testa e o bombardeou com muitas perguntas. ― Do que você está com medo? ―Kyran olhou para ela e colocou o dedo em seu pescoço. Ele havia se preparado com antecedência para uma situação como aquela. Havia uma coisa que parecia um botão, em seu pescoço.― Ouça-me, De
― Sim. ― Kyran saiu da cama. Embora ainda sentisse tonturas de vez em quando, se firmou e caminhou em direção à sala de estar.Enquanto a senhora Cox se dirigia para a cozinha, ela disse:― Acabei de fazer canja de galinha, mas você precisa aguentar, pois minhas habilidades culinárias não são tão boas quanto as de Deirdre. Não tenho suas mãos mágicas que podem transformar até mesmo algo como couve de Bruxelas no prato mais saboroso do mundo. ―A luz nos olhos de Kyran diminuiu por um momento quando ele disse:― Não tem problema. ―― Ouvi dizer que ela está aprimorando suas habilidades culinárias diariamente por sua causa. Isso é verdade? ―Kyran foi pego de surpresa e Deirdre se virou apressadamente para olhar para Kyran quando ouviu o que a mulher dissera. Ela não podia ver a expressão do homem, então ela não sabia se Kyran se importaria com seu passado ou não. Afinal, ela havia vivido uma longa parte de sua vida por outro homem.― Senhora Cox... ―Quando ela se preparava para
‘Eu gosto de você, e seu casamento anterior não muda nada do que eu sinto.’Os olhos de Deirdre se arregalaram e ela teve vontade de chorar quando ouviu o que Kyran disse.Kyran passou os dedos pelo cabelo da jovem e continuou:― Então, não se preocupe com isso. Nunca pense que está fazendo algo ruim porque está escondendo isso de mim. Todo mundo tem segredos que não quer contar a ninguém, inclusive eu. ―― Inclusive você? ― Deirdre olhou para ele.― Sim. ― Kyran olhou fixamente em seus olhos e continuou. ― Também tenho meus segredos. ―Deirdre riu e ficou relaxada:― Você está se referindo a não me contar sobre o fato de que você não era mudo? ―Kyran ficou em silêncio por um momento e disse:― Também. ―― Isso é normal. Nessa situação, até eu escolheria não dizer a verdade. Além disso, você está procurando uma chance de me contar sobre isso. Você não estava planejando me manter no escuro para sempre. ―― Então você também não planejava me manter no escuro para sempre, cert
― Senhor Reed, seu remédio foi preparado. ―A senhora Cox serviu o remédio bem a tempo de ver o jovem casal se abraçando. Então disse:― Caramba, vim na hora errada? Sinto muito por incomodar. Vou bater, antes de entrar, da próxima vez. ―Deirdre não pôde deixar de se sentir envergonhada, enquanto Kyran afrouxava seu aperto sobre a jovem e dizia:― Não, imagina! Você veio na hora certa. É hora do meu remédio e descanso, de fato. ―A senhora Cox serviu o remédio amargo, e Kyran o engoliu de um só gole.Deirdre ficou surpresa, porque se lembrou de sua língua ficando dormente com o remédio amargo, quando o tomou. Entretanto, Kyran aceitou bem, terminando de um só gole sem parar antes de declarar que tinha tomado tudo.― Não é amargo? ―― Até que não. Tem um gosto muito melhor, comparado ao que eu tomava antes. ―A reação indiferente de Kyran, ao saborear o completo amargor, fez o peito de Deirdre apertar de ansiedade. Ela percebeu que o empresário devia ter passado por dificuldad
― Hmm... espero que tenha sido apenas um sonho também. ―Kyran levantou-se e sentiu-se tonto, mas não sentiu náuseas, como quando andou, no dia anterior.― Vá tomar um banho. Vamos arrumar nossas coisas e voltar para o hospital, o quanto antes. Acredito que Declan já tenha ficado impaciente de tanto esperar. ―― Claro. ―Naquele dia, a senhora Cox não saiu para fazer suas colheitas. Em vez disso, foi ao mercado comprar carne bovina e suína. Ela estava ocupada na cozinha desde o início da manhã.Deirdre sentiu o cheiro da comida quando entrou na cozinha e disse sorrindo:― Qual é a ocasião de hoje, senhora Cox? Por que sinto que a refeição de hoje é extraordinariamente farta? ―― O que você acha? É porque vocês vão embora. Eu pensei sobre isso e decidi me despedir com uma refeição deliciosa. Você não será maltratada em seu último dia aqui! ― A mulher tinha uma expressão radiante no rosto.Deirdre olhou para ela com um olhar gentil:― Oh não! Mas, você deve ter gastado muito din
Depois de examiná-la, o doutor Engle deu um sorriso caloroso e disse:― Você está se recuperando muito bem. Não haverá cicatrizes quando a cicatrização terminar. Isso deve acontecer nos próximos dois dias. ―Deirdre agradeceu ao médico, sorrindo e, naquele momento, doutor Engle notou algo e comentou:― Sua visão voltou? ―― Sim. ― Deirdre disse: ― No entanto, só consigo ver algumas cores claras e borradas, principalmente o contorno dos objetos, mas ainda não consigo ver nada com nitidez. ―― Como você perdeu a visão? ―Deirdre pensou, por um momento, em como responderia àquilo e virou-se para a área onde estava Kyran.Percebendo a insegurança da jovem, o médico disse, sorrindo:― Você pode optar por não responder se for inconveniente para você. Só estou pensando que deve haver esperança de recuperação para os olhos se você não nasceu cega. ―― Você acha mesmo? ― Deirdre segurou a bainha de sua blusa, com força. Era verdadeiramente torturante para ela não ser capaz de ver. Além
Deirdre se recuperou de sua surpresa e conseguiu perguntar.― O quê? ―― Você não perdeu a visão na prisão? Aconteceu alguma coisa com você que resultou em sua cegueira? ―O rosto de Deirdre ficou terrivelmente pálido, com a menção da prisão e ela fez o possível para aguentar, mas tudo o que aconteceu naquele período sombrio era insuportável demais para ser lembrado levianamente. A jovem tinha dificuldades de aceitar o passado onde era impotente. Afinal de contas, foi justamente a sua falta de força de vontade em se opor a Brendan que resultara no aborto, no espancamento, na cegueira e até na morte de sua mãe. ― Amor? ― Kyran podia sentir a mão de Deirdre tremendo. Ele franziu a testa e apertou com força e carinho. ― O que está acontecendo? Você não precisa falar sobre isso se não quiser. ―― Não há razão para eu não querer falar sobre isso. ― Deirdre reprimiu seu tremor e sorriu amargamente. ― É simplesmente embaraçoso. Ofendi Brendan e ele deu ordem para que me espancassem. No
Kyran falou tão rápido que Deirdre ficou atordoada e só ouviu o 'não sabia que era você'. Então, franziu as sobrancelhas e questionou:― O que você quer dizer com ‘não saber que era eu’? ―Kyran cerrou os punhos com força e seu olhar se tornou duro:― E se ele não soubesse que a ligação era sua? Talvez tivesse contratado alguém para tratar seus olhos se soubesse. É possível que ele não seja tão impiedoso a ponto de se apoderar de sua capacidade de ver... ―Deirdre riu:― É assim que eu costumava pensar. Afinal, éramos casados. Ele deveria ter alguns sentimentos por mim, depois de termos vivido tantas coisas, juntos, no mínimo, certo? No entanto, eu era muito ingênua. Charlene me disse isso... quando ele atendeu minha ligação a impaciência e o desgosto que ouvi em sua voz não eram fingidos. Não tive dúvidas de que ele só me repreenderia por estragar seu humor em um dia importante se eu lhe contasse o motivo da ligação. ―Ela ainda se lembrava do tom de voz de Brendan, talvez por c