Ayala Green Assim que chego na faculdade na manhã de segunda-feira, minha missão é clara: encontrar Martina e contar tudo sobre o que aconteceu no sábado. Eu a avisto perto do gramado, cercada de colegas que claramente adoram o jeito expansivo dela. Caminho rápido, tentando parecer despreocupada, mas o turbilhão de pensamentos não me deixa em paz.— Tina, não surta, mas... eu beijei o Caleb no sábado. — As palavras saem quase num sussurro, mas ainda assim cheias de peso.Martina para no ato, arregalando os olhos antes de bater palmas como se tivesse acabado de assistir a uma apresentação épica.— Aleluia, irmãos! — exclama, chamando atenção de quem passa.— Eu falei pra não surtar, garota! — tento conter sua empolgação, olhando ao redor para me certificar de que ninguém ouviu.— Desculpa, desculpa. Mas, Ayala, eu estava esperando por isso há séculos! Finalmente! — diz, ainda rindo. — Tá, mas agora me conta: e o pós? O que rolou depois?— Nada demais... — admito, encolhendo os ombros.
Ayala Green Chegar em casa sempre foi meu momento de descanso, mas hoje não. Aquelas palavras dele, “podemos conversar quando você chegar”, ficaram martelando na minha cabeça. Assim que abri a porta, meu coração parecia querer sair do peito. Lá estava ele, parado no meio da sala, nervoso, mexendo no cabelo, como sempre fazia quando estava prestes a falar algo difícil.Ele me olhou por um segundo e desviou o olhar. Não sei por que, mas isso me deixou ainda mais inquieta.— Precisamos conversar — ele começou, a voz baixa, mas firme.Eu respirei fundo e caminhei até o sofá, tentando parecer mais calma do que realmente estava.— Foi você quem disse isso, Caleb. Estou aqui. Fala.Ele suspirou, parecia estar procurando as palavras certas.— Sobre o beijo… — começou, mas antes que pudesse continuar, eu o interrompi.— Se você vai dizer que foi um erro, por favor, não diga.Ele levantou os olhos, finalmente me encarando de verdade.— Não foi um erro.Meu coração parou por um segundo.— Não?
Caleb Evans Minha cabeça estava um caos. Desde a noite passada, as palavras de Ayala pareciam um eco constante, reverberando entre todas as dúvidas e desculpas que eu costumava usar para justificar minha decisão de mantê-la longe. Era como se tudo o que ela tivesse dito estivesse me desafiando a reavaliar cada escolha, cada defesa que eu havia construído. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ela estava certa. Sabia que eu não podia continuar fugindo dela — ou de mim mesmo.Saí de casa cedo, com o objetivo simples de colocar alguma ordem nos meus pensamentos. Mas claro, minha vida não dava espaço nem para isso.O celular vibrou no bolso, e meu coração afundou ao ver quem estava ligando. Minha mãe. Suspirei antes de atender, sabendo exatamente o que viria.— Oi, mãe.— Caleb, você já conseguiu o dinheiro? — A voz dela soava impaciente, quase impessoal, como se a única coisa que nos ligasse fosse essa dívida que eu sentia que precisava pagar.— Sim, mãe. Eu vou te levar no domingo. Que hor
Caleb Evans A casa do Álvaro estava mergulhada em silêncio, e eu sentia um misto de alívio e nervosismo. Sexta-feira à noite era quando a cidade ganhava vida em suas sombras, e eu pretendia me infiltrar em uma dessas sombras: a corrida clandestina. Meu objetivo era claro: sair sem levantar suspeitas, especialmente de Ayala. Se havia um lugar onde eu não queria vê-la, era lá.Desci as escadas com cuidado, atento para não fazer barulho. A luz estava apagada, e eu me orientava pelo pouco brilho que vinha da janela. Quando cheguei ao último degrau, quase tive um infarto. Duas figuras me encaravam no escuro com rostos… perturbadores.— Caralho! Que susto! — exclamei, levando a mão ao peito. — Que merda é essa na cara de vocês?— Máscara facial, sabe, autocuidado. Amanhã é dia da seleção para as tears, e além de talento, queremos servir beleza — explicou Martina, divertida.— E você? Onde está indo a essas horas? — perguntou Ayala, cruzando os braços e me lançando aquele olhar curioso que
Ayala Green O campo de futebol americano estava lotado. O som das conversas, risadas e o ritmo acelerado das vozes preenchiam o ar enquanto os outros candidatos aguardavam sua vez. Eu estava nervosa, mas o sentimento que tomava conta de mim era mais forte que o medo — era a emoção de estar prestes a provar que eu tinha o que era necessário para ser a líder de torcida, para ser notada, para finalmente conseguir algo que me fizesse sentir parte de algo grande. A brisa fresca da manhã fazia o meu cabelo balançar suavemente enquanto eu me preparava para o teste. Eu usava o uniforme oficial para as provas, uma camiseta justa de cor vibrante, shorts curtos e tênis confortáveis. O traje, projetado para ser tanto prático quanto provocante, fazia com que eu me sentisse confiante, como se estivesse pronta para brilhar. Mas, no fundo, meu coração ainda batia forte — não só pela competição, mas por saber que, naquele campo, Caleb estaria me observando. Respirei fundo e dei um passo à frente,
Caleb Evans — Onde vai, saindo de fininho assim? — A voz de Álvaro me faz parar no meio do corredor.Viro lentamente, tentando mascarar minha surpresa. Ele está encostado no batente da porta do escritório, com a camisa parcialmente aberta e o olhar cansado, mas atento.— Vou dar uma volta com os caras de moto. — Respondo, casualmente, enfiando as mãos no bolso. — Achei que já estava dormindo.Ele ergue uma sobrancelha, desconfiado, mas mantém a expressão neutra.— Estou com um caso complicado para estudar. A noite vai ser longa.— Se ainda estiver acordado quando eu voltar, te ajudo. — Ofereço, tentando soar despreocupado enquanto desvio o olhar.— Vai se divertir e não se preocupe com isso. Só tome cuidado, viu? — O tom dele é firme, mas há um traço de preocupação que me atinge mais do que deveria.Faço um gesto de assentimento e me apresso em sair antes que ele faça mais perguntas. Não gosto de mentir para Álvaro, principalmente porque ele é a única pessoa que sempre me acolheu. A
Caleb Evans Estava terminando de organizar os documentos do caso com Álvaro quando meu celular começou a vibrar sobre a mesa. Olhei para a tela e vi o nome da Ayala piscando. Atendi no viva-voz, sem pensar muito. — Caaaaleb! — O jeito bêbado e manhoso dela quase me fez suspirar Álvaro parou de escrever, me olhando de lado com o cenho franzido. — O que foi, Ayala? — perguntei, tentando manter o tom casual, embora a preocupação já começasse a surgir. — Eu tô precisando de você… muito, muito mesmo. — Onde você tá? — Perguntei, me levantando imediatamente. A preocupação já estava ganhando espaço. — Na festa! Sabe… a iniciação das líderes de torcida… — A voz dela oscilava entre divertida e um pouco chorosa. — Vem me buscar, Caleb. Você é meu herói! Desliguei o viva-voz rápido, antes que Álvaro pegasse mais alguma coisa. — Tô indo, Ayala. Não sai daí, tá? Álvaro me lançou um olhar curioso. — Tá tudo bem? — Tá sim. Ela só quer que eu busque ela numa festa. — Respondi com a maior
Ayala Green Eram mais de três horas da tarde, e Caleb ainda não tinha saído do quarto. Meu pai dizia que era normal, que provavelmente ele tinha dormido tarde, mas eu sabia que não era isso. Alguma coisa estava errada, e a inquietação no meu peito só crescia. Caminhei até a porta do quarto dele e bati com força, a preocupação transbordando. — Caleb Evans, abre essa porta agora! Sai desse quarto! — minha voz estava firme, mas minha preocupação transparecia. Houve um som abafado, algo caindo no chão, e então a porta se abriu. Ele apareceu com o rosto marcado de cansaço, o cabelo bagunçado e apenas de bermuda. Seus olhos pesavam, como se carregassem o peso do mundo. — Finalmente! Achei que você tivesse morrido aí dentro, pelo amor de Deus! — passei por ele, empurrando-o levemente, entrando no quarto e abrindo a janela. O cheiro de quarto fechado me incomodava. — Eu te fiz um lanche. Ele apenas me lançou um olhar vazio. — Não tô com fome. Suspirei, me virando para encará-lo. — O