Quando Alice entra no quarto onde seu marido está sob observação, não consegue conter as lágrimas. Richard está acordado, mas seu semblante abatido e olhar distante revelam o efeito dos medicamentos. Ao vê-la, ele fica inquieto, levantando o braço com dificuldade e estendendo a mão, pedindo silenciosamente que ela se aproxime. No quarto, além de Richard, estão Elis, Abraham e Meredite, que chegaram às pressas assim que souberam do ocorrido. O ar é pesado; todos estão profundamente abalados e tristes.Alice se aproxima de Richard e segura sua mão com força.— Como você está? — pergunta, a voz trêmula, tenta conter o choro.— Eles bateram na porta e eu pensei ser você… por isso abri sem hesitar — começa Richard, com a voz carregada de arrependimento. — Mal abri a porta e já senti uma pancada na cabeça… — ele lamenta, as lágrimas escorrem pelo rosto. — Onde está nossa filha? — questiona, com preocupação evidente, enquanto aperta ainda mais a mão de Alice.— Ainda não a encontraram — resp
Na pequena casa isolada, distante da cidade, a manhã chega fria e silenciosa. Dora desperta cedo e, ao ouvir o silêncio no quarto, percebe que a criança ainda dorme. Após ter chorado a noite inteira sem receber nenhuma atenção, Lily finalmente se cansou e adormeceu, exausta.— É assim que os bebês devem se comportar, quietinhos no berço — murmura Dora, levantando-se para preparar o café da manhã.Antes de se dirigir à cozinha, ela liga o velho rádio que fica na sala. O som emitido por aquele rádio é a única coisa que consegue acalmar sua mente perturbada.Dora coloca a água do café para ferver no fogão a lenha, o único meio de aquecimento na pequena e antiga cozinha. Ela se senta na sua cadeira de balanço, pega o celular e começa a verificar as novidades do dia. Estranha ao ver várias chamadas perdidas de um número desconhecido, mas decide ignorá-las. Enquanto passa os olhos pelas atualizações nas redes sociais, percebe que Silvia, a mãe de Alice, ainda não postou nada sobre o estado
Abraham disse que quem age por conta própria tem mais êxito do que quem espera pelos outros, e foi exatamente o que aconteceu. Em apenas três horas de investigação, utilizando as mesmas informações que a polícia, os investigadores contratados por ele conseguiram localizar o criminoso que atentou contra a vida de George, feriu Richard e sequestrou a pequena Lily.Na delegacia, sob intensa pressão durante o interrogatório, o homem finalmente revela que Dora é a mandante de todos os crimes. O criminoso, identificado como Andreas, era um vizinho de longa data de Dora, um homem solitário, viciado em bebidas, jogos e drogas ilícitas. Desesperado por dinheiro fácil, Andreas já possuía passagens pela polícia por roubo e tentativa de homicídio. Ele conhecia bem a história entre Endrick e Alice, e sempre ouvia as queixas e o desejo de vingança de Dora. Percebendo que a mulher estava disposta a fazer qualquer coisa para se vingar, Andreas ofereceu seus “serviços” por uma quantia específica. Dora
Dora está tomando banho quando escuta um som estranho vindo de fora do banheiro. Sem hesitar, ela sai do chuveiro, sem sequer pegar uma toalha para se cobrir, e se apressa em direção ao quarto. Ao abrir a porta, encontra Lily, sentada no berço, imersa na escuridão do quarto. A pequena bebê a encara com um olhar assustado, e então começa a chorar. O som ecoa pelo ambiente sombrio.— De novo, menina? Meu Deus, que vontade de te arremessar contra essa parede para ver se para de chorar! — Dora resmunga, vasculhando o quarto à procura de uma roupa para vestir.Mais uma vez, ela escuta um barulho estranho e seu corpo se enrijece em alerta. Agradece mentalmente por não ligar o rádio naquele dia. Rapidamente, ela veste um vestido branco folgado, deixando seus cabelos grisalhos emaranhados e soltos, dando-lhe uma aparência ainda mais desleixada. Em seguida, pega Lily no colo e, com um movimento ágil, apanha uma faca que mantinha escondida atrás do travesseiro.— Acho que não estamos sozinhas,
A tensão cresce a cada segundo, envolvendo todos em um medo paralisante. Alice, com a mão pressionada contra o peito, sente o desespero tomando conta ao ver a lâmina da faca sendo apontada para a cabeça de sua filha.Ao ver sua filha nos braços de Dora, uma onda avassaladora de choque e desespero a atinge. Seu coração, já acelerado pela tensão, parece parar por um instante, antes de retomar em batidas tão fortes que quase doem em seu peito. Seus olhos se arregalam, fixando-se imediatamente na pequena Lily, que está tão indefesa e assustada. A visão da bebê, com os cabelos negros e os olhos azuis brilhando de medo, apertada contra a mão fria e cruel de Dora, é um golpe profundo para ela.As pernas de Alice fraquejam, quase incapazes de sustentá-la. Um tremor começa em suas mãos e se espalha por todo o corpo, como se estivesse à beira de um colapso. Sua respiração torna-se ofegante, rasgando sua garganta como se o ar fosse insuficiente para preencher seus pulmões. O pavor que a consome é
Ao perceber o movimento brusco de Dora, o policial, que já estava estrategicamente próximo, a imobiliza com rapidez, arrancando a faca de sua mão. Outros policiais se aproximam rapidamente e notam que Alice está manchada de sangue. Toda a cena é aterrorizante e se desenrola em questão de segundos.Lily começa a chorar, assustada pela queda ao chão, e Alice, mesmo ensanguentada, segura sua filha com toda a força e amor que possui.— Está tudo bem agora, meu amor. A mamãe está aqui — sussurra com ternura no ouvido da criança, tentando acalmá-la.— Chamem a ambulância agora mesmo! — ordena o chefe da operação, com urgência na voz. Laila e Abraham, que estavam afastados por orientação policial, se aproximam rapidamente. Abraham corre para pegar a neta nos braços de Alice e levá-la para a ambulância, onde poderá receber os primeiros cuidados. Enquanto isso, Laila se abaixa ao lado de Alice, observando com olhos alarmados o sangue que mancha sua amiga.— Onde ela te feriu? — pergunta Laila,
A estadia no hospital dura poucos dias, e George recebe alta para continuar sua recuperação em casa. Quando ele chega ao apartamento e encontra Alice e o restante da família, sente uma alegria imensa, mas logo nota, com estranheza, o hematoma na cabeça de Richard.Silvia percebe que é hora de contar ao marido toda a verdade sobre o que aconteceu desde que ele foi internado.— Eu não posso acreditar nisso — comenta George, aterrorizado pelas informações que acaba de receber. — Vocês deveriam ter me avisado sobre o que estava acontecendo.— Pelo amor de Deus, George! O que você poderia fazer no estado em que se encontrava? — questiona Silvia, com um tom de voz que mistura preocupação e firmeza.— Minha mãe tem razão, pai. O importante é que tudo está bem agora. Quero aproveitar que estamos todos juntos para curtir esse momento em família — comenta Alice, abraçando o pai com carinho.— Estou feliz por você estar aqui, filha, mas não posso ficar tranquilo sabendo as circunstâncias que a tr
— Não consigo acreditar que já estão voltando para os Estados Unidos — comenta Silvia, com lágrimas nos olhos, enquanto se despede da filha, do genro e da neta no aeroporto.— Em breve nos veremos de novo, mamãe. Esqueceu de que tem mais dois bebezinhos aqui dentro? — diz Alice, tocando suavemente sua barriga. — Eles vão adorar a ajuda e os cuidados da vovó.— Do jeito que as coisas estão, acho que vamos acabar nos mudando de vez — comenta Silvia, de forma enigmática.— Como assim? — pergunta Alice, surpresa com a revelação da mãe.— Com tudo o que aconteceu, eu e George percebemos que precisamos valorizar mais a nossa família — explica Silvia, com os olhos brilhando ao olhar para a filha e a neta. — Que sentido faz ficarmos aqui, tão longe, enquanto nossa única filha e nossos netos estão em outro país?— Está dizendo que vocês estão pensando em se mudar para os Estados Unidos? — questiona Alice, agora animada com a possibilidade.— Sim, minha filha. Seu pai já estava pensando em se a