Fernando
O beijo que passei o dia inteiro querendo repetir estava acontecendo novamente, mas como se algo estivesse errado, Cecí se afastou após algum tempo.
— Fiz alguma coisa errada? — A questionei incrédulo ainda com a respiração um pouco ofegante. Ela me olhava com um misto de sentimentos em seus grandes olhos verdes que eu tanto amava. Ela engoliu em seco e saiu, indo em direção a cozinha sem me responder.
A segui e insisti na pergunta um pouco mais apreensivo do que gostaria. — O que houve Ceci? — Ela novamente me encarou e disse que estava apenas cansada. Eu não engoli aquela mentira, mas se ela não queria, eu não tinha qualquer direito de insistir, então apenas acatei, balançando a cabeça numa afirmativa e me dirigi para a geladeira para iniciar o preparo do nosso jantar.
Em pouco mais de meia hora, a mesa estava posta e fui chamar Cecília no andar de cima. Ela havi
Cecília A noite foi lenta e perturbadora. Eu sabia que Nando entenderia o meu afastamento repentino, como algo ruim. E em partes, até era. Pra mim, estava sendo um martírio aliás. Mas eu não podia simplesmente ama-lo com todo o meu coração, e esconder um segredo tão grandioso como aquele, dele. Eu me sentiria uma mentirosa traíra. Por isso, achei que ir com mais calma, seria o ideal, já que desde que Leda me contara que certos segredos também cercavam Nando, eu sentia que precisava me preservar igualmente até que ele também se sentisse à vontade para me contar tais segredos, sejam eles, quais forem. Aproveitei a falta de sono por conta de sua ausência e iniciei mais uma vez a busca por telefones e sites de orfanatos que possivelmente eu talvez tenha deixado de ligar ou tenha deixado passar despercebido. Achei no máximo três que não lembrava de ter falado e anotei em um bloco de notas do meu próprio aparelho.
Fernando Cheguei na clínica mais feliz que o normal. Claro, depois do beijo de despedida que dei na minha Cecí, nada e nem ninguém poderiam estragar o meu dia. Foi o que eu pensei e até que durou por longas horas. Porém, toda alegria durava pouco em um mundo tão ruim não é mesmo? Alguns minutos depois de mim, Bia chegou e ficamos conversando até os primeiros clientes chegarem. Atendi o primeiro, o segundo e o terceiro e liberei minha nova assistente para almoçar. Estava indo cuidar dos filhotinhos que nessa semana mesmo já poderiam entrar para adoção, quando o sininho da porta me notificou a entrada de outro cliente. Bom, eu achei que era outro cliente, mas era àquele ao qual todo o meu maior desejo obscuro se concentrava. Fechei o punho ao me virar e dar de cara com Leonardo. Era mesmo muita cara de pau ele aparecer na minha frente depois de ter feito o que fez com a minha Cecília. Seus ferimentos da ú
Cecília Eu amava Fernando. Sim, eu já amava aquele homem. Mas eu não podia simplesmente jogar aquela bomba do nada no seu colo. Saberia que mesmo ele demonstrando me amar, não iria receber bem. Primeiro por eu ter mentido no nosso primeiro encontro, segundo que país adotivos normalmente não querem saber dos biológicos por medo de serem trocados. Por isso, eu e Leda conversamos e chegamos à conclusão de que a hora certa chegaria. Claro que eu sonhava em ter minha filha comigo por cada milésimo de segundo da minha vida dali pra frente, mas para tudo dar certo, precisaria aguentar tê-la somente por parte do dia enquanto eu era sua babá. Naquela manhã, eu não desgrudei dela, a observei em todos os seus movimentos como se eu nunca a tivesse visto. Percebi suas manias, suas preferências e gostos, senti o seu cheirinho e a olhei no fundo dos olhos por mais de uma vez, para que ela soubesse de ve
FernandoCheguei em casa nervoso. Durante o curto trajeto, pude analisar alguns acontecimentos e o meu medo de Leonardo estar falando a verdade, intensificou. Nada fazia sentido por enquanto, mas o medo de perder minha filha me cegava.Abri a porta de supetão e Leda veio ao meu encontro. Vi Cecí com Aurora no colo e meu corpo gelou só de lembrar das palavras de Leonardo. Fui até ela e pedi que me entregasse a menina, ela se negou em um primeiro momento e eu não gostei daquilo. A questionei e tudo em seguida agora parecia um grande borrão na minha mente.Minha cabeça latejava de tanta dor, Leda me seguia, falando sem parar alguma coisa que eu não conseguia entender. Um zumbido e um apito invadiam meus ouvidos. Já estava no quarto de Aurora colocando-a no berço, quando eu voltei a realidade com a minha bebezinha chorando e eu caindo sentado na mesma poltrona que um
Cecília Alguns dias se passaram desde aquele trágico dia em que meus piores pesadelos se tornaram realidade e em nenhum sequer, eu parei de chorar. Ter minha filha sendo tirada dos meus braços novamente, era o pior castigo que eu poderia sofrer. Obviamente, deixei de ir trabalhar na casa dele. O jeito como me tratou, como insinuou que eu roubaria sua filha... Minha filha, era doloroso demais! Estava magoada e não conseguia perdoar ele por enquanto. O amava ainda, não tinha dúvidas, mas precisava pensar. Se ele tinha sido capaz de duvidar de mim, acreditando em Leonardo, eu não saberia dizer se conhecia mesmo o Fernando. Leda havia tentado me ligar por várias vezes, mensagens de Fernando chegaram por dias, mas não abri nenhuma. Bia as vezes vinha com alguma novidade da clínica, mas eu desviava o assunto. Quanto menos eu soubesse, menos eu iria sofrer. Acreditei nisso pelo menos nas duas primeiras
Fernando Após o ocorrido ali na praça, recomendei que fossemos pra casa continuar nossa conversa que mal começara, para nos entendermos em segurança. De fato, aquela era a real intenção de tal pedido, mas a segunda e oculta intenção, era a que eu mais esperava e desejava enquanto olhava aquela mulher. Sabia que não era o momento de pedir o que pretendia e sabia o que ela falaria, mas tínhamos que ir à delegacia novamente abrir uma nova ocorrência. Uma hora, eu tenho certeza que acharíamos um polícia não corrupto e comprado pela tropa de Leonardo. Percorremos o trajeto pra casa em total silêncio, a não ser pelo barulhinho das teclas do meu celular digitando uma mensagem para Leda. Se elas voltassem para onde estávamos e não nos vis
Cecília Despertei mais feliz do que qualquer outro dia da minha vida. Abri os olhos lentamente com medo de aquilo tudo não ter passado de um sonho, mas logo pude sentir os braços de Fernando em volta do meu corpo, me abraçando enquanto dormíamos. Eu não sei se era possível, mas aquela noite tinha sido melhor do que a nossa primeira e ainda melhor do que toda aquela tarde anterior. Cada segundo com Nando era uma nova aventura sendo descoberta. Eu nunca tinha sido tão amada e feliz em toda a minha vida. Parte do que eu mais precisava e desejava estava ali, dentro daquela casa. Minha filha e o homem mais perfeito que já cruzou o meu caminho. Girei sutilmente dentro dos seus braços para ficar de frente pra ele e poder apreciar toda aquela beleza sobre-humana. Sem conseguir resistir, o beijei delicadamente segurando seu rosto com uma das mãos. Por sorte ele não acordou, então repeti mais uma vez, e mais uma, e outra. Eu não
Fernando A noite anterior foi deliciosa e encantadora. Conhecer os pais daquela mulher incrível, só me fez ter mais certeza de que ela não poderia ser diferente. Sua mãe era tão encantadora quanto ela e até mesmo seu pai, que em um primeiro momento, como todo sogro não gostou do seu genro, acredito que eu já havia conquistado sua confiança. Ainda mais depois da longa conversa que tivemos na varanda da casa depois que Cecí foi se deitar com Aurora. Nossa conversa variou de sua filha para sua neta, debatendo até com qual nome continuaríamos à chama-la. Disse que Cecí decidiria isso e eu aceitaria de todo o coração. Fui deitar logo depois na cama de baixo da de Cecí e até eu pegar no sono, fiquei admirando-a sob a luz do luar. Não sei em que momento aconteceu, mas amanhecemos na mesma cama, abraçados. Saberia se tivesse acontecido algo a mais ali, então suspeitei que ela apenas descera para deixar Aurora mais confortável n