Sentiu vontade de ser beijada por aquele homem, algo que nunca aconteceu na sua vida. Tivera alguns namoradinhos, mas nunca sentiu algo parecido por qualquer um deles, pois ela não tinha com eles aquela conversa madura que ela amava ter com seu amigo Said Moabit.
Então, por mais que ela pensasse, ela jamais imaginou que pudesse ser Said o homem por detrás daquela máscara. Gostaria que ele nem estivesse vendo, pois temia que a reconhecesse.
Quando ela mal deixou de pensar, de repente faltou luz misteriosamente. Ninguém sabia se faltou em toda a cidade, mas tudo indicava que sim. As pessoas entraram em pânico dentro do salão. Então, ele a segurou pelo braço e disse:
— Vamos sair daqui, venha! — Ele foi levando-a com cuidado e saíram pela porta dos fundos, pois ele conhecia bem aquele ambiente.
Depois que eles saíram do salão, foram a um campo aberto em que havia um gramado.
E os dois se deitaram na grama. Andressa ainda sentia o coração bater forte por estar vivendo uma aventura igual à que constava em seus sonhos.
Era arriscado estar com um homem que nem conhecia, só sabia que ele se chamava Fernando Henrique, mas porque daquela sensação de que ele não era estranho? A voz era muito familiar! Como estava com a cerveja na cabeça não conseguia ter um raciocínio adequado para ter certeza de quem era e não quis estragar o clima. Preferia acreditar que era um estranho. Said Moabit pensava o mesmo:
— "Por que inventei esse nome? Amanhã estarei me casando”.
Enquanto olhava as estrelas, sentindo o doce perfume de Helena, percebeu que aquela mulher misteriosa o fez se sentir traído pelos próprios sentimentos.
Até aquele momento, jurava que a mulher da sua vida era Vanda, e por se casar com ela no dia seguinte, não podia estar tão enganado! Mas ele sentia atração irresistível por Helena.
Aquela vontade de beijá-la. Os dois sentiam os corpos ardendo em um desejo louco, dominando ambos que tremiam com a emoção à flor da pele, um confiava no outro e se sentiam seguros juntos.
Enquanto isso, as pessoas continuavam correndo para todos os lados no salão, sem saberem o que, de fato, aconteceu. Enquanto Fernando Henrique e Helena estavam ali deitados na grama como dois velhos amigos, Said Moabit lembrou de Andressa, e Andressa se lembrou de Said Moabit, que quando crianças costumavam fazer deitar sobre o gramado e olhar as estrelas, perguntando-se quem foi que as criou. Andressa sentiu vontade de comentar esse fato, mas pensou que não era apropriado, pois era melhor curtir aquele momento, não sair de perto dele.
Queria amanhecer naquele lugar e que o mundo a esquecesse naquele momento. Said Moabit tomou a palavra e disse o que estava sentindo, porém, ocultando que se casaria no dia seguinte.
— Sabe Helena, eu preciso falar algo antes que eu enlouqueça! Nunca aconteceu isso comigo, já namorei uma moça e jurava que a amava, mas agora não tenho mais certeza se ainda a amo, depois que te conheci!
— Porque está me dizendo isso?
— Sou um homem prático, mas também sonhador e romântico, mas apenas você sabe desse segredo, embora eu não te conheça, mas sinto que posso confiar em você. Não sei se vamos nos ver um dia novamente, mas o que importa é que nunca senti o que estou sentindo agora. E nem sei se é amor à primeira vista, ou atração, mas coloque a mão aqui no meu peito, e sinta meu coração bater!
Ela colocou a mão no peito dele, e sentiu que realmente batia descompassado igual ao dela. Andressa não entendia por que estava tendo aquela sensação gostosa, pedindo para ser beijada.
Sua deusa íntima implorava por um beijo daqueles que nem em sonhos imaginou ter, os dois movidos por uma atração irresistível.
Ele a puxou para si, dando um beijo ardente sem a deixar respirar. O corpo reagiu freneticamente. Lábios com lábios, língua enroscando na outra, o calor subindo por entre as pernas, pele enrijecendo lentamente, sentindo um arrepio em cada um dos poros. Os dois estavam perdendo o controle de tudo. Não sabiam quem eram naquele momento! Não queriam saber de mais nada, dois corpos colados um no outro.
A doce sensação de liberdade fazendo-os irem às nuvens. Era bom demais estarem a sós, e apenas as estrelas como testemunhas. Enquanto as pessoas no salão se desesperavam por falta de luz, os dois não estavam se importando. Eram eles e mais ninguém naquele gramado molhado pelo sereno da noite de lua cheia. Tudo conspirava, inclusive o cupido do amor, que estava trabalhando a favor deles dois, que não queriam ser interrompidos por mais ninguém.
Não queriam saber de gritos de pessoas desesperadas no escuro do salão. Para eles dois o amanhã não existia mais.
Se o mundo acabasse naquele momento, com certeza morreriam felizes, porque ali não estava Andressa, e nem Said Moabit, e sim Helena e Fernando Henrique, pois se fossem Andressa e Said Moabit jamais chegariam àquele ponto, porque estavam impedidos pelos conceitos e princípios éticos, além de colocarem a amizade acima de tudo, e não deixariam que uma noite de prazer estragasse aquele amor tão bonito que existia entre os dois.
Fernando Henrique e Helena agora eram livres, desimpedidos, sem compromisso com a ética e com o mundo. Eram livres para amar e serem amados, sem censura, sem cortes, agora era corpo com corpo e alma com alma, não havia mais barreira entre os dois. Sob o brilho das estrelas estavam em êxtase. Viajavam em outros planetas pela margem da escuridão, mas a lua cheia fazia questão de cuidar, enquanto o destino escrevia um novo capítulo para ambos. O calor dos corpos ardentes dominava-os, ele tocava o rosto dela carinhosamente, olhando nos olhos que brilhavam iguais as estrelas. E, sentia o fogo da paixão inesperada que surgiu misteriosamente sem ser convidada. Ele beijou delicadamente o corpo de Helena, e sentiu o coração bater cada vez mais forte. Naquele instante, eles pertenciam um ao outro, dois corpos ofegantes entregues à doce e louca paixão. Fernando Henrique dizia: — A partir de hoje sou só seu, e você será só minha. Quero você para sempre, nunca vou te esquecer, aconteça o que a
Como dizer a ele que foi movida por um impulso? O que ele pensaria dela? Uma devassa? Que decepção ele sentiria dela! Então ela pensava: — “Não, isso nunca! Esse segredo vai morrer comigo, ninguém nessa cidade pode saber o que eu fiz”. Mas como esquecer aquele momento mágico? Nunca esqueceria aqueles beijos quentes. Sentiu um orgasmo tão intenso que a fez ir até às nuvens ou à lua, tanto faz. Era, a partir daquele instante, uma mulher, diga-se de passagem. Uma mulher livre e não era mais uma carola, mas pensava nas consequências caso alguém a tivesse visto e a tenha reconhecido. Mas sabia que não, mesmo porque do jeito que a olhavam, com certeza não a reconheceram. Então, ela foi para casa dormir. Entrou com passos leves, sem que ninguém a visse, seus pais e seus irmãos estavam em um sono pesado. Entrou em seu quarto, colocou seu vestido sujo de sangue em uma cesta e no dia seguinte o lavaria para que ninguém desconfiasse, pois da sua intimidade ninguém precisava saber. Deitou-s
Said Moabit precisava desabafar com alguém e nada melhor do que se abrir com Arthur, que saberia guardar o seu segredo “a sete chaves”, pois era um assunto delicado, e precisava desabafar antes que enlouquecesse, Para tanto, ele foi ao cafezal, onde Arthur trabalhava. — Olá, amigo, como está? — Perguntou Arthur ao ver seu amigo Said Moabit se aproximar. — Vou indo! E você, trabalhando muito? — Sim, como sempre, mas o que te traz aqui? Está com cara de preocupação! Hoje não é o dia do seu casamento? — Nem sei se vai haver casamento! — Como assim, não haverá mais casamento? —Perguntou Arthur, espantado. — Olha, amigo, é uma longa história, mas preciso desabafar! Depois quero a sua opinião! — Está bem, vamos sentar e tomar um café, então você me conta o que aconteceu! Parece preocupante! O que houve a ponto de querer cancelar seu casamento? — É uma longa história! — Então, me conta, pois estou curioso! — Bom, ontem fui ao baile de despedida de solteiro e eu estava convicto de qu
O casamento foi um grande acontecimento. Vanda estava mais linda do que nunca, e feliz, embora seu sonho fosse se casar com Said Moabit mais por interesse e vaidade do que por amor. Quando viu Arthur sentiu um aperto no coração, pois desejava que ele estivesse no lugar de Said Moabit, mas naquele momento ela tinha que esquecer essa ideia, não podia se trair. Logo, estaria longe da cidade, e com certeza feliz ao lado de Said Moabit, e se esqueceria de Arthur, porque ele não tinha condições de dar a vida que ela sempre sonhou, e com Said Moabit estava realizando o seu sonho de princesa, estando ao lado do homem dos sonhos desde criança, pois ela sempre quis encontrar um homem rico, bonito e bem-sucedido. E Said Moabit se encaixava perfeitamente naquilo que ela desejou, embora seu coração estivesse amando outro homem. Os que estavam presentes ficaram encantados com a decoração e com o luxo, pois parecia o casamento de alguém famoso. Said Moabit estava bem elegante, mas para a surpres
— Bernardo? — Gritou Dionísio! — Sim, papai. Ele se chama Bernardo! — Onde ele mora? — Pai, não sei onde ele mora, nós apenas saímos para beber, ficamos uma vez e aconteceu! Não planejei isso, meu pai! — Aconteceu! Bom, como aconteceu não importa, quero saber onde ele mora e o que ele faz, queremos resolver isso de uma vez por todas, filha minha não fica como mãe solteira! — Mas pai! Eu não o amo, nem sei porque aconteceu, foi uma falha minha! — E o que nós, a sua família, temos a ver com a sua falha? Se falhou, vai ter que assumir suas responsabilidades, pois não fez o filho sozinha. Esse Bernardo vai ter que assumir essa criança, e assunto encerrado. Amanhã mesmo vamos em busca desse tal de Bernardo! Portanto, quero saber de que cidade ele veio? — Perguntou ele, deixando Andressa, mais uma vez, em um beco sem saída. — Pai, era à noite em uma festa, nem me lembro quando foi, só sei que aconteceu! — Não interessa como aconteceu, agora ele vai ter que assumir, filha minha não fi
O que ele pensaria de mim? Logo eu, uma moça recatada cheia de princípios, se envolver com um estranho que mal chegou à cidade” Sentia falta dele, amigo e companheiro de todas as horas, com quem podia desabafar, contar seus problemas e pedir conselhos. Mas agora ele estava casado com aquela antipática Vanda. E se perguntava: — Será que ele está feliz com ela? Sozinha teria que enfrentar os problemas de ser uma mãe solteira, ainda mais naquela cidade cheia de pessoas fofoqueiras que gostavam mais de cuidar da vida dos outros do que da própria vida. Ela sabia muito bem os preconceitos que estava prestes a enfrentar. E, como seria a vida do seu filho? Só de pensar tinha vontade de sumir. E, ir pra cidade grande sem ninguém saber, sumir pelo mundo afora para fugir daquela gente maldosa que gostava de cuidar da vida dos outros, como se ser mãe solteira fosse um dos piores pecados. Ela refletia: — Quantos casamentos infelizes e traições que havia na cidade? Então prefiro ser mãe solteir
Andressa, com a barriga enorme, sentia dificuldade até para caminhar, mas nada tirava o seu ânimo. Mesmo as pessoas lhe dirigindo um olhar atravessado, julgando-a por ser uma mulher sem marido que dependia dos pais para sobreviver, ela continuava feliz com a sua gravidez, pois tinha o carinho de toda a família, de seus amigos, principalmente de Eliana, sua melhor amiga, que se ofereceu para ser a madrinha de batismo do futuro herdeiro. Eliana, com o passar do tempo, descobriu que nunca amou Said Moabit como ela imaginava e, sim, o irmão de Andressa, que por sua vez, percebia as pessoas agindo com indiferença para com a sua irmã, pois toda vez que ela ia para a cidade, as pessoas a olhavam da cabeça aos pés, e cochichavam em tom de deboche e de discriminação por ela ser futura mãe solteira. Mas na opinião dela, essas pessoas tinham pensamentos pequenos. As mães que acompanhavam seus filhos tapavam os seus pequenos olhos, e falavam: — Não olhe para essa
Dionísio foi chamar Andressa, que sentiu seu coração bater mais forte ao saber que seu amigo Said Moabit finalmente “deu as caras” desde que se casou, pois eles nunca mais se falaram, e ela sentia saudades como nunca sentiu. E como ela gostaria que ele estivesse por perto, principalmente nessa hora, queria que Said Moabit fosse padrinho do seu filho, mas não era possível escolhê-lo, pois ele era casado com Vanda, a mulher de quem ela não gostava. Mesmo com as ideias a mil, ela foi atender o telefone com seu coração apertado, devido à vergonha pelo que fizera. Além disso, ela tinha que ocultar a sua história com Fernando Henrique, e afirmar que engravidou de um desconhecido chamado Bernardo. — Alô, Said? Como você está, meu amigo? Que saudade! — Estou bem, trabalhando muito e com saudades de você, bruxinha! Nunca me esqueci das nossas conversas. Sinto sua falta! — Said Moabit foi sincero e as lágrimas desciam do seu rosto, coisa que ele nunca fez, pois não era um homem de chorar. No