E a outra queria ser liberal, mais ousada, corajosa e decidida. Sonhava em conhecer o mundo, viajar, visitar novos lugares, pessoas, ter novas conquistas, ser diferente e dona de si.
Deixar aquele mundo sem cores para trás. E aquela noite estava tendo oportunidade de sair daquela rotina. Então, os dois se aproximaram, um olhando nos olhos do outro, e ambos percebiam uma força que os puxava para um encontro.
Nenhum e nem outro entendia o porquê daquela atração irresistível. Esqueceram o mundo lá fora. Estavam perto um do outro. E ele, como um cavalheiro, convidou-a para dançar, e ela gentilmente aceitou.
Enquanto dançavam, o coração de Andressa batia forte em seu peito e foi invadida por uma emoção diferente como nunca sentiu em toda sua vida.
Não sabia qual sentimento, a maneira como aquele homem misterioso conduziria a dança, quando a tocou na mão beijando com carinho e olhando nos olhos. Sentia-se hipnotizada, sendo levada por um anjo, devido à delicadeza e cavalheirismo por parte dele, que começou a falar em seus ouvidos palavras doces e suaves, que lhe causaram delírio, devido à tamanha gentileza.
— Nossa, como é bom o perfume que você está usando! Por acaso é perfume jasmim?
— Sim, — disse ela, nervosa.
— Como você se chama? — Perguntou ele.
— Andressa se encontrou em um “beco sem saída”, pois ninguém podia saber que ela era Andressa.
Então, precisava criar um personagem! Uma nova mulher querendo sair da casca do ovo, e poder voar.
Naquela noite ela seria livre. Andressa toda convencional, cheia de princípios, de ética, tímida e recheada de regras e de bons costumes, estava em casa dormindo como seus pais e seus irmãos imaginavam. Segundo eles, ela estava sonhando com os anjos.
Entretanto, ela se encontrava diante do cavaleiro misterioso e sedutor. Livre e desimpedida, sem compromisso com a ética ou com a moral e bom costume.
Naquela balada ela era outra mulher. Uma estranha presa dentro de si, mais sensual, linda e cheia de vida, mas que era impedida de fazer o que gostava por obedecer aos conceitos e os princípios da ética. Então, surgiu a oportunidade de se libertar e de se entregar a um novo destino, um novo caminho.
Na cidade, todos a conheciam de uma maneira peculiar, pois devido a ela sempre usar cabelo preso, vestido longo e não usar maquiagem, todos a chamavam de bicho do mato, ou até mesmo de carola.
Mas mesmo assim, ela não deixava de ser uma mulher linda e interessante, que despertava o interesse e a cobiça nos homens. Embora não sendo aquela mulher sensual, mas que era uma ameaça para todas as mulheres em sua volta. Naquele instante sem ter medo de ser julgada, ela respondeu:
— Me chamo Helena, e você?
— Fernando Henrique, prazer!
— O prazer é meu. De onde você é?
— Sou de Curitiba! Estou pesquisando alguns terrenos aqui nesta cidade, pois pretendo fazer uma ponte. Sou engenheiro e arquiteto, e você é de onde?
— Vim de Concórdia, Santa Catarina. Estou a passeio por essa cidade, mas amanhã estarei voltando! — Andressa não estava gostando de estar inventando aquela história. Queria jogar limpo, dizer que se chamava Andressa, mas agora o mal estava feito, e não tinha como mudar de ideia, portanto, ela iria até o fim.
Afinal, naquela noite, ela queria fazer algo diferente, sair um pouco da rotina cansativa. E por ser uma festa de despedida, ela também queria se despedir daquela monotonia. Logo, para todos os efeitos, ela se chamava Helena, cujo nome ela amava.
Só não sabia o motivo, mas percebia uma sensação de poder quando o pronunciava, e sentia uma nova mulher surgindo dentro dela.
De cabelos presos, na forma que ela costumava usar, naquela noite ela o soltou, e por ele ser longo, cobria as costas. Estava mais linda do que nunca. Sentia-se livre do peso dos conceitos criados pela sociedade e dela mesma.
Mas não entendia porque estava se sentindo seduzida por aquele misterioso homem e o porquê de estar sentindo que conhecia aquela voz grossa, macia e sedutora. Mas naquele momento não estava interessada em saber quem era. O objetivo era curtir o momento.
Ao dançar com ele, ela se sentia protegida e desejada ao mesmo tempo, percebeu que ele também estava se sentindo atraído por ela.
Já Said, que também criou um personagem chamado Fernando Henrique, teve que mudar um pouco a sua voz para não ser reconhecido.
— Nossa, nunca fui romântico, sou prático e objetivo quando alguém me atrai, confesso! Não sei explicar o que estou sentindo por você, embora eu não te conheça! Nem sei de onde você é, mas estou me sentindo atraído por você!
— Porque está dizendo isso se nem me conhece, e eu nem conheço você?
— Aí é que está! Conheço muitos que estão casados há muitos anos e convivem sem se conhecerem a fundo!
— É verdade, você tem razão!
— Agem como duas pessoas estranhas. No começo, tudo é maravilha, mas depois que acaba o mel, vêm os defeitos que um esconde do outro. Resumindo, deveriam jogar limpo desde o começo, mostrando os seus defeitos, mas parece que preferem mostrar apenas as suas qualidades, escondendo os defeitos por debaixo do tapete!
— Concordo com a sua teoria, é bem assim mesmo que acontece hoje em dia; infelizmente!
À medida em que a música prosseguia, os dois continuavam dançando e trocando ideias como dois velhos amigos, mas a atração aumentava cada vez mais. Andressa sentia o coração bater mais forte, e não entendia o porquê daquele sentimento repentino.
Mal conhecia aquele homem misterioso, só percebia o olhar, pois o bigode e o rosto eram cobertos por uma máscara do zorro. Somente os lábios que podiam ser vistos, e aqueles lábios não eram estranhos.
Sentiu vontade de ser beijada por aquele homem, algo que nunca aconteceu na sua vida. Tivera alguns namoradinhos, mas nunca sentiu algo parecido por qualquer um deles, pois ela não tinha com eles aquela conversa madura que ela amava ter com seu amigo Said Moabit. Então, por mais que ela pensasse, ela jamais imaginou que pudesse ser Said o homem por detrás daquela máscara. Gostaria que ele nem estivesse vendo, pois temia que a reconhecesse. Quando ela mal deixou de pensar, de repente faltou luz misteriosamente. Ninguém sabia se faltou em toda a cidade, mas tudo indicava que sim. As pessoas entraram em pânico dentro do salão. Então, ele a segurou pelo braço e disse: — Vamos sair daqui, venha! — Ele foi levando-a com cuidado e saíram pela porta dos fundos, pois ele conhecia bem aquele ambiente. Depois que eles saíram do salão, foram a um campo aberto em que havia um gramado. E os dois se deitaram na grama. Andressa ainda sentia o coração bater forte por estar vivendo uma aventura igu
Fernando Henrique e Helena agora eram livres, desimpedidos, sem compromisso com a ética e com o mundo. Eram livres para amar e serem amados, sem censura, sem cortes, agora era corpo com corpo e alma com alma, não havia mais barreira entre os dois. Sob o brilho das estrelas estavam em êxtase. Viajavam em outros planetas pela margem da escuridão, mas a lua cheia fazia questão de cuidar, enquanto o destino escrevia um novo capítulo para ambos. O calor dos corpos ardentes dominava-os, ele tocava o rosto dela carinhosamente, olhando nos olhos que brilhavam iguais as estrelas. E, sentia o fogo da paixão inesperada que surgiu misteriosamente sem ser convidada. Ele beijou delicadamente o corpo de Helena, e sentiu o coração bater cada vez mais forte. Naquele instante, eles pertenciam um ao outro, dois corpos ofegantes entregues à doce e louca paixão. Fernando Henrique dizia: — A partir de hoje sou só seu, e você será só minha. Quero você para sempre, nunca vou te esquecer, aconteça o que a
Como dizer a ele que foi movida por um impulso? O que ele pensaria dela? Uma devassa? Que decepção ele sentiria dela! Então ela pensava: — “Não, isso nunca! Esse segredo vai morrer comigo, ninguém nessa cidade pode saber o que eu fiz”. Mas como esquecer aquele momento mágico? Nunca esqueceria aqueles beijos quentes. Sentiu um orgasmo tão intenso que a fez ir até às nuvens ou à lua, tanto faz. Era, a partir daquele instante, uma mulher, diga-se de passagem. Uma mulher livre e não era mais uma carola, mas pensava nas consequências caso alguém a tivesse visto e a tenha reconhecido. Mas sabia que não, mesmo porque do jeito que a olhavam, com certeza não a reconheceram. Então, ela foi para casa dormir. Entrou com passos leves, sem que ninguém a visse, seus pais e seus irmãos estavam em um sono pesado. Entrou em seu quarto, colocou seu vestido sujo de sangue em uma cesta e no dia seguinte o lavaria para que ninguém desconfiasse, pois da sua intimidade ninguém precisava saber. Deitou-s
Said Moabit precisava desabafar com alguém e nada melhor do que se abrir com Arthur, que saberia guardar o seu segredo “a sete chaves”, pois era um assunto delicado, e precisava desabafar antes que enlouquecesse, Para tanto, ele foi ao cafezal, onde Arthur trabalhava. — Olá, amigo, como está? — Perguntou Arthur ao ver seu amigo Said Moabit se aproximar. — Vou indo! E você, trabalhando muito? — Sim, como sempre, mas o que te traz aqui? Está com cara de preocupação! Hoje não é o dia do seu casamento? — Nem sei se vai haver casamento! — Como assim, não haverá mais casamento? —Perguntou Arthur, espantado. — Olha, amigo, é uma longa história, mas preciso desabafar! Depois quero a sua opinião! — Está bem, vamos sentar e tomar um café, então você me conta o que aconteceu! Parece preocupante! O que houve a ponto de querer cancelar seu casamento? — É uma longa história! — Então, me conta, pois estou curioso! — Bom, ontem fui ao baile de despedida de solteiro e eu estava convicto de qu
O casamento foi um grande acontecimento. Vanda estava mais linda do que nunca, e feliz, embora seu sonho fosse se casar com Said Moabit mais por interesse e vaidade do que por amor. Quando viu Arthur sentiu um aperto no coração, pois desejava que ele estivesse no lugar de Said Moabit, mas naquele momento ela tinha que esquecer essa ideia, não podia se trair. Logo, estaria longe da cidade, e com certeza feliz ao lado de Said Moabit, e se esqueceria de Arthur, porque ele não tinha condições de dar a vida que ela sempre sonhou, e com Said Moabit estava realizando o seu sonho de princesa, estando ao lado do homem dos sonhos desde criança, pois ela sempre quis encontrar um homem rico, bonito e bem-sucedido. E Said Moabit se encaixava perfeitamente naquilo que ela desejou, embora seu coração estivesse amando outro homem. Os que estavam presentes ficaram encantados com a decoração e com o luxo, pois parecia o casamento de alguém famoso. Said Moabit estava bem elegante, mas para a surpres
— Bernardo? — Gritou Dionísio! — Sim, papai. Ele se chama Bernardo! — Onde ele mora? — Pai, não sei onde ele mora, nós apenas saímos para beber, ficamos uma vez e aconteceu! Não planejei isso, meu pai! — Aconteceu! Bom, como aconteceu não importa, quero saber onde ele mora e o que ele faz, queremos resolver isso de uma vez por todas, filha minha não fica como mãe solteira! — Mas pai! Eu não o amo, nem sei porque aconteceu, foi uma falha minha! — E o que nós, a sua família, temos a ver com a sua falha? Se falhou, vai ter que assumir suas responsabilidades, pois não fez o filho sozinha. Esse Bernardo vai ter que assumir essa criança, e assunto encerrado. Amanhã mesmo vamos em busca desse tal de Bernardo! Portanto, quero saber de que cidade ele veio? — Perguntou ele, deixando Andressa, mais uma vez, em um beco sem saída. — Pai, era à noite em uma festa, nem me lembro quando foi, só sei que aconteceu! — Não interessa como aconteceu, agora ele vai ter que assumir, filha minha não fi
O que ele pensaria de mim? Logo eu, uma moça recatada cheia de princípios, se envolver com um estranho que mal chegou à cidade” Sentia falta dele, amigo e companheiro de todas as horas, com quem podia desabafar, contar seus problemas e pedir conselhos. Mas agora ele estava casado com aquela antipática Vanda. E se perguntava: — Será que ele está feliz com ela? Sozinha teria que enfrentar os problemas de ser uma mãe solteira, ainda mais naquela cidade cheia de pessoas fofoqueiras que gostavam mais de cuidar da vida dos outros do que da própria vida. Ela sabia muito bem os preconceitos que estava prestes a enfrentar. E, como seria a vida do seu filho? Só de pensar tinha vontade de sumir. E, ir pra cidade grande sem ninguém saber, sumir pelo mundo afora para fugir daquela gente maldosa que gostava de cuidar da vida dos outros, como se ser mãe solteira fosse um dos piores pecados. Ela refletia: — Quantos casamentos infelizes e traições que havia na cidade? Então prefiro ser mãe solteir
Andressa, com a barriga enorme, sentia dificuldade até para caminhar, mas nada tirava o seu ânimo. Mesmo as pessoas lhe dirigindo um olhar atravessado, julgando-a por ser uma mulher sem marido que dependia dos pais para sobreviver, ela continuava feliz com a sua gravidez, pois tinha o carinho de toda a família, de seus amigos, principalmente de Eliana, sua melhor amiga, que se ofereceu para ser a madrinha de batismo do futuro herdeiro. Eliana, com o passar do tempo, descobriu que nunca amou Said Moabit como ela imaginava e, sim, o irmão de Andressa, que por sua vez, percebia as pessoas agindo com indiferença para com a sua irmã, pois toda vez que ela ia para a cidade, as pessoas a olhavam da cabeça aos pés, e cochichavam em tom de deboche e de discriminação por ela ser futura mãe solteira. Mas na opinião dela, essas pessoas tinham pensamentos pequenos. As mães que acompanhavam seus filhos tapavam os seus pequenos olhos, e falavam: — Não olhe para essa