No silêncio que antecede todos os fins e todos os começos, o Criador ergueu-Se no centro do Grande Vazio, onde as teias do tempo se dissolvem antes mesmo de nascerem. Ali, onde estrelas são apenas suspeitas e sombras ainda não descobriram o próprio nome, Ele chamou Satã como quem convoca a parte esquecida de Si mesmo.
Não havia raiva.
Não havia glória.
Havia apenas necessidade.
O Criador apontou para o novo mundo, um orbe translúcido, desperto, suspenso no horizonte cósmico como um olho ainda sem pálpebras.
— No planeta que te envio, Satã, precisarás de um ser capaz de caminhar entre a luz e o abismo, sem pertencer inteiramente a nenhum deles. Um ser criativo, prepotente, arrogante, atroz. Um ser frio. Um ser que faça sofrer sem tremer. Que rompa pactos, que destrua alianças, que devore o próprio destino como fera que não compreende o que mastiga.
Satã ouviu, imóvel, como se cada palavra fosse um fio de ferro sendo introduzido lentamente em sua consciência. Vasculhou mentalmente seus