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O Desesperançado Chorão

Deitado na grama eu via o céu mudar do azul para o roxo. As estrelas usavam véus de auroras boreais dando vida à noite. Como era bonito e triste. Meu corpo se arrepiava e a minha alma muda se contorcia dentro da minha mente gritando sem som; só dor e angustia.

Sabia que meus pais estavam no velório, e não se importariam em me ter por perto; eu apenas os envergonhava. Um grande fardo inútil e chorão. Eu manchava a reputação tão imaculada da minha nobre família.

Eu encarava o carvalho velho, o cipó em forma de forca ainda lá, esperando que alguma mágica miraculosa se revelasse e quem sabe, saltasse em cima mim; quem sabe trazendo os risos dEla e os beijos dEla... O calor e o brilho dEla. Ela.

Por uma eternidade de tempo choveu debaixo dos meus olhos e o ar era mais sufocante quanto enxofre podre. Ainda me sentia preso nas paredes invisíveis do feitiço, vendo uma última vez o sorriso meigo dEla e o terror do corpo dEla tremendo em espasmos no ar, e eu totalmente rendido e impotente. 

Senti a terra debaixo dos meus pés tremer fazendo meu coração pular no peito, por alguns segundos acreditei que os Doze tinham ouvido meu pedido. Era uma vã esperança.

Uma voz chorosa borbotava debaixo da terra. Um eco espectralmente melancólico. Garras finas abriram um pequeno buraco revelando miúdos olhos verdes. A criatura rasgou o chão, parou na minha frente cabisbaixa e ficou me encarando triste.

Todo o medo passou, e foi nesse momento que eu soube que tinha o meu totem e que ele me trazia algo mais.

Algo que eu desejava mais que a minha efêmera vida.

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