Almoço sozinha.
Ouvindo a voz de Gael, Rubinho, homem careca e um quarto homem, vindo da sala.
Na minha cabeça, tentava entender por quê Lidiane não gostava de Gael e Gael não gostava de Lidiane.
Tinha alguma coisa que estava deixando passar.
Termino de comer, lavando os pratos da pia.
– Faz isso aí que tô dizendo – diz Gael, quando me aproximo, olhando para os três que saiam, incluindo Rubinho – Já comeu? Não quero que saia falando que não deixei você comer – pergunta sem me olhar, olhando o celular.
– Já comi – Inclinado para frente, a medalhinha em seu pescoço pendia para frente – Que santo é esse que está na medalhinha?
– É uma santa – Ele toca a medalhinha com uma m
Minhas mãos suavam, graças ao nervosismo que havia tomado conta de mim.Antes de sair da casa, Gael havia me instruído em vender um pouco do pó branco por cinquenta reais. O que me fez duvidar se conseguiria vender neste valor.Era caro demais, para tão pouco produto.Não fazia sentido.Sentada no banco do carona de um Citroen prata, tentava prestar atenção na paisagem que havia mudado drasticamente depois de sairmos do morro.Rubinho estava em silêncio, desde que entramos naquele carro, apenas com o som do carro fazendo barulho.Até preferia dessa forma, ainda não havia esquecido do que fizera e duvidava se um dia esqueceria, sem me vingar.– Tem como me fazer um favor? – Ele quebra o silêncio sério.– Não – Re
– Meu namorado acabou de sair da reabilitação e você vendeu droga pra ele! – Ela vocifera.– Eu não...Ela me bate antes possa terminar.Quase perco o equilíbrio, dando alguns passos para trás.Olho para ela, sendo tomada pela raiva, voando em seu cabelo. A amiga dela ao lado, começa a me bater e tento me defender e bater ao mesmo tempo.– Ei. Ei. Ei! – Ouço a voz de Rubinho – Que porra é essa?! – Ele empurra uma das duas – Duas contra uma?! É isso mesmo?!Só então noto que as luzes estavam acesas e que havia pessoas ao nosso redor.– Essa vaca vendeu droga pro meu namorado! – Uma ruiva grita.– Ele comprou por quê quis! Ninguém obrigou ele não! – Ele se apr
– De quem é esse vestido? – Kauane pergunta, para as demais meninas, assim que entro no quarto na manhã seguinte.– Meu não é – diz Katiane ainda deitada.– É da Maria. Quer dizer, Antônia – diz Lidiane, sentada na cama.Kauane me olha incrédula, negando com a cabeça.– Não. Não é seu.– Ela recebeu ontem, lembra? – diz Katiane – Ela pode ter comprado.Kauane pega o vestido, a bolsa e o par de saltos.– Acha mesmo com o que ela ganhou essa semana, iria dar ora comprar tudo isso? – Ela mostra a bolsa – É uma bolsa da Gucci!Katiane dá de ombros.– Pode ser falsificada.– Não é do camelô não! – Kauane mostra
Sentada na calçada, comecei a suar por causa do calor.Não havia escutado nenhum barulho, que indicasse que Gael havia acordado, vindo da casa.Absolutamente nada.Havia começado a cogitar a possibilidade de voltar para a casa de Jô, um bom tempo depois, e torcer para Gael me procurar a noite.E se ele não procurasse?Encosto minha cabeça no portão com os olhos de fechados, ouvindo um carro se aproximar.Abro meus olhos a tempo de ver Rubinho estacionar o carro na frente da casa e Gael descer do banco do carona.Levanto sentindo minha bunda dolorida– Queria falar com você – murmuro quando ele se aproxima.– Lá dentro.Ele destranca o portão e o sigo para dentro da casa com Rubinho logo atrás.– O que quer? &nda
Encaro a garota na minha frente pasma.– O que foi? – Ela pergunta incomodada.– A gente não cortou o cordão – digo com os olhos fixos num negócio meio cinza que saia de dentro dela e estava ligado no bebê.– A placenta não saiu. Tem que...– Não. Não me diga pra fazer mais nada – Levanto da cama – Tem que ir para um hospital tirar isso.Abro a porta do quarto, me deparando com Lidiane, Katiane e pelo menos meia dúzia de menina.– O que aconteceu aí dentro? – diz Kauane, passando por elas, parando abruptamente na porta – Mais que merda.As meninas se colocam nas pontas dos pés, para tentar ver dentro do quarto.Olho por cima do ombro, a garota na cama.– Vou chamar a Jô –
– Senta aí vai – diz sorrindo com os olhos – Vou ensinar tu a dirigir.Sento inspirando profundamente.– Ou podemos trepar – Queria trepar, principalmente se fosse com ele.– Não vamos trepar – diz se ajeitando na frente do volante – Primeiro, tem que ligar o carro aqui – Explica girando a chave, continuando a explicar até colocar o carro em movimento – Deu pra entender?– Acho que sim.– Ou é sim ou é não – diz sério.– Sim. Entendi! – digo nervosa.– Tá. Vem pra cá – diz saindo do carro, para que sentasse em seu lugar.Diante do volante, deduzi no mesmo instante que não conseguiria.Iria bater num poste ou matar uma pessoa que aparecesse do nada.<
Marco desce mancando do carro, se colocando na frente dos faróis.Quatro homens armados saem de cada lado do matagal, assentindo de vez em quando, enquanto Marco falava com eles.Ele volta para o carro, os deixando nos dois lados da estrada, quando continuo a dirigir.– A ordem é parar qualquer carro estranho que entre na favela – explica sério – Só que as vezes, acham que é a policial disfarçada e abrem fogo – Mantém os olhos fixos na estrada – Tá vendo aquele barraco ali? Para ali.– Você mora ali?– Não – Viro em uma esquina, parando em frente de um barraco, descendo para ajudar Marco.– O cadeado está aberto – Avisa quando nos aproximamos da porta não muito grossa.Abro o cadeado, tirando a c
Batidas na porta me acordam. Marco se mexe atrás de mim levantando, tirando o cadeado da porta antes de abrir.Franzo o cenho quando o sol me atinge em cheio, causando uma leve dor nos olhos.– Trouxe o que pediu. Dona Lídia me encheu de perguntas – Marco pega a sacola plástica da mão dele, tirando de lá uma bermuda – Quem é essa mina aí? – Sento na cama, sentindo minhas pálpebras pesadas por causa do sono.Passo as mãos no meu cabelo revolto, tentando “arrumar".– Pra quê tu quer saber? – Marco indaga sério.– Pra caso a Rayane me pergunte quem é ela – O homem dá de ombros.– Não é da conta da Rayane – Marco veste a bermuda com dificuldade – Ela não tem nada have