– Senta aí vai – diz sorrindo com os olhos – Vou ensinar tu a dirigir.
Sento inspirando profundamente.
– Ou podemos trepar – Queria trepar, principalmente se fosse com ele.
– Não vamos trepar – diz se ajeitando na frente do volante – Primeiro, tem que ligar o carro aqui – Explica girando a chave, continuando a explicar até colocar o carro em movimento – Deu pra entender?
– Acho que sim.
– Ou é sim ou é não – diz sério.
– Sim. Entendi! – digo nervosa.
– Tá. Vem pra cá – diz saindo do carro, para que sentasse em seu lugar.
Diante do volante, deduzi no mesmo instante que não conseguiria.
Iria bater num poste ou matar uma pessoa que aparecesse do nada.
<Marco desce mancando do carro, se colocando na frente dos faróis.Quatro homens armados saem de cada lado do matagal, assentindo de vez em quando, enquanto Marco falava com eles.Ele volta para o carro, os deixando nos dois lados da estrada, quando continuo a dirigir.– A ordem é parar qualquer carro estranho que entre na favela – explica sério – Só que as vezes, acham que é a policial disfarçada e abrem fogo – Mantém os olhos fixos na estrada – Tá vendo aquele barraco ali? Para ali.– Você mora ali?– Não – Viro em uma esquina, parando em frente de um barraco, descendo para ajudar Marco.– O cadeado está aberto – Avisa quando nos aproximamos da porta não muito grossa.Abro o cadeado, tirando a c
Batidas na porta me acordam. Marco se mexe atrás de mim levantando, tirando o cadeado da porta antes de abrir.Franzo o cenho quando o sol me atinge em cheio, causando uma leve dor nos olhos.– Trouxe o que pediu. Dona Lídia me encheu de perguntas – Marco pega a sacola plástica da mão dele, tirando de lá uma bermuda – Quem é essa mina aí? – Sento na cama, sentindo minhas pálpebras pesadas por causa do sono.Passo as mãos no meu cabelo revolto, tentando “arrumar".– Pra quê tu quer saber? – Marco indaga sério.– Pra caso a Rayane me pergunte quem é ela – O homem dá de ombros.– Não é da conta da Rayane – Marco veste a bermuda com dificuldade – Ela não tem nada have
– Acho melhor me levar embora – digo quando saímos da cozinha, em direção da escada – Sua tia não pareceu gostar de me ver aqui.– Ela é assim mesmo – Ele sobe os degraus da escada comigo logo atrás.No segundo andar, vai direto para o quarto no final do corredor.Disfarçadamente ainda olho para dentro do quarto que parecia ser de Raissa, cujas paredes eram lilás e o guarda– roupa de seis portas branco e rosa.As demais portas estavam todas fechadas.Marco abre a porta, arrancando a camiseta ao entrar no cômodo. A cama de casal ficava de frente, uma televisão estava pendurada ao lado da porta e um guarda roupa sobre montado na parede que estava a cama.– Por quê tá me olhando assim?– Assim como? – N&at
– Eu disse. Eu não te disse? Quando começou a subir e descer com Rayane? – A voz de dona Lídia ecoava pela casa – Pra você deixar de andar com ela, por que ela não era mulher pra você. Você me ouviu? Não! Continuou. Em menos de um mês, ela chega dizendo que tava grávida. Infernizou sua vida, pois queria enxoval do bom, fazer pré– natal em clínica particular e você fazendo os gostos dela – Ela bate com força a faca que segurava na carne quer estava segurando – Dois meses depois de parida. Nenhum dos dois respeitou o resguardo, ela engravidou de novo e o inferno foi maior, por quê a desculpa dela era que não conseguia cuidar do Lucas sozinha, que precisava descansar, que não estava aguentando ele. Eu cuidei do menino, como cuido até
Ajudo dona Lídia a limpar a cozinha em silêncio, sentindo que era o mínimo que podia fazer, já que estava ali.Apesar de fazer algum tempo da “discussão” com Marco, ainda se mostrava chateada e queria saber poder dizer palavras bonitas, as mesmas palavras bonitas que minha mãe dizia quando me sentia no completo escuro.Mas eu não era a minha mãe e não sabia dizer palavras bonitas.A única coisa que sabia fazer, era ficar em silêncio.Termino de ajudar, indo para a sala, onde Dom havia ligado a TV em desenho animado, deixando os sobrinhos assistirem.Lucas e Larissa e mantinham os olhos vidrados na TV, que quase tomava a parede toda pelo tamanho.Sem ter para onde ir, me sento no sofá macio, fingindo prestar atenção na TV.Marco en
Não havia tido uma das melhores noites de sono, deitada em uma cama de solteiro com um colchão fino.Não que estivesse reclamando, estava até contente por estar longe da casa da Jô.Por causa disso, acabei dormindo assistindo o desenho da porca rosa, tendo meu corpo puxado para o lado.Mesmo de olhos fechados, reconhecia o perfume de Marco, a respiração serena e as batidas ritmadas do coração.Tudo isso, graças a noite passada. Quando tivemos que dormir quase um em cima do outro.Sinto seus dedos massageando meu couro cabeludo, causando arrepios por todo meu corpo e formigamento num lugar que não queria acordar.Ergo um pouco a cabeça, semicerrando os olhos, desejando ter sua boca carnuda na minha.Tinha a visão do Paraíso bem ali na minha f
Gael continua a me olhar sem esboçar qualquer reação.– Pra entrar pro crime, tem quer ser leal. A lealdade vai acima de qualquer outra coisa – Continuo olhando para ele – Se você entrar nessa caminhada, não pode vacilar não.– Eu quero – digo sem hesitar – Faço qualquer coisa. Qualquer coisa.– Sabe dirigir? – Assinto no mesmo instante – Iria mandar o Rubinho fazer, mas como quer ser útil, vou mandar você – Mantenho meus olhos fixos nele – Vou te dar o endereço e vai trazer essa encomenda pra mim.Pelo jeito que estava falando, me fazia imaginar ser algo pequeno.Ele acaba por desenhar uma espécie de mapa, um caminho que teria que me basear para chegar no meu destino.Não era difícil. S&oac
– O carro já está pronto – diz Badá, um bom tempo depois.Levanto me apoiando na árvore, seguindo ele até os fundos do barracão, aonde terminavam de colocar a parte de plásticos das portas, pelo lado de dentro.– Chegou vazio e vai voltar cheio – comenta, batendo no capô.Aquela então era a encomenda, levar cocaína na lataria do carro.– Seja bem vinda na família – Ele estende a mão novamente. Hesitante, a seguro, soltando quase de imediato – É isso aí. Pode vazar com isso aí.Encaro o carro, caminhando até ele segurando minhas costelas do lado esquerdo.Dirijo por alguns quilômetros, até ouvir um celular tocar no porta– malas. Diminuindo a velocidade, abro o compartimento,