Vittorio BianchiO peso da garrafa de espumante nas minhas mãos parecia maior do que realmente era. O rótulo impecável escondia o problema que enfrentávamos—uma falha que não deveria ter acontecido, mas aconteceu. O primeiro lote de uma das safras mais aguardadas da Di Fiore estava comprometido.Passei a mão pelo rosto, sentindo o cansaço pesar nos ombros. Dias sem dormir direito, sem conseguir tirar da cabeça a sucessão de erros que nos trouxe até aqui. O já estava aparecendo , e a claridade começou a bater sobre os vinhedos, tingindo as videiras de dourado, mas nem a paisagem era suficiente para aliviar a tensão no meu peito.E então, ouvi uma voz. Baixa, hesitante.— Vittorio…Minha cabeça se ergueu de imediato. Ela estava ali.Parada na entrada do vinhedo, os cabelos um pouco desalinhados pelo vento, a respiração acelerada como se tivesse corrido. Meus olhos demoraram um segundo para acreditar no que viam.Heloísa. O choque me paralisou.Ela correu em minha direção, e antes que eu
Vittorio BianchiOlhei novamente para Heloísa, e pela primeira vez naquela noite, senti algo além da tensão e do peso da responsabilidade. Eu senti admiração.Ela não apenas percebeu o que ninguém havia notado, mas também provou — mais uma vez — que seu lugar sempre foi ao meu lado, nos desafios e nas vitórias.— Você acabou de nos salvar de uma crise gigante.Ela sorriu de leve, cruzando os braços.— Não gosto de ver você preocupado assim.Meu peito aqueceu com aquela confissão simples, mas carregada de significado.— Eu sabia que você voltaria para casa por um motivo.O sorriso dela diminuiu um pouco, mas seu olhar ficou mais intenso.— Talvez eu nunca devesse ter ido embora.Eu segurei o olhar dela por um longo momento, deixando o peso daquela frase se assentar entre nós. Se antes havia dúvidas, agora não havia mais nenhuma. Heloísa estava aqui. E dessa vez, eu não a deixaria partir. Ao cair da noite a vinícola ficou silenciosa e a única iluminação vinha das luzes amareladas espa
Hugo e Ava Moura Minha casa está tão vazia, a Heloísa estando na França e o Vittorio voltou para Itália, ficamos apenas a Ava e eu, nesta imensidão de casa, meus churrascos aos domingos já não são os mesmos, pois não tem o humor ácido do Vittorio, não tem o sorriso da minha menina. — Querido, acho que fizemos errado quando aceitamos a proposta do pessoal da Casa Blanca. Nossa filha pode pensar que a entregamos de bandeja para eles. — Fala a Ava irritada mais uma vez. Ela não aceita o acordo que fiz, com os Casablanca, pois acredita que a Heloísa, está apaixonada por alguém que ela não sabe ainda. — Ava, querida, a Heloísa sabe muito bem se virar, se ela não quiser casar com o Augustus é apenas ela dizer não e voltar para casa, falamos com o Vittorio e ela pode trabalhar com ele. O que acha? — Hugo, não quero pressionar a Helô, em absolutamente nada. Neste momento meu celular vibra e quando olho o visor vejo o nome do Augustus. Coloco no viva voz atendendo de imediato. — B
Heloísa Moura Assim que meu pai sai do quarto, solto a respiração que nem fazia ideia que estava prendendo. Vou em direção ao banheiro e sou agarrada pela cintura pelo Vittorio. Não dá tempo nem de falar nada pois ele busca minha boca com desespero. Assim que os lábios de Vittorio encontram os meus, tudo ao meu redor desaparece. Seu beijo é intenso, carregado de urgência e algo mais que não consigo identificar. Meus dedos se entrelaçam em seus cabelos enquanto me deixo levar por aquela sensação eletrizante. Mas não posso me perder ali. Não agora. Com esforço, me afasto, respirando com dificuldade. Ele me encara com os olhos escuros brilhando de desejo e confusão. — Preciso descer — murmuro, colocando as mãos em seu peito e criando uma distância segura. Ele suspira, passando as mãos pelos cabelos em um gesto frustrado. — Tudo bem, Heloísa. Mas isso não acabou. Lembre-se que a noite iremos jantar, só nós dois. — Seu tom é carregado de promessa. Desvio o olhar, sabendo que,
Vittorio BianchiAcordo ao lado de Heloisa, meus braços em torno de seu corpo, seus cabelos espalhados por todo travesseiro, sorrio com toda bagunça que ela é pela manhã, não tem como negar, a Helô, é tudo que sempre sonhei, o que nos impede? Talvez minha amizade com seu pai... Por falar no Hugo, melhor eu ir para meu quarto. Se ele chega e me encontra na cama com sua filha depois de tudo que aconteceu, não sei como ele reagiria.Com cuidado, deslizo meu braço debaixo dela, temendo acordá-la. Seus fios dourados caem sobre o rosto, sua respiração é tranquila, e por um momento, apenas fico ali, observando-a. Mas então a realidade me atinge. Hugo.Preciso ir antes que ele chegue.Levanto devagar, me movendo com a maior delicadeza possível. A última coisa que quero é acordá-la e enfrentar seu olhar sonolento me pedindo para ficar. Mas no instante em que meus pés tocam o chão frio, sinto sua ausência se manifestar. Um resmungo suave escapa de seus lábios, seguido por seu corpo se remexend
Heloísa Moura Assim que a conversa com meu pai termina, sinto a necessidade de respirar ar fresco. Saio pelos fundos da casa em direção ao jardim, onde as videiras se estendem como um mar verde sob o céu dourado do entardecer. Caminho sem rumo por entre as fileiras de uvas, tentando organizar meus pensamentos sobre o jantar com Vittorio e tudo o que aconteceu. Enquanto observo as folhas balançando suavemente ao vento, ouço passos leves atrás de mim. Me viro e encontro Matteo, com as mangas da camisa arregaçadas e um olhar hesitante no rosto. — Heloísa — ele chama, olhando ao redor para se certificar de que ninguém está por perto. — Podemos conversar um minuto? Assinto, curiosa com seu tom. Caminhamos juntos até um banco de pedra mais afastado, rodeado por roseiras discretas. Ele se senta ao meu lado, inquieto. — Aconteceu alguma coisa? — pergunto, observando sua expressão preocupada. Matteo suspira e passa a mão pelos cabelos escuros. — Eu precisava falar com alguém… alg
Heloísa Moura Assim que saio pela porta da frente, encontro Matteo esperando perto da caminhonete do vinhedo. Ele sorri de leve ao me ver. — Tudo certo? — ele pergunta, abrindo a porta do passageiro para mim. — Tudo certo — respondo, entrando no carro. — Agora vá encontrar Isabella. Eu me viro com o resto. Ele ri, ligando o motor. — Você é mais esperta do que eu pensava, Heloísa. — E você mais romântico do que aparenta — retruco, com um sorriso. Enquanto a caminhonete se afasta, sinto a adrenalina percorrer meu corpo. O jantar com Vittorio me espera. E, por mais arriscado que seja, pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou exatamente onde deveria estar. O trajeto até o restaurante é pontuado pelo crepúsculo que pinta o céu em tons de laranja e lilás. O vento fresco entra pela janela aberta da caminhonete, bagunçando meus cabelos enquanto meus pensamentos giram em torno do jantar com Vittorio. Não sei se estou mais ansiosa pela conversa em si ou pelo risco que
Vittorio BianchiNo aconchego silencioso do quarto, a penumbra dourada das velas dançava nas paredes, projetando sombras suaves que tornavam o ambiente ainda mais intimista. O ar estava impregnado com o aroma amadeirado das velas e o perfume suave de Heloísa, um misto de baunilha e jasmim que fazia minha respiração vacilar sempre que ela se movia. O silêncio era preenchido apenas pelo som distante das ondas quebrando na praia e pelo compasso ritmado das nossas respirações, entrelaçadas em uma melodia silenciosa de antecipação.Nossos olhares se encontraram no meio daquele universo particular, onde apenas nós dois existíamos. Havia algo na forma como ela me fitava, uma mistura de desejo e hesitação, como se estivesse à beira de um precipício, prestes a saltar. Aproximei-me com cautela, cada passo marcado pelo compasso acelerado do meu coração. Quando minha mão tocou a dela, senti o calor da sua pele aquecer a minha, como se um fio invisível nos conectasse, tornando impossível qualquer