Hugo MouraO dia parecia se arrastar enquanto eu tentava focar no trabalho. Me tranquei na minha sala na empresa, tentando me ocupar com relatórios, reuniões e qualquer coisa que me mantivesse longe dos pensamentos que me atormentavam desde a conversa com Ava.Mas a verdade era que nada conseguia afastar aquela voz insistente na minha cabeça. O neto que eu ainda nem conhecia já tinha se tornado uma presença constante nos meus pensamentos.Soltei um suspiro pesado e apertei as têmporas, sentindo a tensão latejar. Peguei uma caneta e comecei a rabiscar distraidamente uma folha em branco quando o telefone fixo da minha mesa tocou, arrancando-me do torpor. Franzi o cenho. Ninguém me ligava diretamente ali a menos que fosse algo realmente importante.— Hugo Moura — atendi, tentando manter a voz firme.Do outro lado, uma voz masculina carregada de um sotaque italiano preencheu o silêncio.— Signore Moura, perdoe-me, mas como não obtive resposta do Signore Vittorio sobre a venda da proprieda
Liliane Ribeiro Os dias aqui na mansão do Vittorio está sendo cada dia mais entediante, essa barriga não para de crescer e o idiota do Vittorio desde que me mudei não dá as caras. Meu medo é que ele vá atrás da vadiazinha. Seguro o celular com força, sentindo o ódio dentro de mim. Seis meses. Seis meses malditos sem nenhuma notícia do Vittorio. Desde que pisei nessa mansão, ele ficou isolado, como se eu fosse um fardo que ele não quer carregar. — Até que enfim você atende, Liliane — a voz de Arthur Bernard tão impaciente do outro lado da linha. Reviro os olhos e me jogo no sofá. — O que você quer? — Quero saber o que você fez de útil. Mas, pelo visto, nada. Você é uma completa inútil! Não conseguiu nem enganar o idiota do Vittorio para assumir esse bastardo que você carrega na barriga. Minha mandíbula trabalha. Se não dependesse desse maldito, ele já estaria morto. — Eu não tenho notícias do Vittorio há seis meses. Se quiser informações, procure outro capacho. E essa c
Augustus Bernard Sempre soube que meu destino estava traçado dentro da família Bernard. Meu pai, Arthur, queria que eu seguisse seus passos, controlando os negócios, mantendo a reputação impecável da família e, principalmente, obedecendo às suas ordens sem questionar. Mas ele nunca soube quem eu realmente era. Nunca soube do peso que carreguei durante anos, amando alguém que, aos olhos da nossa família, nunca poderia ser minha. Marina Bernard. Minha prima. Minha melhor amiga. Meu primeiro e único amor. Fomos criados juntos, como irmãos. Crescemos compartilhando segredos, medos e sonhos. Mas, em algum momento, esse amor inocente se transformou em algo mais profundo, algo que nos consumia por dentro. E quando minha família descobriu, foi como se o inferno tivesse se instaurado."Isso é errado!""Vocês são sangue do mesmo sangue!""Você vai destruir a família com essa loucura!" Essas foram algumas das palavras que ouvi, sempre carregadas de desprezo e nojo. Fui afastado dela, env
Hugo MouraRespiro fundo, tentando controlar o orgulho, mas não posso deixar o Vittorio no escuro, essa mulher é perigosa. Ligo para ele que me atende no segundo toque.“ Vittorio, preciso te contar algo. Recebi uma ligação da Liliane hoje. Ela não está nada feliz com o que está acontecendo entre você e Heloísa.” Vittorio: “O que ela disse?” “ Ela está com ódio, falando que você a descartou. Disse que estava sozinha, que você a ignorou desde que se afastou dela... e, claro, ela não deixou de mencionar que espera que eu faça alguma coisa a respeito.” “ Isso é ridículo... Ela não tem vergonha? Está tentando manipular você também, Hugo.”“Eu sei, eu sei, mas ela fez questão de ressaltar que agora está grávida de você... E que, por mais que você tenha fugido, ela não vai deixar isso barato."“Ela está jogando sujo, não vai passar. Eu não vou mais cair nessa. O que ela quer, eu sei muito bem. Mas você, Hugo... tem que entender que o que estou fazendo com Heloísa não é só sobre mim, é so
Marina Bernard Desde que soube que o Augustus estava sendo obrigado a se casar, meu coração ficou em pedaços. Tentei de tudo mas ninguém me deu ouvidos. Agora estou aqui a caminho de Londres para “meu noivado” não tenho ideia de quantas lágrimas já derramei, entretanto ninguém me escuta. — Filha, de um sorriso, parece que está indo para seu velório ao invés do seu noivado. — Porque é assim que me sinto. Não serei feliz ao lado de alguém que não amo. — O que é amor, para você? Aquela coisa suja que você tinha com seu primo? Marina, o Augustus vai fazer o que tem de ser feito, casar e seguir com o legado da família. — Então prefiro morrer, pois não seremos felizes. De que adianta ter dinheiro e não ter amor? — Desde quando amor enche barriga, deixe de ser extupida e case com o rapaz que seu pai escolheu. Assim que minha mãe encerra a conversa com um bufar de irritação, eu me afundo no banco do carro. Meu coração está pesado, e a ideia de cruzar aquelas portas para um
Heloisa Moura Eu estava perdida entre as prateleiras de roupas infantis, sem saber exatamente o que comprar. Cada peça parecia tão pequena e delicada, e, ao mesmo tempo, tão cheia de significado. A ansiedade começava a tomar conta de mim — cada item parecia um passo mais fundo nesse caminho que, de alguma forma, eu ainda não sentia que estava pronta para trilhar. Não era sobre o bebê, claro. Eu estava empolgada para ser mãe, mas havia tantas outras coisas na minha mente, tantas questões não resolvidas, principalmente sobre o que estava por vir com Vittorio, minha vida e tudo o que ainda precisávamos enfrentar. Foi então que ouvi passos atrás de mim. Uma presença que me fez imediatamente tensionar os ombros. Quando me virei, vi quem estava ali. Liliane. Ela estava impecável, como sempre, com um sorriso no rosto que eu já sabia o que significava. O olhar dela? Calculista. Fui tomada por uma sensação desconfortável, algo que tentava evitar, mas sabia que não teria como ignorar. A úl
Heloisa moura Minha cabeça latejava quando finalmente abri os olhos. Tudo estava escuro. A única luz vinha de uma pequena fresta no alto da parede, fraca demais para iluminar completamente o ambiente. Tentei me mexer, mas meus pulsos estavam amarrados. A lembrança veio como um soco no estômago. Liliane. O sequestro. O carro acelerando pela estrada. Engoli em seco, forçando minha respiração a ficar sob controle. Pânico não me ajudaria agora. Precisava entender onde estava e encontrar uma forma de sair. — Finalmente acordou. — A voz de Liliane soou próxima, e meu corpo se enrijeceu. Ela surgiu da escuridão, sentando-se à minha frente com um sorriso vitorioso nos lábios. Seu olhar era calculista, cheio de uma satisfação doentia. — Você devia agradecer, Heloísa. Eu poderia ter feito isso de um jeito muito pior. — O que você quer? — minha voz saiu rouca, a garganta seca. Ela inclinou a cabeça, como se estivesse se divertindo com a pergunta. — Quero que você entenda seu lugar. — E
Vittorio Bianchi Ligo pela terceira vez, e o telefone vai direto para a caixa postal.Minha respiração está pesada, meu peito apertado, e um mau pressentimento rasteja pela minha espinha.Heloísa disse que não demoraria. Saiu para comprar algumas coisas para o bebê, animada, cheia de planos. Mas já se passaram horas, e ela nunca fica tanto tempo fora sem me avisar.Seguro o telefone com força, tentando controlar a angústia que cresce dentro de mim.Tento de novo. Caixa postal.Meu coração acelera. Isso não está certo.Aperto o volante com força antes de arrancar com o carro. Eu preciso encontrá-la.Algo está muito errado. E eu sei exatamente quem pode estar por trás disso.Liliane.Se ela fez alguma coisa com Heloísa, não há lugar no mundo onde possa se esconder de mim.Acelero pelas ruas como se cada segundo fosse uma sentença. Meu coração bate tão forte que posso ouvi-lo nos ouvidos, abafando qualquer outra coisa ao meu redor.Ligo para todos que podem saber onde Heloísa está—ningu