Mantenho meus olhos fixos em Miranda, me recusando a ser a primeira a desviar o olhar. Não por implicância, mas porque estou cansada de agir como se fosse inferior a ela.Cansada de me perguntar se realmente pertenço a este lugar, sempre que ela me analisa de cima a baixo.— Bom dia, Srta. Bennett — ela cumprimenta, com seu habitual sorriso falso, parando diante da minha mesa.— Bom dia, Srta. Pierce.— Soube do que aconteceu ontem. Deve ter sido… difícil.— Os rumores já estão correndo pela Nexus? — pergunto, me esforçando para manter a voz neutra. Ela solta uma risada debochada.— Rumores? Ah, querida, não… sou uma das melhores advogadas da Nexus, lembra? — provoca, sempre com seu tom carregado de superioridade. — James me pediu para cuidar pessoalmente do processo contra seu padrasto. Meu estômago se revira ao ouvir a palavra “padrasto” sair de seus lábios. Maravilha. Como se tudo o que aconteceu já não fosse suficiente, agora Miranda também saberá de cada detalhe.— Mas, de todas
Pisco algumas vezes, encarando James enquanto espero que ele diga que é uma brincadeira, que me trouxe aqui por qualquer outro motivo. Mas ele permanece sério. Isso realmente está acontecendo?— Meu? — murmuro, sentindo o estômago se revirar enquanto olho de James para Ethan. — Como assim?— Seu presente de aniversário — meu pai sorri. — Adiantado, é claro, mas...— Não — balanço a cabeça. — Não posso aceitar. É... é demais.— Mia...— Pai, é um apartamento! — exclamo. — E, pelo que vejo, em um dos prédios mais caros de Chicago. Eu... eu nem sei…— Você merece um lugar seu — ele me interrompe. — E aqui é seguro.— Mas eu já tenho um lugar seguro — argumento. — Com você.— E sempre terá — ele garante. — Mas sei o quanto você quer sua independência. E depois de tudo que aconteceu… Quero que você tenha um lugar que seja completamente seu. Onde você possa se sentir segura e livre ao mesmo tempo.Mordo o lábio, sentindo minha cabeça correr em círculos. A ideia é tentadora, quase assustado
“Ethan Hayes”Observo a cidade pela janela da minha sala, tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente insiste em voltar para o que aconteceu mais cedo. Para o novo apartamento de Mia.Parte de mim está safisfeito por tê-la tão perto, sem precisar inventar desculpas para nos encontrarmos. A outra, mais racional, não consegue evitar a reprovação interna.Sempre odiei mentiras, mas agora me vejo contando-as com uma facilidade preocupante. Cada desculpa para James sai quase sem esforço.Ele é meu melhor amigo, confia em mim mais do que qualquer um, e aqui estou eu, usando essa confiança para ter sua filha mais perto.Porque foi isso que fiz, não foi? Usei nossa amizade, sugeri o apartamento e ele acreditou que estava apenas cuidando dela.— Estou cuidando — murmuro, virando a cadeira. — Só não é do jeito que ele imagina.Pego o celular, olho para a tela antes de digitar:“Ainda pensando na sua futura casa?”A resposta vem quase instantaneamente.“Impossível não pensar.”“Que tal v
Miranda se ajeita na cadeira, o sorriso vacilando levemente diante do meu tom ríspido. Seus olhos percorrem meu rosto, me analisando, como se procurasse algo.— Me desculpe, acho que não me expressei direito — ela diz, suavizando a voz. — Só estou tentando te alertar sobre as possíveis consequências. Mia é sua assistente pessoal e, se esse caso ganhar proporções maiores, isso pode respingar em você.Contenho a vontade de bater na mesa. Embora eu saiba que Mia está ouvindo cada palavra, preciso manter a calma para não piorar a situação.Ironia… Melhor apelar para ela do que para a raiva.— Que consideração da sua parte — murmuro, inclinando-me para trás na cadeira. — Sabe, às vezes me pergunto se você é paga para ser advogada ou minha assessora de relações-públicas.— Estou dizendo que…— Srta. Pierce — corto-a, colocando de vez um fim nesse joguinho manipulador ridículo. — Não esgote a minha paciência de uma vez. — Aponto para a porta. — Se já terminou com a sua análise, sugiro que le
“Mia Bennett”Observo Seattle pela janela do carro enquanto Harry, o motorista que nos aguardava no aeroporto, segue em direção ao hotel.Uma semana se passou desde a prisão de David, a compra do meu apartamento… e agora, com as coisas um pouco mais calmas, finalmente estamos aqui. E o melhor: sem a presença de Miranda.— No que está pensando? — Ethan murmura ao meu lado, baixo o suficiente para que somente eu ouça.— Em como estou feliz que estamos aqui, só nós dois — respondo, sorrindo. — E nas chaves do meu apartamento novo.— Ah, é? E qual dos dois está te fazendo sorrir mais?— Difícil escolher — provoco. — Passar esses dois dias tendo você só para mim ou começar a decorar meu primeiro cantinho…— Não sei se gosto dessa sua indecisão — ele brinca, tocando minha mão sobre o banco. — Talvez eu precise te convencer sobre qual é a melhor opção.Rio, balançando a cabeça.— Lauren já está com mil ideias para o apartamento — comento, mudando de assunto. — Passei o domingo inteiro vendo
Seattle é ainda mais bonita à noite. As luzes da cidade refletem na água da baía enquanto caminhamos lado a lado pelo Pike Place Market. É estranho, e, ao mesmo tempo, libertador, poder estar assim com Ethan em público. Pensar nisso me faz sorrir involuntariamente.— Posso saber o motivo desse sorriso bobo? — ele pergunta, roçando sua mão discretamente na minha.— Ah, nada de mais… — respondo, sorrindo um pouco mais. — Só é maravilhoso poder andar com você assim, tão tranquilamente.— Tem razão — ele sorri de volta, finalmente entrelaçando nossos dedos. — Embora eu ache que você esteja sorrindo mais pela comida do que por mim.— A culpa é sua por me trazer aqui — provoco. — Mas não se preocupe, você ainda é minha primeira opção. Por enquanto.— É bom mesmo — murmura, me puxando para mais perto. — Principalmente depois que passei a última meia hora observando você experimentar todos os tipos possíveis de comida.— Não foram todos — corrijo, me agarrando ao braço dele. — Ainda tem muit
Meu coração para por um segundo antes de perceber que o clarão vem de um letreiro neon piscando do outro lado da rua.Solto o ar que nem percebi estar prendendo, e Ethan aperta minha mão, provavelmente notando minha tensão.— Tudo bem? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha.— Sim — respondo, forçando um sorriso. — Só… me assustei um pouco.— Fique tranquila, perdição — diz ele, seguindo a direção do clarão.— O que é aquilo? — pergunto, curiosa com a mudança na expressão dele.— Uma das casas noturnas mais famosas de Seattle. — Hmm — Mordo o lábio, sem jeito. — Nunca fui a uma boate.— Nunca? — ele arqueia as sobrancelhas, surpreso.— Não tive muitas oportunidades — dou de ombros. — E depois que vim para Chicago, bem… Tori me chamou algumas vezes, mas trabalhar com você não deixa muito tempo livre.Ethan me observa por um momento, e um sorriso malicioso surge em seus lábios.— Quer ir?— Agora? — meus olhos se arregalam. — Não sei… Não estou vestida para…— Está perfeita — ele m
Ethan trava o maxilar, dando um passo à frente, mas seguro seu braço. Deixar que isso continue e chame atenção para nós não terminaria nada bem.Enquanto o homem se afasta, Ethan mantém o olhar fixo nele, como se avaliasse a situação com mais atenção do que eu esperava.Então, quando finalmente volta o olhar para mim, há uma expressão em seu rosto que não consigo entender de imediato.— Vamos voltar lá para cima — ele diz, num tom controlado.Assinto, deixando que ele me guie de volta ao mezanino. Quando nos sentamos e nossos olhares se encontram, percebo que a tensão ainda não se dissipou de seus ombros.Ele passa a mão pelo rosto, como se tentasse organizar os pensamentos.— Está tudo…— Quantos anos você acha que eu tenho? — Ele me interrompe, o maxilar travado.— Ethan…— É sério — seus olhos encontram os meus. — Para ele ter achado que sou seu pai, devo parecer bem mais velho do que penso.— Ele estava bêbado — argumento, me aproximando mais. — E isso não importa.Ele solta uma r