“Mia Bennett”O vento frio toca minha pele, mas não é isso que me faz tremer. É o encontro com David.Meu coração bate forte contra a bolsa que aperto contra o peito. A rua está silenciosa demais, quase escura, exceto pela luz fraca do poste.“Não vou te deixar sozinha, meu amor. Nunca mais.” As palavras de Ethan surgem na minha mente enquanto tento me acalmar. Não estou sozinha. Meu pai e Ethan estão escondidos a poucos metros daqui.Um barulho de passos me faz prender a respiração.Olho para o lado e vejo David se aproximando. Meu coração acelera ainda mais ao encontrar os olhos dele. Não há ódio, apenas… o olhar carinhoso que ele sempre me dava antes de tudo acontecer.— Minha princesinha… — ele diz, num tom surpreendentemente calmo, sorrindo. — Por que quer se livrar de mim assim? Por que quer se afastar do homem que te criou como sua própria filha?Por um instante, é como se eu estivesse diante do homem que me fazia dormir quando eu tinha pesadelos. Que segurava minha mão quando
A manhã de segunda-feira nunca passou tão rápido. Por mais que eu queira que o tempo se arraste, é como se os minutos rissem da minha cara, passando mais depressa do que eu gostaria.Após o almoço com James, tento, sem sucesso, me concentrar nos documentos em minha mesa. Mas como posso revisar qualquer coisa quando, em poucas horas, estarei frente a frente com David novamente?Aquele pesadelo, a última mensagem dele… tudo isso me incomoda. Seguindo o conselho de James, logo depois da nossa conversa, enviei uma mensagem para David avisando sobre o dinheiro.Sua resposta foi quase instantânea, confirmando o que James e Ethan disseram sobre sua ganância. David nem sequer questionou como consegui dez mil dólares antes do prazo.O telefone vibra na minha mesa, me fazendo pular. Olho rapidamente para a tela e vejo o nome de Ethan. Solto um suspiro aliviado.“Como você está?”“Estou bem, amor. Trabalhando.” Respondo, mas nós dois sabemos que é mentira.“Já estou voltando para a empresa, nos
O estacionamento da Nexus está quase vazio, exceto por alguns carros de funcionários que ainda trabalham. Observo James e Ethan checando o mapa em seus celulares, confirmando as posições de cada policial no estacionamento abandonado do shopping.— Eles estarão aqui, aqui e aqui — James explica, apontando para diferentes pontos no mapa. — O detetive garantiu que a área está completamente cercada.— E nós estaremos aqui — Ethan indica outro ponto. — Perto o suficiente para agir se necessário, mas longe o bastante para que David não perceba.— O táxi está chegando — meu pai anuncia, visivelmente tenso, ao avistar o veículo amarelo se aproximando. — Vamos segui-la a uma distância segura.Engulo em seco e coloco o envelope na bolsa. É hora de ir. Antes de me afastar, olho para Ethan. Mesmo sem dizer uma palavra, consigo enxergar sua preocupação, sentir seu apoio silencioso.Ele quer me prender em seus braços, me proteger de tudo isso, mas, aqui, diante de James, tudo o que pode fazer é man
A sensação de alívio deveria ser imediata, como se o peso tivesse sido tirado dos meus ombros. Mas, enquanto vejo a viatura levando David, o que sinto não é só alívio. Também é medo.— Vamos para casa — James diz, sua voz carregada de preocupação.Ethan finalmente parece perceber a presença dele e solta meus braços, permitindo que meu pai me abrace. Ficamos assim por alguns segundos, como se ambos precisassem disso para confirmar que tudo realmente acabou.— Preciso ir à delegacia resolver algumas coisas — meu pai diz ao me soltar. — Mas não acho que seja bom que Mia vá comigo.— Eu a levo para casa — Ethan se oferece. — Pode ficar tranquilo.James assente, passando a mão pelo rosto num gesto cansado. Seus olhos encontram os meus e ele tenta sorrir, embora o gesto seja fraco.— Tudo bem para você, filha?— Sim. Não quero… encontrar David novamente.Ele me abraça uma última vez antes de caminhar em direção ao detetive, enquanto Ethan coloca a mão nas minhas costas e me conduz para seu
“Ethan Hayes”Permaneço sentado no sofá da sala, encarando o teto. James praticamente correu para o banho assim que chegou, murmurando algo sobre precisar tirar o cheiro da delegacia de si.Mas eu o conheço bem demais para não perceber que ele só precisava de um momento sozinho.Fecho os olhos por um instante, deixando a exaustão do dia me atingir. A imagem de Mia tremendo em meus braços não sai da minha cabeça. Nem o modo como seus olhos ainda refletiam medo, mesmo depois de tudo ter acabado.Alguns minutos depois, ouço seus passos no corredor. Ele deve ter ido ver Mia, como prometeu que faria.Eu deveria ir embora. É o certo a fazer. Mia já está segura, James já está aqui… não há motivo para continuar aqui.Mas, ainda assim, continuo sentado. Como se uma grande parte de mim precisasse se certificar de que ela está bem, que já está dormindo.Os passos de James na escada me trazem de volta à realidade. Quando levanto o olhar, encontro meu melhor amigo parado no último degrau, parecend
“Mia Bennett”Acordo assustada, sentindo meu coração acelerado. Pisco algumas vezes, ainda perdida por mais um pesadelo. Então, reconheço o papel de parede claro, a escrivaninha organizada, a porta do closet entreaberta…Meu quarto. Estou em casa.As lembranças da noite anterior voltam rapidamente, me dando a certeza de que, dessa vez, não foi um pesadelo. David está preso.Olho o relógio digital ao meu lado. 7:34. Atrasada novamente.Mas antes que eu possa reclamar, uma batida suave na porta me faz sentar na cama.— Pode entrar.James abre a porta devagar, espiando primeiro antes de entrar. Ele já está vestido para o trabalho, mas as olheiras denunciam a noite mal dormida.— Bom dia, filha — sorri, hesitante. — Como está se sentindo?— Estou bem — minto, forçando um sorriso. — Só preciso me arrumar e...— Nem pensar — ele me interrompe, aproximando-se. — Você vai ficar em casa hoje.— Pai, não preciso de folga — insisto, tentando afastar as memórias. — Acho que seria melhor me manter
Mantenho meus olhos fixos em Miranda, me recusando a ser a primeira a desviar o olhar. Não por implicância, mas porque estou cansada de agir como se fosse inferior a ela.Cansada de me perguntar se realmente pertenço a este lugar, sempre que ela me analisa de cima a baixo.— Bom dia, Srta. Bennett — ela cumprimenta, com seu habitual sorriso falso, parando diante da minha mesa.— Bom dia, Srta. Pierce.— Soube do que aconteceu ontem. Deve ter sido… difícil.— Os rumores já estão correndo pela Nexus? — pergunto, me esforçando para manter a voz neutra. Ela solta uma risada debochada.— Rumores? Ah, querida, não… sou uma das melhores advogadas da Nexus, lembra? — provoca, sempre com seu tom carregado de superioridade. — James me pediu para cuidar pessoalmente do processo contra seu padrasto. Meu estômago se revira ao ouvir a palavra “padrasto” sair de seus lábios. Maravilha. Como se tudo o que aconteceu já não fosse suficiente, agora Miranda também saberá de cada detalhe.— Mas, de todas
Pisco algumas vezes, encarando James enquanto espero que ele diga que é uma brincadeira, que me trouxe aqui por qualquer outro motivo. Mas ele permanece sério. Isso realmente está acontecendo?— Meu? — murmuro, sentindo o estômago se revirar enquanto olho de James para Ethan. — Como assim?— Seu presente de aniversário — meu pai sorri. — Adiantado, é claro, mas...— Não — balanço a cabeça. — Não posso aceitar. É... é demais.— Mia...— Pai, é um apartamento! — exclamo. — E, pelo que vejo, em um dos prédios mais caros de Chicago. Eu... eu nem sei…— Você merece um lugar seu — ele me interrompe. — E aqui é seguro.— Mas eu já tenho um lugar seguro — argumento. — Com você.— E sempre terá — ele garante. — Mas sei o quanto você quer sua independência. E depois de tudo que aconteceu… Quero que você tenha um lugar que seja completamente seu. Onde você possa se sentir segura e livre ao mesmo tempo.Mordo o lábio, sentindo minha cabeça correr em círculos. A ideia é tentadora, quase assustado