“Mia Bennett” Tento me concentrar nos documentos à minha frente, mas é impossível quando minha mente parece uma rave. A manhã começou perfeita, com memórias do nosso fim de semana ainda vivas em cada pensamento. O jantar, a suíte, o modo como acordei nos braços dele… como tomamos café da manhã sem pressa porque nenhum dos dois queria voltar para o mundo real. Mas bastou a tarde chegar e Miranda aparecer com seu perfume enjoativo e sua arrogância para que a calmaria desse lugar à insegurança. Sim, insegurança. Por voltar à sala e encontrá-la quase sentada no colo dele. Pelo seu sorriso confiante. Pela intimidade que ela claramente tem com ele. Pela maneira como Ethan parecia normal, quando a cena que encontrei estava longe de ser… — Mia… Levanto o olhar rapidamente, encontrando Lauren parada na minha mesa com um sorriso divertido nos lábios. — Oi — respondo, tentando disfarçar o susto. — Desculpa, estava distraída. — Percebi — ela ri, sentando na beirada da mesa. — E apo
Levo alguns segundos para processar a informação. Solto um suspiro pesado enquanto encaro Ethan, que agora parece tão frustrado quanto eu.Seattle deveria ser… diferente. Um lugar onde não precisaríamos nos esconder tanto, onde poderíamos ter alguns momentos de normalidade longe dos olhares conhecidos.— Como assim? — finalmente pergunto, tentando, sem sucesso, esconder minha decepção.— Miranda está à frente do caso Morrison — explica. — Ela soube da nossa ida e decidiu aproveitar a logística. Já que vamos usar o jatinho, James…— Sugeriu isso — completo, soltando outro suspiro.— Sim. Faz sentido para ela, considerando que Miranda esteve em Seattle há algumas semanas.Mordo o lábio, pensando em como três dias com Miranda serão… complicados. Não por sua história com Ethan, mas porque ela sempre me faz sentir tão… insignificante.— Isso não afetará em nada do que planejamos, OK? — Ethan se aproxima, segurando meu rosto. — Só teremos que ser mais discretos.— Três dias com Miranda pert
Seguro o celular com tanta força que minhas mãos doem, mas não consigo soltá-lo. As palavras de David continuam brilhando na tela enquanto luto contra o pânico que ameaça me dominar novamente.Não, não posso ter outra crise. Não agora.Respiro fundo, tentando não deixar o medo me controlar dessa vez. Preciso ser racional. Se David está mesmo em Chicago, é melhor enfrentá-lo agora, em um lugar público, do que deixá-lo continuar me ameaçando.Talvez, se eu for e ouvir o que ele tem a dizer, ele finalmente me deixe em paz. Afinal, deixou bem claro que virá atrás de mim.A ideia de ele se aproximar de todas as pessoas que se tornaram tão importantes para mim… Não posso deixar isso acontecer.Meu celular vibra com uma mensagem de Ethan, desviando minha atenção.“Estou te esperando na minha sala, perdição.”Respiro fundo, tentando não parecer que estava à beira de outra crise, e me levanto. Quando entro em sua sala, ele está sentado à mesa, analisando alguns documentos.— Quer jantar hoje?
“Ethan Hayes”As vantagens de falar menos e observar mais são que, com o tempo, você percebe qualquer mudança de comportamento. Um olhar diferente, um gesto, o tom de voz… tudo se torna óbvio quando você presta atenção.Por isso, percebi que havia algo diferente em Mia quando ela voltou à minha sala. E não era apenas a irritação causada pela notícia de Miranda.Era a maneira como ela evitava meu olhar, como suas mãos tremiam levemente enquanto segurava minha cintura. A desculpa da cólica…— Mia está mentindo? — murmuro, tamborilando os dedos sobre a mesa. — Mas por que estaria?A porta se abre, interrompendo meus pensamentos, e James entra. Franzo a testa, estranhando o fato de ele ainda estar aqui enquanto Mia saiu há pouco.— Está ocupado? — pergunta, já se sentando na cadeira em frente à minha mesa.— Sempre — respondo, tentando parecer casual. — O que precisa?— Preciso que revise isso antes da reunião com o conselho — James diz, colocando a pasta na minha mesa.— Não confia nos s
“Mia Bennett”As palavras de David ecoam em minha mente enquanto tento controlar o tremor das minhas mãos.Se James soubesse o que aconteceu, como ele reagiria?Afinal, a morte da minha mãe conseguiu transformar o homem que era minha figura paterna em um monstro desconhecido que quase me matou. Então, se James descobrisse como ela morreu, como tudo aconteceu…E se ele também me culpasse, como David me culpa? Se ele passasse a me olhar com o mesmo desprezo que vejo nos olhos de David?Se eu perdesse tudo que estou construindo aqui… James, Ethan, essa nova vida que consegui criar longe de todo pesadelo…Talvez isso me destruiria de vez.— O silêncio nunca foi seu forte, filhinha — David interrompe meus pensamentos, sarcástico. — O que foi? Está imaginando a reação do seu novo papaizinho quando souber que você…— Eu não matei a minha mãe… — consigo rebater, apesar da voz trêmula.— Não? — ele levanta uma sobrancelha, abrindo um sorriso debochado. — Acredito que você não bateu a cabeça e
Minha mão treme enquanto sinalizo para um táxi que se aproxima. Talvez seja resultado da conversa com David, ou da culpa por mentir para Ethan, mas meu coração bate forte enquanto guardo o celular e observo o carro estacionar à minha frente.Pouco depois, estou indo em direção ao apartamento de Ethan, me preparando para o que quer que seja. O motorista tenta puxar assunto, mas minha mente está longe demais para manter uma conversa.Quando ele estaciona em frente ao prédio, não saio do carro imediatamente. Apenas olho para cima e observo as luzes acesas no apartamento de Ethan, imaginando-o lá em cima, provavelmente me esperando para conversar.Talvez seja sobre Seattle, ou talvez ele tenha descoberto que menti. Mas, agora, estando aqui, sinto minha coragem se esvaindo. Não tenho condições de conversar agora. Não quando posso colocar tudo a perder.— Pode continuar a viagem, por favor? — peço ao motorista. — Me leve até o Navy Pier.O velho motorista franze as sobrancelhas, confuso, ao
O sorriso de James diminui ao notar minha expressão séria. Ele se ajeita melhor para me encarar, franzindo a testa. — O que foi, filha? As palavras parecem presas em minha garganta. Como contar que, por minha culpa, ela morreu? Como admitir que minha desobediência custou a vida dela? — É sobre a minha mãe — minha voz sai tremida. Fecho os olhos com força, tentando conter as lágrimas. — Sobre… como aconteceu. James aperta minhas mãos de leve, me dando espaço para continuar. O gesto, tão gentil, só faz minha culpa aumentar. Ele não faria isso se soubesse a verdade. — Tudo começou… — digo, focando meu olhar em nossas mãos unidas. — Com uma festa de despedida… Meus amigos estavam indo para a universidade, seria a nossa última festa juntos pelos próximos anos. Paro por um momento, tentando organizar meus pensamentos. As memórias daquela noite invadem minha mente sem permissão: a chuva forte enquanto a esperava, o som do meu celular tocando, o choro de David do outro lado da linha… —
“Ethan Hayes”Chego cedo à empresa após uma noite praticamente em claro. O sumiço de Mia, que ignorou completamente o meu convite para ir à minha casa. A mensagem curta e fria dela “amanhã conversamos”… Tudo isso contribuiu para minha insônia.O escritório ainda está praticamente vazio, o que é melhor. Preciso colocar alguns papéis em ordem antes que todos comecem a chegar. Antes que ela chegue.Abro meu notebook, mas não consigo me concentrar. Automaticamente, pego o celular pela milésima vez, mas não há nenhuma mensagem dela.Normalmente, Mia já teria mandado um “bom dia”, seguido de alguma reclamação sobre o tempo.— Afinal, o que está acontecendo com você? — murmuro, passando a mão pelos cabelos.Quando o relógio marca oito e meia, meia hora após seu horário habitual, ouço a porta se abrir. Meu corpo enrijece enquanto desvio o olhar, mas, para minha surpresa, não é Mia. É James.— Bom dia — ele me cumprimenta, parecendo exausto, como se também não tivesse dormido. — Vim avisar que