HannaQuando todos foram, o silêncio tomou a casa. Kat e eu nos acomodamos no sofá. Eu a puxei para perto e segurei sua mãozinha enquanto tomava um chá morno e Kat um chocolate quente. Seus olhinhos estavam brilhando, um misto de alegria e alívio por eu estar em casa. — Termina logo esse leite e vai escovar os dentes. — Falo fazendo um carinho em seu cabelo. Ela assente, não demora muito, ela vai e volta e deita no meu colo.Estava perdida em meus pensamentos, quando Kat pergunta, sua voz é calma, mas com uma preocupação serena. Seus olhinhos estão refletindo a preocupação misturada à curiosidade, com a pureza que só as crianças possuem.— Você está quieta, mamãe. — Estou só… pensando, meu amor.Dei-lhe um beijo na testa e tentei desviar meus pensamentos, mas confesso que era difícil me concentrar. Não demora muito, e Kat adormece em meu colo, o calor infantil dela trazendo conforto à pele.O dia havia sido feliz e intenso, mas o que mais me inquietava era o peso das palavras de K
Hanna— Ele te ama de verdade, Hanna, e ama a Kat também. Isso é visível; não precisa que ninguém te diga. Ele aceitou antes de qualquer confirmação, e isso mostra o que sente de verdade. Han, pai, é quem cria, não quem faz o esperma. Ele pode lidar com a verdade; ele merece saber, assim como a Kat merece um pai que ame por completo.Essas palavras deveriam ter me acalmado, mas só me deixaram mais perdida. Ela falou com tanta verdade, com tanta fé nele. Meu peito doía, e a incerteza, em vez de diminuir, cresceu. Hazel sempre fora da minha base, mas e se, dessa vez, ela estivesse errada? E se eu deixasse tudo sair, entregasse cada parte do meu passado e Kevin não suportasse ouvir? Não suporta saber?— Hazel, eu não quero arriscar. Não posso arriscar perder o amor da minha vida… Eu não tenho forças para isso de novo.Hazel me deixou para um abraço, mas, por dentro, eu senti um vazio tomando conta. — Hanna, ele já faz parte da sua vida, da vida da Kat. No hospital, quando eu disse que a
KevinEu estava andando pela cidade, a mesma que conhecia tão bem, mas algo nela parecia errado, deserto demais, sombrio demais. Caminhava pelas ruas vazias, cada esquina trazendo uma sensação de alerta crescente, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer. E foi então que vi Hanna.Ela estava parada do outro lado da rua, os olhos arregalados e o rosto pálido de medo. Tentei chamá-la, mas minha voz parecia não sair, como se uma força invisível abafasse as palavras. Foi então que o vi. Dylan estava lá, ao lado dela, com aquele sorriso cínico que eu conhecia bem. Ele segurava o braço de Hanna com força, e eu podia ver o desconforto e o pânico em seus olhos enquanto ela tentava se afastar.Senti uma onda de adrenalina tomar conta de mim, e corri na direção deles, mas, a cada passo, parecia que a distância aumentava, como se o chão estivesse fugindo de mim. Dylan a puxava com força, murmurando algo em seu ouvido, e Hanna tentava se desvencilhar, mas ele a apertava mais, os dedos
Hanna— Hanna, acorde… Hanna, não me assuma assim. — A voz abafada de Hazel invade minha mente como um eco distante.Meus olhos se abrem lentamente, a visão lentamente se ajusta, mas o tremor dentro de mim se intensifica ao lembrar por que fiquei assim. A mensagem… Meu corpo inteiro treme, e as lágrimas escapam sem controle.— Fale comigo! — Hazel implora, estendendo a mão, e entrego o celular a ela, quase sem forças.Ela o pega com cuidado e lê em voz alta, cada palavra rasgando o ar entre nós.“Oi, gostosa, achou mesmo que esconderia minha filha e eu não descobriria? Qual o nome dela?”— Puta que pariu! — Hazel sussurra, sua mão cobrindo a boca. — Como ele descobriu?Antes que eu consiga sequer formar uma resposta, outra mensagem surge na tela, o som da notificação me faz estremecer. Hazel lê para si desta vez.“Afaste-se de Kevin Stewarth, ou tomo minha filha de você.”— O quê? Eu vou matar esse filho da puta, desgraçado. — Ela explode, sua voz cheia de fúria.— O que tem na mensag
Kevin— Amor, eu vou buscar um copo de água, preciso de um analgésico, por favor, eu imploro, não mexa no meu celular.Desisto de esperar a permissão dela, seguro o celular de Hanna com força, lendo aquela mensagem várias vezes, tentando absorver cada palavra. Era como se o tempo tivesse parado, e tudo ao redor ficasse em silêncio. “Oi, gostosa, achei mesmo que esconderia minha filha e eu não ia descobrir? Qual o nome dela?” Aquilo ecoava na minha mente como uma adaga bem afiada. Cada palavra me destruiu por dentro, como se eu estivesse desmoronando aos poucos.Respirei fundo, mas o ar parecia denso, opressor. Um turbilhão de sentimentos se misturava dentro de mim: raiva, traição, tristeza. É uma dor que eu não poderia sequer explicar, como se tivesse sido arrancado do meu peito, da minha alma. Algo que jamais poderia ser substituído. Tantos momentos, tantas lembranças com Kat… E agora, tudo me parecia uma mentira. Era isso? Eu estava aqui, acreditando ser o pai dela, vivendo como se
KevinDúvidas e incertezas dançam de mãos dadas em minha cabeça, zombando de mim... do quanto fui um tolo.Tudo o que eu queria era a verdade. Ela me desviou disso, depois de toda a expectativa, de todo o sentimento que ela me fez acreditar que poderíamos ter. Eu via Kat, eu via meu reflexo nela, cada sorriso, cada risada... e agora tudo parecia uma piada cruel.Hanna nunca me deu uma chance. Ela me fez acreditar, construiu uma realidade onde eu era o pai de Kat, e agora, diante da verdade, ela se calava, me deixando em uma névoa de dúvidas e angústia.Eu estava à beira da loucura. Todos os sentimentos se confundiram, tornando-me incapaz de distinguir o que era real do que era apenas uma necessidade desesperada de entender.Hazel apareceu não sei de onde, abraçando e confortando-a irmã. Ela é outra mentirosa.— Você é cúmplice das mentiras dela.Hazel olha duro para mim e diz apenas:— Saia da minha casa, Kevin, antes de julgar minha irmã, olhe para o seu umbigo. Eu disse que ela te c
KevinAguardando Davis, eu fechei os olhos e deixei que as lembranças me levassem para longe...Sentei-me ao lado dela, no banco que tantas vezes foi o cenário dos nossos encontros secretos, o lugar onde a cidade desaparecia e só existíamos nós dois. O sol espalhou uma luz dourada pelos fios do cabelo dela, e eu fui pego perdido na maneira como sua pele parece brilhar sob a luz suave da tarde. É como se o tempo tivesse desacelerado, como se o mundo estivesse em pausa só para nós.— Lembra de quando costumávamos nos esconder aqui? — sussurrante, com a voz baixa, quase com medo de quebrar o encanto. Hanna sorri, aquele sorriso que me desconcerta desde o primeiro momento, e deita a cabeça no meu ombro, aninhando-se como se este fosse o lugar mais seguro do mundo.— Lembro, sim, — ela responde, com voz doce e um pouco melancólica. — Eu sempre esperei que você estivesse aqui, sempre com aquele mesmo casaco preto… — Ela dá uma risadinha, e isso me faz rir também.É tão simples, mas cada ges
Kevin— Por que caralho, você está de pijama no parque a essa hora? — Davis pergunta assim que senta ao meu lado no banco.— Cara, eu estou na merda. — Falo olhando para nossas iniciais na árvore. — O que aconteceu? Você ficou feliz porque Hanna voltou para sua vida e tem a Kat, sua filha. — Ela não é minha filha. — Falo com a voz tão baixa que ele quase não conseguia ouvir.Davis me olha, franzindo a testa como se eu tivesse acabado de falar algo absurdo.— E daí? A menina te ama, e a Hanna também. Sendo do seu sangue ou não. Ele fala como se fosse a coisa mais simples do mundo, mas para mim...— Eu também amo as duas — confesso, quase como um desabafo.— Então, para que esse drama todo? — Ele me olha com uma incredulidade misturada com um toque de impaciência. — Nunca ouviu aquele ditado: “Pai é o que cria!”— Cara, ela mentiu para mim. Teve várias oportunidades para revelar a verdade, mas não… — Solto um suspiro frustrado. — Em que mais ela mentiu? Já que entende de ditados, con