Odeio Rivermont. Essa cidade é uma espelunca, cheia de pobres e pedintes. Mas o cliente é importante, então sou obrigado a fazer esse sacrifício. Caminhando ao lado de um parque, vejo uma silhueta feminina que chama minha atenção. Cabelos longos loiros, cintura fina, tudo no lugar certo. Sorrio, me aproximando. É como se ela sentisse meus olhos sobre ela e se vira. Paro imediatamente. É Hanna, a empregadinha que quase me fodeu no passado.— Como você conseguiu ficar ainda mais gostoso? — murmuro para mim mesmo, lembrando de vê-la passar pelos corredores, rebolando aquele uniforme apertado. Fiquei louco, desejando possuí-la, imaginando-a como minha bonequinha. Tantas vezes quis tê-la só para mim, aproveite cada detalhe sem pressa, sem interrupções.Ela parece alheia à minha presença só de ver aqueles olhos, todas as memórias voltam. Naquela noite, quando meus pais viajavam a trabalho, ela ficou na casa para cuidar de Sophia. Esperei que ela terminasse o trabalho e, quando minha irmã ad
KevinQuando as vi vindo em minha direção, percebi que algo não estava certo. Como eu previa, Hanna quase implorou para que eu as levasse para longe dali. Olhei ao redor, tentando encontrar a pessoa que ela mencionara, mas não vi nada. Como estávamos distantes do parque, acredito que, se realmente alguém a estivesse observando, houve tempo suficiente para se esconder.Conforme o combinado, fomos ao fast food. Após comer, Kat correu para brincar, e eu aproveitei estarmos a sós para roubar um beijo dela. Ela sorriu e correspondeu.— Amor, não fique brava, mas posso te fazer uma pergunta pessoal? — perguntei, preocupado, mas com receio de que ela ficasse irritada.— Claro, amor. — Hanna respondeu, ainda que com uma certa apreensão. Sua postura, antes relaxada, agora estava tensa e ereta.— Você faz terapia? — Ela se surpreendeu com a pergunta, e percebi que seus ombros relaxaram um pouco.— Fazia. Por que a pergunta?— Percebo que, em alguns momentos, você tem crises de ansiedade. — Ela
HannaQuando Kevin começou a falar, juro que pensei que ele fosse perguntar se Kat era sua filha. Por um instante, relaxei. Mas depois… depois, senti uma vontade de sair correndo, ir embora, virar as costas e simplesmente andar sem rumo. Vivo com um medo que não me deixa, que me consome diariamente. Medo de que Kevin ache que minha bagagem é pesada demais, que a minha história seja algo com o qual ele não pode lidar. Eu poderia ter falado sobre Kat, sobre o que ela representa, sobre como ela é fruto daquele abuso que destruiu parte de mim. Mas o medo de perdê-lo é ainda mais profundo do que as lembranças que me assombram. Esse medo de que, ao expor minhas feridas, eu o afastaria para sempre, me sufoca. No caminho de volta, Kat cochila no banco de trás, mas o silêncio entre mim e Kevin é devastador, quase sufocante. Ele segura o volante com tanta força que seus dedos estão pálidos. Quando percebo que ele está tomando um rumo contrário ao de casa, a ansiedade volta a me consumir e, em
Hanna — Ah, verdade! Você conhece o Dylan, não conhece? — Ela joga a pergunta no ar como quem lança uma isca. Sinto o sangue fugir do meu rosto, meu coração dispara. Kevin está ao meu lado, e posso ver em seus olhos que ele notou minha reação. Mas não há tempo para disfarçar. Preciso saber se Dylan faz parte da vida dele, se é alguém que ele considera. Se for, como eu poderia continuar aqui? Não posso conviver com aquele homem, não o quero perto de mim, e muito menos da minha filha.— Kevin, você é amigo do Dylan Mcnold? — Minha voz sai mais firme do que eu esperava, embora sinta o estômago revirar. O peso daquela pergunta não é algo que eu queira compartilhar com ele. Não agora, talvez nunca.— Por que quer saber? Você o conhece? — Kevin franze a testa, a voz carregada de irritação.— Responde a merda da pergunta, Kevin. — Estou tão tensa que sinto a visão começar a ficar turva. Vejo pontinhos brilhantes, e meu peito está apertado, como
HannaAlguns dias depois… Estou na cozinha com minha irmã e alguns funcionários, estamos adiantando para o evento que será amanhã na hora do almoço.— Hanna, preciso ir, o Jason já está vindo me buscar, hoje é o jantar com os pais dele.— Podem ir, estou terminando já, eu fecho tudo.— Tem certeza de que não quer companhia? — Rachel pergunta ao terminar de embalar os docinhos.— Não amore, pode ir. Aproveita para descansar, porque amanhã começaremos cedo.— Está bem, então, boa noite.— Boa noite, Rachel.A noite estava quieta no buffet. Depois de um longo dia de trabalho, todos já tinham ido embora, e eu fiquei para limpar as últimas coisas e organizar o espaço para o dia seguinte. O silêncio da cozinha era tranquilizador; o som ritmado da água caindo na pia e o leve eco dos meus passos no chão azulejado eram quase hipnotizantes.Estava tão absorta nos meus pensamentos que, a princípio, não percebi o barulho vindo da porta dos fundos. Era um som sutil, como se alguém estivesse tenta
KevinChego na casa da Hanna, e é a babá quem atende a porta. Seus olhos estão tensos, como se soubesse que algo estava errado.— A Hanna não está com você? — ela pergunta, olhando de relance para o corredor.— Não, eu fiquei de vir aqui hoje, mas ela não se encontrou comigo.— Estranho. Ela me enviou uma mensagem dizendo que estaria com você. — Ela olha por cima do ombro, provavelmente como se tivesse medo de Kat aparecer.Um nó se forma no meu estômago. Pego meu celular e ligo para ela, mas só ouço o som irritante de chamadas não atendidas até que caiam na caixa postal.— Ela não atende. Você tem o telefone da Hazel? — pergunto, minha voz repleta de preocupação.— Tenho, sim. Entre, eu vou pegar o número. — Ela hesita, me lançando um olhar cheio de incerteza. — Não deixe que a Kat perceba, ela é muito apegada à mãe.Assinto e entro em silêncio. Enquanto ela vai pegar o número da Hazel, eu tento ligar para o segurança que Davis enviou para cuidar dela. Mas, assim como com o celular d
KevinQuando finalmente a ambulância chega, eles se movem rápido, mas cada segundo parece uma eternidade. Enquanto os paramédicos trabalhavam, minha mente se enchia de cenários terríveis, estava morrendo de medo de perdê-la para sempre. A cada movimento deles, sinto uma pontada de esperança misturada ao medo.Eles a colocam na maca e eu insisto em segui-la até o hospital, não consigo me afastar. No caminho, aperto a mão dela, mesmo que esteja inconsciente. Não vou soltá-la. Não até ter certeza de que ela ficará bem.No hospital, segui com eles até onde pode, e me cortou o coração vê-la passando pelas portas escrita emergência, caiu de joelhos no chão chorando compulsivamente.Nem sei por quanto tempo fico lá, sou desperto por uma mão grande em meu ombro, olho para cima e vejo meu amigo.— Como? — Não termino de falar, ele me interrompe dizendo:— O segurança tinha meu contato como emergência, então imaginei que estaria aqui, como ela está?— Não sei — digo derrotado — O pulso estava f
KevinAssim que o médico permitiu, entrei no quarto de Hanna. Ela estava tão frágil, conectada a fios e aparelhos que monitoravam cada sinal vital. Sentei ao seu lado e segurei sua mão. Ela ainda estava inconsciente, mas estar ali com ela me dava uma sensação de paz, mesmo que breve. Sussurrei em seu ouvido:— Estou aqui, meu amor. Por favor, seja forte.Eu sabia que aqueles minutos ao lado dela eram preciosos. Meu coração batia acelerado, e lágrimas escorriam pelo meu rosto novamente. Beijei sua mão, fazendo carinhos suaves sem parar.— Desculpe, meu amor, por não estar lá para te proteger.Logo, uma enfermeira pediu que eu saísse, dizendo que Hanna precisava de repouso absoluto. Senti o peso da despedida, mas sabia que ela estava em boas mãos. Dei um beijo em sua testa e saí do quarto, com o coração um pouco mais leve, mas ainda inquieto.Assim que fechei a porta atrás de mim, fui conduzido por Davis até a sala de espera, onde dois policiais me aguardavam. Começaram a fazer pergunta