Avalon, vinte e três anos antes.
Emy Beaumont era a herdeira legítima do trono. Mas todos sabiam que seu único irmão, Stepjan Beaumont fazia de tudo para que a irmã não assumisse, pelo fato de ela ser mulher.
Emy nasceu sabendo de suas responsabilidades enquanto princesa, bem como quando se tornasse rainha. Então, não tinha nenhuma intenção de abrir mão de seu reinado, principalmente pelo fato de ter sido treinada e preparada a vida inteira para assumir aquele papel, tendo inclusive abdicado de várias coisas ao longo de sua existência pelo fato de ser futura rainha de Avalon.
Embora fosse forte e decidida, Emy Beaumont era uma mulher sensível e tinha uma grande vontade de fazer a diferença em Avalon. Não que não concordasse com a forma de reger de seus pais, mas ansiava por modernidade e negócios com países de primeiro mundo e bem desenvolvidos. Criar fortes alianças era seu maior objetivo, assim como tentar dar uma vida digna a todos os moradores de Avalon, fossem eles aristocratas ou plebeus. Era uma garota caridosa e tinha a simpatia de grande parte do povo.
Insatisfações e ataques rebeldes sempre houveram, mas ela tinha vontade de um dia acabar com aquilo. Seria a paz para o castelo e as pessoas que moravam próximas a ele, bem como para os anarquistas que queriam mudanças nas quais eles também fossem contemplados, o que era justo.
Emy Beaumont assumiria o trono quando o pai morresse, pois ele era o herdeiro legítimo da coroa. Embora seu pai lamentasse profundamente o fato de ela ter nascido antes do irmão, o impedindo de assumir o reinado, aceitava que não tinha o que fazer quanto a isso e que no fim era ela que assumiria.
Por isso desde que nasceu sua única função foi se preparar para ser futura rainha. Cresceu vendo o pai comandar o reino e sua mãe sorrir o tempo todo, mesmo quando tinha vontade de chorar. Embora não tivessem um relacionamento de amor, o rei e a rainha se respeitavam. O casamento, como sempre aconteceu entre as monarquias, foi planejado pelos pais deles. Emy sabia que provavelmente não poderia escolher seu marido, mas aceitava o que se pai havia escolhido para ela, na certeza de que era melhor para o Reino de Avalon. Até porque tudo que ela precisava era concordar enquanto fosse a princesa e seu único objetivo era sempre colocar Avalon em primeiro lugar.
Ela conheceu seu futuro marido, o príncipe de um reino muito distante, um mês antes do seu casamento. Embora ele não fosse o que ela imaginou, também não era muito diferente do que almejou: um homem corajoso e que vinha também da realeza de um outro reino.
Depois do casamento e com o novo príncipe dentro do castelo, o rei sentiu-se mais seguro para fazer suas viagens de negócios, pois tinha não só o filho Stepjan, mas também o esposo de sua filha para auxiliar em Avalon em sua ausência. Claro que ele não admitia que Emy poderia ser capaz de assumir enquanto ele estivesse fora, sendo que um dia, quando ele não mais existisse, ela teria que fazer tudo sozinha.
As viagens do rei passaram a ser cada vez mais frequentes e ele conseguiu fechar grandes negócios benéficos para Avalon. Entre idas e vindas, sempre de forma muito segura, em aviões geralmente particulares e carros blindados com vários guardas reais, o rei veio a falecer, vítima de uma pane na aeronave na qual voava.
A princesa Emy Beaumont, aos dezenove anos, era a herdeira do trono e passaria a ser rainha, o que gerou medo no reino de Avalon. Ela era muito jovem e mesmo sem conhecê-la direito ou saberem sobre seus ideias e objetivos para o reino, a julgavam incapaz. Dentre os burburinhos da nova rainha que surgia e investigações que levavam a um possível assassinato do rei, devido a problemas mecânicos numa aeronave comprada nova e com toda manutenção em dia, saída diretamente do heliporto do castelo, o caos se instalou em Avalon.
Mesmo contra a vontade de Emy, Stepjan, aos dezoito anos assumiu interinamente o trono, fazendo acordo com a corte de que sua irmã em três anos tomaria seu lugar de direito. Não houve o que Emy pudesse fazer, mesmo com o apoio do marido.
Inicialmente o príncipe, casado com Emy, percebendo o quanto seria difícil tirar Stepjan do poder, tentou aliança com seu próprio reino, no qual seu irmão assumira como rei. No entanto, não houve ajuda. Stepjan já havia se aliado a todos os reinos que ainda existiam, bem como já tinha a simpatia dos países republicanos vizinhos. Em dois anos o rei Stepjan já tinha todo o povo de Avalon ao seu lado e para Emy tomar o trono seria impossível, pois uma guerra aconteceria.
Emy temia ainda mais pelo fato de ver o quanto Stepjan era manipulador e mentiroso. Dava benefícios ao povo em troca de alianças e aceitação. Ela não conseguia vê-lo fora do poder, muito menos a corte indo a seu favor ou lhe entregando a coroa.
Menos de um ano antes de Emy Beaumont assumir o trono, conforme acordo com Stepjan e a corte, seu marido morreu envenenado dentro do castelo. Meses de investigações e nunca se encontrou um culpado. Ela já temia por sua própria vida, visto que cada vez mais pessoas próximas à ela estavam sendo assassinadas e sem encontrar vestígios de culpados, sendo que toda a polícia e guarda do reino estavam em busca do responsável. Mesmo a mídia do mundo todo de olho no que acontecia em Avalon, nunca foi encontrado o possível criminoso. Então a autoria passou a ser inclinada para os movimentos rebeldes. Emy não queria, mas suspeitava de seu irmão.
Então o golpe contra a futura rainha foi dado há dias antes de ela assumir o trono... Mas não foi um golpe político, como se esperava. Ela foi encontrada sem vida em seu próprio quarto e sem vestígios de qualquer tipo de violência. Os mais próximos de Emy nunca aceitaram a autópsia que dizia: morte natural...
Domingo era o dia que eu tinha que almoçar junto de meu pai. Não importava o que houvesse, naquele dia da semana nos reuníamos na sala de jantar real e fazíamos o desjejum e o almoço na companhia um do outro. Então ele fingia que se importava comigo e eu que acreditava.Tomei um longo banho e procurei algo para vestir. Iniciar a manhã no desjejum com meu pai era sempre um pouco tenso. Eu tinha que estar impecável. Não que durante os outros dias eu não tivesse cuidado com minha aparência, afinal, eu era a princesa de Avalon. Mas se ele visse qualquer coisa que não estivesse de acordo com o que esperava de mim, eu era punida. A punição não era física, mas com aulas e qualquer coisa que ocupasse ainda mais o meu tempo para aperfeiçoar o que ele julgasse que não estava perfeito.Enquanto eu olhava para minhas centenas de roupas penduradas no closet c
Andei ereta junto de Mia até o salão de jantar onde eu faria a primeira refeição do domingo com meu pai, o rei Stepjan Beaumont. O lugar onde nos encontrávamos no final de semana e que eu a maioria das vezes fazia as minhas refeições sozinha era um dos espaços amplos e pouco arejados do castelo. A mesa em formato oval comportava somente 14 pessoas, por isso era usado somente para momentos mais íntimos. O salão de jantar das visitas era em outro local. Ainda assim as toalhas impecavelmente brancas e a decoração com várias flores naturais da estação estavam sempre ali, esperando por mim. As confortáveis cadeiras almofadadas em tom caramelo combinavam com os quadros caros e antigos que adornavam as paredes com papel adesivo. Dois lustres enormes pendiam do teto, iluminando a mesa com velas que eram usadas em ocasiões especiais, senão luzes artificiais em tons am
Quando voltei para o meu quarto, Mia veio junto de mim, falando tanto que eu nem conseguia lhe dar atenção. Eu estava ainda tentando assimilar que eu iria deixar meu reino depois que casasse com o desconhecido príncipe. E talvez eu nem recebesse um motivo plausível para aquilo.- Você ouviu o que eu falei? – ela perguntou sentando na poltrona na minha frente enquanto eu sentei na minha cama.- Não ouvi nada. – confessei.- Em que mundo você está, Satini?- Num mundo que não conheço... Você o ouviu dizendo que assim que casar deixarei Avalon?Ela se calou por alguns instantes:- Talvez ele volte atrás.- Eu não queria acreditar nisso, mas às vezes parece que ele quer se livrar de mim.- Não pense isso. Você é a única filha dele. Por mais que pareça às vezes que ele não se impo
Fiquei mais tempo do que eu previa no jardim e quando percebi já estava anoitecendo. Eu ficava tanto tempo sozinha comigo mesma que era normal aquilo acontecer: eu perder completamente a noção do tempo.Quando estava voltando para adentrar no castelo, vi Alexander vindo em minha direção e não pude deixar de observar o quão lindo ele havia ficado com o tempo.- Você está louca? – ele perguntou.- Quem você pensa que é para falar comigo desta maneira?Ele me encarou e pareceu tentar se acalmar, ficando alguns minutos em silêncio. Mas eu sentia sua respiração acelerada:- Desculpe, Alteza. – ele curvou-se, mas eu sabia que aquilo era de forma irônica.- Do que você está me acusando exatamente, Alexander?- Por que você quer sair de dentro do castelo? Acha mesmo que isso é prudente?- Meu pai pe
Deixamos os muros do castelo num automóvel simples e sem nenhuma logomarca do reino, provavelmente tudo organizado premeditadamente por meu pai e Alexander. Até a placa era comum. Creio que tenha sido comprado somente com a finalidade de nos atender pelos próximos cinco meses.Alexander dirigia e Mia foi na frente com ele. Eu atrás. Eu conhecia as ruas próximas e as grandes lojas caras da avenida principal do centro de Avalon. Mas era a primeira vez que eu saía me sentindo realmente livre.- Acho que meu coração vai sair pela minha boca. – confessei.Os dois riram e eu continuei:- Obrigada por estarem comigo.Mia virou a segurou minha mão:- Amo você, amiga.- Também te amo, Mia.- Eu estou sendo pago e muito bem pago para fazer isso. Caso contrário, não faria. – disse Alexander.- Por que você tenta estragar tudo
Ele pegou as sacolas e saímos para a calçada movimentada.- Aonde vamos agora, Satini? – ele perguntou, esquecendo o “Alteza” ou “Princesa” rotineiros.Encarei-o e disse:- Eu gostaria de tomar um sorvete. Sabe que eu nunca tomei um sorvete na rua?- Podemos ir... – ele começou.- Não! – cortei o restante da sua fala. – Eu disse que gostaria, mas não com você ao meu lado, Alexander. Confesso que você conseguiu estragar a primeira parte do passeio. Mas eu não vou desistir. Temos a noite... E eu espero que você esteja um pouco mais animado, afinal, está ganhando para me acompanhar, não é mesmo?Dizendo isso eu voltei para o carro, com Mia ao meu lado. Ela não falou nada e eu entendia muito bem o motivo: ela amava a nós dois por isso não podia intervir e nem escolher um lado.Sentei no banc
Se eu me importei de ficar na fila? Óbvio que não. Eu só queria entrar naquele lugar e meu coração dava saltos dentro de mim. Mas depois de esperarmos uns dez minutos, Alexander pegou minha mão e Mia veio atrás de nós. Ele falou algo com o segurança e entramos, deixando todo o pessoal para trás.- Como você fez isso? – perguntei. – Eu não me importava de esperar. Não é justo passarmos na frente.- Tenho meus contatos. E lhe garanto que não sou só eu. Muita gente aqui também tem.O lugar era enorme por dentro e luzes coloridas piscavam por todos os lados. Tinha tanta gente que eu nem conseguia contar. E vestiam tudo que era possível: desde vestidos colados até jeans rasgados. E viva a moda! Eu era a única vestida de “jeans duro” e camiseta. Look errado, Satini. Na próxima sexta você vir&aac
Eu despertei quando Alexander estava me jogando na minha cama, sem nenhum tipo de delicadeza ou cuidado.- Eu odeio você. – falei.- Acho que você já me disse isso umas dez vezes. Vou sobreviver com seu ódio, não se preocupe.Ele foi saindo e eu levantei, cambaleante. O quarto estava na penumbra. Cheguei na porta antes dele e não o deixei passar. O encarei.- O que você quer? Me trancar aqui com você, sua louca? Acha mesmo que pode ficar na rua e não me dar satisfações?- Pare de falar e me beije. – eu ordenei.Ele me olhou confuso e surpreso e percebi que ficou sem jeito. Passou as mãos pelos cabelos e eu levantei meus pés e encostei meus lábios no dele, que em pouco tempo colocou sua língua quente dentro da minha boca, dançando com a minha, num mesmo ritmo. Passei meus braços sobre o pescoço dele, trazendo p