CAPÍTULO 1

Sábado, 06 de julho de 2013

            São 09:00h da manhã em Nova York e após todo procedimento de desembarque, já de posse da minha bagagem consigo ver minha amiga Carol, e me sinto aliviada em vê-la aqui. Ela vem em minha direção e quase me derruba com um grande abraço enquanto dá gritinhos de felicidade.

- Ah Sam, não acredito que você tá aqui, estou tão feliz amiga. Só de olhar pra você aqui, no JFK, me faz sentir um pouco mais em casa – Isso acendeu uma luzinha na minha cabeça, se Carol está aqui a pouco mais de dois anos e ainda não se sente em casa aqui, será que algum dia vou conseguir?

Eu retribuo seu abraço, mal conseguindo falar, mas encontro forças pra dizer: - Senti tanto sua falta... eu estou realmente apavorada por ter vindo pra Nova York. Mas, Ver você aqui, a minha espera, significa tudo pra mim. – Enxugo uma lágrima que escapa pelo canto do olho.  – Você está linda Carol. Nova York está fazendo muito bem pra você. Você parece... sofisticada.

- Vai fazer muito bem pra você também, você vai ver. Você não está sozinha aqui e nós duas vamos nos divertir muito juntas. Agora, vamos embora pra casa – diz ela enquanto me ajuda com as bagagens – que eu estou ansiosa pra apresentar a cidade pra você.

Eu e Carol estudamos juntas na Faculdade de Direito do Recife, e nos especializamos em direito empresarial internacional. Quando ainda estávamos na faculdade, conseguimos entrar num programa de estágio da AAD Tecnology, uma das empresas que fazem parte do grupo Foster. Após a conclusão do bacharelado, conseguimos continuar na empresa, agora não mais como estagiárias, mas fazendo parte do departamento jurídico. Após a nossa especialização, Carol conseguiu vir trabalhar em Nova York na sede do grupo Foster, esse grupo hoje possui diversas empresas espalhadas pelo mundo, mas tem investido bastante na América Latina, sobretudo no Brasil. Carol tem feito um grande trabalho aqui nos últimos dois anos e hoje coordena uma equipe de trabalho que é responsável por administrar todos os contratos e processos da AAD Tecnology no Brasil, intermediando as relações com a sede do grupo. Quando Carol me ligou para falar dessa oportunidade de compor a sua equipe em Nova York eu tremi de medo, mas também de excitação. É uma grande oportunidade pra deixar passar e antes que eu pudesse me dar conta já estava dizendo sim. Isso irá enriquecer ainda mais o meu currículo e quando voltar para o Brasil tenho certeza que terei excelentes propostas de trabalho.

            Durante todo o percurso do aeroporto até o apartamento de Abby eu admirei a cidade e soltei inúmeros suspiros para os prédios, ruas e avenidas de Nova York. Algumas tão famosas na televisão. Parece surreal estar aqui. Quando estamos de pé em frente ao apartamento onde Carol vive hoje e onde eu viverei pelos próximos meses, eu assobio – Nossa Carol que prédio bonito.

Ela concorda – Sim. Ele é muito bonito. Tive muita sorte de conhecer Abby. Ela é uma boa amiga. Seus pais lhe deram esse apartamento, eu moro aqui a mais de um ano, mas não pago aluguel pra ela por que, como ela não precisa do dinheiro, ela veementemente se recusa a aceitar. Na verdade ela estava muito solitária na época e ficou feliz em ter companhia, ela insistiu muito para que eu viesse morar com ela. Nós ficamos amigas logo de cara. Pra não me sentir tão inútil eu ajudo a pagar algumas contas e procuro deixar a geladeira abastecida, você sabe que eu adoro cozinhar e ela adora meus pratos, então nos damos muito bem assim. Se não fosse por ela com certeza eu estaria morando bem mais distante da empresa.  Além do mais ela arrumou um namorado há alguns meses e tem passado bastante tempo na casa dele.

- Eu estou preocupada. E se ela não for com a minha cara? E se ela não quiser que eu fique no apartamento. Eu odiaria ter que me afastar de você logo de cara. Preciso apenas de um tempo pra me acostumar aqui e... – Ela me interrompe.

- Você não precisa ficar assim. Abby é uma pessoa maravilhosa e ela está animada em ter mais uma amiga. Nós vamos curtir muito nesse apartamento. Além do mais, você me conhece, eu jamais incentivaria você a ficar se eu imaginasse que Abby não gostaria da sua companhia. Relaxe, Sam. Vai dar tudo certo. Confie em mim.

Dou-lhe um abraço apertado - Eu confio amiga. Muito. Por isso estou aqui.

O apartamento é simplesmente perfeito, possui três dormitórios todos com banheiros privativos. O meu é um pouco menor dos três, mas ainda assim imenso. Possui uma cama de casal de madeira branca, uma mesa de estudos e um armário branco, tudo estava organizado e eu tenho certeza que isso é coisa de Carol. Conforme Carol havia previsto, Abby me recebeu muito bem, ela está toda animada e já propôs uma saída à noite pra comemorar minha chegada. Meu inglês está em dia, eu sempre estudei a língua e sempre participo de teleconferências com a sede fazendo uso da língua. Nos últimos meses, diante da possibilidade de vir pra cá, tenho exercitado diariamente a conversação em um curso intensivo, mas confesso que é assustador estar em um lugar onde todos falam outra língua, além do fato de meu sotaque ser bastante carregado, o que eu pretendo resolver durante a minha estada aqui, para me fazer entender pelas pessoas com as quais vou interagir. Com Abby fluiu tudo bem, não sei se pelo fato dela morar com uma brasileira, nos entendemos muito bem, embora perca uma ou outra palavra do que ela diz, consigo compreender quando analiso o contexto. Ela tem um namorado que nos encontrará em um bar aqui perto e Carol vai levar um amigo americano que, segundo ela, é um gato. Mas ela garante que não está namorando ele, ainda.

Passamos o resto do dia de sábado conversando, eu atualizo Carol quanto às novidades do Brasil e ela me fala sobre como é viver em Nova York, embora esse tenha sido o principal assunto entre nós nos últimos meses via Skype, Messenger, F******k ou W******p. Carol chegou a pouco mais de dois anos pra trabalhar no departamento jurídico responsável pelos contratos das empresas pertencentes ao grupo Foster, onde já atuava um grupo de brasileiros e americanos. Ela conseguiu se destacar no grupo e assim que o antigo coordenador ascendeu na empresa indicou-a para assumir a coordenação da equipe. Ela assumiu há poucos meses e tem sido um grande desafio pra ela. Embora trabalhe com pessoas muito competentes, ela precisava de alguém que estivesse completamente familiarizado com as transações entre a sede e as filiais brasileiras e estivesse por dentro dos procedimentos que ocorriam no Brasil de um modo geral. Eu já cuidava da maioria desses contratos no Brasil e, logo que surgiu uma oportunidade na equipe, Carol fez o possível pra que eu viesse pra cá trabalhar ao seu lado. Ela me conhece como profissional e também como pessoa e confiou em mim para o trabalho. O grande desafio é a mudança, não exatamente o trabalho em si. Mas estou confiante, tudo é uma questão de adaptação.

Eu vim pra Nova York com uma boa reserva de dinheiro que já vinha juntando desde que comecei a trabalhar, eu morava com meus pais, e minhas despesas pessoais sempre foram mínimas. Além do fato de ter recebido uma boa quantia referente aos custos com a transferência. Mas morar no apartamento de Abby reduzirá bastante minhas despesas de modo que o salário percebido por mim será mais do que suficiente para me manter, minha poupança ficará segura, bem como o valor que recebi da empresa. Isso me dá uma sensação de segurança, pois ainda que estivesse aqui sem emprego poderia viver modestamente ainda por alguns meses, o que não é o caso. Estou mais do que feliz com minha nova moradia e pelo que vi eu e Abby podemos nos dar muito bem.

            Jogamos conversa fora o dia inteiro. As meninas me ajudam a me acomodar no meu novo quarto e quando vimos já é hora de sair para nossa farrinha de boas-vindas. Eu estou um pouco cansada, pois dormi muito pouco no avião e tive um dia de muita agitação, mas não poderia deixar de sair na minha primeira noite em Nova York. Além do mais, eu estou ansiosa por ver a noite em Manhatan. Carol me ajudou a escolher o que vestir. Como estamos no mês de julho, é verão em Nova York e a temperatura de dia é infernal, já a noite está bem mais agradável. Assim, depois de provar três vestidos, Carol votou pelo vestido preto com decote em V e uma aplicação em pedraria entre os dois seios como um medalhão em forma de losango. É um vestido que eu adoro, pois além de acentuar minhas curvas ele valoriza meus seios, sem ser vulgar. Calcei sandálias pretas com tiras finas de salto com 10cm de altura. Meus cabelos são muito pretos e longos, vão até a cintura, e meus olhos são negros como duas jabuticabas. Passei apenas um batom de cor nude e uma sombra clara apenas para iluminar o olhar, não sou muito de usar maquiagem, mas na minha primeira noite em NYC quero mais é arrasar.

            O bar fica a apenas duas quadras do apartamento, por isso resolvemos ir andando mesmo. Fui durante todo o caminho falando em inglês, tanto com Carol como com Abby, quanto antes eu me habituar a falar inglês a todo o momento, melhor pra mim, sobretudo no trabalho. Quando chegamos ao bar os rapazes não haviam chegado, segundo Abby, Mike, seu namorado, demoraria um pouco e Christian, o amigo de Carol, também. Pedimos três drinks que tinha sabor de morango, doce, uma delícia e nós praticamente viramos nossos copos. Estávamos na segunda rodada de drinks quando Christian chegou, feitas as apresentações, ele me desejou boas-vindas. Ele também trabalha na Foster, mais especificamente no setor de marketing e, a julgar pela maneira que ele olha pra Carol não vai demorar muito para mudarem o status de amigos para namorados. Christian deve ter cerca de 1,90m com cabelos e olhos castanhos, muito simpático, e fala bastante. Está vestindo uma calça jeans preta e camisa azul clara. Tanto Carol como Abby são loiras, sendo que Carol é mais baixa do que Abby. Os olhos de Carol são verdes e os de Abby de um tom de azul claro hipnotizantes. Abby exala beleza e sofisticação e Carol exala sensualidade. Mike chega e, minha nossa, ele é de tirar o fôlego, com seus cabelos castanhos escuros e olhos verdes. Ele exala charme e riqueza, não é preciso ser um gênio para perceber pelas suas roupas e modos que ele tem dinheiro. Mas fica por aí, pois é extremamente simpático e educado. Além de muito divertido, com um grande sorriso estampado no rosto e uma piada na ponta da língua. O assunto da noite girou em torno das praias brasileiras, nenhum deles esteve no Brasil e já estávamos cogitando a possibilidade de umas férias em grupo para apresentarmos as praias do Nordeste brasileiro pra eles. Mike perguntou se gostaríamos de ir para a inauguração de uma boate na 9th Avenue e pela localização eu já sabia que seria chiquérrima.

- Eu tenho convites para a área vip, pois a boate pertence a um amigo meu. – Mike explica e sem resistência de quaisquer das partes os rapazes pagaram a conta e saímos do bar. Pegamos táxis e logo estávamos diante da boate.

            O prédio é todo em tijolos vermelhos, com dois holofotes enormes apontando para o céu logo na entrada. No alto da fachada há uma placa luminosa com o nome do lugar “Red” e um tapete vermelho nos direciona para a área vip ignorando a imensa fila na entrada. Uma jovem loira, com olhos azuis, vestida com um justo vestido vermelho curto e saltos vermelhos altíssimos, está caprichosamente maquiada, ela nos recebe dando as boas vindas e em seguida nos acompanha até o primeiro andar que circula todo o salão como uma varanda suspensa em torno da pista de dança. As paredes são vermelhas e luzes hipnóticas oscilam por todo o salão. À direita, no térreo, tem um bar que ocupa toda a parede e diversos pufes e chaises margeiam o salão que está lotado. Na área vip, mesas de ferro douradas são circuladas por poltronas vermelhas aveludadas em forma de U com capacidade para seis pessoas e cada mesa separa-se das outras, por uma mureta de ferro dourado toda trabalhada em forma de arabescos. A palavra que me vem à cabeça, depois de luxo, é claro, é a palavra sensual. O ambiente exala sensualidade.

Logo que entramos, Mike pergunta o que vamos beber, as meninas me sugerem um drink de frutas vermelhas e eu aceito, decidida a ir devagar com a bebida. Além de não ter o hábito de beber, logo não tenho muita resistência, eu ainda me sinto apreensiva. Não que eu não confie nas pessoas que estão comigo. Eu confio de olhos fechados em Carol e, se ela diz que posso confiar nesses novos amigos que estou conhecendo aqui, eu acredito no seu julgamento. Mas, estar em um país estranho, longe de casa, da família, jogada no desconhecido, traz à mente todos aqueles conselhos da sua mãe do tipo: “não fale com estranhos” ou “não aceite bebidas de quem você não conhece” e muitos outros. Uma garçonete vestida da mesma forma que a outra jovem que nos recebeu se aproxima e anota nossos pedidos. As bebidas chegam e eu dou um pequeno gole pra experimentar.

- Saboroso. – digo e dou outro gole, mas logo me lembro de que preciso ir devagar. Ainda tem os drinks que tomamos mais cedo no bar antes daqui. Os rapazes engatam uma conversa sobre um software novo que está sendo lançado e Abby nos arrasta para o andar de baixo.

- Viemos aqui para dançar meninas, vamos lá. – A música é alta, envolvente, sinto a batida como se ela viesse de dentro de mim e logo estamos dançando empolgadas no meio do salão. Todos os acontecimentos das últimas horas: a despedida da minha família, toda a apreensão durante o voo noturno de Recife à Nova York, as pouquíssimas horas de sono, tudo isso evapora por alguns instantes e me sinto leve por estar aqui numa boate fantástica, em Nova York, com minha melhor amiga e com Abby que eu sinto que não vai demorar pra se tornar uma amiga muito querida também. Uma batida sensual começa. – Vamos sensualizar meninas – Diz Carol, e damos um belo show. Fecho os olhos me entrego à batida, meu vestido preto acentua as minhas curvas, meus cabelos longos acompanham meus movimentos. Eu me entrego e esqueço tudo. Quando eu abro os olhos, sinto um par de olhos azuis fixos em mim e por um momento estou presa naquelas piscinas que me olham com o que? Desejo? Inicialmente eu fico presa naquele olhar, mas uma coisa chamada consciência logo me tira do meu transe e eu volto a minha atenção para as meninas que estão arrasando no rebolado.  Vigio-me para não olhar mais em sua direção, afinal de contas, não importa em que lugar do mundo eu esteja eu continuo sendo noiva. Mas eu não consigo resistir por muito tempo e não posso negar a decepção que eu sinto quando volto a olhar e percebo que ele não está mais lá.  

            Algumas músicas depois, devidamente suadas e cansadas decidimos voltar à área vip para uma bebida e os rapazes ainda estão empolgados na sua conversa sobre tecnologia. Mike pede mais uma rodada de drinks. Os drinks chegam e como estou com muita sede dou um longo gole.

- Samanta, - Abby pergunta - está ansiosa para começar a trabalhar na Foster?

- Muito. Quero conhecer tudo, a empresa, as pessoas com as quais vou trabalhar. Sinto-me como uma criança ansiosa pelo primeiro dia de aula em uma escola nova. – Digo dando outro gole no meu drink – Estou aqui há algumas horas e já estou amando.

Christian se vira em nossa direção, pausando um pouco a conversa com Mike – Você vai amar trabalhar na Foster e além do mais sua chefe é sua melhor amiga, o que mais alguém pode querer nessa vida – e todos rimos descontraidamente.

- Ah, mas essa minha chefe aqui é bastante exigente viu Christian, essa nossa parceria é antiga e sei bem como é. – Falo dramaticamente, mas meu olhar é cheio de afeto pra minha melhor amiga.

 - Estou com o chicote na mão, então, prepare-se. – Carol ameaça e há mais uma onda de risos. Vejo Mike olhar e acenar para alguém e olho naquela direção. Fico paralisada diante daquela visão, as luzes intermitentes do salão no andar de baixo não fizeram justiça a sua beleza. Aqueles belos olhos azuis penetrantes que estavam me examinando pertencem a um rosto perfeito e a um corpo extremamente másculo e forte e vem em nossa direção. Todos os olhares femininos do ambiente são para ele, inclusive o meu.

- Jake, aí está você. – Mike levanta e cumprimenta o dono dos olhos mais lindos que eu já vi. 

- Estive um pouco ocupado com alguns detalhes dessa noite, fico feliz que tenha aceitado meu convite. – ele responde, retribuindo o cumprimento. Em seguida se volta pra Abby – Abby, querida, como você está?

- Oi Jake, estou bem. O seu convite não poderia ter vindo em hora melhor, hoje estamos dando as boas-vindas a uma amiga brasileira – diz apontando em minha direção – Samanta chegou hoje à Nova York e nós sequer demos a ela tempo de descansar.

Ele se volta em minha direção e me vejo aprisionada mais uma vez por esses olhos. Estou nervosa com sua presença e meu sotaque sai mais carregado do que jamais teve durante todo o dia de hoje, mas mesmo assim me faço entender no melhor inglês que pude apresentar. Pego a mão que ele me oferece e consigo dizer: - Olá, sou Samanta, é um prazer conhecê-lo... – prolongo um pouco a última sílaba para que ele diga-me o seu nome.

- Jake Grenn, Samanta é um prazer conhece-la também. Seja bem vinda à Nova York e também à Red. Aliás, todos vocês são meus convidados essa noite.

Mike completa as apresentações e ele cumprimenta Carol e Christian, nessa ordem. Nós voltamos a nos sentar em torno da mesa, na enorme poltrona em forma de U. Na ponta esquerda do U está Mike, ao seu lado está Abby, depois Christian, na sequencia Carol. Eu me sento ao lado de Carol e Jake ao meu lado. A garçonete se aproxima e Jake pede uma nova rodada de drink, ele está tomando Whisky. Quando a garçonete se retira, em busca dos nossos drinks, Mike pergunta: - Então Jake, soube que você vai abrir mais de uma dessas, quantas serão ao todo?

 - Nossa meta inicial é de apenas três, sendo essa aqui e outras duas em Las Vegas. A expectativa é que dentro de alguns meses as outras estejam em pleno funcionamento. Temos algumas questões burocráticas pra resolver em Las Vegas mais as obras dos dois estabelecimentos estão em execução.

- É espetacular. Você está diversificando meu camarada – Christian diz.

- Obrigado. – Ele diz, enquanto se volta pra mim e completa – Estão todos convidados para virem aqui quando desejarem. – Ele mantém seu olhar em mim pelo que parece uma eternidade e eu estou prestes a desviar o olhar quando ele pergunta - Samanta, o que você está achando do local?

Eu abro e fecho a boca umas três vezes antes de conseguir dizer alguma coisa e quando finalmente consigo é apenas um sussurro. A música é muito alta, então ele aproxima sua boca do meu ouvido e diz: - Desculpe-me, mas eu não estou te ouvindo. Minha pele toda se arrepiou com a sua boca tão perto do meu ouvido e eu sei que ele percebeu. Ele se aproxima mais, na tentativa de me escutar.

Então eu consigo dizer: - É incrível, o ambiente, a decoração, a música, o atendimento. Eu amei tudo.

- Fico feliz que você tenha gostado. Quando quiser será bem-vinda aqui. – eu sorrio apenas. Então, Jake e Mike começam a falar sobre negócios, pelo que consegui entender, Jake é o CEO de sua própria empresa, Grenn Enterprises, e está no ramo da hotelaria, possui algumas empresas de tecnologia e agora está abrindo essas três boates. Jake e Mike estudaram juntos Administração e Mike atua na área de tecnologia especificamente e, ao que parece, nessa área eles tem alguma parceria.  Eu fiquei converso com Christian e Carol, embora minha mente esteja extremamente concentrada no homem ao meu lado. Abby consegue arrastar Mike para a pista de dança e Carol e Christian decidem ir também. Mas antes de sair Carol se volta na minha direção e pergunta em português: - você vem?

- Não, pode ir Carol, eu vou ficar. Estou um pouco zonza por conta dos drinks e junto com o cansaço da viagem. Melhor ficar sentada um pouco. – digo também em português.

- Você vai ficar bem com o bonitão aí? – Ela pergunta com um sorriso cheio de significado, se aproveitando do fato de estarmos falando ainda em português e eu aceno com a cabeça positivamente.

Quando Carol se afasta, somos apenas nós dois e estou tensa. Mal trocamos duas palavras e ele é intimidante, que assunto eu poderia ter com uma pessoa dessas? É claro que eu estou impressionada com a sua beleza, mas não é só isso. Ele tem um olhar que te prende e parece que te vê por dentro. Sinto-me como se estivesse despida diante dele. – Não estou te atrapalhando? Eu vi você dançando lá embaixo e deu pra sentir que você gosta de dançar, quero que aproveite.

- Oh, não. Não mesmo. Eu estava justamente dizendo pra minha amiga que eu preciso mesmo ficar um pouco sentada. Eu vim em um voo noturno do Brasil até aqui, dormi pouco. Cheguei esta manhã e desde então eu não dormi absolutamente nada. Depois saímos para tomar alguns drinks e eu definitivamente não sou de beber muito. Em seguida nós viemos pra cá e já dançamos bastante. Acho que tudo isso, essa atividade e esses drinks estão começando a fazer efeito.

- Entendo. – Ele disse e ficamos assim, próximos e nos encarando, por um tempo que mais parece uma eternidade e eu me sinto ridícula por que não consigo verbalizar nada. Sua expressão é séria, nem um sinal de senso de humor ou diversão e a cada milésimo de segundo que passa fico mais tensa. Ele toma mais um pouco do seu whisky e deposita seu copo na mesa. Vira seu corpo totalmente em minha direção, com sua perna esquerda flexionada sobre a poltrona e sua perna direita se sobrepõe à esquerda. Ele para o braço esquerdo sobre o encosto da poltrona atrás de mim. Eu estou sentada ainda de frente pra mesa, mas viro meu pescoço em sua direção. – Então – Ele quebra o silêncio constrangedor - o que te trouxe à Nova York? – Seu olhar está fixo nos meus lábios.

- Trabalho. Eu vim para trabalhar na Foster. Eu já trabalhava em uma de suas empresas no Brasil...

- Estou encantado por você – Ele me diz sem rodeios, ignorando totalmente o assunto que ele mesmo iniciou sobre o que eu faço aqui - Te vi dançando lá em baixo e no mesmo instante eu te desejei. – Minha expressão deve ter sido de horror, por que sua expressão mudou por um instante enquanto eu tentava encontrar uma forma de responder a essa sentença. De tudo que eu esperava que ele dissesse, com certeza não chegou nem um pouco perto do que eu acabei de ouvir. Isso é tão...tão...absurdo que me deixou atordoada.

- Você é sempre assim tão direto? – consigo perguntar.

- Sim, sou sempre direto quando sei o que eu quero. – Ele diz sem mover os olhos da minha boca.

- E o que você quer? – Perguntei-lhe com um tom bem mais alto do que pretendia.

-Você. Eu quero você. – Sua boca está muito próxima da minha e eu posso sentir o cheiro de whisky e menta e eu só queria completar essa distância a poucos instantes atrás, mas confesso que estou chocada com o modo como ele me assediou. Tão direto, tão sem cuidado, como se fosse... fácil. Simples assim. Como assim ele me quer? E é assim? Basta me querer, dizer e ter?

- Olha, Senhor... Grenn não é? Bem, sinto muito se eu passei alguma impressão errada a meu respeito, mas eu não faço isso, eu não chego assim e vou pra cama com qualquer homem que simplesmente me queira. Eu sinceramente espero que o Senhor não esteja me julgando de modo tão errado sem nem me conhecer. Tenho certeza que não terá dificuldade de encontrar alguém que você queira e que lhe queira também.

- Não, eu não estou te julgando de modo errado. Eu só estou sendo direto. Eu não estou dizendo que você é assim ou de outro modo, não estou dizendo ou pensando nada de você. Eu só... sou assim. Eu poderia simplesmente enfeitar tudo, mas eu não gosto de jogar, eu sou direto. Eu te vi e não consigo parar de pensar em você. Em como seria te beijar, em como seria tê-la. Você é linda, sexy e eu te quero. Estou apenas te dizendo isso de forma direta.

- Ok. Então Senhor Grenn, deixe-me ser direta com o Senhor também, eu não estou interessada. Além disso, estou noiva, caso o senhor não tenha notado – digo mostrando-lhe a minha mão direita. Há muita firmeza na minha fala, mas meu corpo diz outra coisa. Estou completamente atraída por ele e pra completar não tiro meus olhos da sua boca e, o pior de tudo, ele sabe disso.

- Você também quer. Eu sei. Eu sinto. Não precisa ser nenhum gênio pra perceber isso. Seu corpo fala – E, antes que eu possa perceber, seus lábios estão nos meus. Lento, suave e aos poucos vai ficando mais exigente, me tomando toda. Eu fico imóvel no começo, surpreendida, chocada. Ele posiciona sua mão esquerda na minha nuca, agarrando meus cabelos e puxando levemente, porém firme, para facilitar seu acesso à minha boca e eu simplesmente me deixo levar, contradizendo tudo que eu havia afirmado há pouco. Meu corpo grita o quanto o desejava também. Sem prévio aviso ele afasta sua boca da minha e eu fico ali, por um breve momento com os olhos fechados e os lábios entreabertos. Quando retornei do meu transe aquele par de olhos azuis está me encarando, me analisando. Eu estou ofegante e constrangida, mas ele não estava menos ofegante, embora eu acredite que não há nenhum constrangimento da sua parte. De repente, sua expressão muda novamente, fica mais firme, como se recuperasse o autocontrole.

- Me desculpe. Não por te beijar, por que como eu disse a você antes, eu queria isso e mesmo agora depois de te beijar eu só penso em querer mais. Mas, me desculpo por não ter me feito entender. Não me interprete mal, eu não estou te julgando. Apenas estou dizendo o que eu estou sentindo nesse momento que é um desejo de te levar daqui.  – e, dito isso, ele me beija novamente e eu não faço mais do que antes. Apenas me entrego àquele beijo. Meu corpo todo reage a ele, uma corrente atravessa meu corpo inteiro e quando ele me solta eu consigo dizer: - Por favor, não faça isso de novo.

- Por quê?

- Apenas não volte a fazê-lo. Eu acabei de chegar à Nova York a menos de vinte e quatro horas, eu não vim atrás de nenhum tipo de aventura, ou envolvimento, Eu tenho um relacionamento sério de seis anos e estou focada no meu trabalho e em nada mais. – Ele se afasta um pouco, pega seu copo e toma um gole da sua bebida. Eu desvio meu olhar para longe dele. Estamos em silêncio por algum tempo que me parece horas. Ele dá um suspiro exagerado, como se tivesse tomado uma decisão e volta a falar, como se nada tivesse acontecido.

- Então. Onde você vai ficar?

- Por enquanto vou ficar na casa de Abby, ela gentilmente me recebeu.

- E o que você vai fazer exatamente na Foster? Você vai trabalhar junto com Abby? – ele pergunta sem tirar os olhos da minha boca.

- Na verdade eu estou na equipe de Carol. Somos amigas há muitos anos. Estudamos juntas no Brasil, trabalhamos juntas lá também. E agora eu estou aqui para compor a sua equipe. – Sinto um frio percorrer o meu ventre. Estou completamente excitada e igualmente me sentido culpada por isso. Afinal, eu estou noiva, não que eu esteja cega, ou que eu não possa admirar um homem bonito quando vejo um, mas eu estou desejando ele, isso é fato.

- Samanta – ele começa e eu tremo com o som do meu nome em sua boca – eu percebo que eu te assustei com minha maneira de te abordar. Como eu te disse, eu geralmente sou muito direto quando quero dizer algo. Mas reconheço que eu fui direto até demais e percebo que posso ter te ofendido, enfim, me sinto na necessidade de me redimir com você. Talvez pudéssemos sair e eu poderia te mostrar um pouco de Manhatan, o que você me diz?

- Tudo bem, vamos esquecer o que aconteceu aqui. Mas não precisa se redimir, está tudo bem, basta que não volte a agir desse modo. – Ele levanta a mão direita como quem me pede para parar

- Não, Samanta. Eu não quero esquecer o que houve aqui e mesmo que eu pudesse, eu não conseguiria. Eu apenas quero me desculpar. Não quero deixar uma má impressão a meu respeito. Eu não tive a intenção de desrespeitar você, apenas agi de modo direto. Mas eu percebi que você se sentiu desrespeitada com as minhas palavras e eu não quero que você se sinta mal comigo.

- Ok, então. Desculpas aceitas.

- Vamos trocar nossos números de telefone, assim nós podemos combinar algo. – Ele diz isso enquanto tira seu iphone do bolso. Eu hesito um pouco antes de concordar então pego o iphone dele e insiro meu número. Nesse momento os outros retornam à mesa, Carol me olha com uma expressão preocupada. Mas eu abro um sorriso para mostrar-lhe que está tudo bem e ela relaxa.

O restante da noite transcorreu muito animada, Todos falavam sobre algum lugar que deveria conhecer, e fizemos muitos planos para os próximos dias. Em algum momento durante a noite, ele pegou minha mão por baixo da mesa e começou a fazer pequenos movimentos circulares com o seu polegar nas costas das minhas mãos e massageando os nós dos meus dedos, enquanto conversava com Mike sobre algum investimento que está fazendo na área de tecnologia. Esses movimentos suaves estão me levando ao limite e eu estou levemente ofegante, Meus mamilos estão visivelmente rígidos através do meu vestido e eu tento puxar a minha mão para fugir dessa sensação. Mas ele segura firme minha mão e, sem olhar em minha direção, continua sua conversa com Mike.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo