Chegando lá notei que o pessoal da banda estava todo junto na recepção, a maioria em pé. Cheguei mais perto e notei que Briana estava sentada em um banco bem no meio deles. Uma sensação de alívio me tomou. "Ela está bem", disse para mim mesmo dando um longo, profundo e aliviado suspiro. Mas não, as coisas não estavam nada bem. Assim que me aproximei Bernardo veio ao meu encontro.
— O que aconteceu, cara? — Perguntei ansioso.
— Candy... ela... — Bernardo respondeu com olhos marejados. Eu nunca o vira chorar, e ele desabou bem na minha frente.
Imaginei o pior. O abracei meio sem jeito, não era acostumado a essas demonstrações de afeto e solidariedade, e ele também constrangido temendo não conseguir normalizar as emoções, desvencilhou-se do meu abraço e seguiu para fora do hospital com
Faltavam apenas dois meses para a fase municipal do Festival nacional de música (Fenm) que era a primeira etapa do concurso.Principalmente a pedidos de Candy, que melhorava a cada dia e que através de Briana sabia da nossa recente paralisação, voltamos a ensaiar com força total.A loura estava sempre a par dos novos ensaios, e mandava áudios de incentivo sempre que possível. Assim, após um período de descanso, passamos a correr atrás do tempo perdido, ensaiando todo o tempo livre que tínhamos, ora em diferentes garagens, ora em salas cedidas pela Secretaria de Cultura, organizando e pensando em cada detalhe de nossa futura apresentação.Grecco, que por muito tempo ficara ausente de todos os trabalhos relacionados a banda, retornou imediatamente quando soube do pedido da garota: "Eu sei que ferrei tudo, vou continuar por ela, é o mínimo que posso faze
Estava decidido a curtir a noite sem pensar naquela linda peste de cabelos negros. Seria minha última noite na cidade, no dia seguinte eu falaria com o pessoal e voltaria para o meu antigo lar. Nada melhor do que aproveitar a ocasião nacompanhia de belas garotas, Tay, Lilian e até mesmo Nati não estavam fazendo questão nenhuma de esconder a disputa que rolava para ver quem ficaria comigo primeiro. Entrei no jogo flertando com as três, discretamente é claro, mas sem perder a oportunidade de me distrair de um jeito muito bom. Já fazia um tempo que eu não beijava ninguém, seria ótimo voltar a ativa.Era uma das primeiras noites desde dizer a Briana o que eu sentia, em que eu não a procurava no meio do pessoal. Que merda de sujeito eu havia me tornado que me contentava em apenas dividir o mesmo ambiente com a pessoa por quem é apaixonado; me dei enfim a chance de notar outras pessoas,
Soube ser Briana pela roupa que ela usava, o que de longe parecia uma saia, na verdade, era o mesmo vestido de algumas horas atrás. Sua silhueta também já tinha se tornado inconfundível para mim assim como os longos cabelos pretos, mesmo estando escondidos por debaixo do capuz da blusa de moletom com o logo do Acdcbem no centro.Já eram 4h da manhã, por que ela estaria ali e sozinha, chorando desesperada daquele jeito? Imediatamente o motivo se pintou em minha mente, Léo. O que era um pouco óbvio, já que ele não fez questão nenhuma de esconder sua perfídia.Pensei em seguir meu caminho e deixar que ela ficasse ali sozinha, na sua intimidade, com seus dissabores. Pensei que pudesse não gostar de ser vista daquele jeito, muito menos por mim, por termos nos desentendido mais cedo, mas é claro que não consegui. Já havia andado um pouco, por&e
No mesmo dia, um pouco mais tarde, acordei com o celular tocando. Atendi rápido sem nem mesmo observar o contato que aparecia na tela, na esperança de que fosse Briana, mas era apenas Bernardo.— Tá sabendo que o Léo quase foi preso, mano? — Ele disparou assim que atendi.— O quê? Porquê? — Perguntei, sem saber se gostaria de ouvir a resposta.— Chateação né, a famosa impertinência. Briana não quis atender e ele ficou lá gritando e socando a calçada até os vizinhos chamarem a polícia. — Ouvi seu riso do outro lado da linha — Eu sei que é feio pra banda e o Grecco ta puto com isso, mas ele merece, aquele pau no cú. Devia ter rodado mesmo.— É né... — Respondi ainda organizando as palavras que saiam da minha boca, sonolentas. Não havia termo melhor para definir o
Não foi muito fácil convencer Bernardo a me acompanhar, sua ficante misteriosa não fazia exatamente o tipo liberal. Tive que tecer um longo texto sobre relacionamentos, apesar de não saber nada sobre um para além das teorias porque nunca namorara. Contudo, eu sabia que se estivesse em um relacionamento não seria assim: uma prisão. As únicas correntes seriam as da confiança. Não fazia pra mim o menor sentido estar com alguém em quem não se confia e privar-se e privar o outro de fazer suas próprias escolhas.— Nossa, velho, quanta filosofia. Você apaixonado tá chato pra caralho. — Disse ele depois de aceitar o meu convite. Venci mais pelo cansaço do que por argumentos.Quando chegamos na casa da garota não precisamos apertar a campainha, Bernardo parecia estar acostumado a visitar Nati, o que me deixou surpreso, pois, de todas as pessoas
Depois da conversa com Bernardo fiquei pensativo. O que ele havia dito fazia muito sentido, até mesmo sua preocupação. Eu podia tentar enganar todo mundo, mas não a mim mesmo. Eu a amava, eu a queria. Passara a planejar tantas coisas para que pudéssemos estar juntos quando eu finalmente tivesse que voltar para São Paulo. Tentava não levar tão a sério as sensações e vontades que ela me despertava, mas era quase impossível, e se não fosse recíproco, se ela decidisse reatar com o ex-namorado, eu ficaria na merda por amor pela primeira vez na vida, completamente sem saber o que fazer, sem rumo e porra... como isso era estranho e desconfortável. Ficar vulnerável é uma tremenda bosta. Eu nunca havia me permitido sentir nada além de carinho pelas pessoas que passavam pela minha vida. Também nunca ninguém havia me despertado mais do que isso. Antes de ela aparecer eu gostava mesmo é de não ter um rumo pré definido, tinha adoração a liberdade, mas agora não impo
Três dias se passaram. Três dias sem mensagens ou ligações de Briana.Só três e eu já sentia sua falta. Uma bela de uma merda estar apaixonado, eu pensava saber de tudo, que esse sentimento de saudade era impossível de existir, que esse lance de se apegar era questão de vontade, que qualquer um poderia controlar se quisesse, mas estava completamente enganado.Neste mesmo terceiro dia, Grecco me ligou pedindo para que eu fosse até o hospital para ajudar Candy a se inteirar de tudo o que ela havia perdido com relação à banda. A garota já estava a par de muita coisa, recebia visitas todos os dias, principalmente de colegas da banda, porém o pedido contava com ajudá-la também na parte prática.A moça teria alta dali a alguns dias e queria muito participar conosco da fase estadual do Fenm. Ela e Grecco não haviam se comu
—Você e a Briana são bem próximos né? — Ele começou, saindo do degrau em que estava sentado e vindo em minha direção.— Como assim? — Perguntei, dando a deixa para que ele dissesse mais.— Você é tipo o melhor amigo dela, certo? Vocês vivem conversando e tal, sei que ela gosta muito da sua amizade, que vocês conversam bastante sobre essas coisas de música e tal. Talvez coisinhas a mais, coisas de menina. — Ele riu me dando um tapa nas costas.Apenas levantei as sobrancelhas, passei uma das mãos na boca e ri forçosamente, devolvendo os tapas nas costas e dizendo:— Cê é muito engraçado mesmo, hein cara...Ele não podia ser mais idiota. Se tivesse noção do papel de trouxa que fazia.— Tô zoando. Sei que é uma grande amizade, tô liga