MickNão é estranho não conseguir se lembrar do que aconteceu? Eu não sei onde estou ou por que estou aqui. Contudo, não me lembrar com vim parar nesse lugar é o que me apavora. Tenho ouvido alguns sussurros, porém, não consigo discernir o que dizem. Mas algo está diferente hoje. Tem uma luz no final de um túnel escuro e ela me atrai bastante. Portanto, decido arriscar e caminho cauteloso na sua direção e a cada passo que dou os sons parecem ganhar mais força e nitidez. Bip, vozes e mais vozes. Ao alcançar o final do túnel sinto a ardência nos meus olhos e resmungo, fechando-os imediatamente, forçando-os a abrir logo em seguida.— Cris? — A chamo, sentindo a minha garganta seca e levo uma mão ao meu rosto. — Cris?— Doutor, ele voltou! — Alguém fala e automaticamente olho na mesma direção. Encontro uma mulher vestida de branco sorrindo para mim. — A Cristal... onde ela está?— Bem-vindo de volta, rapaz! — Um homem com um jaleco branco fala parando do outro lado da cama.— Cristal — re
CristalMomentos antes do resgate de Mick...— Onde a Senhorita pensa que vai? — Minha mãe pergunta assim que me vir descer as escadas com uma mochila nas costas e pronta para sair.— Para o colégio — digo o óbvio, preparada para lhe dar as costas e seguir para a saída.— Como assim? Ficou maluca? — Ela inquire segurando no meu braço e faz parar. Solto um suspiro audível. Já é de tarde e hoje seria o primeiro dia de aula do curso preparatório que a escola está proporcionando aos alunos que ainda não decidiram que carreira seguir. Não é o meu caso, mas de verdade, ficar aqui dentro sem fazer nada está me enlouquecendo. Contudo, um nó sufoca a minha garganta e a vontade chorar me acomete.— Eu não posso, mãe — sibilo me sentindo cansada. — Eu não aguento mais tudo isso. Sinto que vou explodir com toda essa agonia. Estou desesperada com essa falta de notícia e com essas ligações de merda que não definem nada. — Ana me puxa para os seus braços e eu me permito chorar. — Não aguento ter que
CristalOs minutos passam e agora estou sentada em um banco, encostada em uma parede e abraçando as minhas próprias pernas. Meus olhos estão o tempo todo fixos na parede branca bem na minha frente. Contudo, os meus pensamentos não estão aqui realmente. Eles estão distantes, em algum dos nossos momentos de felicidade. Lembro-me dos seus beijos, dos sorrisos alegres, das suas declarações de amor e uma lágrima escapa silenciosa do meu olho. Um toque suave no meu ombro me faz despertar e eu fito os meigos e doces olhos de Lisa Serrano. Só então me dou conta de que os seus pais já estão aqui.— O que eles disseram? — Lisa pergunta, mas faço não com a cabeça.— Não tivemos notícias ainda. — Me forço a dizer. Ela apenas assente e se senta do meu lado. No entanto, as portas largas e brancas se abrem e finalmente o médico surge na nossa frente.— Quem são os familiares de Mikael Serrano?— Nós somos os pais dele, doutor. Eu me chamo Armando Serrano, essa é a minha esposa, Lisa Serrano e a namo
CristalAs horas mais perfeita da minha vida inteirinha. Pensei assim que entrei no corredor do hospital e encontrei um rebuliço lá. Ele acordou. O médico disse me fazendo arfar e não segurei as lágrimas emocionadas. Contudo, eu estava com raiva, com medo, ansiosa. Um misto de emoções que fazia tudo girar dentro de mim como um furacão enfurecido. Eu sei que deveria correr para os seus braços e beijá-lo. Beija-lo muito. Deus, eu o amo tanto que é difícil de respirar, de pensar coerentemente. Contudo, quando me aproximei da sua cama e encontrei os olhos claros me fitando não segurei a confusão furiosa dentro de mim.— Seu desgraçado! — rosnei em alto e bom tom acertando um bom tapa no seu ombro. — Nunca mais me assuste desse jeito, está me ouvindo?! — Em contrapartida Mick me puxou para os seus braços e aspirou forte o meu cheiro.— Me desculpa! — Ele pede contra a minha pele. Ah, essa voz, como senti falta de ouvir esse som! Sibilo mentalmente e ergo a cabeça, beijando-o sedenta, senti
MickDias depois da recuperação...Finalmente estou de volta à ativa, pelo menos boa parte dela. Penso um pouco desanimado, sentindo falta da parte que mais gosto, o futebol. Sinto falta da correria, da emoção de fazer o gol, da agitação da torcida nas arquibancadas. Enfim, estou com saudades. Como sempre, entro na mansão Alcântara e encontro os meus amigos e minha namorada acomodados a mesa, tomando café da manhã, mas com um diferencial. Jasmine está levando comida a boca do Jonathan, enquanto ele dá beijinhos na garota, sentada do seu lado. Eu me acomodo ao lado de Cristal e de cara recebo um beijo rápido na boca, e um pedaço de queijo branco em seguida.— Tem alguém animado para o primeiro dia de aula? — indago radiante, puxando uma tigela de porcelana branca para perto de mim e ponho uma porção de cereais com leite.— Eu estou ansiosa por isso. — Jasmine fala com uma animação contida, levando uma colherada do seu iogurte a boca.— É melhor correr ou vão se atrasar. — A voz da Senh
Mick— É melhor não, Rute. É melhor você me esquecer.— Você mudou comigo — O tom magoado sobressai a sua voz. — Eu te amei tanto, me declarei pra você, cuidei de você. Mas no final foi ela que você preferiu. — Rute faz silêncio e eu penso em sair, porém, ela continua. — Que droga, Mick, ela quase te matou!— Ela não teve culpa de nada. Não foi a Cristal que...— Claro que ela tem culpa! — Me interrompe irritada. — Ela te levou para aquele caminho, para aqueles homens que te fazerem mal. Será que você não ver? Abre os olhos, meu amor.— Me deixe passar agora, Rute! — ordeno impaciente. Ela respira fundo. Parece frustrada.— Só um abraço, Mick. Eu te amo tanto que... se você morresse... eu juro que morreria junto! Deus Mick, eu chorei escondido, fiquei nervosa e nem pude ir te visitar. E tudo que eu te peço é um abraço... por favor! — Volta a insistir e acabo me rendendo a sua súplica. Foi um gesto rápido. Questão de segundos, eu acho.— Me Desculpe, Rute! — sibilo me afastando um pouc
Mick— Eu tive que fazer, Mick. — Ele continua.— Posso te fazer uma pergunta? — inquiro baixo. — Se não queria morrer, se nos entregou para ficar vivo, por que tentou suicídio? — Ele me olha em silêncio por um tempo.— Eu não tentei.— Como não?— O Cicatriz não perdoou a minha dívida.— Mas você disse que... — Cristal tenta falar.— Marrento perdoou, mas o Cicatriz não. Ele me deu uma semana. Porra, como eu podia arrumar dois mil em uma semana? Meus pais me matariam se soubessem os meus motivos. Eu falei, expliquei, supliquei, pedi mais tempo, mas o desgraçado não cedeu. Ele apontou uma arma na minha cabeça e me fez beber meio litro da água sanitária. Eu pensei... a bala pode me matar, mas se eu beber e alguém me encontrar a tempo eu posso ter uma nova chance. E me agarrei a essa esperança. Eles me levaram de volta para minha casa. Lembro-me que estava meio mole, sentindo tudo se queimar por dentro. Parecia que as minhas entranhas estavam derretendo dentro de mim. No entanto, estava
Bônus da Lisa Serrano.O confronto - parte I.Lisa Serrano.Desço do carro que acabei de estacionar no pátio do Colégio Mont Serrat. Um prédio de estrutura antiga, com paredes de pequenos tijolos marrons, ladeado por um gramado e poucas árvores frondosas. Ainda tem alguns poucos alunos transitando por aqui, envolvidos em conversas animadas, ou apenas passando um tempo debaixo das copas das árvores. Observo atentamente o prédio de três andares, com uma extensão que chega a ocupar duas quadras de uma das avenidas principais do Rio de Janeiro. Portanto, respiro fundo, ajeito a alça da minha bolsa no meu ombro, porém, não entro no prédio. O contorno e vou direto para a sala do treinador, que fica próximo à quadra de esportes da escola. Sei que deveria ir direto para o segundo andar, onde fica a diretoria e fazer uma reclamação direta para Anna Silvano, uma grande amiga e diretora desse lugar, mas não quero ter que ir até ela em primeira instância. A verdade, é que quero confrontá-lo prime