Capítulo 3

Clara

Está tão escuro, corro desesperadamente, assim que vejo o prédio sinto-me aliviada, mas quando tento abrir a porta ela está trancada, grito o mais alto que posso e percebo que não tem ninguém me escutando, neste momento volto a correr. 

Todas as casas estão trancadas, todas as luzes apagadas, eu mal enxergo o chão por isso caio algumas vezes, levanto-me e continuo correndo estou quase sem fôlego não sei por mais quanto tempo eu aguento. 

Vejo uma árvore grande e me escondo atrás dela, respiro um pouco para logo voltar a correr, porém já é tarde demais. 

Posso sentir sua presença atrás de mim e quando viro-me vejo o seu chapéu e o óculos, preparo-me para gritar, mas ele coloca sua mão em meus lábios e me pressiona contra o tronco da árvore, tento me soltar, mas não consigo. 

De repente vejo um carro vindo rápido na rua, na escuridão desejo ardentemente que alguém me veja e me ajude, mas entro em pânico assim que o carro para e alguns homens descem se aproximam de nós e começam a me puxar, eles querem que eu entre no carro, eu não vou entrar, não posso. Começo a me debater tentando fazer com que me soltem, mas recebo uma pancada na cabeça, logo não vejo mais nada.

Acordo apavorada fazia dois dias que não me lembrava desse homem e dessa vez foi pesado demais, sinto tanto medo que preciso me certificar de que estou em segurança, olho para todos os lados e quando me sinto um pouco melhor, sento na cama e respiro fundo, imaginando que esta foi o pior pesadelo. 

Levanto e abro a janela, olho a rua por um momento, já passa das nove da manhã e está sol, um sol bem quente, o dia está tão claro, me deixando a cada minuto mais distante daquele sonho. 

Do outro lado da rua reconheço o Rafael, ele está andando na calçada, eu fico olhando para ele como se pudesse adivinhar para onde estaria indo, depois de alguns minutos ele me encara e sorri por um momento bem curto eu aceno para ele digo bom dia apenas mexendo os lábios, mas logo perco o bom humor, reconheço a camisa que ele está usando assim como aquele sorriso, eu o vi, tenho certeza disso no meu sonho o cara que estava dirigindo o carro sorriu para mim daquela forma e vestia a camisa da mesma cor, eu podia jurar que era a mesma camisa, isso foi à última coisa que vi antes de apagar. 

Sinto-me impressionada com essa lembrança, mas resolvo esquecê-la não tem cabimento isso não é? Talvez eu devesse viajar.

Decidida a deixar esse assunto de lado vou para o meu guarda roupa e escolho o que vou vestir. 

Hoje é o dia que vou levar minha família a casa do Estevão e quero estar bem vestida, mas sinto-me confusa com a roupa que devo usar, porém como está calor, coloco um macacão, ele é curto, mas não indiscreto, o decote também não é abusado e assim que o visto, logo fico satisfeita, ele é preto combinando com o meu sapato e com o meu cabelo. 

Não faço nenhum peteado afinal gosto do meu cabelo solto, ele é tão grande e negro que me alegra. 

Primeiro eu coloco uma rasteirinha e vou ao banheiro, escovo os dentes, lavo o rosto e passo uma maquiagem bem leve tentando parecer o mais natural possível, quando percebo que já passa das dez da manhã, chamo minha família e deixo eles se arrumarem tranquilamente enquanto preparo o café.

Coloco o pó e a água na cafeteira deixando que ela trabalhe um pouco e vou arrumar a mesa, pego o pão e frios, o bolo que comprei na noite anterior, aparentemente está delicioso, eu acho difícil algo com recheio de chocolate ser ruim, pego mais algumas opções e sento-me a mesa deixando todos à vontade para se servirem logo eles se sentam comigo.

— Vocês dormiram bem? - Pergunto, puxando assunto. Gosto de ter companhia para o café e de poder conversar com as pessoas sinto falta de não estar sozinha.

— Maravilhosamente bem, irmãzinha. - Diz meu irmão e quando ele olhou para Isabel, me senti confusa, mas dei risada.

— Apesar de ser na cidade achei este lugar bastante silencioso. - Comenta minha mãe, vindo dela achei que isso era um elogio.

— Sim, é bom morar aqui, por causa disso, consigo descansar. - Falo sorrindo.

— Clara o seu café melhorou muito, morar sozinha fez muito bem a você. - Brinca meu irmão, mostrei a língua pra ele como sinal de reprovação.

— Meu café sempre foi bom, aliás, sei cozinhar muito bem. - Digo desafiando-o.

           — Claro que sabe. - Ele riu. — Então que horas vamos ir conhecer o seu chefinho? - Pergunta.

— Assim que terminarmos o café. - Respondo sorrindo para ele, sabendo que ia tentar me provocar o dia inteiro. Eu sentia falta disso, mas ainda adorava ter paz.

Terminamos o café assim descontraídos, e enquanto eles terminam de se arrumar eu limpo a cozinha e coloco meus sapatos, em seguida saímos. 

Vamos para o estacionamento e entramos no carro, eu coloco meus sapatos atrás do banco para poder dirigir, ligo o ar condicionado e acelero, estamos livres para mais um dia que tenho certeza que será maravilhoso. 

Ligo o rádio com uma música baixa, não coloco o rock que sou tanto fã, mas uma música que seja mais tranquila e que todos gostem, andando por essa cidade tento observar tudo o que está ao meu redor, buscando conhecer cada pedaço desse mundo e das pessoas que dele fazem parte, todos ficam em silêncio no carro, cada um concentrado em seus pensamentos e isso me deixa relaxada, afinal poder ficar presa em seus pensamentos estando ao lado das pessoas que amo é uma dádiva. 

Fico ansiosa e um pouco amedrontada para saber como eles vão reagir ao ver a casa do Sr. Fernandes, nos primeiros dias em que fui lá me senti intimidada, mas assim que os conheci fiquei mais tranquila, eles fizeram com que eu me sentisse em casa e é assim que me sinto desde então. 

Fico imaginando o que vão pensar ao ver minhas fotos lá, eu no almoço com eles, nas reuniões de trabalho e nos eventos, tomara que se sintam orgulhosos, ao pensar nisso começo a me sentir mais feliz.

Então percebo o burburinho assim que nos aproximamos do portão e o segurança sorrindo, permite que eu entre, aliás, ele me cumprimenta como se eu fosse da família. 

Quando avistamos a casa paro o carro e nós descemos, entrego a chave para o outro segurança e terminamos o percurso andando. 

Percebo aqueles olhares, estão tão impressionados como eu fiquei nas primeiras vezes e isso me faz sorrir, logo a porta se abre e Betina aparece sorrindo assim que nos vê, apresso o passo e lhe cumprimento com um grande abraço.

— Bom dia, muito obrigada por nos receber em sua casa. - Agradeço imediatamente, pois não esquecerei esse carinho nunca.

— Não me agradeça filha, o prazer é todo meu. - Diz virando-se e cumprimentando minha mãe com um abraço tão apertado como o que me deu e faz isso com Pedro e Isabel. Aguardo por eles, mas sinto-me ansiosa para ver Estevão que vem assim que Betina o chama.

— Querida, fico feliz que tenha aceitado o convite. - Fala enquanto me abraça e beija a minha testa, eu sorrio e ele sabe que também agradeço. Fico contente pelos sapatos de salto, pois me deixam quase na altura de Estevão, não me sinto tão pequena neste momento.

Ele cumprimenta minha mãe, minha cunhada e por último meu irmão. Finalmente entramos e dentro de alguns minutos todos conversam como se já se conhecessem há muito tempo o que me deixa mais tranquila e satisfeita, eles são a minha família nunca tive dúvida disso, eles nos levam para conhecer a casa, eu os acompanho apesar de já saber um pouco sobre o espaço que percorremos.

— Nossa vocês tem muitas fotos com a Clara. - Comenta minha mãe parecendo surpresa.

— Sim, ela me acompanha em praticamente todos os eventos da empresa, reuniões e almoços. Sem contar que possuímos um carinho muito grande por ela, como se fosse nossa filha, então sempre a convidamos para vir aqui em casa, independente da ocasião. - Responde Estevão, minha mãe sorri.

— Sou muito grata por cuidarem da minha filha. - Diz comovida.

— Não agradeça, pois ela significa o mesmo para nós. - Fala Betina. Eu sorrio, pois realmente os amo.

— É uma pena que não tenham filho. - Escuto essas palavras de minha mãe e meu coração dispara lembrando da foto e da carta que eu vi, vejo que Estevão sentiu-se triste, mas não se deixou abater.

— Nós temos um filho, ele não mora no Brasil desde os 18 anos, mas está voltando para cá, não nos disse a data. Pode chegar hoje ou demorar mais um mês. - Comenta Betina, sua voz parecia triste, mas firme.

— Acredito que dói ficar longe de um filho. - Afirma minha mãe.

— Dói sim. - Expõe Betina finalizando a conversa. Logo mudaram de assunto e voltaram a sorrir, eu não consegui deixar esse assunto de lado, ao lembrar da foto o meu coração disparou e não sabia dizer por quê. Sentia um pouco de vergonha por ter invadido a privacidade deles, mas tinha algo diferente que eu não sabia explicar. Ao pensar que ele poderia chegar hoje senti um frio na barriga que me deixou arrepiada, eu não queria vê-lo definitivamente não.

Andamos pelo jardim e demais lugares fora da casa e isso foi o suficiente para me distrair, logo já tinha deixado de pensar naquele homem que fazia eu me sentir tão diferente mesmo sem conhecê-lo, estávamos conversando animadamente e entramos pela porta da frente, assim que entramos na sala senti meu coração disparar, eu o vi, ele estava de costas olhando as fotos. 

Eu o reconheci não sei explicar o motivo e de repente senti o ar faltar, mas busquei me controlar, mesmo achando que não conseguiria fazer isso. Todos pararam de falar instantaneamente e percebi que Betina parecia estar tão chocada como eu, demorou algum tempo para que alguém quebrasse o gelo e ele percebesse que havíamos entrado.

— Bernardo. - Chama Estevão, isso fez com que ele se virasse e ao mesmo tempo eu virei para Isabel buscando um sorriso que ela me deu espontaneamente, vejo de canto de olho o abraço apertado que ele dá em seu pai, o abraço demora longos minutos e depois abraça Betina demorando até um pouco mais. 

Eu não me viro para ele, pelo menos não enquanto está abraçando aqueles que esteve por tanto tempo longe, escuto ele falando com a minha mãe e com meu irmão, sei que está se aproximando de mim e de Isabel, tenho vontade de sair correndo dali, mas sei que não posso, então prendo a respiração assim que chega perto de nós.

Ele se apresenta, cumprimenta primeiro Isabel e depois olha para mim, seus olhos são tão escuros e tão penetrantes, sinto-me tão nervosa e atrapalhada ele fica em silêncio por um momento e tenho a impressão que se sente exatamente como eu, minha cunhada vendo o constrangimento que sentimos se afasta para acompanhar os outros quando se dirigem a outra sala, todos conversam animadamente deixando a nuvem pesada em cima da minha cabeça. 

Os olhos dele são interrogativos e acredito que podem ver mais do que supostamente eu desejava mostrar, por um momento me sinto tonta, mas me recomponho rapidamente, pelo jeito que me sinto perto dele percebo que terei que me esforçar muito para manter o controle, continuo em silêncio sem saber a melhor forma de me apresentar, quando ele desvia o olhar consigo controlar-me melhor.

— Prazer, meu nome é Clara. - Apresento-me com muito orgulho de mim, pois finalmente consegui falar. Ele me encara novamente, mas agora vejo desprezo em seu olhar, um sentimento que não compreendo.

— Sei exatamente quem você é. Não posso dizer que sinto prazer em conhecê-la. - Diz rispidamente, deixando-me confusa com essa resposta tão grosseira.

— Não entendi essa mudança de humor, cumprimentou a todos tão bem. – Respondo olhando em seus olhos, desafiando-o.

— Você é realmente muito cínica não é? - Ele verdadeiramente não estava brincando e isso me deixava muito confusa.

— Sr. Bernardo não compreendo aonde quer chegar. - Afirmo, mostrando que não estava gostando da forma como me tratava.

— Tem certeza? Achou que eu demoraria quanto tempo até perceber que você é acompanhante de luxo do meu pai? - Ele olhou com firmeza em meus olhos e eu sabia que não brincava. — Deveria ser estranho para você, fingir ser família de uma senhora enquanto dorme com o marido dela. - Sento o sangue de o meu rosto fugir, imaginando que a maquiagem não disfarçaria como fiquei branca, acho que ele não esperava essa reação, pois pareceu surpreso nos minutos seguintes e eu totalmente desapontada e perdida. Por que ele pensaria isso de mim? O que eu havia feito para aquele homem? As lágrimas apressaram-se a vir e eu desviei o olhar, procurei me controlar e quando me senti mais calma falei.

— Não sou isso que você pensa Sr. Bernardo, mas por acaso você pode negar que é um filho ingrato e interesseiro? Abandonou os seus mais há mais de quinze anos e volta agora quando o Estevão decide se aposentar? - Ele me encara agora mais surpreso ainda. Não imaginava que eu também teria minhas acusações. — Reconheço em seus pais, os meus próprios, são minha família e tenho muita sorte de ter sido treinada pelo seu pai, pois aprendi muito, peço por gentileza para não ridicularizar nossa relação. Digo agora com toda certeza que não é um prazer te conhecer. No início eu estava apenas sendo educada. - Ainda olhando em seus olhos me afastei, ele não me respondeu de imediato, mas eu sei como o afetei, ele não esperava por isso, fico feliz de tê-lo surpreendido. 

Vou ao banheiro imediatamente, preciso me acalmar, olho-me no espero e vejo como fiquei branca, respiro fundo e quando vejo a cor voltando ao meu rosto saio do banheiro dirigindo-me a sala em que será servido o almoço.

Bernardo está lá, não parece o mesmo homem que falou comigo e evita olhar para mim, mas eu por mais que tente não consigo deixar de olhá-lo. 

Ele é realmente muito bonito, ele é alto, está com a barba por fazer e o cabelo baixo, seu cabelo é preto da mesma forma que o do Estevão, e seus lábios são tão atraentes como seu corpo, tento não olhar tanto para ele e vou para o outro lado da sala, onde estão Isabel e Pedro, tento disfarçar e converso um pouco com eles, porém vejo-me pouco à vontade quando sinto os olhos dele em mim de vez em quando, mas se ele realmente pensa isso de mim prefiro que não me olhe, não quero conhecê-lo mais do que o que já conheço. Mesmo com esse sentimento não posso deixar de notar como Estevão e Betina parecem mais felizes, seus olhos ganharam um novo brilho, o mesmo brilho que vejo nos olhos de Bernardo quando ele olha para os pais, mas sei que ainda existe dor ali. 

Finalmente o almoço é servido, eu não sinto fome, mas tento comer um pouco não quero que o filhote Fernandes perceba que me afetou, todos conversam animadamente durante a refeição e quando esqueço a surpresa desnecessária fico contente por perceber como se deram bem.

— Impressionante como todos são vegetarianos. - Comenta Estevão.

— Pois é, Antônio meu falecido marido incentivou a todos nós. - Responde minha mãe, isso me deixa atenta nunca falei sobre o meu pai com eles.

— Eu não sabia que o pai de Clara já havia falecido. - Diz Betina e percebo que estão me encarando, como não respondo nada meu irmão continua, e o resto de fome que eu tinha se esvai totalmente, eu encaro meu prato mexendo na comida sentindo meu estômago embrulhar.

— Clara não gosta de falar sobre isso. – Afirma Pedro, ele esta certo eu realmente não gosto, pois eu havia perdido o direito a ter minha família assim que meu pai morreu, minha mãe ajudou Pedro a cicatrizar sua ferida, enquanto me abandonava, sem esperar para ouvir a conversa disse que já estava satisfeita, pedi licença e levantei indo para o meu lugar preferido.

O jardim estava tão florido, cada vez mais perfeito para que eu conseguisse me esconder, sentei em um banco e fiquei lá olhando para as árvores por alguns minutos, tentando deixar de lado aquela lembrança, demorou pouco tempo para que eu ouvisse alguns passos e ficasse mais atenta, de repente Estevão sentou ao meu lado, ele segurou a minha mão deixando-me em silêncio pelo tempo que eu precisava e quando me senti mais calma olhei para ele.

— Obrigada. - Digo, ele retribui inicialmente com um sorriso.

— Querida, nunca imaginei que guardava algo tão doloroso só para si. - Comenta olhando em meus olhos.

— Também não imaginava que tinha um filho. - Respondo sorrindo.

— Sim, eu não sou o único com segredos não é? - Pergunta sorrindo também.

— Acredito que não. - Afirmo, ficamos mais um tempo em silêncio acredito eu que cada um estava preso em suas lembranças dolorosas, depois de alguns minutos voltamos para a sala. 

A conversa estava bem animada e não parou quando chegamos, o único que me olhou foi Bernardo, mas eu não o olhei, sabia que iria me julgar por algo que existia apenas em sua mente, nós ficamos assim a tarde toda conversando, nos conhecendo, percebi que o filhote Fernandes, poderia ser legal com todos, menos comigo.

— Querida já esta tarde, vamos para casa. - Convida minha mãe.

— Claro, a hora que vocês quiserem. - Digo sorrindo para ela.

— Por que não ficam mais um pouco? - Pergunta Bernardo, fazendo-me estranhar esse interesse.

— Viajaremos amanhã cedo. - Responde meu irmão.

— Vocês vão passear para onde? - Pergunta curioso.

— Vamos para casa, apenas Clara mora aqui. - Diz Isabel querendo participar da conversa.

— Você mora sozinha? - Pergunta surpreso.

— Sim. - Respondo secamente deixando claro para ele que não quero sua amizade, nem seu interesse em mim ou na minha família.

Ele ficou em silêncio, nós nos despedimos enquanto o segurança buscava o meu carro e assim que ele chegou fomos embora. Eu senti os olhos dele em mim, mas não me aproximei, acenei para ele de longe, desejando não o vê-lo mais. 

Eu ainda tinha alguns dias de férias só havia pegado quinze dias, havia aproveitado sete e não sabia o que fazer nos dias seguintes, pensei que dormir seria uma ótima opção. Na manhã seguinte minha família iria embora e eu ficaria sozinha, mas tenho a impressão que sempre estive.

Bernardo

Quando vi sua foto na sala dos meus pais, me senti completamente confuso. Não compreendo a sensação que ela me passou, a necessidade que senti. Quando a olhei precisei controlar-me.

Por mais que acredito em Bianca, que ela realmente seja a acompanhante de luxo do meu pai senti um desejo muito grande dentro de mim, não sei explicar o motivo, mas se não me controlasse poderia tê-la beijado na frente de todos e sei que ela retribuiria.

Por um momento eu confiei nela, que não era aquilo que eu pensava, a indignação que sentiu me mostrou isso, mas eu não a conhecia, ela poderia me manipular.

Ouço batidas na porta do quarto e autorizo a entrada, vendo minha mãe entrar no quarto, ela está muito diferente desde a última vez que a vi.

— O que o trouxe de volta meu filho? - Indaga acariciando minha mão.

— Vocês. Eu precisava vê-los. - Informo e vejo-a sorri.

— Fiquei muito contente quando o vi. Ficará no Brasil? - Pergunta.

— Acredito que por um tempo, tenho uma empresa que precisa de mim em Nova York. - Explico.

— O seu lugar é aqui querido. Seu pai vai querer que assuma a empresa agora que voltou. - Diz.

— Posso falar com ele sobre isso. Mãe poderia esclarecer-me algo? - Questiono.

— Sim, filho. -  Autoriza.

— Quem é aquela moça, a Clara? - Pergunto tentando não parecer interessado demais.

— Ela trabalha com o seu pai há alguns anos. Confiamos muito nela. É excelente profissional. - Explica, vejo o seus olhos brilharem e percebo que esta mulher fez um belo trabalho de encantamento com eles. — Por qual motivo pergunta meu filho? - Indaga.

— Não é nada, apenas curiosidade. Não sabia que os funcionários frequentavam a casa como visita e tem muitas fotos dela aqui. - Justifico.

— Não são todos, é apenas ela. Gostamos dela, como se gosta de um filho, além de ser uma das pessoas que o seu pai mais confia na empresa. - Diz e levanta indo em direção à porta, beija levemente minha testa e eu retribuo beijando sua mão. — Boa noite, querido. – Despede-se.

— Boa noite mãe. - Digo.

Tento compreender o que houve com eles durante todo este tempo. Precisarei observar melhor está mulher, já que parece mais próxima a minha família do que pensei.

Decido que se o meu pai quiser que eu fique em sua empresa irei aceitar apenas para conhecê-la e quando finalmente tirá-la do caminho dele voltarei para minha vida fora desse país.

Já os abandonei uma vez, não me orgulho disse e me recuso a fazer isso de novo.

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