Capítulo 5

Não sei onde estou, mas onde quer que seja esta tudo escuro, e estou perdida aqui. Não vejo um palmo sequer a minha frente mas pelo menos estou andando, Só não vejo pra onde. Acho que tem alguma coisa na minha mão, que estou segurando, mas não consigo enxergar o suficiente pra saber o que é, e a forma é muito estranha pra conseguir sentir só pelo tato.

E é então que eu vejo uma pequena luz, e um portal rodeado de margaridas, iluminado de um jeito que parece ter luz própria. 

Eu passo por ele e o mundo fica claro mais uma vez. 

A coisa nas minhas mãos era um buquê, de margaridas assim como no portal, mas diferente dele, vejo respingos de sangue nas pétalas delicadas. Olho pra baixo, e vejo meu vestido branco que era pra ser um vestido de noiva, também manchado de sangue. 

Estou no caminho para o altar, meus pés não pararam de se mover como se agissem por conta própria, eu tento parar mas não consigo e isso é desesperador. Eu olho ao redor aterrorizada quando percebo corpos sentados nas cadeiras como se fossem todos convidados, todos banhados em sangue e caídos. Quero gritar de terror só por essa cena, mas quando olho pra frente, eu vejo uma sombra escura parada bem no altar, com as feições completamente escondidas e segurando um punhal, bem do lado vejo o meu pai, e aos seus pés já morta, estavam os corpos da minha minha mãe e da minha irmã. 

Aquela sombra ergue seu braço e a vejo enfiar aquele punhal dentro do peito de meu pai, e eu vi a morte chegando em suas feições quando ele caiu morto, bem em cima dos outros corpos que já estavam ali.

Eu ainda estava caminhando em direção ao altar, sem conseguir parar. Tudo que eu pude fazer era assistir e gritar. Eu sabia que seria a próxima, mas de alguma forma, eu era a responsável por isso.

E então eu acordo, com o rosto molhado de lágrimas, o coração quase pulando pela garganta e sem reconhecer nada do quarto onde estou.

Tudo que vejo é uma cama e paredes brancas além de mais alguns móveis comuns. Não tem janelas e isso me causa desconforto.

As lembranças do que aconteceu me atingem de uma vez como uma adaga, e eu fico feliz de não ter levantado da cama, pois não sei se teria forças para continuar em pé. 

Eu respiro umas três vezes tentando não pensar no que vi, tentando esquecer o rosto da minha irmã enquanto ela morria. Eu não poderia de jeito nenhum pensar nisso agora. 

Percebo que não estou mais usando aquele vestido de noiva, e fico um pouco feliz com isso, pois a primeira coisa que teria feito seria rasgá-lo em pedacinhos. 

Ao invés disso, estou usando uma camisa comprida e uma calça de moletom.

Levanto da cama, me sentindo fraca e as dores automaticamente começaram a tomar conta do meu corpo. 

Eu quase morri…mas por algum motivo, eu não tinha morrido. 

Vou até a porta me apoiando na parede, um passo de cada vez, mas apenas para descobrir que ela estava trancada. Óbvio que estaria. 

Estou prestes a considerar minhas opções quando ouço um barulho da fechadura do outro lado e o rosto que eu menos queria ver no mundo aparece para mim. 

Mason. 

Ele não está mais vestido terno, e seus olhos verdes me encararam de cima a baixo com uma surpresa inesperada. 

Eu amei tanto esse olhar, mas agora…ainda nem sequer consegui fazer cair a ficha do que tinha acontecido.

-Por que eu estou aqui? -Pergunto de uma vez e minha garganta parece feita de fogo quando falo, mas isso não iria me impedir.

Ele passa um tempo me encarando antes de finalmente responder 

-Você…desmaiou, e eu te trouxe para cá.

Sinto meus punhos cerrando. Eu nunca dei um soco em ninguém, e nem sabia como fazer isso, mas a vontade estava crescendo cada vez mais, mesmo ele tendo salvado minha vida. 

-Me deixe ir embora AGORA MESMO. 

-Isso não vai acontecer. 

-EU NÃO QUERO NUNCA MAIS OLHAR NA SUA CARA SEU TRAIDOR DE UMA FIGA, VOCÊ VAI ME DEIXAR EMBORA AGORA. 

Eu parto pra cima dele, a adrenalina fazendo meus músculos ganharem vida e esquecerem dos machucados, e não pensando em mais nada além da raiva e da dor que eu estava sentindo, mesmo que eu tenha tido que enterrar parte da dor por agora, pois se eu a sentisse por inteiro, talvez ela me destruísse.

É frustrante quando mason segura meus pulsos com facilidade, mas eu continuo me debatendo, não deixando nem um segundo de brecha para ele, e quando eu mesma encontro essa brecha, dou um chute bem dado entre as pernas dele, mas infelizmente ele desvia no último segundo e eu aceito o seu joelho com tudo. 

Ele faz uma expressão de dor e eu tento mais uma vez soltar meus pulsos, mas ele não solta.

-Você não vai sair. Reclame a vontade, mas isso não vai mudar o fato de que você é minha prisioneira. -Ele fala e me empurra para trás, não forte o bastante para machucar, mas eu acabo recuando uns passos, que é o suficiente pra ele se virar, passar pela porta e a trancar bem na minha cara. 

Mas isso não me impede de gritar e bater naquela maldita porta por muito tempo, furiosa e pedindo pra que ele me deixasse ir. Fiquei lá até a dor e o cansaço do meu corpo serem demais para mim e todos os efeitos momentâneos que a adrenalina tinha me dado começarem a cobrar seu preço. O que aconteceu no final foi que eu acabei encostando na parede ao lado da porta, abracei meus joelhos e coloquei a cabeça entre eles, e depois eu apenas adormeci ali mesmo.

Eu não sabia disso agora, mas Mason respeitaria meu pedido, e eu fiquei bastante tempo sem ver seu rosto depois disso. Outra coisa que eu não sabia mas que descobriria ainda mais rápido, era que eu nunca mais conseguiria pregar meus olhos de novo sem acabar dentro de um pesadelo.

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