Capítulo 3

POV MASON

Anos haviam se passado, mas tempo nenhum é o suficiente para apagar aquelas memórias que parecem que consomem nossas almas. Aquelas que deixam marcas e se tornam uma obsessão.

Vingança era uma obsessão.

E ela parecia tão fácil…tão acessível…

Ela estava bem ali na minha frente, colhendo flores em uma campina, com  seus cabelos loiros avermelhados sendo soprados junto com o vento e brilhando sob a luz da manhã. Era muito cedo, o sol mal tinha acabado de nascer e ela parecia ter surgido junto com ele.

A filha do Alfa da alcateia lua de sangue. Ela vinha pelo menos a cada dois dias naquela campina, e no começo eu não sabia quem ela era…ou quem eram seus pais. Eu nunca falei com ela, só observava a distância vendo a forma que ela dobrava margarida por margarida até fazer a coroa de flores perfeita. A forma que ela passava a mão em seus cachos rebeldes, ainda mais rebeldes pela brisa de verão. 

Quando eu descobri quem ela era e sobre a sua família, de repente ficou tudo tão fácil, ao alcance das minhas garras. Foi como se o universo estivesse me dando exatamente o que eu tanto queria, enrolado em um laço de fita. 

Essa era a minha chance de vingança. A minha chance de fazê-los pagar por tudo que tinham feito. 

Depois, foi mais fácil ainda se aproximar dela. Toda a sua inocência, suas ambições fáceis de serem atingidas, a forma como ela se derretia por qualquer gracejo que eu oferecia, a fazia parecer tão…desesperada. 

Foi só me aproximar ali mesmo naquela campina.

No começo parecia que ela não cederia tão fácil, mas então os dias foram passando e eu comecei a reparar em como ela começou a frequentar ainda mais aquele lugar especial, sabendo que eu estaria esperando por ela bem ali. 

Tentei não ficar surpreso com o quanto as coisas estavam progredindo rápido, e quando o casamento já estava marcado, tendo levado muito menos tempo do que pensei que iria levar, eu sabia que já estava com as garras fincadas exatamente onde queria. Agora eu só precisava agir.

Eu estava agora no quarto da minha atual matilha. Meu tio é o alfa agora, desde muito tempo e juntos conseguimos salvar o pouco que havia restado da matilha da Lua crescente. Não foi fácil, mas tínhamos alguma coisa agora, depois de tudo que aconteceu.

Alguém b**e em minha porta. Meu smoking estava estendido na cama enquanto eu apenas encarava ele pensando no casamento que aconteceria em pouco mais de uma semana. Já estava tudo pronto, e nada parecia estar perto de dar errado e eu nem deixaria que desse.

Cortei meus pensamentos e fui até a porta, e assim que a abri fui surpreendida com uma forma de cabelos pretos se jogando em cima de mim.

-MASON, você não pode..não pode se casar com ela. Eu não vou deixar você fazer isso! - Ela fala pra mim com uma voz chorosa.

-Lorena, eu preciso fazer isso. Você deveria saber o quanto eu tenho esperado por esse dia. 

-Não! Como sua amiga mais antiga, e a sua VERDADEIRA futura esposa, eu te proíbo de continuar com esse casamento estupido! - ela coloca as duas mãos em meu peito e empurra com força enquanto chora. Eu seguro seus pulsos e a faço olhar para mim.

-Nada vai me impedir.- Eu digo da forma mais calma que consigo, tentando não piorar a situação. -  Você sabe que tudo isso é apenas pra conseguir minha vingança, não chegaremos sequer a parte do casamento. Pare de chorar, se recomponha e vá lavar esse rosto. Tudo isso vai acabar logo, eu prometo. 

Ela faz biquinho e continua me encarando. Essa não é a primeira vez que ela tenta me convencer de algum jeito, e não duvido que também não seja a última. Ela solta um bufo de raiva.

-Eu acho ser mesmo só por essa vingança. Essa garotinha idiota não merece casar com você. -Ela fala e simplesmente saí porta afora não querendo mais conversar sobre isso, mas parecia satisfeita com a minha resposta, pelo menos por enquanto.  

Depois que Lorena saiu, foi a minha vez de sair da minha casa de matilha e visitar a de Jude. Ela estava no seu lugar de sempre, o mesmo que eu havia encontrado ela pela primeira vez. 

Quando eu chego e a vejo  ela estava usando um vestido branco repleto de pequenas flores, e eu me aproximei sorrateiramente por trás. 

POV JUDE

-Consegue adivinhar quem é? - Uma voz que eu reconheço perfeitamente me pergunta, com as mãos tapando seus olhos.

-Não tenho ideia, talvez se você me der alguma pista. 

Ele se aproxima do meu ouvido e sussurra para mim

-Você está tão linda com esse vestido, está tentando se misturar com a paisagem? Eu poderia te confundir com uma das flores.

Sem que ele solte as mãos dos meus olhos, eu me viro e meus lábios encontram os seus em um beijo apaixonado. 

Quando encerramos o beijo, estou ofegante, sorridente e suas mãos não estão mais cobrindo meus olhos. 

-Você está bem? -Pergunto para Mason, que não parecia mais tão sorridente de repente, como se estivesse pensando demais.

Ele acaricia o meu rosto e abre um sorriso maior que dessa vez vejo chegando aos seus olhos. 

-Como nunca.

O beijo mais uma vez, dessa vez rápido, e logo depois pego sua mão, o arrastando, na verdade correndo animadamente pela campina em direção a minha casa.

-Venha, minha mãe acaba de fazer um almoço, e depois tem tortinhas de chocolate. Eles estão esperando por nós. 

E ele me segue.

POV MASON

Depois do que me pareceu horas de bajulações, sorrisos falsos e carícias trocadas com Jude discretamente por de baixo da mesa, aquele pesadelo de almoço finalmente tinha acabado.

Eu me sentia rasgar por dentro toda vez que tinha que dirigir uma palavra ou até mesmo um sorriso ao homem responsável por assassinar minha família e destruir a minha matilha. Às vezes eu podia jurar que sentia minhas garras crescendo debaixo da mesa, da mão que não estavam na perna de Jude, prontas para fazerem o que a natureza as criou para fazerem.

Ele estava bem ali na minha frente, e era muito difícil não ceder aos instintos e acabar com isso de uma vez por todas. Mas a vingança é um prato que se come frio, e eu de algum jeito aguentei todo aquele tempo no controle. 

Agora, Jude e sua irmã estavam tirando a mesa enquanto seus pais estavam na cozinha, e eu estava livre para andar pela casa. 

O escritório do alfa da lua sangrenta, eu estava de frente para a porta enquanto ouvia os barulhos e murmúrios vindos da sala de jantar, minha mão se estende para a maçaneta, e eu me sentia sedento em pensar em todos os segredos que ele poderia manter escondido aí dentro em alguma gaveta qualquer. Era exatamente o que eu precisava. 

Informações estratégicas, pontos importantes…um prato cheio para os meus planos. 

Eu viro a maçaneta e me sinto festejar internamente ao perceber que a porta não estava trancada. 

-O que está fazendo aqui? - Uma voz pergunta e eu me viro, de repente. 

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