Meu celular começa a tocar e Thom o pega na minha bolsa, sem eu precisar pedir.
– Obrigada – atendo a chamada assim que vejo o nome de Gabriel brilhar no ecrã. – Oi, amor – cumprimento cansada.– Angel, preciso conversar com você pessoalmente e o mais rápido possível – seu tom é sério e ansioso.Tenho um péssimo pressentimento que faz meu estômago revirar.– Eu estou no ensaio agora e ainda tenho mais meia hora. Posso ir para sua casa assim que sair daqui – explico, mordendo a unha.Gabriel fica em silêncio por uns segundos, mas então diz:– Tudo bem. Não demore. Até mais tarde.Antes mesmo de eu formular uma resposta, a chamada é encerrada. Olho para o celular só para ter certeza de que ele não está mais lá e bufo quando consto que desligou na minha cara.Deixo meu celNão me dou ao luxo de acordar mais tarde no sábado, uma vez que passei a noite em claro e não aguento nem mais um minuto na cama. Arrasto-me até a mesa do café e encontro meu pai conversando descontraidamente com Cris. O sorriso despreocupado da minha irmã desaparece quando vê o estado em que me encontro.– Bom dia – meu pai me oferece um sorriso de canto quando desabo no meu lugar habitual.Apenas balanço a cabeça para seu comentário e me sirvo de vitamina.– Por que você está assim, Angel? – Cristina me pergunta horrorizada e preocupada, mas não respondo.– Porque às vezes acontecem coisas que obrigam os casais a se separarem e a Angel está triste por isso – papai diz. Não consigo nem olhar para ele depois disso e perco o pouco apetite que tinha.– O Biel fez isso com ela? – os olhos dela se fixam em
– Precisamos decidir algumas coisas referentes ao casamento – minha mãe avisa com calma enquanto penteio o cabelo. Permaneço calada, sem alternativas quanto a responder, e ela continua. – Chamei o Guilherme para almoçar com a gente e acertar os detalhes. Então... – mamãe suspira. – É melhor você se arrumar. Não podemos demorar para sair.Respiro fundo, tentando manter a calma, e assinto.– Claro.Não demoro para me arrumar, mas, mesmo assim, minha mãe já está na sala esperando enquanto fico pronta. Imagino que os detalhes do casamento tenham a ver com a própria cerimônia, padrinhos e meu vestido. De qualquer maneira, não estou preparada para lidar com esse tipo de coisa agora.Guilherme e eu não conversamos sobre absolutamente nada, até porque ainda acredito que não vamos nos casar. Porém, enquanto
A noite cai e não tenho notícias de Gabriel. Tento ligar, mas seu celular parece desligado. Recebi o e-mail de minha mãe várioslinkse fotos de diferentes casas. Dei uma olhada breve, mas não cheguei a conversar com Guilherme, visto que ele acompanhou Junia a uma consulta e ela dormirá na casa dele.Desabo na cama e caio no sono mais rápido do que imaginei.Ao longo da semana, volto à rotina normal na academia: dar aula para crianças e ter minha própria aula.Essa é uma ótima forma de me distrair, exceto quando meufeedde notícias decide transbordar de matérias sobre Gabriel saindo todas as noites consecutivas dessa semana, bebendo e ficando com inúmeras garotas em sua companhia.Sei que só farei mal a mim mesma ao ler essas matérias para adolescentes, mas preciso de muito esforço para evitar. Essa &
Não no meu caso.Mamãe diz que vai nos ajudar até o ponto em que ajudarmos também. Guilherme está visivelmente cansado com essa situação, mas não sei se planeja algo para se livrar do casamento. Eu quero fazer, embora não faça ideia do que nem como.Mas não vou desistir.Por enquanto, se eu agir como se estivesse me rendendo, posso descobrir a fraqueza desse acordo.– Pode ser. Gostei também – copio olinkda página e colo na planilha. Analiso por um tempo os quatro endereços salvos e respiro fundo. Isso não pode ser real. – Guilherme? – chamo antes mesmo de perceber o que vou dizer. – Por que estamos escolhendo uma casa se não vamos morar nela?Sinto o peso do olhar dele sobre mim e só busco olhá-lo muitos segundos mais tarde. Ele não responde. Não de imediato, pelo menos
– Mas... – Cristina não consegue terminar de falar, pois já saí da sala.Encontro Junia apoiada na pia e sei que está nervosa. Deixo meu prato ali, respiro fundo e toco seu ombro, mas ela se afasta.– Você já tem vestido – percebo que minha irmã está chorando. – Você já tem um vestido lindo – ela me encara com raiva.– Eu não... – tento pensar em algo que faça sentido. Mas adivinha? Nada.– Você não o quê, Angel? Você não sabia que toda noiva precisa de um vestido? – ela eleva o tom. – Ou não sabia que o Max já estava fazendo seu vestido? Fale sério! Você e o Guilherme estavam escolhendo uma casa hoje de manhã! O que mais vocês planejaram?– Gen, eu não quero vestido nenhum, casa nenhuma, muito menos esse casamento! – defen
– Eu sinto falta disso – Gabriel admite enquanto penteia meu cabelo com os dedos, comigo aconchegada em seu abraço.– Eu estou aqui agora, amor – seguro sua mão.– Até quando? – ele mexe suas pernas inquieto.Respiro fundo. Olho para meus pés apoiados no sofá, numa estranha tentativa de focar no que realmente importa.– Até você enjoar de mim – respondo.– Se fosse para enjoar, eu já teria enjoado, não acha?Sento-me, a fim de olhá-lo nos olhos e digo:– Acho que deveríamos ignorar o mundo lá fora para aproveitar esse momento como sempre fizemos. Pode ser?Gabriel afirma com a cabeça levemente ao entrelaçar nossos dedos.Ele sempre foi o parceiro que me apoiou nas danças da vida.– Angel! Você tem quinze minutos para vir para casa! – minha mãe grit
Devo ter falhado miseravelmente na tentativa de disfarçar a vontade de chorar, pois, quando mamãe para ao meu lado – bloqueando o sol de chegar até mim –, ela me encara com ar de piedade.– Oh, Angel... – mamãe me abraça, ainda de pé, e me agarro a ela. Antes que perceba, já estou chorando de soluçar e recebo carinho na cabeça.– Eu só estou cansada, mamãe – tento explicar, mas ela sabe o que estou passando. Não preciso dizer nada.– Tudo bem. Não tem problema. Você quer ir embora?Assinto e ela seca minhas lágrimas.– Vamos então.Assim que me levanto, abraço a mulher ruiva com toda a minha força. De primeiro instante, ela se surpreende, mas me aceita em seus braços, envolvendo-me com ternura.– Você abraçava a vovó assim antes de ser obrigada a
Chegamos a casa e Gen, eu e Guilherme nos ocupamos em levar os novos acessórios para o quarto de Junia, enquanto mamãe prepara um chá para Leonora.– Aconteceu alguma coisa, Angel? – Guilherme pergunta, o que leva minha irmã a parar de apreciar as compras e olhar para mim.– Por quê? – balanço a cabeça negativamente.– Você parece agitada, sei lá – ele dá de ombros.Junia morde o lábio ao me analisar da cabeça aos pés. Ela sabe que já não estou conseguindo lidar com Gabriel indo e vindo na hora que bem entende e, talvez pela forma que aperto meu celular e vejo se há novas mensagens a cada dois minutos, minha irmã me aconselha:– É melhor você ir logo. Ele não vai esperar por muito tempo.Intercalo meu olhar entre os dois por um segundo e saio correndo. Onde está a chav