A noite cai e não tenho notícias de Gabriel. Tento ligar, mas seu celular parece desligado. Recebi o e-mail de minha mãe vários links e fotos de diferentes casas. Dei uma olhada breve, mas não cheguei a conversar com Guilherme, visto que ele acompanhou Junia a uma consulta e ela dormirá na casa dele.
Desabo na cama e caio no sono mais rápido do que imaginei.Ao longo da semana, volto à rotina normal na academia: dar aula para crianças e ter minha própria aula.Essa é uma ótima forma de me distrair, exceto quando meu feed de notícias decide transbordar de matérias sobre Gabriel saindo todas as noites consecutivas dessa semana, bebendo e ficando com inúmeras garotas em sua companhia.Sei que só farei mal a mim mesma ao ler essas matérias para adolescentes, mas preciso de muito esforço para evitar. Essa &Não no meu caso.Mamãe diz que vai nos ajudar até o ponto em que ajudarmos também. Guilherme está visivelmente cansado com essa situação, mas não sei se planeja algo para se livrar do casamento. Eu quero fazer, embora não faça ideia do que nem como.Mas não vou desistir.Por enquanto, se eu agir como se estivesse me rendendo, posso descobrir a fraqueza desse acordo.– Pode ser. Gostei também – copio olinkda página e colo na planilha. Analiso por um tempo os quatro endereços salvos e respiro fundo. Isso não pode ser real. – Guilherme? – chamo antes mesmo de perceber o que vou dizer. – Por que estamos escolhendo uma casa se não vamos morar nela?Sinto o peso do olhar dele sobre mim e só busco olhá-lo muitos segundos mais tarde. Ele não responde. Não de imediato, pelo menos
– Mas... – Cristina não consegue terminar de falar, pois já saí da sala.Encontro Junia apoiada na pia e sei que está nervosa. Deixo meu prato ali, respiro fundo e toco seu ombro, mas ela se afasta.– Você já tem vestido – percebo que minha irmã está chorando. – Você já tem um vestido lindo – ela me encara com raiva.– Eu não... – tento pensar em algo que faça sentido. Mas adivinha? Nada.– Você não o quê, Angel? Você não sabia que toda noiva precisa de um vestido? – ela eleva o tom. – Ou não sabia que o Max já estava fazendo seu vestido? Fale sério! Você e o Guilherme estavam escolhendo uma casa hoje de manhã! O que mais vocês planejaram?– Gen, eu não quero vestido nenhum, casa nenhuma, muito menos esse casamento! – defen
– Eu sinto falta disso – Gabriel admite enquanto penteia meu cabelo com os dedos, comigo aconchegada em seu abraço.– Eu estou aqui agora, amor – seguro sua mão.– Até quando? – ele mexe suas pernas inquieto.Respiro fundo. Olho para meus pés apoiados no sofá, numa estranha tentativa de focar no que realmente importa.– Até você enjoar de mim – respondo.– Se fosse para enjoar, eu já teria enjoado, não acha?Sento-me, a fim de olhá-lo nos olhos e digo:– Acho que deveríamos ignorar o mundo lá fora para aproveitar esse momento como sempre fizemos. Pode ser?Gabriel afirma com a cabeça levemente ao entrelaçar nossos dedos.Ele sempre foi o parceiro que me apoiou nas danças da vida.– Angel! Você tem quinze minutos para vir para casa! – minha mãe grit
Devo ter falhado miseravelmente na tentativa de disfarçar a vontade de chorar, pois, quando mamãe para ao meu lado – bloqueando o sol de chegar até mim –, ela me encara com ar de piedade.– Oh, Angel... – mamãe me abraça, ainda de pé, e me agarro a ela. Antes que perceba, já estou chorando de soluçar e recebo carinho na cabeça.– Eu só estou cansada, mamãe – tento explicar, mas ela sabe o que estou passando. Não preciso dizer nada.– Tudo bem. Não tem problema. Você quer ir embora?Assinto e ela seca minhas lágrimas.– Vamos então.Assim que me levanto, abraço a mulher ruiva com toda a minha força. De primeiro instante, ela se surpreende, mas me aceita em seus braços, envolvendo-me com ternura.– Você abraçava a vovó assim antes de ser obrigada a
Chegamos a casa e Gen, eu e Guilherme nos ocupamos em levar os novos acessórios para o quarto de Junia, enquanto mamãe prepara um chá para Leonora.– Aconteceu alguma coisa, Angel? – Guilherme pergunta, o que leva minha irmã a parar de apreciar as compras e olhar para mim.– Por quê? – balanço a cabeça negativamente.– Você parece agitada, sei lá – ele dá de ombros.Junia morde o lábio ao me analisar da cabeça aos pés. Ela sabe que já não estou conseguindo lidar com Gabriel indo e vindo na hora que bem entende e, talvez pela forma que aperto meu celular e vejo se há novas mensagens a cada dois minutos, minha irmã me aconselha:– É melhor você ir logo. Ele não vai esperar por muito tempo.Intercalo meu olhar entre os dois por um segundo e saio correndo. Onde está a chav
– Não acredito!– Você pode mudar de frase, por favor? – peço para minha irmã, que toma sua xícara de chá de café da manhã.– Desculpe. Eu só... Não acredito – Gen joga o cabelo para um lado só.– É melhor acreditar. Não é como se não tivéssemos terminado. Ele fez isso logo que descobriu e está tentando seguir a vida dele – reviro os olhos e termino o cookie que eu nem queria.– Mas... A mulher era bonita? – Gen pergunta com certa medida de timidez.Fico olhando para ela. Não sei qual a relevância dessa pergunta, exceto que é mesmo relevante. Se for para me trocar, que ela pelo menos seja bonita.– Maravilhosa – respondo. – Tipo modelo com as pernas longas e alta.O fato de ela ser alta mexe com meu psicológico. Isso é praticame
– As chaves da sua casa. Acho que concordamos que não preciso mais delas – por incrível que pareça, minha voz se mantém estável.Fixo meu olhar no seu rosto, mas Biel não diz nada. Confesso que tenho vontade de provocá-lo sobre a garota da noite passada, contudo o bom senso me faz segurar a língua.Ao abrir o portão da casa, Gabriel olha para mim, enquanto o motor realiza seu trabalho de abrir o portão.Esse motor nunca foi tão devagar.Quando ele finalmente desliga o carro, abro a porta sem que tenha dito nada.– Obrigada – agradeço a carona e por ter me ajudado com Junia. – Se você não tivesse me ajudado, eu provavelmente teria entrado em desespero e atrapalhado tudo.– Não foi nada – ele sorri de canto. – Ainda bem que ela e o bebê estão bem.– É... – mordo o l&aac
Por alguma razão, o término entre minha irmã e Guilherme acabou doendo mais em mim do que achei que doeria. Talvez seja o fato de que agora não exista mais esperança.Junia disse que terminou com o Guilherme por minha causa. Talvez seja essa a questão do problema.A culpa é minha. Eu deveria ajudá-la, não causar preocupação. Isso dói fisicamente: perdi meu noivo, minha liberdade e estou perdendo minha irmã aos poucos.O vestido branco cai perfeitamente em meu corpo, feito só para mim. Fico apenas olhando para meu reflexo no espelho, mas não vejo nada além de uma garota triste com um vestido lindo.Não me lembro da última vez que sorri.Deixei de comparar minha situação com a justiça, pois não há nada justo aqui. Não consigo nem me imaginar assinando a folha do casamento ao lado de Guilherme. Q