Os olhos belos do rapaz transformaram-se num vazio solitário e Adam sentiu medo por um instante. Pois mal o conhecia. Temeu está sozinho com ele, mas sabia que Saymon não seria capaz de machucá-lo. Outrora foi gentil para com ele, retirando-o daquela maldita clínica.A suspeita encima de Kennedy era evidente. Todavia porque o jovem fugira dele no passado e ainda que estivesse sumido há anos, Saymon não pensava em nenhuma outra possibilidade. Tinha que ser ele.- Adam, desculpa. - disse, resignado. Desejou ter trazido alguns filmes para tentar se divertirem um pouco. O hotel estava encoberto pelo cheiro do garoto e o silêncio das ruas ajudava ainda a lhe assustar da vontade eminente de beijá-lo.- Quem dirá. - Adam riu. Sem qualquer sinal de nervosismo. Estava ansioso com o que viria a acontecer. Saymon podia ser frio, mas demonstrava afeto e isso acalmava o coração do mais novo. - Deve está preocupado, eu sinto. No seu lugar eu estava roendo as unhas e martelando memórias em busca do
O jantar correu tranquilo para os demais presentes, mas Saymon, como sempre, investigava à espreita cada um de seus inimigos e passou a incluir a mãe na lista negra e interminável. Após ver a mesma conversando quase ao mesmo momento com alguém, percebera que, talvez, ela não fosse exatamente aquilo que apresentava à mesa: leiga e complacente.Os assuntos conversados não tratavam de algo nada alarmante, apenas requisitos básicos para os quais Saymon foi surdo, cego e mudo. Sua ausência nos mesmos fez Angelina declamar:— Está tudo bem com você, filho? Saymon pressionava um garfo na mão. Seus olhos raivosos recaíram sobre ela, mas um sorriso quente a fez desmoronar.— Sim. Acho que apenas uma leve dor de cabeça.Andrew ergueu uma sobrancelha, curioso.— Se não quiser ficar na mesa, talvez possa se recolher. Eu acompanho se quiser!— Tudo bem. Eu aceito sua companhia.Saymon limpou os lábios e levantou sendo acompanhado por Andrew, com um sorriso discreto. Era o momento de fazer valer o
O carro de Saymon estacionou rente a uma calçada de pedras portuguesas no lugar mais afastado de Thirro e Rose Ruschel; onde existiam algumas propriedades dos tempos coloniais dos alemães, logo após a Peste Negra. Apesar de distante do centro metropolitano, o local contava com asfaltamento, drenagem, posto de saúde, escolas de primeira e uma linha de tabernas enormes. Saymon já tinha ido ali outras vezes, mas nunca chegou a estacionar. O vilarejo parecia uma cidade fantasma e inabitável, porque podia-se ouvir apenas o canto dos animais e o sino da velha igreja de São Miguel, ressoar de cinco em cinco minutos. Ele estava nervoso. Era visível em suas mãos suadas, mas não negava que a ansiedade em vê-lo supera tudo. O sorriso enorme se abria e os dentes brancos e alinhados revelavam o impiedoso e devasso CEO da Mallmann Enterprises, porém, agora, ele era um rapaz meigo e apaixonado e que lutaria para ter esse amor. Custe o que custar.— Ainda tem tempo de voltarmos e enterrar este assu
Sr.S, como passou a ser bastante conhecido por seus seguidores, tratava-se de uma pessoa extremamente sigilosa no mercado financeiro e imobiliário de Thirro, porém sem nenhum prestígio vantajoso ou que foi capaz de ascender seu nome que, atualmente, é um fiasco.Seu escritório ficava na Avenida Prince Kian, no Centro inatingível de Thirro, ao lado de um refinado restaurante inglês e cercado de altos prédios residenciais, de pessoas ricas acostumadas a gastar milhões com absolutamente nada legal.Suas unhas batiam sem trégua sobre a mesa de vidro comprada recentemente na China, um de seus lugares mais visitados e onde costumava passar férias do meio de ano. Talvez o único objeto daquela ampla sala que não fosse preto, já que o excelentíssimo Sr.S, apesar de pensarem todos estar em decadência, insistia em um fortuito plano: tomar a Mallmann. Porém, o que poucos sabiam, é que o próprio Sr.S, trabalhou incansáveis anos a fim de proporcionar a aquela empresa um futuro digno, mas qual achav
— Adam, o café! — Saymon exclamou por debaixo do beijo.Adam afastou-se dois centímetros e deu um sorrisinho antes que limpasse os lábios com a ponta da língua.— Ora, sim, havia esquecido completamente desse detalhe.A lamentação era bastante visível, mas tratou mesmo assim de passar o café e servir o anfitrião. Houve um momento de silêncio, um instante em que ambos permaneceram quietos enquanto os olhos vagavam lentamente pelos minúsculos minuciosos da cozinha aconchegante. — Eu queria te pedir desculpas.— Pelo quê? — Saymon indagou.— Ora, pelo quê! Abusei de sua fragilidade e acabei o beijando.— Não peça. Sei que não fez por mal, Adam.— É, eu não fiz por mal mesmo. Você sempre teve o coração dividido com o seu falecido, ou seja, é inevitável que algo entre nós haja além de negócios.Isso não era verdade, mas Saymon preferiu deixar implícito.— Não precisa se lamentar. Esse beijo não significou nada para mim.Aquelas palavras lhe partiu o coração, mas não o suficiente para deix
"Flasback"Era inverno naquela época e Saymon ainda lembrava perfeitamente daquele dia, do último abraço, dos últimos beijos, das últimas sensações e dos toques das mãos dele em seu corpo, mas principalmente das feridas jamais cicatrizadas pelo desaparecimento de Kennedy.Eles estavam sobre a cama planejando a próxima apresentação sobre Alexandre, O Grande. O professor Mackay, havia dividido o tema entre os alunos e escolheu as duplas para o trabalho. Saymon insistiu em fazer a atividade escolar com Kennedy, não por ele ser o mais inteligente da turma, mas porque o queria sempre perto. E a história de Alexandre o encantava, embora os fatos escondidos fossem um pouco mais contraditórios. Ele ficou a par de pesquisar sobre Heféstion, o amante do Conquistador e os recursos escassos, mal dava para iniciar a apresentação.Kennedy, ao contrário, pegou a parte mais difícil, onde tratava sobre as conquistas da Pérsia e Índia, pelo exército de Alexandre. Ele mal podia imaginar um Macedônio con
O silêncio nunca foi e jamais seria algo ritualístico por parte de Saymon, ainda que em sua frente houvesse um fantasma, uma alma que naquele mesmo dia descobriu estar morto e, agora, vivo. Como recapitular? Ele buscava respostas certas, porém, se prestou a observar Kennedy passeando com as mãos no bolso da calça espiando os quadros comprados na Itália, os pequenos móveis vindo do Brasil e, mais ao canto, uma pequena adega.Solitário em sua cadeira, tentava recobrar mais lembranças, pois hodiernamente, via Kennedy como uma sombra… somente isso.— Depois de muitos anos, por que agora?Kennedy apanhou um vaso e analisou calmamente, fingindo não ter ouvido o questionamento de Saymon.—Sabe que amo esse tipo de cerâmica? São minhas obras de artes favoritas! — afirmou encarando o rapaz. —Lembro nitidamente de um dia ter o levado no Grand-Pierre, o Museu da cidade. Você ficou impressionado, parecia estar em outro…—Mundo? — interrompeu Saymon, sendo recepcionado pelo sorriso desbravador de
Kennedy abriu um amplo sorriso.— Está mesmo disposto a pagar um alto preço pela liberdade daquele moleque? Saymon afrouxou o nó da gravata e correu com a língua por cima de seus lábios.— Sim, estou.— Acho que eu não escutei direito. Pra falar a verdade, passei por uma lavagem nos ouvidos há uma semana — deu um sorrisinho, assistindo o assombro de Saymon —, se puder repetir… eu agradecerei. Ódio. Era ódio e raiva, uma junção imperfeita e equilibrada que Saymon sentia naquele momento. Sua vontade de acabar com Kennedy, havia ultrapassado todos os limites, mas embora o anelo fosse mais forte, Adam corria perigo real de vida.— Estou disposto — ele disse, secando o suor do pescoço. — Qual é seu preço?Kennedy o estudou durante um tempo.— Sua empresa…— Minha empresa? — indagou dando um sorriso— Enlouqueceu, por acaso? Kennedy repousou as mãos na altura da cintura e sacudiu a cabeça.— É um bom preço, não acha? Eu vejo como uma troca justa!— Justa?— Sim, justa. Embora aquele loiri