O carro de Saymon estacionou rente a uma calçada de pedras portuguesas no lugar mais afastado de Thirro e Rose Ruschel; onde existiam algumas propriedades dos tempos coloniais dos alemães, logo após a Peste Negra. Apesar de distante do centro metropolitano, o local contava com asfaltamento, drenagem, posto de saúde, escolas de primeira e uma linha de tabernas enormes. Saymon já tinha ido ali outras vezes, mas nunca chegou a estacionar. O vilarejo parecia uma cidade fantasma e inabitável, porque podia-se ouvir apenas o canto dos animais e o sino da velha igreja de São Miguel, ressoar de cinco em cinco minutos. Ele estava nervoso. Era visível em suas mãos suadas, mas não negava que a ansiedade em vê-lo supera tudo. O sorriso enorme se abria e os dentes brancos e alinhados revelavam o impiedoso e devasso CEO da Mallmann Enterprises, porém, agora, ele era um rapaz meigo e apaixonado e que lutaria para ter esse amor. Custe o que custar.— Ainda tem tempo de voltarmos e enterrar este assu
Sr.S, como passou a ser bastante conhecido por seus seguidores, tratava-se de uma pessoa extremamente sigilosa no mercado financeiro e imobiliário de Thirro, porém sem nenhum prestígio vantajoso ou que foi capaz de ascender seu nome que, atualmente, é um fiasco.Seu escritório ficava na Avenida Prince Kian, no Centro inatingível de Thirro, ao lado de um refinado restaurante inglês e cercado de altos prédios residenciais, de pessoas ricas acostumadas a gastar milhões com absolutamente nada legal.Suas unhas batiam sem trégua sobre a mesa de vidro comprada recentemente na China, um de seus lugares mais visitados e onde costumava passar férias do meio de ano. Talvez o único objeto daquela ampla sala que não fosse preto, já que o excelentíssimo Sr.S, apesar de pensarem todos estar em decadência, insistia em um fortuito plano: tomar a Mallmann. Porém, o que poucos sabiam, é que o próprio Sr.S, trabalhou incansáveis anos a fim de proporcionar a aquela empresa um futuro digno, mas qual achav
— Adam, o café! — Saymon exclamou por debaixo do beijo.Adam afastou-se dois centímetros e deu um sorrisinho antes que limpasse os lábios com a ponta da língua.— Ora, sim, havia esquecido completamente desse detalhe.A lamentação era bastante visível, mas tratou mesmo assim de passar o café e servir o anfitrião. Houve um momento de silêncio, um instante em que ambos permaneceram quietos enquanto os olhos vagavam lentamente pelos minúsculos minuciosos da cozinha aconchegante. — Eu queria te pedir desculpas.— Pelo quê? — Saymon indagou.— Ora, pelo quê! Abusei de sua fragilidade e acabei o beijando.— Não peça. Sei que não fez por mal, Adam.— É, eu não fiz por mal mesmo. Você sempre teve o coração dividido com o seu falecido, ou seja, é inevitável que algo entre nós haja além de negócios.Isso não era verdade, mas Saymon preferiu deixar implícito.— Não precisa se lamentar. Esse beijo não significou nada para mim.Aquelas palavras lhe partiu o coração, mas não o suficiente para deix
"Flasback"Era inverno naquela época e Saymon ainda lembrava perfeitamente daquele dia, do último abraço, dos últimos beijos, das últimas sensações e dos toques das mãos dele em seu corpo, mas principalmente das feridas jamais cicatrizadas pelo desaparecimento de Kennedy.Eles estavam sobre a cama planejando a próxima apresentação sobre Alexandre, O Grande. O professor Mackay, havia dividido o tema entre os alunos e escolheu as duplas para o trabalho. Saymon insistiu em fazer a atividade escolar com Kennedy, não por ele ser o mais inteligente da turma, mas porque o queria sempre perto. E a história de Alexandre o encantava, embora os fatos escondidos fossem um pouco mais contraditórios. Ele ficou a par de pesquisar sobre Heféstion, o amante do Conquistador e os recursos escassos, mal dava para iniciar a apresentação.Kennedy, ao contrário, pegou a parte mais difícil, onde tratava sobre as conquistas da Pérsia e Índia, pelo exército de Alexandre. Ele mal podia imaginar um Macedônio con
O silêncio nunca foi e jamais seria algo ritualístico por parte de Saymon, ainda que em sua frente houvesse um fantasma, uma alma que naquele mesmo dia descobriu estar morto e, agora, vivo. Como recapitular? Ele buscava respostas certas, porém, se prestou a observar Kennedy passeando com as mãos no bolso da calça espiando os quadros comprados na Itália, os pequenos móveis vindo do Brasil e, mais ao canto, uma pequena adega.Solitário em sua cadeira, tentava recobrar mais lembranças, pois hodiernamente, via Kennedy como uma sombra… somente isso.— Depois de muitos anos, por que agora?Kennedy apanhou um vaso e analisou calmamente, fingindo não ter ouvido o questionamento de Saymon.—Sabe que amo esse tipo de cerâmica? São minhas obras de artes favoritas! — afirmou encarando o rapaz. —Lembro nitidamente de um dia ter o levado no Grand-Pierre, o Museu da cidade. Você ficou impressionado, parecia estar em outro…—Mundo? — interrompeu Saymon, sendo recepcionado pelo sorriso desbravador de
Kennedy abriu um amplo sorriso.— Está mesmo disposto a pagar um alto preço pela liberdade daquele moleque? Saymon afrouxou o nó da gravata e correu com a língua por cima de seus lábios.— Sim, estou.— Acho que eu não escutei direito. Pra falar a verdade, passei por uma lavagem nos ouvidos há uma semana — deu um sorrisinho, assistindo o assombro de Saymon —, se puder repetir… eu agradecerei. Ódio. Era ódio e raiva, uma junção imperfeita e equilibrada que Saymon sentia naquele momento. Sua vontade de acabar com Kennedy, havia ultrapassado todos os limites, mas embora o anelo fosse mais forte, Adam corria perigo real de vida.— Estou disposto — ele disse, secando o suor do pescoço. — Qual é seu preço?Kennedy o estudou durante um tempo.— Sua empresa…— Minha empresa? — indagou dando um sorriso— Enlouqueceu, por acaso? Kennedy repousou as mãos na altura da cintura e sacudiu a cabeça.— É um bom preço, não acha? Eu vejo como uma troca justa!— Justa?— Sim, justa. Embora aquele loiri
— Você esqueceu a chave do carro e voltou para pegar, foi isso? Indagou o delegado Gustav Schneider, conhecido naquela cidade como “o caçador” embora relutasse um pouco com a alcunha de longa data, gostava quando a imprensa o chamava o apelidava daquela forma: aumentava sua autoestima um tanto elevada. Mas não era apenas pundonor, Gustav Schneider costumava tirar evidências e confissões num piscar de olhos, além de desbravar tentativas e assassinatos em poucos dias, colocando os malfeitores atrás das grades.Na cadeira dos “réus” estava Aaron Stein. O sobrenome de peso não o fez torcer o nariz, ainda que quisesse, claro.— Sim, senhor.— E qual o intervalo de tempo entre sua saída do apartamento do jovem Adam Schultz Becker e seu retorno? — Perguntou. Lógico que Schneider já havia visto os vídeos das câmeras, fez uma petição assim que soube do ocorrido. — Uns quinze minutos, eu acho. Um pouco menos, talvez!Vilma Weber, a escrivã, estava atenta a cada detalhe e digitava com certa
Saymon acordou assim que Bernardo, um dos enfermeiros responsáveis por avaliá-lo, abriu a porta. — Está se sentindo melhor? — perguntou o rapaz, cruzando os braços acima dos peitos destacados no jaleco branco. — Espero que bem!Saymon suspirou fundo.— Melhor, um pouco — respondeu vazio, talvez ainda envergonhado— Minha mãe e a Claire, já foram?— Infelizmente, sim. Mas tem um rapazinho aguardando para visitá-lo.— Quem?Bernardo semicerrou os olhos à procura do nome em seu tablet e não custou para localizá-lo.— Nicolas Benjamin — disse o enfermeiro —, alegando ser seu primo. Deixo-o entrar?Saymon errou bastante com Benjamin, principalmente ao seduzi-lo e levá-lo para cama, e merecia pedir perdão, embora soubesse do gênio nada peculiar do garoto.— Mande-o aqui. Tem alguém mais na sua lista?— Wallace, aquele seu amigo e Steven, que diz ser seu padrinho. Alguma ressalva?Ele tremeu ao ouvir o nome de seu verdadeiro pai, segundo as palavras de Kennedy. — Nenhuma. Pode permitir a en