O medo me corroía por dentro, uma inquietação que me impedia de dormir direito desde que Ethan me contara sobre os lobisomens e a iminente lua de sangue. Quando cheguei na loja, Sarah percebeu minha tensão imediatamente. __“O que você tem, amiga?” A pergunta dela ecoou na minha cabeça, mas eu só consegui balbuciar: “Nem sei por onde começar…”Ela me ofereceu um café, um gesto simples que me confortou naquele momento. Contei tudo a ela, cada palavra de Ethan, o terror que me tomava. Sarah ouviu em silêncio, a expressão séria, e quando terminei, a única coisa que ela disse foi: ___“O que pensa fazer?” A resposta escapou dos meus lábios como um sussurro: __“Não sei…”No fim do expediente, Ethan veio me buscar. A gentileza dele, naquele momento, pareceu um bálsamo para minha alma. Em casa, preparei café para nós dois. A atmosfera estava carregada, um silêncio pesado pairando entre nós enquanto tomávamos a bebida quente.__“Você está bem?” A voz dele, suave, quebrou o silêncio.
A noite caiu sobre nós como um manto pesado, carregado de uma ansiedade que nenhum café conseguia aplacar. Em casa, o silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pelo tique-taque do relógio na parede, cada segundo parecendo uma eternidade. Ethan me olhava com preocupação, seus olhos escuros refletiam a mesma inquietação que me consumia. A fisgada na barriga havia passado, mas um mal-estar persistente se instalou, uma sensação de presságio que me deixava inquieta.__“Clara,” ele começou, sua voz baixa, quase um sussurro. “Você tem certeza de que está bem?”Eu queria dizer que sim, que tudo estava sob controle, mas a mentira se recusava a sair. A imagem dos anciãos, seus rostos enrugados pela preocupação, e a pergunta sobre o sacrifício ecoavam na minha mente. Eu havia prometido fazer o que fosse melhor para todos, mas o que era melhor? Me sacrificar? Era isso mesmo que eles queriam?__“Eu… não sei,” confessei, a voz fraca. A verdade era que eu estava apavorada. Não apenas pela
_/“Isso não pode ser verdade,” disse, a voz trêmula, a negação me agarrando como um salva-vidas. __“É humanamente impossível.” Nihal balançou a cabeça, sua expressão impassível. ___٪ “Pelo jeito, não é. Senti bem o ser que se desenvolve no útero dela.” __“E o que ele seria?” Ethan perguntou, sua voz tensa. A resposta do curandeiro foi fria, implacável. __٪Um híbrido. Um ser misturado que provavelmente devorará a mãe de dentro para fora antes do nascimento.” __“Meu bebê não faria isso!” protestei, a palavra “bebê” ecoando na pequena choupana como um grito de esperança desesperado. Nihal suspirou, sua voz carregada de pesar. __“Entende mocinha. Que não é um bebê normal o que carrega, mas sim uma criatura sobrenatural.” ___“O que recomenda que façamos?” Ethan perguntou, sua voz firme, mas seus olhos revelando o medo que o consumia. A recomendação do curandeiro foi direta, brutal. __“Aborte esse ser antes que ele se desenvolva.” Um rugido ameaçador escapou da minha g
Os meses seguintes foram uma tortura. A frieza de Ethan era um gelo constante, me aprisionando em um vazio gélido. Meu corpo, traidor, respondia com enjoos que me deixavam prostrada e dores abdominais que me dobravam. Debruçada na janela, o olhar perdido no horizonte cinzento, vi-o: um lobo cobre, esguio e ameaçador. O medo me paralisou, mas em segundos, a criatura se curvou, transformando-se em Sarah, a minha amiga, a minha âncora em meio à tempestade. Ela abriu a porta, como se me lesse a alma.__"Clara, preciso de algo para vestir...", pediu, a voz suave quebrando o silêncio opressor.Corri para o quarto, encontrando um vestido laranja que, milagrosamente, se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Seus olhos, cheios de compreensão, pousaram sobre minha barriga, inchada e dolorida. Um leve toque, o movimento do bebê, e a imediata retirada da mão.__"Então é verdade?", sussurrou, a voz carregada de espanto e compaixão."__Sim...", confirmei, a voz falha.__"Ethan me contou, mas pre
A escuridão do quarto se torna um manto pesado sobre mim, e, enquanto a solidão se alonga em cada canto, eu sinto o peso da presença de Ethan ao meu lado. Ele vem e vai, como uma sombra que se esconde quando a luz aparece. Sarah, por outro lado, é o meu refúgio, a única que acalma as tempestades internas que ameaçam me engolir. Mas, assim que ela parte, a solidão se torna uma companheira implacável. Ouço o leve movimento de Ethan, e meu coração acelera. Ele está ali, como sempre, pensando que pode se esconder da verdade, da minha dor. Com os olhos fechados, finjo que estou dormindo, mas a vontade de confrontá-lo cresce a cada segundo. Não posso mais suportar essa farsa. Decido abrir os olhos, e o faço com determinação. — Até quando vai continuar fingindo que não existo? — minha voz rasga o silêncio da noite, e sinto a tensão no ar. — Clara, você está acordada? — a surpresa em seu tom é quase cômica, mas não tenho tempo para jogos. — Todas as noites em que deitou ao meu lado,
A chegada de Sarah era um bálsamo para a minha alma. Suas visitas, cada vez mais frequentes, quebraram a solidão opressora que me aprisionava. Passávamos horas juntas, conversando sobre coisas banais, cozinhando, rindo… eram momentos fugazes de normalidade em meio ao caos da minha vida.___Pode admitir, tenho feito falta na loja.__Demais, amiga. Ninguém é tão organizada como você…Um sorriso triste se formou em meus lábios. A saudade da minha vida antiga, do trabalho, do contato com as pessoas, era insuportável.___Tenho saudades da minha vida livre, de trabalhar, de ver gente… sabe… me sinto infeliz aqui presa nesta cabana como uma criminosa ___Entendo, amiga, mas isso agora é perigoso para você. Se descobrirem sua gravidez, acontecerá uma guerra…A verdade nua e crua. A culpa me esmagava.__Sei disso e me sinto muito culpada, mas eu não podia matar meu filho, Sarah.___ Entendo Clara. diz empatica A conversa continuou, fluindo entre lembranças e medos. O ódio de Ethan, a mi
Quando o tremor no meu corpo finalmente cessou e o medo começou a dissipar, encarei Ethan. A imagem dele, ainda marcado pela luta, me trazia um misto de alívio e apreensão.__“Era um lobisomem, não era mesmo?” A pergunta escapou antes que eu pudesse pensar muito.Ele suspirou fundo, um som pesado que carregava o peso da verdade. Vi a dificuldade em seus olhos, a mesma luta interna que eu sentia.__“Sim. Era Vince. Um dos lobisomens guerrilheiros. Ele comanda o esquadrão de força da alcateia.”___“E por que ele queria me devorar?” A pergunta me queimou a garganta.__“Ele… e muitos outros lobisomens estão cada vez mais dissociados da humanidade, Clara.” A resposta dele foi vaga, evasiva.__“Acha que ele está assim por causa da lua sangrenta?”__“Sim.” A palavra foi curta, seca, mas carregava um peso enorme.__“Por que ele me escolheu para ser seu lanche?” A pergunta me saiu como um soluço.__“Não sei…” Ele disse, pensativo, o olhar perdido em algum ponto distante.Um longo silêncio s
Ethan trabalhou incansavelmente. Reforçou as janelas, bloqueou todas as frestas, colocou duas ou três fechaduras pesadas na porta – uma verdadeira fortaleza – e, para minha surpresa, construiu uma espécie de alçapão no chão do nosso quarto, escondido sob um tapete desbotado.__“Se as coisas fugirem do controle, quero que se esconda no alçapão. Só saia quando as coisas se acalmarem.” Sua voz era séria, determinada, mas havia um tremorsutil nela, que eu reconheci como medo.__“E você, Ethan?” A pergunta escapou como um sussurro, meu coração apertado na garganta.__“Estarei lá fora, lutando.” A resposta dele foi curta, firme, mas a firmeza não escondia o medo que eu também sentia.__“Eu não posso te perder, Ethan…” As lágrimas ameaçavam transbordar.__“Eu que não posso te perder, Clara. Desta vez, não permitirei que seja sacrificada. Lutarei até o fim…” Ele me olhou, seus olhos cheios de uma determinação feroz, mas também de um medo profundo e real.__“Ethan…” Um lamento escapou d