As coisas só pioravam no vilarejo. O urso, que deveria ter sido capturado, continuava à solta, e o desespero se instalou ainda mais quando dois xerifes desapareceram. Dias depois, parte deles foi encontrada, mas as notícias eram aterradoras. O vazio que se formou na comunidade era ensurdecedor; não havia risadas, não havia conversas animadas. As pessoas, agora apavoradas, passavam os dias trancadas em casa, murmurando orações em busca de proteção.Sarah, preocupada com minha segurança, propôs que eu fosse ficar com ela. Mas recusei. Preferi ficar sozinha em meu lar, doce lar, um refúgio que, embora agora parecesse vulnerável, ainda era o único lugar que me proporcionava uma sensação de controle.Sentada na janela do meu quarto, olhei para a floresta, grande e imponente, as árvores parecendo sussurrar segredos que eu não conseguia entender. A beleza do cenário era ofuscada pela sombra do medo. Onde estaria o urso? E Ethan? A pergunta me atormentava. Será que ele e sua família estavam a
Os dias seguintes foram marcados pela apreensão. Evitava sair de casa, mantendo-me presa em meu refúgio, observando o mundo lá fora através da janela. A floresta, antes um lugar de beleza e mistério, agora era sinônimo de perigo, e a cada ruído, a cada sombra que se movia, meu coração disparava. O medo do urso era real, mas o medo do homem loiro, e agora também o da própria Sarah, me deixava em um estado constante de alerta.A cada ligação, a cada mensagem, esperava por alguma explicação, por alguma pista que me ajudasse a entender o comportamento estranho de Sarah. Mas nada. Ela continuava evasiva, suas respostas curtas e enigmáticas, alimentavam minhas suspeitas. A sensação de que ela me escondia algo importante era cada vez mais forte, um peso na consciência que me impedia de relaxar.Um dia, resolvi arriscar. Precisei ir até a mercearia, e apesar do medo, me forcei a sair. O vilarejo continuava silencioso, assombrado pelo medo. As pessoas se moviam como sombras, os rostos ma
O pânico me petrificou. A adrenalina, antes minha aliada, agora me paralisava, deixando apenas a pulsação frenética do meu coração como trilha sonora do meu terror. O ar faltava nos pulmões, a boca seca, um nó na garganta me silenciava. Meus olhos, arregalados, absorviam a escuridão opressora da floresta, o silêncio ensurdecedor quebrado apenas pelo estrondo do meu próprio sangue nas têmporas. O medo, frio e viscoso, me envolvia como um manto, sufocando qualquer resquício de esperança. Era o fim. Eu ia morrer ali, destroçada, longe de Nova York, num vilarejo perdido, devorada por uma criatura sobrenatural que eu jamais imaginara existir. Então, uma voz, familiar até no inferno: __ “Não toque nela, Dion.” Ethan. Ali, sem camisa, pronto para o ataque. A visão dele, naquele cenário de pesadelo, foi um raio de esperança na escuridão. __“Ethan…” sussurrei, minha voz fraca e rouca. Ele nem me olhou, seus olhos fixos na fera que rosnava, presas afiadas à mostra. “Volte para casa, Dion.
Dion é um problema, sim, mas não somos todos assim. Estamos tentando encontrar um equilíbrio.”_“Equilíbrio?!” Eu ri, uma risada amarga. “Como você pode falar de equilíbrio quando vidas inocentes foram perdidas? A sua ‘sobrevivência’ não justifica a morte de outros!”Ele baixou a cabeça, um olhar de dor cruzando seu rosto. “Eu sei. E isso me atormenta. Mas a culpa não é apenas dele. É de todos nós, de nossa existência. A natureza que nos foi imposta nos força a lutar para não sucumbir.”As palavras dele fizeram um eco em meu coração, mas a raiva ainda pulsava dentro de mim. Eu queria acreditar que havia mais do que isso, que havia uma maneira de redimir-se, mas a dor das vítimas ainda estava fresca em minha mente. “E o que você está fazendo para consertar isso? Para parar Dion? Para salvar as pessoas?”__“Estou tentando, Clara. Estamos tentando. Mas não é tão simples. Precisamos de você, da sua compreensão, para que possamos encontrar um caminho diferente. Precisamos lutar ju
O silêncio na cabana era pesado, carregado de uma verdade que mudava tudo. A revelação de Ethan sobre nossas vidas passadas, o amor que transcende o tempo, a predestinação… tudo culminava em uma terrível realidade: eu era uma sacerdotisa, condenada a um ciclo de reencarnações, cada uma terminando com minha morte para salvar o mundo dos lobisomens de uma catástrofe iminente. __“É uma maldição, Clara,” Ethan disse, sua voz rouca de dor. “Uma predestinação distorcida. Você não foi escolhida por mim, mas por uma força antiga, poderosa… e cruel. Em cada vida, você reencarna, vive um tempo… e morre para salvar o mundo dos lobisomens de uma destruição iminente. Seu sacrifício é o preço a ser pago.” A revelação me atingiu como um golpe brutal. A ideia de que todas as minhas mortes anteriores haviam sido um sacrifício, um preço pago por um mundo que eu nem conhecia, era esmagadora. “Como… como isso é possível?” A pergunta saiu como um sussurro, carregada de incredulidade e terror. __“Há séc
Havia um abismo entre mim e Ethan, uma distância dolorosa que eu sentia com uma tristeza profunda. Reencontrá-lo, descobrir sua natureza animalesca e meu destino predestinado nos afastara de maneiras que eu nunca poderia imaginar.Enquanto o observava desinfetar o braço mordido, fazendo caretas de dor, ele percebeu meu olhar e disse:— Por que, ao invés de ficar me olhando, você não vem aqui me ajudar?Bufando, me aproximei relutantemente. Ele me entregou uma agulha.— Costure isso...— Não consigo...— Vamos, menina, costure essa droga!Com um suspiro resignado, obedeci. Conforme eu costurava, vi Ethan mordendo os lábios para não gritar. Quando terminei, joguei álcool sobre a ferida, e ele soltou um gemido.— Eu acho que você devia ir ao médico...— Não se preocupe, eu regenero. É uma habilidade de lobisomem. Dentro de umas quatro horas, esse machucado terá sumido.— Então por que pediu para eu costurar?— Para aliviar a dor, por enquanto...— Foi uma mordida grande...— Foi sim. Voc
Enrolei-me na toalha e voltamos para dentro da cabana. Ethan me surpreendeu ao me dar um vestido branco rendado e uma lingerie delicada. __De quem era? a curiosidade me dominou ao vê-lo emocionado.Ele sorriu levemente, um misto de nostalgia e carinho. __São seus vestidos, guardei comigo… Era a única lembrança de você.Vesti o vestido, que se ajustou perfeitamente, embora um pouco mais frouxo do que eu lembrava. __Queria poder me lembrar de mais coisas sobre nós, Ethan!__Eu acho que para você seria melhor não lembrar…__Por que não? Perguntei, sentindo a frustração se intensificar.__Vai te poupar sofrimento…__E quem disse que é isso que eu quero? meu desafio pairou no ar, e a tensão entre nós cresceu.__Eu sei… Ele respondeu, a sinceridade em sua voz era palpável.Fiquei olhando para ele, desnudando minha alma, enquanto a dor da separação ainda pulsava em meu coração. Apesar de tudo, eu sabia que Ethan era o que eu queria. E, naquele momento, sob as estrelas, com o vestido que e
Na manhã seguinte, Ethan me deixou em casa. A brisa matinal, normalmente refrescante, era opressiva, carregada de uma ansiedade que me sufocava. Vi Sarah na calçada, o rosto pálido sob a luz fraca do sol nascente. Seus olhos, normalmente brilhantes, estavam arregalados, cheios de uma preocupação que me atingiu como um golpe físico.__“Clara! Onde você estava? Me deixou louca de preocupação! Pensei que algo terrível tivesse acontecido.” Sua voz tremia, carregada de um medo que ecoava o meu próprio pânico das horas anteriores.Ethan apareceu atrás de mim, seu sorriso habitualmente encantador agora parecia forçado, quase ameaçador. Sarah o notou imediatamente, sua expressão mudando de preocupação para uma mistura de raiva e medo.__“O que você está fazendo com ele, Clara? Eu já te disse…” Ela começou, mas sua voz falhou, interrompida por um nó na garganta. A raiva em seus olhos era inegável, mas por trás dela, eu via uma profunda tristeza.__“Que ele é perigoso? Até quando você