Terça-feira, 20 de agosto de 2013.
Abro os olhos lentamente e sinto minha cabeça doer. Mesmo na penumbra do quarto eu posso ver um par de olhos azuis me fitando. Aquele par de olhos azuis que eu aprendi a amar em tão pouco tempo. Mas que espelha todos os meus maiores medos – Jake? Que horas são?
─ Passa das três. É madrugada ainda.
─ O que você faz acordado uma hora dessas?
Ele suspira – Eu não consigo dormir quando não estamos bem. Quando há um mundo de problemas entre nós. – Eu não digo nada. Ficamos nos encarando por um longo tempo sem dizer nada, até que ele estende a mão para tocar meu rosto – Eu te amo tanto... – Ele retira uma mecha de cabelos do meu rosto – Eu faria qualquer coisa pra voltar no tempo e mudar isso.
─ Seria perfeito. Mas não existe essa possibilidade. Agora é hora de arcar com as consequências dos seus atos. O grande problema é que mais pessoas vão pagar por isso. Eu, o seu filho, até July, mas no caso dela ela também tem culpa. Talvez mais, porque sabia exatamente o que estava fazendo.
─ E nós?
─ Eu não sei. Sinceramente eu não acho que eu possa lidar com isso.
─ Tente. Eu sei que não tenho direito de pedir isso, mas, por favor, tente. Eu prometo que vou tentar fazer isso da melhor maneira possível.
─ Eu preciso pensar.
─ Tudo bem. Pense. Mas eu sempre fui honesto com você, baby. Eu só não falei sobre a gravidez dela logo porque eu nem sei se o filho é meu. Imagina se nós passássemos por tudo isso que nós estamos passando por nada. Depois de desgastados e machucados descobríssemos que o filho não é meu.
─ Isso seria bom, se quer mesmo saber – minha boca se curvou em um sorriso triste.
Ele se aproxima de mim e me beija. No começo eu hesito, mas depois me entrego. Se ele precisa disso, se ele precisa dessa conexão entre nós, eu preciso ainda mais. Eu preciso, ainda que por um momento, esquecer todos esses problemas e me sentir amada por ele. E é exatamente isso que ele faz: Beija cada parte do meu corpo e me acaricia com mãos clínicas. Jake me olha com verdadeira veneração e com o seu corpo ele adora o meu. Foi intenso e único e me faz sentir muito, muito amada. Um sentimento saudoso tomou conta de mim e lágrimas deslizaram pelo meu rosto quando ele me penetrou. O medo de que essa seja a última vez que eu o terei, mas ao mesmo tempo o medo de dar seguimento a um relacionamento perturbado pela interferência constante de uma louca como July. Muitas dúvidas pairam sobre minha cabeça nesse momento, mas apenas uma certeza: Eu estou perdida de amor por ele e isso é irremediável. Ainda que não fiquemos juntos, eu jamais o esquecerei.
Jake se agita na cama quando eu tento me levantar. Seus braços e suas pernas estão enroscados em mim, me aprisionando. Eu tento me libertar sem ter que acordá-lo, mas é impossível. Quanto mais eu me movo, mais ele aperta seus braços e pernas a minha volta – Aonde você vai? – Ele acorda assustado.
─ Ao banheiro – Eu respondo e ele finalmente me solta. Eu tomo banho e quando retorno para o quarto ele está sentado na cama – Bom dia – eu digo e vou em direção ao closet. Ele me segue.
─ Bom dia, baby – Jake me abraça e cheira meu cabelo – Seu cheiro é tão bom. Você já está se arrumando para ir trabalhar.
─ Sim.
─ Você pensou sobre nós?
─ Não.
─ Como está a sua agenda hoje?
─ Lotada.
─ Eu vou tomar um banho. Eu te vejo na cozinha?
─ Sim.
─ Vamos ficar assim, nesse quase monólogo?
─ Sim, se você insistir em puxar conversa. Eu só quero ficar quieta no meu canto, ok? – eu digo aborrecida.
─ Ok. – Ele diz triste e sai em direção ao banheiro. Eu me sento em um pufe e enterro o rosto entre as mãos. Eu não quero tratá-lo assim. Mas fingir que está tudo bem também não rola. Eu respiro fundo, me levanto e escolho uma calça grafite e uma blusa de cetim cinza claro. Por cima eu coloco o blazer do mesmo tecido e cor da calça e escolho sapatos e bolsa pretos. Amarro o cabelo em um coque e desço as escadas para tomar café-da-manhã.
─ Bom dia, Bertha.
─ Bom dia, Samanta. O que gostaria de comer?
─ Pão, ovos com bacon e café – Bertha sorri satisfeita. Eu sou a alegria dela, pois sempre como bem. Jake se juntou a mim alguns minutos depois. Quando Bertha perguntou o que ele queria comer ele pediu apenas uma xícara de café. Eu não falei nada.
Estávamos terminando quando Kate entra pela sala – Bom dia. – Ela saudou. E pelo tom do “bom dia” eu percebo que ela já estava sabendo. Retribuímos a saudação enquanto ela se senta em um dos bancos da cozinha. Bertha pergunta o que ela quer comer e ela pede cereal com leite. Eu me desculpo e subo para escovar os dentes e me maquiar. Quando termino, pego a minha bolsa e desço. Eu encontro com Jake nas escadas, passamos um pelo outro em silêncio. Quando eu entro na cozinha Kate faz um gesto para que eu me sente no banco ao seu lado. Ela abre os braços para me confortar e eu me deixo abraçar, pois é tudo que eu preciso agora. – Eu sinto muito. Se serve de consolo ele está sofrendo também.
─ Queria que isso bastasse. Confesso que eu meio que estou tentando fazer isso ainda mais difícil pra vê-lo sofrer também, mas eu só me sinto pior.
─ Eu entendo e estou do seu lado. Eu sei que eu sou suspeita por ser irmã do idiota que está te fazendo sofrer, mas eu sou sua amiga e eu estou com você nessa. Eu realmente penso que isso é uma armação de July. Pensa comigo: um cara completamente embriagado tem forças para ter um orgasmo? Sinceramente acho que não consegue nem ficar duro. Tendo em vista minha pouca experiência com os homens eu confesso que eu não sei se isso é possível. E vindo de July isso é totalmente questionável.
─ Isso não faz o menor sentido. Porque ela faria isso sabendo que hoje em dia isso é facilmente descoberto. Tanto a gravidez como a paternidade.
─ Pra te afugentar. Ela deve ter certeza de que você ia embora se descobrisse. Daqui que ela faça esse bendito exame...
─ Como ela teria tanta certeza assim?
─ Isso você teria que descobrir. Eu só quero te dizer que eu conheço o meu irmão e eu sei que ele é louco por você. Eu realmente estou torcendo para que você não o entregue de bandeja para aquela louca. Pois ela terá vencido se assim você o fizer. Mas eu devo acrescentar: Seja qual for a sua decisão eu estou do seu lado.
─ Obrigada. Eu não dou muita sorte com namorados, mas sou ótima em arrumar boas amigas.
─ Ninguém é perfeito, não é? – pela primeira vez desde a bomba que July soltou em cima de mim, eu sorrio.
Quando Kate terminou seu café da manhã, seguimos os três para a GE. Hoje é o primeiro dia de trabalho dela. Ela vai trabalhar no setor administrativo sendo assistida por Scott e Jake, já que ela é recém-formada ainda sem experiência na área. Durante todo o percurso até a empresa Jake vai passando algumas orientações para ela. Quando chegamos, entramos juntos no elevador e seguimos em silêncio. As pessoas vão saindo aos poucos e quando eu chego ao meu andar eu me viro para ambos. – Bom trabalho pra vocês – eles retribuem e eu saio apressada para o meu escritório.─ Bom dia Samanta, gostaria de um café? – Oferece Nicole assim que me vê entrar.─ Bom dia, um café seria ótimo.Eu entro na minha sala e me sento diante da minha nova e majestosa mesa de trabalho. Eu ligo o computador e em seguida Nicole entra com o meu café – Obrigada. O que temos pra hoje? – eu pergunto, ansiosa para me ocupar.─ O Senhor Scott gostaria de vê-la.─ Scott? O que ele quer?─ Ele disse que é sobre o contrato d
Eu chamo Nicole no interfone – Sim, Samanta.─ Nicole, eu quero que você separe cópias de todos os contratos sob a responsabilidade de Scott o mais rápido possível.─ Sim, vou providenciar agora.Eu recebo outra mensagem de Jake – Baby, fale comigo, por favor. Essa distância entre nós está me matando.Eu decido responder “Como está o seu dia hoje?”“Se você quiser me ver com certeza eu arrumo tempo pra você.” Ele responde.“Almoço?”“Almoço.”Perfeito. Eu preciso falar com ele sobre a nossa situação, mas o que eu realmente quero agora é saber mais sobre a relação entre Scott e Jake. “Combinado. Quando estiver livre me mande uma mensagem.”Ele responde imediatamente: “Estou ansioso por isso, baby. Eu te amo.”Eu hesito um pouco em responder, mas, quer saber? Foda-se. Eu o amo também e as merdas que ele fez ou July não mudaram o que eu sinto por ele. Eu posso estar com raiva, chateada, triste, decepcionada, mas eu ainda o amo. Isso não mudou.: “E eu amo vocꔓOh, Cristo. Isso é o que e
─ Hummm, camarão? Sério? – Eu pergunto e ele abre um sorriso presunçoso – O que isso tudo significa?─ Mais um pedido de desculpas talvez? – Nós nos acomodamos e começamos a comer. A cada garfada eu emitia sons de plena satisfação. Era um tal de hummmm, Oh Meu Deus, Jesus, que delícia. Ahhh – Baby, você realmente precisa parar com isso se você quer que eu me comporte. Mais um som desses e eu vou fodê-la em cima dessa mesa.─ Jake! – Eu tentei parecer aborrecida, mas não deu muito certo.─ Então o que Scott veio fazer aqui?Eu engoli um pedaço de camarão e bebi um pouco de água – Sinceramente eu não entendi muito bem. Ele queria saber por que eu estava analisando os contratos antigos além dos novos. E eu expliquei pra ele da mesma forma que expliquei pra você. Então ele disse que os contratos que eram de responsabilidade dele não precisavam passar pelo jurídico – Jake era pura atenção – Ele perguntou se eu tinha algum questionamento, mas eu disse que não e esclareci que não era nada pe
Fui direto para minha sala e voltei ao trabalho. Cerca de dez minutos depois recebi uma mensagem de Jake.“Baby, isso não se faz. Só agora consegui sair e eu só não fui até a sua sala porque eu teria sérias dificuldades em me controlar novamente. Eu estou ansioso para dar ordens a você mais tarde. Agora preciso me concentrar para não ter uma recaída e enfrentar uma sala cheia de empresários de pau duro. Amo você e a sua promessa de obediência. Tenho fantasias sobre isso. Obrigado por ficar e lutar por nós.Eu quase cuspo café em todos os documentos diante de mim. Então escrevo uma resposta.“Eu não acredito que você disse isso”“Isso o quê?”“Pau duro”“Ah, isso? Eu queria ver sua cara agora. Eu adoro quando você fica tímida quando eu falo coisas sujas pra você. Mas eu também adoro você desinibida. Eu adoro você de todas as formas possíveis”“Eu também adoro você”Volto a me concentrar no trabalho. Eu preciso analisar cada documento com muito cuidado. Estamos falando de alguém de conf
Quarta-feira, 21 de agosto de 2013 Eu chego à GE e entro no elevador apertando o botão que levará ao meu escritório. Quando as portas do elevador se abrem o andar inteiro está escuro. O único ponto de iluminação é a luz do elevador. Eu remexo na bolsa e tiro as minhas chaves. Rapidamente eu saio do elevador e sigo para as portas duplas que dão acesso a recepção. Preciso abrir rápido antes que o elevador se feche me deixando na escuridão. Eu consigo abrir e entro examinando as paredes em busca de um interruptor. Eu encontro e aciono o botão e toda a recepção se ilumina. Eu preciso pegar alguns documentos e levá-los a Jake. Eu me apresso em direção ao meu escritório. Eu abro a porta e vejo que as cortinas estão todas fechadas, impedindo que a luz da lua penetre no ambiente. Eu abro ainda mais a porta para que a iluminação da recepção entre na sala. Eu tateio a parede em busca de um interruptor, mas não há nenhum. – Droga, onde fica esse interruptor? Deveria estar aqui perto da
─ Bom dia, Nicole.Bom dia, Samanta, Senhor e Senhorita Grenn. – Ela nos segue até a minha sala – Gostariam de um pouco de café? – Nicole nos pergunta quando chegamos ao meu escritório pela manhã. Todos aceitam e Nicole sai para providenciar, enquanto nos acomodamos em torno da grande mesa e começamos a trabalhar.─ Bem, isso é um comparativo entre os valores das propostas, e os valores totais das obras e serviços de engenharia com aditivo referente a todos os empreendimentos. – Eu digo oferecendo a Jake uma pasta com documentos – Vocês vão ver que há casos em que os aditivos chegam a 100% do valor da obra. O mais curioso é que esses dados não foram inseridos em nenhum dos relatórios oficiais da GE.─ Meu Deus, que absurdo. Como isso passava pelo financeiro sem levantar suspeitas e, principalmente, como eu nunca suspeitei de uma coisa tão...gritante?Eu encolho os ombros – Eu realmente ainda não tenho certeza. O ideal seria vermos um contador de extrema confiança para fazer uma verda
Mais de uma hora depois meu telefone toca. É Jake. – Baby, você ainda não almoçou. – Não foi uma pergunta – Consegui falar com Harold, eu expliquei a ele que era urgente e ele virá esta tarde. Eu achei melhor recebê-lo no seu escritório. Eu pedi almoço para nós dois. Nós almoçamos aí e esperamos Harold. Tudo bem? ─ Sim. ─ Ok, então. Eu vou te ver em dez minutos. No tempo previsto ele entra em meu escritório e o almoço é servido. Nós comemos e eu compartilho mais algumas informações que descobri. Às 2:30pm Nicole interfona avisando sobre a chegada do amigo de Jake. – Harold – Jake se levanta para recebê-lo. Ele aparenta ter a mesma faixa etária de Jake, cabelos e olhos castanhos. Ele usa uns óculos que o deixa com uma aparência de nerd, mas ele é bonito, apenas um pouco desleixado, mas de um jeito charmoso. Ele está em um terno escuro e um sorriso sincero no rosto – Eu fico feliz por você está aqui. ─ Jake – Eles trocam um aperto de mão – É bom revê-lo. Já faz um tempo. ─ Essa é Sa
Sexta-feira 23 de agosto de 2013─ Harold, eu estou indo. Você não vai embora? – Ele praticamente acampou na GE nos últimos dois dias. Trouxe consigo dois funcionários que não falam com ninguém e não saem da sala pra nada. Um dos pedidos que Harold fez, foi que o restaurante do hotel de Jake em Manhattan entregasse comida várias vezes ao dia. Eles apenas comunicam a Nicole o que querem e ela providencia. Eles são os primeiros a chegar ao escritório e os últimos a sair, o que ajudou na discrição da nossa operação, além do fato de sua sala ser acoplada à minha e em uma área isolada dos demais funcionários. Não se levantou nenhuma suspeita e Nicole demonstrou ser de total confiança. Ela me explicou que coisas estranhas aconteciam na época da outra executiva e que pouco tempo antes dela pedir pra sair ela recebeu algumas visitas de Scott. Nicole não fez perguntas sobre o que estávamos fazendo, pelo contrário, ela tentou de tudo não saber detalhes. Apenas cumpria aquilo que se pedia a ela