DAVID— Preparada para conhecer o Senhor Octávio Bragança? — Pergunto, percebendo seu olhar curioso depois das falas da minha mãe. — Otávio? O nome dele não deveria ser outro? — Questiona e fico confuso. — Deveria? — Bom, sua mãe usou a termologia "filho", então deduzi que ele teria o mesmo nome que o seu. — Esclarece e rio, achando bonitinho a maneira como ela torce o nariz e contrai os lábios durante sua explicação. — Minha progenitora é louca, podemos tomar de exemplo o fato dela ainda querer controlar a vida do filho de quase quarenta anos. — Brinco, mas falando sério, e ela sorrir, colocando uma mecha solto do cabelo para trás da orelha. — Permita-me. — Peço, fazendo o que ela acabou de fazer com outra mecha solta.— Obrigado. — Foi um prazer. — ofereço-lhe meu braço e ela passa a mão por ele. Nós caminhamos em perfeita sincronia pelo salão de festas, descemos as escadas que dão para o jardim sem nenhum insulto ou agressão física, eu a apresento para o meu pai como a garota
NELLYTer uma crise de ansiedade logo após ser beijada pelo cara dos seus sonhos não é legal, longe disso, mas ao longo dos meus vinte e cinco anos me acostumei a ter esses pequenos momentos de pânico, apesar de quê, a causa desta vez é completamente distinta das anteriores. A grande verdade é que o medo faz parte da minha vida, parte de quem sou. Por esse motivo, sempre resguardei meu psicológico, me mantive em constante alerta, me preparei para ocasiões inesperadas, porque vivenciar diversas situações humilhantes me levaram a ser como uma coluna de ferro. Mas, eu n&atil
DAVIDExiste um determinado momento na vida de todo homem que as coisas mais simples, se tornam as mais importantes. Paramos de lutar contra a gravidade e tudo o que desejamos é mantermos os pés firmes no chão, mas comigo acontece o aposto, quanto mais velho fico e os dias se passam, a necessidade pela intensidade aumenta e a ideia de ter uma rotina é sufocante. Aderi a solidão como estilo de vida e vivo sem a intromissão de ninguém, vou aonde quero e fodo quem quiser. Sem compromisso. Por isso, a ideia de me relacionar com qualquer pessoa beira ao absurdo. Ninguém pode assumir o lugar da minha Lígia, ela é única, a
DAVIDAfasto com certa delicadeza os braços magros de Carlota Maldonado e observo ainda meio incrédulo seu sorriso alargar, a garota passa seu peso de um pé para o outro enquanto brinca com uma mecha de cabelo enrolado entre os dedos e me encara como se eu fosse um amigo íntimo.— O que faz aqui? — Falo de uma vez, retirando nós dois da frente do elevador, guiando-a pelo braço para uma parte mais isolada. Ela solta um riso frouxo e traz a mão para o meu ombro assim que paramos, um de frente pro outro, deslizando para cima e para baixo como se estives
DAVID Duas semanas e já me sinto órfão de mãe e pai, porque Hordéllis Bragança pode ser extremamente cabeça dura quanto quer. Meu dedo coça para clicar no símbolo verde de celular e ligar para minha progenitora, mas posso ser tão ou mais cabeça dura quanto ela e quanto mais tempo passa desde a festa, mais vazio sinto. Ela deveria ter me ligado! Ela sempre liga. Esfrego meu rosto com minhas duas mãos e tento mais uma vez, lê o documento em p*f que recebi de um dos sócios da empresa. Cacete, eles não sentem minha falta? Sou seu único filho e a porra dessa viagem está se aproximando. Me levanto com raiva, desistindo de vez de ler qualquer coisa uma hora dessas, no meu estado atual é provável que eu tenha um ataque cardíaco e morra antes deles, motivo não vai faltar. Me sirvo um pouco de água com gás e fito a paisagem urbana de Arapuna pela janela do meu escritório, um município extremamente rico e independente de São Paulo que poderíamos ser emancipados sem nenhum problema, mas
NELLYGatilho.Eu não entendi o significado dessa palavra até ter idade suficiente para compreender que o aperto no meu peito não era uma doença física, mas um desconforto causado por determinadas situações e palavras. Precisei conversar com psicólogos diferentes para entender que haviam traumas cravados em mim, li livros buscando por autoconhecimento e aceitação sem entender o núcleo principal da minha ansiedade, então tentei lidar com esses traumas por meio de cirurgia estética, tentando eliminar os problemas pela raiz, mas não fui até o final e…
NELLY—Não fique sem jeito, menina.— Não estou. Hordéllis Bragança estala a língua, abanando a mão no ar. — É claro que não. — comenta com um sorriso de canto, e me pego pensando na mulher como uma espécie de bruxa, porque é impossível que ela saiba tanto sobre mim.Aperto meus olhos para ela.
DAVIDO perfume conhecido serve como despertador, intrigado com a fragrância feminina abro um olho de cada vez, permitindo que a claridade me guie, ainda sonolento inspiro o cheiro tentador com certa fome. Fazem mais de vinte dias que ela não ousa chegar perto de mim, então o que ela está fazendo na minha casa, no meu quarto, tão cedo?Quando meu cérebro recém acordado começa a processar com racionalidade o que está acontecendo, vasculho o cômodo de canto a canto a procura da responsável pela minha ansiedade e a encontro na porta do banheiro, me olhando com seu típico ar inocente, mordendo os lábios como se soubesse exatamente do que planejo fazer com ela. — Como entrou? —Questiono, ouvindo as batidas do meu próprio coração. Que porra, ela é só uma garota. Para de bater desse jeito, caralho!—Você me trouxe. —Diz, retirando o apoio do seu corpo da porta do banheiro e caminhando até mim. Abro a boca para questionar sua afirmação, porque eu não faço a mínima ideia do que ela está fala