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CAPÍTULO 04 - CAMILLY

Camilly

Depois de tudo, acabei pegando no sono e não ouvi a porta sendo aberta, só quando escutei a voz do meu pai, foi que despertei.

— Saia Nina! — disse com autoridade.

— Camilly, quero que me escute porque eu só vou falar uma vez, quase me fez perder tudo essa noite com sua malcriação, ainda bem que ele não desistiu do contrato, porque se ele tivesse feito isso, eu não sei o que eu seria capaz de fazer com você, se estou fazendo isso, é porque não achei alternativa, e quando ele me fez a oferta, não pensei em recusar. Você um dia teria que se casar e nada melhor do que fazer isso com um homem que vai poder lhe dar tudo que sempre lhe dei ou achou que iria casar com qualquer um, o meu nome não vai para a lama. Eu só pensei em manter a nossa vida como sempre foi, mas nunca viu isso não é mesmo? Nunca deu valor para nada que lhe demos.

— Você me vendeu como uma mercadoria barata para um homem que eu nunca vi, não pensaram que eu tenho planos para a minha vida, que não quero viver no mesmo teto que vocês, eu quero ser médica, quero ter o poder de escolher o meu futuro marido sem que vocês se metam em minha vida.

— Já tem um futuro e não tem como mudar, não porei tudo a perde por sua causa, agora se conforme com isso. Deveria era me agradecer e não ficar me criticando como está fazendo, pensei no melhor para você.

— Pai está me sacrificando por algo que não tenho culpa, quem errou foi o senhor e sou eu que está sendo dada como pagamento, ele me bateu e você não fez nada, imagine como vai ser o meu casamento com esse homem. Se não queria ter uma filha, por que não me abortaram quando descobriram que ela estava grávida, para mim seria muito melhor não ter nascido e vivido esse inferno que é a minha vida por todo esse tempo e ainda mais tendo que pagar por algo que não fiz.

— Eu sinto muito, não, eu não tinha outra opção, ou era você ou a falência total e muitas pessoas desempregadas.

— Não sinta pai, porque em dezoito anos, eu nunca tive pai e não será agora que terei um. Mesmo que o pior tivesse acontecido na sua frente, ainda continuaria com esse contrato, como posso chamar uma pessoa como você de pai, sendo que um verdadeiro pai jamais faria isso com sua única filha — sinto-me revoltada. — Eu espero que depois do meu casamento, nunca mais os veja.

— Não se preocupe. Seu futuro marido não quer que tenhamos contato, depois do casamento vamos mudar para outra cidade, não quero ficar mais nesse lugar, sua mãe está certa, você nunca deu valor a nada, quem sabe agora aprenda isso.

— Por favor, saia do meu quarto, eu quero ficar sozinha, se nunca dei valor a nada, como pode dizer isso, se não posso sair de dentro dessa casa para nada, não vivo como as outras pessoas. Saio de casa para a escola e da escola para casa, como posso dar valor se nunca me deixaram mostrar o quando era grata pelo que me deram?

Ele se levanta e vai caminhando até a porta, assim que segura na maçaneta, se vira e me olha, respira fundo e sai. As lágrimas voltam a cair agora com mais intensidade. Saber que estou sendo vendida me dói profundamente, chorei tanto que acabei adormecendo novamente.

No outro dia, me levanto ainda cambaleando, vou tirando a roupa pelo caminho, quando chego ao banheiro, só estou com peças íntimas, ao passar pelo espelho, vejo a marca em meu rosto.

“O que eu farei agora?”

— Camilly!

Escuto a voz de Nina me chamando do meu quarto.

— Estou no banheiro, Nina.

— Eu trouxe seu café.

— Não estou com fome, não vou conseguir comer nada — falo alto para que ela me escute.

— Você precisa comer, não pode ficar assim por causa deles.

— E como eu vou ficar? Eles acabaram com o meu sonho, duvido que esse homem me deixe estudar, faltava tão pouco Nina para a minha vida mudar — digo já no quarto.

— Eu sei filha e sinto muito por isso — seu olhar é de compaixão.

Assim que me sento para tomar meu café, a porta se abre, assim que vi quem era, não pensei, só falei.

— O que faz aqui?

— É assim que fala com sua mãe? Nina me deixe sozinha com minha filha.

— Agora eu tenho mãe? Onde estava esses anos todos, por que eu nunca a vi como mãe.

— Duvido que trate aquela negra como me trata.

— Aquela negra é mais minha mãe do que a senhora, ela me deu o que você e meu pai nunca me deram, então, me diga, quantas vezes a senhora entrou aqui para saber como eu estava? — ela apenas me olha e não diz nada. — Que eu me lembre, essa é a segunda vez em toda minha existência e vem dizer que é minha mãe? Isso deve ser piada não é mesmo?

— Eu sou uma mulher muito ocupada, não tenho tempo para ficar em casa cuidado de criança mimada.

— Então o que faz aqui?

— Temos que ir à loja para escolher o vestido de casamento, não precisa se preocupar com nada, fora isso, o resto já resolvi.

— Claro que a senhora já resolveu, iria ficar surpresa se não o tivesse feito, eu não quero escolher vestido algum, já que vai fazer tudo, pode escolher ele também.

— Isso não é uma escolha, você virá, nem que para isso eu tenha que te arrastar desse quarto, eu ainda sou sua mãe e enquanto estiver dentro dessa casa, eu mando em você.

— Eu acho que esse casamento vai me fazer bem, só pelo fato de sair dessa casa e nunca mais ter que olhá-la novamente, eu ainda não tinha pesado nisso, mas agora com certeza vou me casar.

— Se eu fosse você, mudaria esse seu gênio, pelo tapa que ele te deu ontem, as coisas não vão ser do seu jeito, então, um conselho, se não quer apanhar, seja boazinha e faça o seu marido feliz, não esqueça que tudo depende de você.

— Ele não pode ser pior que vocês, e se for, já estou acostumada, afinal de contas, tenho as marcas em meu corpo como prova, elas só irão aumentar.

— Cale essa boca! Eu só fiz o que você merecia, acha mesmo que eu ia criar uma filha perdida e ser chacota das minhas amigas? Nunca.

— Parabéns! Fez um ótimo papel, o que vai dizer para suas amigas quando o casamento chegar? Vão saber que vocês me venderam?

— Isso jamais!!! Ninguém nunca vai saber que quase ficamos pobres.

— Eu tenho nojo de vocês, espero que um dia paguem por tudo que me fizeram.

— Nunca! — seu olhar é raivoso. — Vamos para bem longe de você e esquecer que um dia eu dei à luz a isso — ela aponta o dedo em minha direção, nessa hora o meu peito doeu profundamente.

Ouvir minha mãe dizer que iria esquecer-se de mim doeu muito, mas, eu já previa isso, essa mulher nunca deveria ter sido mãe. O que eu mais queria era sumir no mundo e deixar que eles se ferrassem para pagar essa dívida que não era minha, eu só não sabia como poderia fazer isso, sendo que nunca tive um centavo.

Depois que ela saiu, deixei o café de lado, estava sem apetite mesmo, término de me arrumar e desço, ela estava me esperando, saímos e assim que entramos no carro ela fala:

— Se encontramos alguma amiga minha, não quero que abra essa sua boca, deixe que eu falo, sei muito bem o que tenho que dizer e não quero que as outras descubram sobre nossa situação.

— Não se preocupe, não vou, o que eu posso falar, que os meus pais me amam muito e por isso me venderam?

Ela se virou para mim, seu olhar era de puro ódio e sem que eu esperasse, me deu um tapa forte que o motorista até se assustou.

— Nunca mais quero ouvir você falar isso, principalmente na frente dos outros, a cada dia que se passa, eu me arrependo mais por ter colocado você no mundo.

Eu não disse nada, apenas virei para o outro lado, vi como todos na rua eram melhores do que eu, com certeza eles não tinham uma vida como a minha, mesmo que fosse simples, era melhor. O que adianta ter dinheiro, se sempre vivi um inferno ao lado deles? Que não pensaram duas vezes para me vender a quem oferecesse mais.

Quando o carro parou em frente a uma loja que parecia muito chique, descemos, ela saiu na frente me abandonando, vejo o motorista me olhando, ele chega perto de mim, me entrega um lenço.

— Limpe seu rosto menina, não deixe que os outros vejam o que você passou, ela não merece isso.

— Obrigada!

— Não tem de quê — diz ele.

Coloco o lenço no bolso e vou andando pela calçada, entro na loja e a vejo conversando com uma mulher que assim que me ver, me mede inteira.

— Venha, ela vai trazer os modelos mais novos que chegou essa manhã — diz ela, se sentando numa poltrona.

Vou até onde está e me sento ao seu lado, não demora muito e a vendedora chegar com três modelos de vestidos.

 — Venha mocinha, vamos experimentar esses. Com o seu corpo, com certeza ficarão perfeitos.

A segui até o provador, o primeiro que coloquei era um tomara que caia, bem rodado, feito todo em renda, eu não gostei e a minha mãe também não, voltei para pegar o outro. Gostei do último que experimentei, tinha ficado perfeito em meu corpo, era lindo e discreto.

— Esse vestido é muito simples, escolha outro.

— Eu irei usar esse, não gostei de nenhum outro, se não for esse, não vou mais experimentar nenhum, você decide.

— Que seja esse, ainda bem que eu sou responsável pela organização da festa, porque com o seu gosto, nem quero imaginar como seria.

— Com certeza não iria agradá-la.

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