Camilly
Depois de tudo, acabei pegando no sono e não ouvi a porta sendo aberta, só quando escutei a voz do meu pai, foi que despertei.
— Saia Nina! — disse com autoridade.
— Camilly, quero que me escute porque eu só vou falar uma vez, quase me fez perder tudo essa noite com sua malcriação, ainda bem que ele não desistiu do contrato, porque se ele tivesse feito isso, eu não sei o que eu seria capaz de fazer com você, se estou fazendo isso, é porque não achei alternativa, e quando ele me fez a oferta, não pensei em recusar. Você um dia teria que se casar e nada melhor do que fazer isso com um homem que vai poder lhe dar tudo que sempre lhe dei ou achou que iria casar com qualquer um, o meu nome não vai para a lama. Eu só pensei em manter a nossa vida como sempre foi, mas nunca viu isso não é mesmo? Nunca deu valor para nada que lhe demos.
— Você me vendeu como uma mercadoria barata para um homem que eu nunca vi, não pensaram que eu tenho planos para a minha vida, que não quero viver no mesmo teto que vocês, eu quero ser médica, quero ter o poder de escolher o meu futuro marido sem que vocês se metam em minha vida.
— Já tem um futuro e não tem como mudar, não porei tudo a perde por sua causa, agora se conforme com isso. Deveria era me agradecer e não ficar me criticando como está fazendo, pensei no melhor para você.
— Pai está me sacrificando por algo que não tenho culpa, quem errou foi o senhor e sou eu que está sendo dada como pagamento, ele me bateu e você não fez nada, imagine como vai ser o meu casamento com esse homem. Se não queria ter uma filha, por que não me abortaram quando descobriram que ela estava grávida, para mim seria muito melhor não ter nascido e vivido esse inferno que é a minha vida por todo esse tempo e ainda mais tendo que pagar por algo que não fiz.
— Eu sinto muito, não, eu não tinha outra opção, ou era você ou a falência total e muitas pessoas desempregadas.
— Não sinta pai, porque em dezoito anos, eu nunca tive pai e não será agora que terei um. Mesmo que o pior tivesse acontecido na sua frente, ainda continuaria com esse contrato, como posso chamar uma pessoa como você de pai, sendo que um verdadeiro pai jamais faria isso com sua única filha — sinto-me revoltada. — Eu espero que depois do meu casamento, nunca mais os veja.
— Não se preocupe. Seu futuro marido não quer que tenhamos contato, depois do casamento vamos mudar para outra cidade, não quero ficar mais nesse lugar, sua mãe está certa, você nunca deu valor a nada, quem sabe agora aprenda isso.
— Por favor, saia do meu quarto, eu quero ficar sozinha, se nunca dei valor a nada, como pode dizer isso, se não posso sair de dentro dessa casa para nada, não vivo como as outras pessoas. Saio de casa para a escola e da escola para casa, como posso dar valor se nunca me deixaram mostrar o quando era grata pelo que me deram?
Ele se levanta e vai caminhando até a porta, assim que segura na maçaneta, se vira e me olha, respira fundo e sai. As lágrimas voltam a cair agora com mais intensidade. Saber que estou sendo vendida me dói profundamente, chorei tanto que acabei adormecendo novamente.
No outro dia, me levanto ainda cambaleando, vou tirando a roupa pelo caminho, quando chego ao banheiro, só estou com peças íntimas, ao passar pelo espelho, vejo a marca em meu rosto.
“O que eu farei agora?”
— Camilly!
Escuto a voz de Nina me chamando do meu quarto.
— Estou no banheiro, Nina.
— Eu trouxe seu café.
— Não estou com fome, não vou conseguir comer nada — falo alto para que ela me escute.
— Você precisa comer, não pode ficar assim por causa deles.
— E como eu vou ficar? Eles acabaram com o meu sonho, duvido que esse homem me deixe estudar, faltava tão pouco Nina para a minha vida mudar — digo já no quarto.
— Eu sei filha e sinto muito por isso — seu olhar é de compaixão.
Assim que me sento para tomar meu café, a porta se abre, assim que vi quem era, não pensei, só falei.
— O que faz aqui?
— É assim que fala com sua mãe? Nina me deixe sozinha com minha filha.
— Agora eu tenho mãe? Onde estava esses anos todos, por que eu nunca a vi como mãe.
— Duvido que trate aquela negra como me trata.
— Aquela negra é mais minha mãe do que a senhora, ela me deu o que você e meu pai nunca me deram, então, me diga, quantas vezes a senhora entrou aqui para saber como eu estava? — ela apenas me olha e não diz nada. — Que eu me lembre, essa é a segunda vez em toda minha existência e vem dizer que é minha mãe? Isso deve ser piada não é mesmo?
— Eu sou uma mulher muito ocupada, não tenho tempo para ficar em casa cuidado de criança mimada.
— Então o que faz aqui?
— Temos que ir à loja para escolher o vestido de casamento, não precisa se preocupar com nada, fora isso, o resto já resolvi.
— Claro que a senhora já resolveu, iria ficar surpresa se não o tivesse feito, eu não quero escolher vestido algum, já que vai fazer tudo, pode escolher ele também.
— Isso não é uma escolha, você virá, nem que para isso eu tenha que te arrastar desse quarto, eu ainda sou sua mãe e enquanto estiver dentro dessa casa, eu mando em você.
— Eu acho que esse casamento vai me fazer bem, só pelo fato de sair dessa casa e nunca mais ter que olhá-la novamente, eu ainda não tinha pesado nisso, mas agora com certeza vou me casar.
— Se eu fosse você, mudaria esse seu gênio, pelo tapa que ele te deu ontem, as coisas não vão ser do seu jeito, então, um conselho, se não quer apanhar, seja boazinha e faça o seu marido feliz, não esqueça que tudo depende de você.
— Ele não pode ser pior que vocês, e se for, já estou acostumada, afinal de contas, tenho as marcas em meu corpo como prova, elas só irão aumentar.
— Cale essa boca! Eu só fiz o que você merecia, acha mesmo que eu ia criar uma filha perdida e ser chacota das minhas amigas? Nunca.
— Parabéns! Fez um ótimo papel, o que vai dizer para suas amigas quando o casamento chegar? Vão saber que vocês me venderam?
— Isso jamais!!! Ninguém nunca vai saber que quase ficamos pobres.
— Eu tenho nojo de vocês, espero que um dia paguem por tudo que me fizeram.
— Nunca! — seu olhar é raivoso. — Vamos para bem longe de você e esquecer que um dia eu dei à luz a isso — ela aponta o dedo em minha direção, nessa hora o meu peito doeu profundamente.
Ouvir minha mãe dizer que iria esquecer-se de mim doeu muito, mas, eu já previa isso, essa mulher nunca deveria ter sido mãe. O que eu mais queria era sumir no mundo e deixar que eles se ferrassem para pagar essa dívida que não era minha, eu só não sabia como poderia fazer isso, sendo que nunca tive um centavo.
Depois que ela saiu, deixei o café de lado, estava sem apetite mesmo, término de me arrumar e desço, ela estava me esperando, saímos e assim que entramos no carro ela fala:
— Se encontramos alguma amiga minha, não quero que abra essa sua boca, deixe que eu falo, sei muito bem o que tenho que dizer e não quero que as outras descubram sobre nossa situação.
— Não se preocupe, não vou, o que eu posso falar, que os meus pais me amam muito e por isso me venderam?
Ela se virou para mim, seu olhar era de puro ódio e sem que eu esperasse, me deu um tapa forte que o motorista até se assustou.
— Nunca mais quero ouvir você falar isso, principalmente na frente dos outros, a cada dia que se passa, eu me arrependo mais por ter colocado você no mundo.
Eu não disse nada, apenas virei para o outro lado, vi como todos na rua eram melhores do que eu, com certeza eles não tinham uma vida como a minha, mesmo que fosse simples, era melhor. O que adianta ter dinheiro, se sempre vivi um inferno ao lado deles? Que não pensaram duas vezes para me vender a quem oferecesse mais.
Quando o carro parou em frente a uma loja que parecia muito chique, descemos, ela saiu na frente me abandonando, vejo o motorista me olhando, ele chega perto de mim, me entrega um lenço.
— Limpe seu rosto menina, não deixe que os outros vejam o que você passou, ela não merece isso.
— Obrigada!
— Não tem de quê — diz ele.
Coloco o lenço no bolso e vou andando pela calçada, entro na loja e a vejo conversando com uma mulher que assim que me ver, me mede inteira.
— Venha, ela vai trazer os modelos mais novos que chegou essa manhã — diz ela, se sentando numa poltrona.
Vou até onde está e me sento ao seu lado, não demora muito e a vendedora chegar com três modelos de vestidos.
— Venha mocinha, vamos experimentar esses. Com o seu corpo, com certeza ficarão perfeitos.
A segui até o provador, o primeiro que coloquei era um tomara que caia, bem rodado, feito todo em renda, eu não gostei e a minha mãe também não, voltei para pegar o outro. Gostei do último que experimentei, tinha ficado perfeito em meu corpo, era lindo e discreto.
— Esse vestido é muito simples, escolha outro.
— Eu irei usar esse, não gostei de nenhum outro, se não for esse, não vou mais experimentar nenhum, você decide.
— Que seja esse, ainda bem que eu sou responsável pela organização da festa, porque com o seu gosto, nem quero imaginar como seria.
— Com certeza não iria agradá-la.
CarterAcordo com uma tremenda dor de cabeça, ontem depois que cheguei, destruí todo o meu quarto. Eu não posso e não vou deixar que o meu passado voltasse. Aquela vida miserável tem que ficar onde está. Se Victor pensa que eu tenho medo dele, está muito enganado. Ele parece ter esquecido quem eu fui naquele inferno e do que eu passei para chegar aonde cheguei.Levanto-me para ir tomar o meu banho, assim que coloco o pé fora da cama, olho para onde estou, não me lembro de ter vindo parar no quarto de hospede, pelo visto bebi demais.Assim que saio do quarto, vou para o meu, quando eu abro a porta, vejo que está todo arrumado, com certeza foi a Jessica quem fez isso, vou para o banheiro, deixo que a água fria banhe o meu corpo, mas, minha cabeça lateja, quando eu fecho o chuveiro, me enrolo na toalha e saio, assim eu entro no closet, escuto a porta sendo aberta.— Senhor!— O que quer Jessica?— Trouxe seu café e um remédio, sei que com certeza deve estar com dor de cabeça, depois de q
CamillyDepois que voltamos, fui direto para o meu quarto, mas não demora muito e alguém entra, me viro, mas a pessoa que está na minha frente não me agrada muito.— O senhor Carter ligou, ele vai mandar o motorista vir buscá-la às 21h00min, disse que não quer atraso.— E por que eu tenho que ir até ele?— Não esqueça que ele é seu futuro marido e já tem direito sobre você, eu já avisei que você irá, esteja pronta.— Não pretendo ir, ele que venha, não posso imaginar o porquê disso agora, o contrato já foi assinado.— Você irá, de qualquer jeito, nem que eu tenha que arrastá-la desse quarto e entregá-la para ele pessoalmente.Ela se vira e sai, me jogo na cama revoltada, o que esse homem pode querer comigo? Tenho vontade de não ir, mas, sei que a minha mãe é capaz de fazer o que falou, respiro fundo, sei que nada de bom pode sair desse encontro.Como previsto, no horário combinado, eu estava pronta e vi quando um carro preto parou frente à minha casa, resolvi descer antes que ela vies
CamillyQuando entrei no carro, não conseguia parar de chorar, como ele foi capaz de fazer aquilo? Eu ainda sou virgem. Depois que passamos pelo portão, o motorista para o carro e me entrega um lenço.— Tome senhorita, limpe suas lágrimas, não pode chegar desse jeito em sua casa, seus pais não vão gostar de vê-la assim.— Os meus pais são iguais a ele ou pior.— Não fale isso senhorita, os pais amam seus filhos, lógico que existem alguns que nunca deveriam ter filhos, mas os seus com certeza vão ficar preocupados quando a vir desse jeito.— Com certeza não irão — respondo.Voltei o meu rosto para o outro lado, estava uma noite linda, sem nuvem, o céu estava cheio de estrelas, como eu gostaria de sumir e nunca mais encontrar com eles, todos são iguais, só queria entender o porquê estou passando por isso, já não basta tudo que passo com os meus pais, ainda tem esse homem tão cruel.Assim que o carro para em frente à minha casa, me despeço do motorista e desço, quando entro em casa, vejo
CarterEstou em meu escritório, quando Hernandes entra.— Senhor, bom dia.— O que foi?— Aqui está o relatório sobre a família Barrett.— Deixe aqui que depois vou olhar.— Eles já compraram uma casa, senhor, irão se mudar.— Isso é muito bom, quero-os bem longe.Ele só me olha e não fala nada, sei muito bem o que deve esta pensando, com certeza imagina o que eu fiz com a Camilly ontem, em silêncio, ele saiu da sala.Depois que termino de analisar o contrato da minha nova aquisição, pego o relatório que o Hernandes deixou na mesa e começo a ler, as coisas que leio não me agradam em nada, essa família tem muita sujeira, principalmente a mãe, que é uma mulherzinha imunda, uma verdadeira puta, e o trouxa do marido, sempre foi corno e não sabe, mas, eu vou acabar com eles depois, se acham que vão viver felizes para sempre, estão bem enganados, ligo para o Hernandes que me atende no segundo toque.— Senhor...— Hernandes, venha até a minha sala.— Já estou indo senhor.Não demora muito e
CamillyQuando o motorista me deixou na porta do colégio, assim que desci do carro, fui até o meu amigo que me esperava, depois de cumprimentá-lo, seguimos para dentro da instituição.— Que cara é essa Camilly? — pergunta Ryan. Não faço rodeio e conto que irei me casar. — Como assim se casar? Que eu saiba nem namorado tem, desistiu da faculdade assim?— Não vou mais, em menos de um mês estarei casada, e não sei se o meu marido me deixará estudar.— Então não se case, não pode deixar que seus sonhos mudem por causa de um casamento?— Foram os meus pais, eles estão me obrigando a isso, não tem como eu me livrar.— Os seus pais? Eles não podem fazer isso, em que século eles vivem? Não pode aceitar o que eles querem assim sem fazer nada.— A empresa do meu pai teve problemas e para não falir, teve que vender e o comprador pagou um valor bem maior, mas com uma condição, que eu me casasse com ele, e o meu pai aceitou, então, tecnicamente, eu fui vendida, para que as outras pessoas não perd
CamillyAssim que paramos na porta da igreja, as minhas mãos estavam geladas e minhas pernas tremiam, eu sabia que depois que passasse dessa porta, não teria mais volta. Olho para o meu pai, que está sério, e sem me olhar, segura firme o meu braço.— Vamos que ele está esperando, não quero que imagine que você desistiu.— Como eu poderia fazer isso tendo os pais maravilhosos que tenho, jamais poderia desistir de salvar a empresa que tanto eles lutaram para manter em pé, ou melhor, como eu poderia deixar que mandassem tantos funcionários embora por sua culpa.Ele me olha sem falar nada, as portas se abrem, o meu olhar vai direto para o homem de terno preto no altar, seu olhar frio analisa as minhas feições, vejo que ele fica mais sério, enquanto eu vou andando pelo corredor da igreja, não consigo olhar para os lados, como se tivesse ficado hipnotizada. Quando chegamos perto dele, ele vem até nós e segura a minha mão, paramos em frente ao padre, que começa a cerimônia.— É de livre e es
CamillySou acordada com batidas na porta, me ajeito na cama e digo.— Pode entrar.— Bom dia senhora!— Bom dia.— O senhor Carter a está esperando para tomarem o café da manhã.— Diga a ele que estou sem fome.— Se é o que a senhora deseja, irei dizer, mas, ele não vai gostar nada dessa resposta.Ela sai e fecha a porta, me viro para o outro lado, se ele pensa que vou fazer as suas vontades está muito enganado, sou tirada dos meus pensamentos quando a porta se abre bruscamente.— Levante-se logo dessa cama, porra.— Eu não quero tomar café, estou sem fome.— Não perguntei se você quer, eu mandei chamá-la, não foi um pedido e sim uma ordem, e, toda vez que eu mandar, você tem que obedecer, saia logo dessa porra de cama antes que eu mesmo a arraste até lá embaixo.— Eu já vou descer, pode ir.— Vou ficar aqui esperando e não demore, eu não tenho o dia todo, ainda mais para perder com uma mulher como você.Levanto-me e dou graças a Deus por estar de pijama, vejo o jeito que ele me olha
CarterLevantei-me cedo, teria várias reuniões hoje, então depois de me arrumar, fui direto para o meu escritório, e quando cheguei, não demorou muito para alguém bater na porta.— Bom dia senhor.— Bom dia.— Os peritos entregaram o relatório do incêndio.— E qual foi à verdadeira causa.— Segundo eles, o incêndio não começou onde o segurança falou, o fogo se originou no segundo andar, eles acharam pequenos fragmentos de uma bomba caseira, que não tem muito impacto, só que como o segundo andar tinha muitos computadores e muitos materiais de fácil combustão, o fogo se alastrou muito rápido, foi por isso que eles ouviram vários estalos, era o sistema já em chamas.— Então como entraram na empresa e colocaram isso lá, sendo que os seguram estão lá 24 horas e ninguém entrar sem se identificar?— Isso é o que precisamos descobrir.— Então descubra, quem facilitou vai pagar muito caro por isso.— O que o senhor pretende fazer?— Destruir, assim como destruíam a minha empresa, tem outra coi