LAIKAEle balançou sua espada, dando um passo à frente, enquanto seus olhos ardiam com uma intensidade enigmática que eu não lograva decifrar. A lua, alta e resplandecente, permitia-me discernir cada marca em seu corpo: ele trajava um colete que desnudava seus braços, revelando uma longa ferida que descia pelo bíceps esquerdo, ainda a escorrer sangue, enquanto seus lábios, recortados por cortes, e a cicatriz na maçã do rosto não ofuscavam sua inegável beleza. Um fio de sangue escorria lentamente por sua têmpora.— Alfa Karim, por favor. — Murmurei, sem ao menos compreender plenamente o porquê de minha súplica.Ele me brindou com um sorriso, algo inusitado e perturbador, visto que o Alfa Karim raramente esboçava tal expressão; seus olhos, fixos em mim, pareciam me desafiá-la, e eu não pude deixar de mergulhar no abismo de seu olhar. Para meu imenso alívio e surpresa, a espada caiu de sua mão, ecoando um som estridente ao se chocar com o chão.— Laika. — Disse ele, com a voz arrastada.S
Quem poderia ter causado tais ferimentos nele, e por que ele se via engajado em combate? Quem ele teria eliminado? Enquanto eu o limpava cuidadosamente, dirigi minha atenção à área que emoldurava sua maçã do rosto. Seu hálito suave recordava-me a intimidade dos nossos rostos tão próximos, e, novamente, meus olhos repousaram em seus lábios, os quais pareciam convidar-me.— Beije-o logo. — Gemeu Joy.A vontade tornou-se insuportável, inflamando em mim um desejo arrebatador de saborear seus lábios, de senti-los com toda intensidade e perceber o quão deliciosamente suculentos eram. Assim, sem qualquer reticência, inclinei-me e depositei os meus sobre os dele. Curiosamente, seus lábios, em contraste com a dureza que caracterizava o restante de seu corpo, revelavam uma suavidade, um calor e uma suculência que me cativavam, e ao chupar seu lábio inferior, o inebriante sabor do álcool quase me levou à embriaguez, sendo tão extraordinariamente delicioso que eu desejava intensamente que ele esti
— Boa escolha. — Disse o Sekani, dando uma tapinha carinhoso em seu cavalo. O Sekani trajava calças cáqui, botas marrons, uma camisa leve complementada por um colete marrom e um boné de tecido.— Você está vestida. — Eu disse.— Sim. Mudança de planos. Decidi viajar nesta manhã. Você tem sorte de ter me encontrado aqui.— Tenho sorte, de fato. — Eu acariciei o cavalo com delicadeza, sentindo uma satisfação crescente por finalmente deixar aquele lugar para trás.Em poucos minutos, já estávamos montados em seu cavalo. Sekani me entregou um capuz, que, embora não aparentasse suspeito, era perfeito para ocultar meu rosto. O aroma almiscarado que emanava dele era tão intenso que mascarava completamente o meu próprio perfume. Deixamos o bando sem incidentes e adentramos a vastidão, enquanto eu nutria a esperança de que o futuro me reservasse dias mais auspiciosos no bando da Lua Vermelha. Durante a maior parte do trajeto, o silêncio imperava entre nós, imerso em pensamentos.— Você pode desc
— Onde é este lugar? — Perguntei, minha voz traindo uma inquietude silenciosa.— Aqui é onde você ficará por enquanto, até que decida o que deseja fazer com sua vida.Instintivamente, imaginei que aquela tenda pudesse servir de abrigo para os desabrigados do bando, mas a mera perspetiva de conviver com tantas pessoas fazia meu coração estremecer. Sekani adentrou o recinto com passos firmes, e, sem hesitar, segui-o. Para minha surpresa, a tenda encontrava-se deserta, imersa em uma quietude. Conforme ele caminhava mais para dentro, ergueu uma aba que revelou uma anciã sentada em uma poltrona de aspeto modesto.Com delicadeza, Sekani agarrou minha mão e conduziu-me até a presença dela, enquanto a velha apenas nos fitou sem piscar, com sua expressão inalterada.— Vovó Luzy, esta é a Laika, sua cuidadora. — Anunciou Sekani.Meus olhos se arregalaram de choque e meu queixo caiu, pois eu nem havia consentido formalmente com tal emprego; logo, inquietações me invadiram: seria ela realmente sua
LAIKA— Alfa Khalid. — Sussurrei, minha voz trêmula carregada de temor.Ele irrompeu na tenda, ostentando aquele sorriso malicioso que sempre me enchia de repulsa e fascínio, e eu fiquei paralisada, incapaz de me erguer ou sequer de soltar um grito. Sua presença me afligia de maneira tão intensa que eu mal conseguia suportar o impacto emocional, enquanto ele adentrava o recinto e, num gesto inesperado, ajoelhou-se ao meu lado. Eu permanecia imóvel, fixando meu olhar nele.Sabia que não podia gritar, pois, se o fizesse, ele cortaria minha garganta. Seu dedo percorreu minha testa, afastando uma mecha rebelde de cabelo, e, ao mesmo tempo, minha respiração acelerou, incendiada pelo toque dele que espalhava calafrios gelados por todo o meu corpo. Seus lábios frios roçaram meu ouvido com uma delicadeza tão cortante quanto áspera.— Você é minha. — Sussurrou ele, com uma voz rouca.Num instante, sob o impacto de suas palavras, eu me sobressaltei, e o ambiente, por um breve segundo, mergulhou
Eu precisava urgentemente deixar esse bando, mas agora parecia que o Alfa Khalid havia retornado, tornando as matas um lugar onde eu já não estava mais segura. Ele certamente me capturaria, e eu não estava disposta a regressar àquela vida de tortura.— Você está bem? — Perguntou Sekani, com um tom que transbordava preocupação.Apesar de já termos discutido momentos antes, lá estava ele, insistindo em saber se eu estava bem; embora soubesse que podia confiar nele, as palavras simplesmente não conseguiam sair.— Estou bem, mas me preocupo com as pessoas. — Respondi.— Não se preocupe, nós vamos matar o que quer que esteja lá fora. Cuide da Vovó Luzy. — Disse ele, prestes a sair disparado, mas, num impulso de desespero, agarrei sua mão.— Espere. Você precisa lutar? — Indaguei eu.— Eu sou um jovem saudável, com sangue e vigor pulsando em minhas veias. Algumas guerreiras estão lá fora, e seria uma vergonha para a minha honra se eu me acovardasse e ficasse para trás. — Replicou ele.Eu me
LAIKA Flashback...Eu gritei quando o chicote, adornado com espinhos, atingiu minhas costas, dilacerando minha pele e formando uma nova ferida. Eu poderia ter fugido, mas estava imobilizada, amarrada a um banquinho, nua e indefesa, enquanto Alfa Khalid bebia novamente da cabaça de vinho.— Quantas vezes agora? — Ele perguntou, com um tom embriagado e desdenhoso.Perdi a conta. A dor era tão excruciante que meus sentidos se turvaram, e, entre lágrimas que inundavam meus olhos, meu sangue pingava no chão à minha frente.— Eu perdi a conta. — Gritei, a voz embargada pela agonia.— Sua puta! — Outro golpe retumbou, desta vez atingindo minhas nádegas. — Você perde a conta dos homens que te fodem todos os dias. — Alfa Khalid, por favor. — Implorei, enquanto muco escorria do meu nariz e eu fungava.Alfa Khalid engoliu um gole da cabaça novamente.— Você perdeu a conta. Isso significa que começaremos do zero. Você é tão burra que nem consegue contar direito. O chicote voltou a silvar pelo a
— Laika, não me ignore. Responda. Quem é o Alfa Khalid? É aquele que eu conheço? Do seu antigo bando?— Sim. Acabei de ter um pesadelo.Eu me levantei devagar do tapete de peles e saí, decidida a não revelar os segredos que ardiam em meus olhos. Contudo, ele não desistiu; seguiu-me persistentemente e agarrou meu braço com firmeza. Tentei me desvincilhar, mas sua mão, implacável, manteve-me cativa.— Laika, há algo que você não está me contando? Por que você tem pesadelos com ele?— Não sei! — Retruquei, minha voz trêmula. — Ou você acha que eu também controlo meus sonhos? Talvez eu tenha pensado nele antes de adormecer.— Ele era seu companheiro, não era? — Perguntou Sekani, examinando-me com um olhar meticuloso que penetrava em minha alma.Eu permaneci em silêncio e desviei o olhar.— Responda, Laika. Aquelas garotas diziam a verdade sobre você ser a companheira dele? É por isso que você não confia em ninguém?Lágrimas incandescentes brotaram dos meus olhos, e, num gesto de desespero