— Boa escolha. — Disse o Sekani, dando uma tapinha carinhoso em seu cavalo. O Sekani trajava calças cáqui, botas marrons, uma camisa leve complementada por um colete marrom e um boné de tecido.— Você está vestida. — Eu disse.— Sim. Mudança de planos. Decidi viajar nesta manhã. Você tem sorte de ter me encontrado aqui.— Tenho sorte, de fato. — Eu acariciei o cavalo com delicadeza, sentindo uma satisfação crescente por finalmente deixar aquele lugar para trás.Em poucos minutos, já estávamos montados em seu cavalo. Sekani me entregou um capuz, que, embora não aparentasse suspeito, era perfeito para ocultar meu rosto. O aroma almiscarado que emanava dele era tão intenso que mascarava completamente o meu próprio perfume. Deixamos o bando sem incidentes e adentramos a vastidão, enquanto eu nutria a esperança de que o futuro me reservasse dias mais auspiciosos no bando da Lua Vermelha. Durante a maior parte do trajeto, o silêncio imperava entre nós, imerso em pensamentos.— Você pode desc
— Onde é este lugar? — Perguntei, minha voz traindo uma inquietude silenciosa.— Aqui é onde você ficará por enquanto, até que decida o que deseja fazer com sua vida.Instintivamente, imaginei que aquela tenda pudesse servir de abrigo para os desabrigados do bando, mas a mera perspetiva de conviver com tantas pessoas fazia meu coração estremecer. Sekani adentrou o recinto com passos firmes, e, sem hesitar, segui-o. Para minha surpresa, a tenda encontrava-se deserta, imersa em uma quietude. Conforme ele caminhava mais para dentro, ergueu uma aba que revelou uma anciã sentada em uma poltrona de aspeto modesto.Com delicadeza, Sekani agarrou minha mão e conduziu-me até a presença dela, enquanto a velha apenas nos fitou sem piscar, com sua expressão inalterada.— Vovó Luzy, esta é a Laika, sua cuidadora. — Anunciou Sekani.Meus olhos se arregalaram de choque e meu queixo caiu, pois eu nem havia consentido formalmente com tal emprego; logo, inquietações me invadiram: seria ela realmente sua
LAIKA— Alfa Khalid. — Sussurrei, minha voz trêmula carregada de temor.Ele irrompeu na tenda, ostentando aquele sorriso malicioso que sempre me enchia de repulsa e fascínio, e eu fiquei paralisada, incapaz de me erguer ou sequer de soltar um grito. Sua presença me afligia de maneira tão intensa que eu mal conseguia suportar o impacto emocional, enquanto ele adentrava o recinto e, num gesto inesperado, ajoelhou-se ao meu lado. Eu permanecia imóvel, fixando meu olhar nele.Sabia que não podia gritar, pois, se o fizesse, ele cortaria minha garganta. Seu dedo percorreu minha testa, afastando uma mecha rebelde de cabelo, e, ao mesmo tempo, minha respiração acelerou, incendiada pelo toque dele que espalhava calafrios gelados por todo o meu corpo. Seus lábios frios roçaram meu ouvido com uma delicadeza tão cortante quanto áspera.— Você é minha. — Sussurrou ele, com uma voz rouca.Num instante, sob o impacto de suas palavras, eu me sobressaltei, e o ambiente, por um breve segundo, mergulhou
Eu precisava urgentemente deixar esse bando, mas agora parecia que o Alfa Khalid havia retornado, tornando as matas um lugar onde eu já não estava mais segura. Ele certamente me capturaria, e eu não estava disposta a regressar àquela vida de tortura.— Você está bem? — Perguntou Sekani, com um tom que transbordava preocupação.Apesar de já termos discutido momentos antes, lá estava ele, insistindo em saber se eu estava bem; embora soubesse que podia confiar nele, as palavras simplesmente não conseguiam sair.— Estou bem, mas me preocupo com as pessoas. — Respondi.— Não se preocupe, nós vamos matar o que quer que esteja lá fora. Cuide da Vovó Luzy. — Disse ele, prestes a sair disparado, mas, num impulso de desespero, agarrei sua mão.— Espere. Você precisa lutar? — Indaguei eu.— Eu sou um jovem saudável, com sangue e vigor pulsando em minhas veias. Algumas guerreiras estão lá fora, e seria uma vergonha para a minha honra se eu me acovardasse e ficasse para trás. — Replicou ele.Eu me
LAIKA Flashback...Eu gritei quando o chicote, adornado com espinhos, atingiu minhas costas, dilacerando minha pele e formando uma nova ferida. Eu poderia ter fugido, mas estava imobilizada, amarrada a um banquinho, nua e indefesa, enquanto Alfa Khalid bebia novamente da cabaça de vinho.— Quantas vezes agora? — Ele perguntou, com um tom embriagado e desdenhoso.Perdi a conta. A dor era tão excruciante que meus sentidos se turvaram, e, entre lágrimas que inundavam meus olhos, meu sangue pingava no chão à minha frente.— Eu perdi a conta. — Gritei, a voz embargada pela agonia.— Sua puta! — Outro golpe retumbou, desta vez atingindo minhas nádegas. — Você perde a conta dos homens que te fodem todos os dias. — Alfa Khalid, por favor. — Implorei, enquanto muco escorria do meu nariz e eu fungava.Alfa Khalid engoliu um gole da cabaça novamente.— Você perdeu a conta. Isso significa que começaremos do zero. Você é tão burra que nem consegue contar direito. O chicote voltou a silvar pelo a
— Laika, não me ignore. Responda. Quem é o Alfa Khalid? É aquele que eu conheço? Do seu antigo bando?— Sim. Acabei de ter um pesadelo.Eu me levantei devagar do tapete de peles e saí, decidida a não revelar os segredos que ardiam em meus olhos. Contudo, ele não desistiu; seguiu-me persistentemente e agarrou meu braço com firmeza. Tentei me desvincilhar, mas sua mão, implacável, manteve-me cativa.— Laika, há algo que você não está me contando? Por que você tem pesadelos com ele?— Não sei! — Retruquei, minha voz trêmula. — Ou você acha que eu também controlo meus sonhos? Talvez eu tenha pensado nele antes de adormecer.— Ele era seu companheiro, não era? — Perguntou Sekani, examinando-me com um olhar meticuloso que penetrava em minha alma.Eu permaneci em silêncio e desviei o olhar.— Responda, Laika. Aquelas garotas diziam a verdade sobre você ser a companheira dele? É por isso que você não confia em ninguém?Lágrimas incandescentes brotaram dos meus olhos, e, num gesto de desespero
LAIKANos dias seguintes, trabalhei livremente no bando. Embora não tenha recebido um tratamento particularmente ameno por parte das pessoas, graças à influência de Sekani e à liberdade que Alfa Karim me concedera, ninguém se atrevia a me tocar. Os que precisavam dos meus serviços ficaram maravilhados com a minha eficiência, não tendo alternativa senão me chamar de volta, e assim eu passava a ganhar mais do que o suficiente, o que guardava com zelo num pequeno baú que comprei, enquanto continuava a cuidar da Vovó Luzy.Não ouvi mais notícias de Alfa Khalid. Quase parecia que ele havia se tornado uma mera sombra, ausente de nossas vidas. Selina, por sua vez, exibia a graça de uma senhora, com modos tão belos quanto o próprio rosto, e a reciprocidade de seu afeto por mim era evidente, mostrando que, para tudo que envolvia Sekani, as diferenças de classe perdiam importância.Empenhei-me com afinco, trabalhando mais arduamente do que jamais havia trabalhado, não por sentir-me ainda como es
LAIKAEu deixei que as palavras da Sra. Lena me incomodassem naquele dia. Por mais obstinada que eu fosse, percorri o bando cumprindo minhas tarefas, tentando ignorar a visita da própria Sra. Lena – afinal, pelo que eu sabia, ele devia tê-la contratado para vir aqui.— Laika, nós deveríamos ir ver nosso companheiro sozinhas. — Resmungou Joy.Ela estava agitada desde o dia anterior e, no primeiro dia em que cheguei aqui, isolou-se para que eu não pudesse alcançá-la.— Você sabe que eu o distraio, Joy. Ele precisa encontrar o seu equilíbrio. — Respondi.— Laika, por uma vez na sua vida, lute por algo! Você sempre fica para trás e deixa que as pessoas levem o que é seu. — Repreendeu ela com voz áspera, e logo Joy voltou ao silêncio.— Você parece dividida consigo mesma. — Disse Vovó Luzy assim que entrei na tenda, fazendo meu coração acelerar de surpresa, pois quase me assustei com sua sinceridade.Eu havia esquecido que ela era uma vidente; ela não enxergava meu dilema com olhos merament