LAIKAEu fiquei profundamente alarmada ao avistar Sekani, imóvel, bem em frente ao Alfa Karim, que empunhava a espada. Temendo pela segurança dele, não pude deixar de me perguntar por que ele se colocava tão próximo do Alfa Karim, arma em punho. Resolvi, então, não interromper o momento, pois a última coisa que desejava era que algo de maléfico lhe acontecesse por minha causa. Embora minha ida ao poço se devesse unicamente à necessidade de coletar água, uma parte de mim ansiava por confirmar, de maneira velada, se o Alfa Karim manteria o apoio que me oferecera.Eu realmente não sei ao certo. Talvez eu seja imprudente ou mesmo instável, pois, inexplicavelmente, ainda eu ansiava pela atenção dele, mesmo depois de ter deixado claro, de forma repetida, que desejava ser deixada em paz. Temia, com todo o meu ser, que seu interesse por mim tivesse se esvaído, especialmente considerando que já se passaram quatro dias sem que ele se aproximasse ou sequer se lembrasse de enviar-me algo para come
— Isso é ótimo. Estou feliz por você.— E você? Por que o Alfa Karim te deixou ir?Te deixou ir.Essas palavras me atingiram de forma avassaladora, como se, finalmente, ele tivesse decidido me libertar; será que aquilo significava que ele, enfim, optara por me deixar ir? Teria sido isso que ele discutiu com Sekani? Eu não queria acreditar nisso. Teria sido por isso que ele quis foder aquela fêmea?— Eu... — Palavras me faltaram, sufocadas pela emoção e pela incredulidade.— Agora que você está livre, pode se afastar daqui. Você mesma disse que ninguém quer lhe oferecer trabalho por aqui. Muitas pessoas estão, neste exato momento, em busca de mãos habilidosas para o bando da Lua Vermelha, onde, aliás, ninguém sequer conhece o seu nome. Eu vou lhe arranjar um emprego.Meu olhar permaneceu fixo na tenda do Alfa Karim, enquanto eu esforçava meus ouvidos para captar qualquer murmúrio que pudesse vir daquela morada, mas tudo permanecia envolto em silêncio.— Laika.Virei-me para encarar Seka
LAIKAEle balançou sua espada, dando um passo à frente, enquanto seus olhos ardiam com uma intensidade enigmática que eu não lograva decifrar. A lua, alta e resplandecente, permitia-me discernir cada marca em seu corpo: ele trajava um colete que desnudava seus braços, revelando uma longa ferida que descia pelo bíceps esquerdo, ainda a escorrer sangue, enquanto seus lábios, recortados por cortes, e a cicatriz na maçã do rosto não ofuscavam sua inegável beleza. Um fio de sangue escorria lentamente por sua têmpora.— Alfa Karim, por favor. — Murmurei, sem ao menos compreender plenamente o porquê de minha súplica.Ele me brindou com um sorriso, algo inusitado e perturbador, visto que o Alfa Karim raramente esboçava tal expressão; seus olhos, fixos em mim, pareciam me desafiá-la, e eu não pude deixar de mergulhar no abismo de seu olhar. Para meu imenso alívio e surpresa, a espada caiu de sua mão, ecoando um som estridente ao se chocar com o chão.— Laika. — Disse ele, com a voz arrastada.S
Quem poderia ter causado tais ferimentos nele, e por que ele se via engajado em combate? Quem ele teria eliminado? Enquanto eu o limpava cuidadosamente, dirigi minha atenção à área que emoldurava sua maçã do rosto. Seu hálito suave recordava-me a intimidade dos nossos rostos tão próximos, e, novamente, meus olhos repousaram em seus lábios, os quais pareciam convidar-me.— Beije-o logo. — Gemeu Joy.A vontade tornou-se insuportável, inflamando em mim um desejo arrebatador de saborear seus lábios, de senti-los com toda intensidade e perceber o quão deliciosamente suculentos eram. Assim, sem qualquer reticência, inclinei-me e depositei os meus sobre os dele. Curiosamente, seus lábios, em contraste com a dureza que caracterizava o restante de seu corpo, revelavam uma suavidade, um calor e uma suculência que me cativavam, e ao chupar seu lábio inferior, o inebriante sabor do álcool quase me levou à embriaguez, sendo tão extraordinariamente delicioso que eu desejava intensamente que ele esti
— Boa escolha. — Disse o Sekani, dando uma tapinha carinhoso em seu cavalo. O Sekani trajava calças cáqui, botas marrons, uma camisa leve complementada por um colete marrom e um boné de tecido.— Você está vestida. — Eu disse.— Sim. Mudança de planos. Decidi viajar nesta manhã. Você tem sorte de ter me encontrado aqui.— Tenho sorte, de fato. — Eu acariciei o cavalo com delicadeza, sentindo uma satisfação crescente por finalmente deixar aquele lugar para trás.Em poucos minutos, já estávamos montados em seu cavalo. Sekani me entregou um capuz, que, embora não aparentasse suspeito, era perfeito para ocultar meu rosto. O aroma almiscarado que emanava dele era tão intenso que mascarava completamente o meu próprio perfume. Deixamos o bando sem incidentes e adentramos a vastidão, enquanto eu nutria a esperança de que o futuro me reservasse dias mais auspiciosos no bando da Lua Vermelha. Durante a maior parte do trajeto, o silêncio imperava entre nós, imerso em pensamentos.— Você pode desc
— Onde é este lugar? — Perguntei, minha voz traindo uma inquietude silenciosa.— Aqui é onde você ficará por enquanto, até que decida o que deseja fazer com sua vida.Instintivamente, imaginei que aquela tenda pudesse servir de abrigo para os desabrigados do bando, mas a mera perspetiva de conviver com tantas pessoas fazia meu coração estremecer. Sekani adentrou o recinto com passos firmes, e, sem hesitar, segui-o. Para minha surpresa, a tenda encontrava-se deserta, imersa em uma quietude. Conforme ele caminhava mais para dentro, ergueu uma aba que revelou uma anciã sentada em uma poltrona de aspeto modesto.Com delicadeza, Sekani agarrou minha mão e conduziu-me até a presença dela, enquanto a velha apenas nos fitou sem piscar, com sua expressão inalterada.— Vovó Luzy, esta é a Laika, sua cuidadora. — Anunciou Sekani.Meus olhos se arregalaram de choque e meu queixo caiu, pois eu nem havia consentido formalmente com tal emprego; logo, inquietações me invadiram: seria ela realmente sua
LAIKA— Alfa Khalid. — Sussurrei, minha voz trêmula carregada de temor.Ele irrompeu na tenda, ostentando aquele sorriso malicioso que sempre me enchia de repulsa e fascínio, e eu fiquei paralisada, incapaz de me erguer ou sequer de soltar um grito. Sua presença me afligia de maneira tão intensa que eu mal conseguia suportar o impacto emocional, enquanto ele adentrava o recinto e, num gesto inesperado, ajoelhou-se ao meu lado. Eu permanecia imóvel, fixando meu olhar nele.Sabia que não podia gritar, pois, se o fizesse, ele cortaria minha garganta. Seu dedo percorreu minha testa, afastando uma mecha rebelde de cabelo, e, ao mesmo tempo, minha respiração acelerou, incendiada pelo toque dele que espalhava calafrios gelados por todo o meu corpo. Seus lábios frios roçaram meu ouvido com uma delicadeza tão cortante quanto áspera.— Você é minha. — Sussurrou ele, com uma voz rouca.Num instante, sob o impacto de suas palavras, eu me sobressaltei, e o ambiente, por um breve segundo, mergulhou
Eu precisava urgentemente deixar esse bando, mas agora parecia que o Alfa Khalid havia retornado, tornando as matas um lugar onde eu já não estava mais segura. Ele certamente me capturaria, e eu não estava disposta a regressar àquela vida de tortura.— Você está bem? — Perguntou Sekani, com um tom que transbordava preocupação.Apesar de já termos discutido momentos antes, lá estava ele, insistindo em saber se eu estava bem; embora soubesse que podia confiar nele, as palavras simplesmente não conseguiam sair.— Estou bem, mas me preocupo com as pessoas. — Respondi.— Não se preocupe, nós vamos matar o que quer que esteja lá fora. Cuide da Vovó Luzy. — Disse ele, prestes a sair disparado, mas, num impulso de desespero, agarrei sua mão.— Espere. Você precisa lutar? — Indaguei eu.— Eu sou um jovem saudável, com sangue e vigor pulsando em minhas veias. Algumas guerreiras estão lá fora, e seria uma vergonha para a minha honra se eu me acovardasse e ficasse para trás. — Replicou ele.Eu me