Tia Rosário cruzou os braços e não ousou encarar Alice, que por sua vez, não estava com vontade de se explicar nem de falar com ela desde as palavras do bêbado.
"Falta pouco para ela ver o médico. Tenha paciência."
- Eu lembro de ter falado para você ficar em casa.
Alice não respondeu.
- Vão descansar. Depois conversamos.
- POR QUE VOCÊ NÃO BRIGA COM ELA?
Amélia e tia Rosário olharam diretamente para Maurício. Não era do feitio dele gritar, ainda mais com a mãe.
- O qu
Alice acordou por último naquela manhã, foi para a mesa do café e notou que nem tia Rosário nem as crianças estavam com seus fardamentos.— Não tem aula hoje?— Hoje tem aula, mas a mamãe vai faltar o trabalho pra te levar no médico e nós não vamos pra escola.Tia Rosário achou que seria inútil repreender Maurício depois que ele revelou o que aconteceria. Mais cedo ou mais tarde Alice saberia, e ela estava lidando com tudo isso muito bem. Seria perfeito se Rosário pudesse pagar uma consulta particular do que levar a criança até aquele hospício. Ela mesma só tinha visto o lugar de longe, e ainda assim sentia um calafrio ao pensar na estrutura. Para Al
Há cada rua que passavam em direção ao Hospital, Alice abaixava mais a cabeça e parecia mais reprimida.Tia Rosário permaneceu calada, e de vez em quando apertava a mão dela com mais força temendo que corresse ou que tentasse alguma força. Quando a estrutura feia e velha do hospital ficou completamente visível, Alice finalmente levantou os olhos, notando primeiro que não havia nenhuma casa por perto e nem mesmo um passarinho cantando.O lugar era tão grande que se tivesse torres poderia ser chamado de castelo, apesar de um castelo muito sombrio. As paredes eram enegrecidas e descascadas. A entrada tinham um portão alto impossível de escalar, como se realmente se tratasse uma prissão. O jardim que antecedia a porta de entrada era mal cuidado
Rosário acompanhou Alice até a porta.— Não minta, todos queremos ajudar. Diga apenas a... — Alice não esperou que ela terminasse ebateu.A sala era um lugar tão imundo quanto os outros locais do hospital que já tinha visto. Se perguntou intimamente se aquela seria a mesma sala em que Inês havia sido condenada a morte há tantos anos atrás. Ainda não podia acreditar que estava realmente ali, que poderia haver a possibilidade de ter um fim tão ruim ou pior o que de seus amigos do cemitério. Se sentou na cadeira e não encarou o médico do outro lado da mesa.— Alice?— É.
Tia Rosário conversou brevemente com o doutor enquanto Alice a esperava na recepção. A sobrinha estava tão animada e aliviada que a tia realmente pensou que teria uma boa notícia, o que só aumentou seu baque.— Então está tudo bem com ela, doutor?— Qual foi a reação dela ao sair da minha sala?— Ela parecia feliz.— Eu conversei um pouco com ela, mas ainda é muito cedo para dar um diagnóstico preciso.— Diagnóstico?— O fato dela achar que fala com os mortos está relacionado com o fato de querer fala
Alice não sabia que vinha sendo medicada. Pouco tempo depois do diagnóstico foram receitados antipsicóticos que a ajudavam a lidar melhor com seus próprios pensamentos e com sua família.Estrategicamente um daqueles comprimidos eram inseridos em um pedaço de doce ou dissolvido em um suco de laranja. Tia Rosário apenas queria que ela ficasse bem e que não se sentisse diferentes dos outros. Por isso aquele "segredo" ficou entre ela e Gael, e ficaria pelo menos até Alice conquistar uma certa maturidade para lidar com seus problemas. Ela ainda reclamava e fazia birra por ter que ir ao hospital de vez em quando, mas ao ver de Rosário poderia ser pior.Estava dissolvendo um comprimido em um copo de suco quando Alice se aproximou da mesa e ela disfarçou.
A Síndrome do pânico é diagnosticada em pessoas que experimentam ataques de medo e pânico espontâneos, repentinos e inesperados.Os episódios de síndrome do pânico são marcados por crises de ansiedade quase que inexplicáveis,que podem estar associados a sintomas físicos semelhantes ao de um ataque cardíaco.Os indivíduos com este quadro, em geral, permanecem constantemente preocupados e com medo de um ataque recorrente.Estava na sala de visitas com duas amigas enquanto vovô preparava o almoço. Ninguém sabia ainda das coisas que eu vinha sentindo, meu avô tinha tantos problemas que eu achava melhor esc
— Eu nem deveria estar aqui.— O que eu te contei é verdade.— Você é só uma voz na minha cabeça, eu nem deveria estar te respondendo.— Mas está. E se quer saber, já começaram a drogar você.— Eu vou embora!— Cuidado com o que colocam na sua comida.— Certo, se você é real, por que exatamente está me contando tudo isso?— Apenas tome cuidado para não ter o meu mesmo fim.— Você acha
As semanas se passaram e Alice passou a ter mais cuidado, agora que estava sendo medicada as frequências de suas visitas ao hospital haviam diminuído um pouco. Ela não esqueceu da história de Celeste e de sua ideia de tirar a limpo e tentar decifrar o que era e o que não era real, porém teve cautela quanto a isso. Não queria dar nenhuma desculpa para uma possível internação.No início de novembro havia perdido peso, se recusava a comer muitas coisas com medo de estarem com algum medicamento ou mesmo com algum veneno. Pensava que se a tia a medicava escondida, podia muito bem resolver a envenenar e se livrar de um estorvo, podendo viver bem com os filhos.Se lembrava constantemente dos pais, e uma ou duas vezes Amélia a pegou chorando, abraçando os