Rosário acompanhou Alice até a porta.
— Não minta, todos queremos ajudar. Diga apenas a... — Alice não esperou que ela terminasse e bateu.
A sala era um lugar tão imundo quanto os outros locais do hospital que já tinha visto. Se perguntou intimamente se aquela seria a mesma sala em que Inês havia sido condenada a morte há tantos anos atrás. Ainda não podia acreditar que estava realmente ali, que poderia haver a possibilidade de ter um fim tão ruim ou pior o que de seus amigos do cemitério. Se sentou na cadeira e não encarou o médico do outro lado da mesa.
— Alice?
— É.
Tia Rosário conversou brevemente com o doutor enquanto Alice a esperava na recepção. A sobrinha estava tão animada e aliviada que a tia realmente pensou que teria uma boa notícia, o que só aumentou seu baque.— Então está tudo bem com ela, doutor?— Qual foi a reação dela ao sair da minha sala?— Ela parecia feliz.— Eu conversei um pouco com ela, mas ainda é muito cedo para dar um diagnóstico preciso.— Diagnóstico?— O fato dela achar que fala com os mortos está relacionado com o fato de querer fala
Alice não sabia que vinha sendo medicada. Pouco tempo depois do diagnóstico foram receitados antipsicóticos que a ajudavam a lidar melhor com seus próprios pensamentos e com sua família.Estrategicamente um daqueles comprimidos eram inseridos em um pedaço de doce ou dissolvido em um suco de laranja. Tia Rosário apenas queria que ela ficasse bem e que não se sentisse diferentes dos outros. Por isso aquele "segredo" ficou entre ela e Gael, e ficaria pelo menos até Alice conquistar uma certa maturidade para lidar com seus problemas. Ela ainda reclamava e fazia birra por ter que ir ao hospital de vez em quando, mas ao ver de Rosário poderia ser pior.Estava dissolvendo um comprimido em um copo de suco quando Alice se aproximou da mesa e ela disfarçou.
A Síndrome do pânico é diagnosticada em pessoas que experimentam ataques de medo e pânico espontâneos, repentinos e inesperados.Os episódios de síndrome do pânico são marcados por crises de ansiedade quase que inexplicáveis,que podem estar associados a sintomas físicos semelhantes ao de um ataque cardíaco.Os indivíduos com este quadro, em geral, permanecem constantemente preocupados e com medo de um ataque recorrente.Estava na sala de visitas com duas amigas enquanto vovô preparava o almoço. Ninguém sabia ainda das coisas que eu vinha sentindo, meu avô tinha tantos problemas que eu achava melhor esc
— Eu nem deveria estar aqui.— O que eu te contei é verdade.— Você é só uma voz na minha cabeça, eu nem deveria estar te respondendo.— Mas está. E se quer saber, já começaram a drogar você.— Eu vou embora!— Cuidado com o que colocam na sua comida.— Certo, se você é real, por que exatamente está me contando tudo isso?— Apenas tome cuidado para não ter o meu mesmo fim.— Você acha
As semanas se passaram e Alice passou a ter mais cuidado, agora que estava sendo medicada as frequências de suas visitas ao hospital haviam diminuído um pouco. Ela não esqueceu da história de Celeste e de sua ideia de tirar a limpo e tentar decifrar o que era e o que não era real, porém teve cautela quanto a isso. Não queria dar nenhuma desculpa para uma possível internação.No início de novembro havia perdido peso, se recusava a comer muitas coisas com medo de estarem com algum medicamento ou mesmo com algum veneno. Pensava que se a tia a medicava escondida, podia muito bem resolver a envenenar e se livrar de um estorvo, podendo viver bem com os filhos.Se lembrava constantemente dos pais, e uma ou duas vezes Amélia a pegou chorando, abraçando os
No dia 2 de novembro, Tia Rosário vestiu as crianças com roupas de luto. Nunca havia pretendido deixar Alice sozinha em casa durante aquele dia.Quando saíram viram que a rua estava em festa, e não de luto como suas roupas sugeriam. Dona Ana passou e acenou com uma caveira detalhadamente desenhada no rosto.— Por que não estamos coloridos também?— Cada um celebra da maneira que achar melhor. Eu, particularmente, me sinto mais triste do que feliz no dia de hoje. Mas não desrespeito a tradição de ninguém.— Eu preferia uma roupa colorida — disse Maurício, que foi aprovado por Amélia.
Não se estenderam muito mais tempo no cemitério, Rosário ficou um pouco mais com os pais e chamou as crianças para irem embora.Agilmente, Maurício achou um lenço vermelho retirado pelo vento de alguma oferenda e cobriu as coisas que Alice havia deixado dentro de sua cesta para dividir com os outros mortos.Voltaram para casa e fizeram uma oração em família por todos os parentes.— A dona Ana vai nos oferecer alguns comes e bebes hoje. Lavem as mãos, daqui a pouco vamos até a casa dela.— Não devíamos vestir algo mais colorido? — perguntou Amélia.— Só se v
Como esperado, Rosário foi seguida por várias pessoas até o cemitério dos loucos. Todos queriam ver como era um surto, todos queriam ver o que aconteceria. Chegaram no portão e entraram atrás de Rosário, que suava e tremia de tanta preocupação. Ia a frente daquela multidão de urubus curiosos a procura de uma história para conversarem mais tarde. Maurício a seguia. Apontou para o exato local que Alice estava, e Rosário se sentiu aliviada por ela ainda está ali e não ter fugido, mais logo depois virou para o lado e vomitou.Alice estava cavando a areia negra e lamacenta do cemitério com as próprias mãos, e parecia ter encontrado alguma coisa.As pessoas eram enterradas de qualquer jeito ali, algumas até sem