Martina
Aqueles seguranças incompetentes me encaravam com desdém enquanto eu gritava no portão. Como ousavam me impedir de entrar? Eu, a noiva de Leonardo Martinucci!
"Vocês não podem fazer isso comigo!" berrei, socando o portão. "Magnus, seu traidor! Deixe-me entrar!"
Magnus apenas me observava com aquele ar superior que me dava náuseas. Meu celular tocou - Eleonora tentando me acalmar. Mas então ouvi a voz de Leonardo ao fundo, clara como cristal: "Quando o DNA confirmar. Vou assumir as crianças. E a Amber."
O mundo parou.
"Vocês vão se arrepender disso!" gritei pela milésima vez, quando notei que um dos seguranças mais novos se distraiu com uma ligação. Era minha chance. Fingi mexer na bolsa, deixando meu celular cair propositalmente próximo ao portão. Quando ele se aproximou para me ajudar, num movimento rápido, escorregue
AmberMinha cabeça ainda latejava do puxão de cabelo, o couro cabeludo sensível como se tivesse sido queimado. Esfreguei a área enquanto me levantava, sentindo o calor do olhar de todos no quarto. A energia ali era sufocante, um misto de raiva, dor e segredos que ameaçavam explodir."Eu vou ver como as crianças estão," murmurei, meu único desejo naquele momento era escapar. As vozes e o peso das revelações ecoavam na minha mente como trovões distantes."Não." A voz de Leonardo veio firme, como uma corrente que me prendeu ao chão. Sua mão segurou meu pulso, suave, mas inegavelmente firme. "Nós precisamos resolver isso. Agora.""Leonardo!" Eleonora levantou a voz, ainda trêmula de indignação. Ela parecia tão perdida quanto eu, mas sua raiva encontrou outro alvo. "Vou ver como Martina está. Aquela pobre m
LeonardoA porta se fechou atrás de Amber, e o som ecoou pelo quarto, reverberando como um golpe. Por um instante, minha vontade foi correr atrás dela, mas minha dor física me parou. O ombro latejava como se fosse explodir, me lembrando de que até o simples ato de respirar parecia uma luta."Perché? (Por quê?)" A voz de mamma cortou o silêncio, carregada de mágoa e confusão. "Por que essa mulher significa tanto para você? Enquanto Martina, que sempre esteve ao seu lado, sempre foi tratada com indiferença?"Soltei uma risada amarga, mais um reflexo da minha irritação do que algo genuíno. Aquilo era absurdo. "Sempre ao meu lado?" Olhei para ela, minha raiva transbordando. "A senhora realmente acredita nisso? Que eu sou tão cego assim?""Leonardo, por favor...""Não, mamma." Meu tom era afiado como uma lâmina. "Eu sempre soube quem Martin
LeonardoO quarto estava abafado, o peso do dia sufocando qualquer esperança de alívio. Observei meus pais, seus rostos marcados pela confusão e preocupação, antes de respirar fundo e reunir forças para falar."Per favore, (por favor)"minha voz saiu grave, quase um sussurro."Preciso de um momento a sós."Papà hesitou, mas quando fizeram menção de sair, segurei seu braço com firmeza, sentindo o calor familiar que sempre me confortou em tempos difíceis."Não deixem que o que aconteceu com Francesca se repita com meus filhos. Me ajudem a protegê-los, assim como tentei fazer com minha irmã."Mamma parou na porta, virando-se lentamente, a expressão desconfiada."Figli? Você realmente acredita que...?"Assenti, exausto, mas determinado."Sim, mamma. Agora que Martina sabe a verdade, ela fará de tudo para d
LeonardoO quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, como se até o ar tivesse parado, carregado pelo peso das palavras não ditas. Eu esperava, ajustando os travesseiros às minhas costas para aliviar a dor no ombro. Quando ouvi passos suaves no corredor, meu coração disparou. Não pela dor física, mas pela incerteza do que estava prestes a acontecer.Amber entrou, hesitante. Seus olhos estavam vermelhos, provavelmente de chorar, e seus dedos brincavam nervosamente com a barra da blusa. Ela parecia tão delicada, tão frágil, mas havia uma força nela que me cativava há anos."Vem aqui," disse, minha voz suave, tentando não a assustar mais do que ela já parecia estar. Estendi a mão boa, convidando-a a se aproximar. "Senta-se do meu lado."Ela se moveu devagar, quase como se precisasse testar o chão antes de cada passo. Quando finalmente se
LeonardoO peso das revelações pairava no ar como uma nuvem carregada prestes a desabar. O som insistente do celular cortou o silêncio, trazendo ambos de volta ao presente. Amber, sentada ao meu lado, estendeu a mão e pegou o aparelho. Ao entregá-lo, seus dedos tocaram os meus por um instante longo o suficiente para me lembrar de tudo o que havia em jogo.“Hobbins,” murmurei, vendo o nome do advogado na tela. Sem hesitar, coloquei no viva-voz, determinado a manter Amber a par de tudo.“Leonardo,” começou Hobbins do outro lado. “O resultado do DNA está pronto. E o juiz marcou a audiência para segunda-feira, mas recusou o pedido de audiência online. Ele que a presença física de todos os envolvidos. ”“Che cazzo!(Que merda!)” exclamei, a frustração me dominando. “Por quê? Qual é a justificativa?”
MartinaO Sapphire Room permanecia envolto em uma aura de sofisticação silenciosa, um espaço onde segredos podiam ser sussurrados sem risco de ecoar. A madeira escura do mobiliário e as paredes de seda azul-marinho eram uma moldura perfeita para o meu plano. Cruzei as pernas, ajustando o tecido do meu vestido Valentino contra a luz dourada da luminária. O toque gelado da taça de Chardonnay em meus dedos servia como um lembrete constante de que, mesmo no calor da manipulação, a precisão era essencial.A porta do restaurante abriu-se, e Peter Calton entrou com a confiança ensaiada de alguém que sempre dependeu mais da aparência do que da substância. Seu terno cinza estava impecável, mas sua postura, por mais altiva que fosse, não conseguia disfarçar o desconforto sob meu olhar calculado. Ele caminhou até mim e sentou-se sem pedir permissão, um gesto
Amber"Sua sessão é às cinco,"Leonardo avisou, sua voz rouca com a familiaridade que só o cansaço traz. Ele estava recostado nos travesseiros, sua postura relaxada contradizendo a preocupação nos olhos.Eu ajustei a manga do meu casaco, tentando parecer mais confiante do que me sentia."Eu sei. Mas você precisa descansar.""Já descansei demais, se não fosse os pontos, eu faria o esforço.""Nada de esforço, Leo. Você tem que se recuperar logo." Me sentei na beirada da cama.Ele estendeu a mão, envolvendo a minha num aperto gentil."Magnus ficará com você o tempo todo. Nada vai acontecer, prometo."Assenti, forçando um sorriso enquanto me afastava."Eu sei que vai." Me aproximei lhe dando um beijo terno e me afastei. "Até mais tarde."Caminhei até a sala de jogos, onde os risos das crian&
AmberO frio era implacável, um arrepio que não vinha apenas do ambiente, mas de um lugar mais profundo, mais sombrio. Estava escuro, e o quarto era tão miserável quanto me sentia: paredes descascadas, manchas de umidade, um cheiro que misturava mofo e descaso.Minha barriga roncava, e eu me encolhia na cama, tentando ignorar o vazio que doía tanto quanto os ferros do colchão que insistiam em perfurar minhas costelas. Meus braços estavam roxos, resultado de tapas e apertões que eu já não tentava entender.Do lado de fora, as vozes eram sempre as mesmas, graves, carregadas de raiva. Algo se quebrou. O som me fez pular, um reflexo automático de anos vivendo com medo.Cobri os ouvidos, tentando abafar os gritos, mas eles se infiltravam. A voz da mulher era estridente, o homem, um rugido baixo e ameaçador. Sabia o que vinha depois. Sempre sabia. Mas, dessa vez, sentia algo dif