Amber
"Sua sessão é às cinco," Leonardo avisou, sua voz rouca com a familiaridade que só o cansaço traz. Ele estava recostado nos travesseiros, sua postura relaxada contradizendo a preocupação nos olhos.
Eu ajustei a manga do meu casaco, tentando parecer mais confiante do que me sentia. "Eu sei. Mas você precisa descansar."
"Já descansei demais, se não fosse os pontos, eu faria o esforço."
"Nada de esforço, Leo. Você tem que se recuperar logo." Me sentei na beirada da cama.
Ele estendeu a mão, envolvendo a minha num aperto gentil. "Magnus ficará com você o tempo todo. Nada vai acontecer, prometo."
Assenti, forçando um sorriso enquanto me afastava. "Eu sei que vai." Me aproximei lhe dando um beijo terno e me afastei. "Até mais tarde."
Caminhei até a sala de jogos, onde os risos das crian&
AmberO frio era implacável, um arrepio que não vinha apenas do ambiente, mas de um lugar mais profundo, mais sombrio. Estava escuro, e o quarto era tão miserável quanto me sentia: paredes descascadas, manchas de umidade, um cheiro que misturava mofo e descaso.Minha barriga roncava, e eu me encolhia na cama, tentando ignorar o vazio que doía tanto quanto os ferros do colchão que insistiam em perfurar minhas costelas. Meus braços estavam roxos, resultado de tapas e apertões que eu já não tentava entender.Do lado de fora, as vozes eram sempre as mesmas, graves, carregadas de raiva. Algo se quebrou. O som me fez pular, um reflexo automático de anos vivendo com medo.Cobri os ouvidos, tentando abafar os gritos, mas eles se infiltravam. A voz da mulher era estridente, o homem, um rugido baixo e ameaçador. Sabia o que vinha depois. Sempre sabia. Mas, dessa vez, sentia algo dif
AmberA terapeuta me olhou diretamente nos olhos, esperando, com uma expressão suave, mas firme. Senti meu corpo tenso, como se as memórias pudessem explodir de dentro de mim."Do que você se lembrou?" ela perguntou, sua voz calma, mas carregada de preocupação.Eu engoli em seco, tentando organizar meus pensamentos enquanto as lágrimas queimavam meus olhos. "Meu passado... É pior do que eu imaginava." As palavras saíram entrecortadas por soluços. "Sempre me machucaram. Sempre. Por isso eu sinto tanto medo."Ela manteve seu olhar fixo em mim, transmitindo uma sensação de segurança, mas eu me sentia despida, vulnerável."Como você reagiu?"Pisquei algumas vezes, confusa com a pergunta, até que as memórias me atingiram como um raio. "Eu fugi." Minha voz era quase um sussurro. "Eu era só uma criança, mas fugi."A ter
LeonardoO silêncio no corredor parecia gritar em meus ouvidos enquanto eu subia as escadas. Cada passo reverberava como uma acusação. Amber estava em algum lugar da casa, mas tudo o que eu sentia era sua ausência. Algo estava errado. Eu sabia disso desde o momento em que Magnus a trouxe de volta.Não era só o fato de ela não ter dito nada. Não era só o olhar vazio que ela lançou antes de desaparecer pelos corredores. Era o jeito como o ambiente parecia ter perdido toda a sua luz co
LeonardoQuando saí do quarto, o rosto de Amber ainda pairava na minha mente. Ela parecia tão pequena e vulnerável enquanto dormia, seu rosto ainda marcado pelas lágrimas que havia derramado em meus braços. O corredor estava silencioso, mas ao virar para a escada, dei de cara com minha família e as crianças no quarto da nonna."Leonardo!" minha mãe exclamou ao me ver. "Você deveria estar na cama. Precisa descansar.""Existem coisas mais urgentes para resolver, mamma," respondi, a exaustão pesando na minha voz.Louis, com sua curiosidade infantil, aproximou-se rapidamente. "Onde está a mamãe?""Está com dor de cabeça, piccolo," respondi, abaixando-me para estar mais próximo dele. "Está dormindo.""Queria mimir com a mamãe." ele falou emburrado, e o abracei."Hoje será impossível, mas tenho certeza que aman
AmberA noite foi um tormento, um ciclo interminável de pensamentos inquietos e cenários aterrorizantes sobre o dia que se aproximava. O relógio parecia congelado, cada minuto arrastando-se como uma eternidade enquanto eu me revirava na cama, incapaz de encontrar descanso. Quando finalmente amanheceu e o despertador soou, percebi que havia passado mais uma noite em claro. Fazia uma semana desde que eu e Leonardo recebemos a notícia da audiência, e o peso daquela data pendia sobre mim como uma nuvem carregada.No quarto, ajustei meu blazer azul-marinho pela décima vez, a tensão em meu corpo tão forte que mal podia respirar. O som da porta se abrindo me tirou dos pensamentos, e me virei para encontrar Leonardo entrando, seu porte imponente mesmo sem a tipoia."Por que você está sem a tipoia?" perguntei, cruzando os braços, tentando esconder o quanto a visão dele ainda fazia algo em m
Amber"Além disso," o juiz continuou, sua voz firme e controlada cortando o silêncio pesado da sala, "há outros exames pendentes que serão analisados amanhã."Peter levantou-se abruptamente, sua expressão furiosa. "Como assim outros exames? Que história é essa? Eu não pedi outros exames.""Senhor Calton, mantenha-se em seu lugar," o juiz ordenou, lançando-lhe um olhar severo antes de continuar. "Dois exames adicionais foram solicitados pelo senhor Martinucci. Um deles emitido pela embaixada italiana, considerando os potenciais direitos de cidadania dos menores."Peter explodiu, sua voz reverberando pela sala. "Isso é um ultraje! Eu não fui informado sobre nada disso! É ilegal! Não aceito esses exames, quero que sejam feitos por laboratórios de minha confiança."Leonardo, ao meu lado, apertou minha mão, inclinando-se ligeiramente par
LeonardoO silêncio no carro era quebrado apenas pelo som de nossas respirações. O espaço confinado parecia amplificar cada pequeno movimento, cada emoção. Inclinei-me em direção a Amber, meu coração martelando contra o peito, mas minha expressão permanecia tranquila. Seus olhos verdes fixavam-se nos meus, intensos, buscando respostas que eu não estava disposto a esconder.Quando ela mordeu o lábio inferior - aquele gesto que parecia feito para me desarmar - não consegui resistir. Meu polegar deslizou suavemente sobre sua boca, sentindo a maciez de sua pele e absorvendo a eletricidade que irradiava entre nós."Você ainda não respondeu minha pergunta," sussurrei, a proximidade tornando minhas palavras quase íntimas. "O que você fará quando eles forem declarados meus?"Amber suspirou, sua voz vacilante. "E
AmberNão conseguia desviar os olhos do anel que brilhava na pequena caixa de veludo nas mãos de Leonardo. Era perfeito. Elegante, delicado, exatamente como algo que eu escolheria. Meu coração batia forte, quase sufocante, e uma parte de mim queria gritar "sim" naquele momento. Mas minha mente, sempre racional e cheia de dúvidas, me impedia."Não é muito recente?" perguntei, minha voz saindo baixa. "Você acabou de se desvincular de Martina... Isso não é... precipitado?"Ele não respondeu com palavras, apenas tirou o anel da caixa com a confiança de quem sabia exatamente o que estava fazendo. Antes que eu pudesse reagir, segurou minha mão esquerda, seus dedos quentes enviando uma onda de eletricidade por meu corpo. Quando ele deslizou o anel em meu dedo anelar, senti meu coração parar por um segundo. O metal frio contrastava com o calor que ele