Amber
A madeira antiga das escadas rangeu sob meus passos enquanto descia com a bandeja, aproveitando o silêncio raro da casa para organizar meus pensamentos. Mas esse momento foi curto. A porta da frente se abriu com força, revelando um casal que exalava autoridade e sofisticação.
A mulher, alta e elegante, vestia um conjunto Chanel creme que parecia saído de uma revista. O homem ao seu lado, impecável em um terno azul-escuro, irradiava a mesma aura de poder, seu olhar avaliador cruzando o hall. Senti minha coluna se enrijecer instintivamente.
"Bom dia," cumprimentei, parando a meio caminho das escadas.
Eles mal tiveram tempo de responder antes que Magnus surgisse do corredor. Seu tom cortês parecia tenso, como se soubesse o impacto que aquela visita teria. "Senhor e senhora Martinucci, bom dia."
Congelei. Os pais de Leonardo. A revelação caiu como uma pedra no estômago. Eles eram exatamente como imaginei: imponentes, exigentes, o
AmberO sol da manhã entrava pelas frestas da cortina enquanto eu observava o olhar curioso de Tomaso sobre Bella. Meu coração acelerou ao notar como seus olhos estudavam cada detalhe do rosto do minha filha."Acho melhor continuarmos esta conversa em um lugar mais... reservado," Nonna Rosa interrompeu meus pensamentos, lançando um olhar significativo para Bella, que permanecia ali, os olhos brilhando de curiosidade infantil.Me abaixei até ficar na altura dela, ajustando o laço em seu cabelo com delicadeza. "Querida, que tal ir brincar um pouco?""Mas eu quelo ve o tio Léo," ela protestou, fazendo aquele biquinho que sempre derretia meu coração. "Ele pecisa dos meus cuidados especiais."
LeonardoFui arrancado do meu sono por um barulho insistente, um tumulto de vozes vindo de fora. Meu corpo ainda estava pesado pelos medicamentos, e uma pontada no ombro me lembrava dos pontos recentes. Tentei sentar na cama, mas tudo parecia girar. As vozes estavam mais altas agora, exaltadas e misturadas, parte em italiano, parte em português. Isso não era o som normal de Louis e Bella brincando. Algo estava errado."Amber?" Minha voz saiu rouca e pesada, mas o quarto estava vazio. Esperei por alguns segundos, mas não obtive resposta. O barulho do lado de fora crescia. Franzi o cenho. Decidi me erguer, mas antes que pudesse sair da cama, a porta do quarto se abriu com força. Amber entrou, e só pelo olhar dela percebi que o dia seria pior do que eu imaginava.“Te peguei no flagra!” ela exclamou, cruzando os braços. Sua respiração estava acelerada, e seu rosto, corado de raiva, p
MartinaAqueles seguranças incompetentes me encaravam com desdém enquanto eu gritava no portão. Como ousavam me impedir de entrar? Eu, a noiva de Leonardo Martinucci!"Vocês não podem fazer isso comigo!" berrei, socando o portão. "Magnus, seu traidor! Deixe-me entrar!"Magnus apenas me observava com aquele ar superior que me dava náuseas. Meu celular tocou - Eleonora tentando me acalmar. Mas então ouvi a voz de Leonardo ao fundo, clara como cristal: "Quando o DNA confirmar. Vou assumir as crianças. E a Amber."O mundo parou."Vocês vão se arrepender disso!" gritei pela milésima vez, quando notei que um dos seguranças mais novos se distraiu com uma ligação. Era minha chance. Fingi mexer na bolsa, deixando meu celular cair propositalmente próximo ao portão. Quando ele se aproximou para me ajudar, num movimento rápido, escorregue
AmberMinha cabeça ainda latejava do puxão de cabelo, o couro cabeludo sensível como se tivesse sido queimado. Esfreguei a área enquanto me levantava, sentindo o calor do olhar de todos no quarto. A energia ali era sufocante, um misto de raiva, dor e segredos que ameaçavam explodir."Eu vou ver como as crianças estão," murmurei, meu único desejo naquele momento era escapar. As vozes e o peso das revelações ecoavam na minha mente como trovões distantes."Não." A voz de Leonardo veio firme, como uma corrente que me prendeu ao chão. Sua mão segurou meu pulso, suave, mas inegavelmente firme. "Nós precisamos resolver isso. Agora.""Leonardo!" Eleonora levantou a voz, ainda trêmula de indignação. Ela parecia tão perdida quanto eu, mas sua raiva encontrou outro alvo. "Vou ver como Martina está. Aquela pobre m
LeonardoA porta se fechou atrás de Amber, e o som ecoou pelo quarto, reverberando como um golpe. Por um instante, minha vontade foi correr atrás dela, mas minha dor física me parou. O ombro latejava como se fosse explodir, me lembrando de que até o simples ato de respirar parecia uma luta."Perché? (Por quê?)" A voz de mamma cortou o silêncio, carregada de mágoa e confusão. "Por que essa mulher significa tanto para você? Enquanto Martina, que sempre esteve ao seu lado, sempre foi tratada com indiferença?"Soltei uma risada amarga, mais um reflexo da minha irritação do que algo genuíno. Aquilo era absurdo. "Sempre ao meu lado?" Olhei para ela, minha raiva transbordando. "A senhora realmente acredita nisso? Que eu sou tão cego assim?""Leonardo, por favor...""Não, mamma." Meu tom era afiado como uma lâmina. "Eu sempre soube quem Martin
LeonardoO quarto estava abafado, o peso do dia sufocando qualquer esperança de alívio. Observei meus pais, seus rostos marcados pela confusão e preocupação, antes de respirar fundo e reunir forças para falar."Per favore, (por favor)"minha voz saiu grave, quase um sussurro."Preciso de um momento a sós."Papà hesitou, mas quando fizeram menção de sair, segurei seu braço com firmeza, sentindo o calor familiar que sempre me confortou em tempos difíceis."Não deixem que o que aconteceu com Francesca se repita com meus filhos. Me ajudem a protegê-los, assim como tentei fazer com minha irmã."Mamma parou na porta, virando-se lentamente, a expressão desconfiada."Figli? Você realmente acredita que...?"Assenti, exausto, mas determinado."Sim, mamma. Agora que Martina sabe a verdade, ela fará de tudo para d
LeonardoO quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, como se até o ar tivesse parado, carregado pelo peso das palavras não ditas. Eu esperava, ajustando os travesseiros às minhas costas para aliviar a dor no ombro. Quando ouvi passos suaves no corredor, meu coração disparou. Não pela dor física, mas pela incerteza do que estava prestes a acontecer.Amber entrou, hesitante. Seus olhos estavam vermelhos, provavelmente de chorar, e seus dedos brincavam nervosamente com a barra da blusa. Ela parecia tão delicada, tão frágil, mas havia uma força nela que me cativava há anos."Vem aqui," disse, minha voz suave, tentando não a assustar mais do que ela já parecia estar. Estendi a mão boa, convidando-a a se aproximar. "Senta-se do meu lado."Ela se moveu devagar, quase como se precisasse testar o chão antes de cada passo. Quando finalmente se
LeonardoO peso das revelações pairava no ar como uma nuvem carregada prestes a desabar. O som insistente do celular cortou o silêncio, trazendo ambos de volta ao presente. Amber, sentada ao meu lado, estendeu a mão e pegou o aparelho. Ao entregá-lo, seus dedos tocaram os meus por um instante longo o suficiente para me lembrar de tudo o que havia em jogo.“Hobbins,” murmurei, vendo o nome do advogado na tela. Sem hesitar, coloquei no viva-voz, determinado a manter Amber a par de tudo.“Leonardo,” começou Hobbins do outro lado. “O resultado do DNA está pronto. E o juiz marcou a audiência para segunda-feira, mas recusou o pedido de audiência online. Ele que a presença física de todos os envolvidos. ”“Che cazzo!(Que merda!)” exclamei, a frustração me dominando. “Por quê? Qual é a justificativa?”