Amber
A sala estava mergulhada num silêncio sufocante, quebrado apenas pelo som monótono da televisão. As imagens que passavam na tela pareciam zombar de mim, uma realidade que eu queria esquecer, mas que insistia em me encarar de frente. As manchetes rodavam em um ciclo infinito: “Leonardo Martinucci apresenta sua defesa”, “O CEO mantém postura impecável durante coletiva”.
Deixei escapar um suspiro pesado, os olhos queimando enquanto o nó na garganta apertava. Caminhei até o controle remoto, que estava jogado no chão. Minhas mãos tremiam enquanto tentava juntar os pedaços do controle. Uma pilha aqui, outra ali, tentando fazer funcionar o que Leonardo tinha quebrado em sua fúria.
"Vamos, funciona," murmurei, apertando os botões que ainda restavam.
LeonardoMinha cabeça ainda latejava, os nós dos dedos pulsando em sincronia com a raiva que eu tentava domar. Subir de volta para a suíte era o último lugar onde queria estar, mas quando Magnus avisou que a manutenção havia sido chamada, imaginei o pior. Talvez Amber tivesse destruído tudo, dando continuidade ao caos que já tínhamos vivido. Parte de mim queria ficar no escritório, enterrado em reuniões e contratos. Mas outra, uma parte teimosa e incômoda, queria garantir que ela estivesse... bem.O elevador parecia se mover devagar demais, cada andar aumentando meu nervosismo. Quando finalmente a porta se abriu, o que vi me desarmou. Nada estava quebrado, nenhuma tempestade me aguardava. Apenas uma pequena mancha na parede, discreta, mas inconfundível: sangue que eu sabia já ter sido limpo por alguém e o papel rasgado, mas não insubstituível.Am
AmberA sala da suíte estava mergulhada na luz dourada da tarde, criando sombras suaves nos móveis caros. Do meu lugar perto do sofá, observava com um sorriso nos lábios enquanto Leonardo lutava com os fios dourados de Bella. Suas mãos grandes, acostumadas a assinar contratos milionários, agora tentavam, sem sucesso, fazer uma simples trança."Não, não é assim," ri baixinho quando ele embaraçou mais uma vez os cabelos dela. "Aqui, deixa eu te mostrar."Me aproximei do sofá, sentindo meu coração acelerar ao colocar minhas mãos sobre as dele. Eram mãos fortes e quentes, os dedos longos agora tentando ser delicados com os fios sedosos da nossa pequena. Bella já lutava contra o sono, seus olhinhos pesados piscando devagar, enquanto se apoiava no braço do sofá."Você separa em três partes iguais," expliquei suavemente
LeonardoAtendi o telefone por puro reflexo, mas assim que ouvi a voz estridente de Martina, percebi que tinha feito a escolha errada. Ainda assim, era melhor que enfrentar os olhos marejados de Amber naquele momento, olhos que me faziam querer mandar tudo para o inferno e simplesmente abraçá-la e beijá-la até que todo o mal-entendido entre nós se dissipasse."Como assim não posso subir?" Martina gritou do outro lado da linha. "Estou na recepção e esses incompetentes não querem me deixar passar! Sou sua noiva, isso é um ultraje!""É exatamente isso," não consegui conter o riso amargo. A palavra 'noiva' agora tinha um gosto estranho na boca. "Você não vai subir.""Não pode me impedir de ir ao seu quarto! Ainda sou sua..."<
LeonardoO silêncio que seguiu os tiros parecia irreal depois do caos. O restaurante luxuoso, que minutos antes era um símbolo de poder e elegância, agora estava mergulhado em destruição. Os cristais dos lustres estavam em milhares de fragmentos espalhados pelo chão, misturando-se aos cacos dos pratos e taças quebradas."Você está bem?" perguntei a Martina, ainda cobrindo seu corpo com o meu. Suas mãos apertavam meu braço com força, seus dedos finos tremendo contra o tecido do meu terno.Ela ergueu os olhos para mim, o rosto pálido, destacando ainda mais a maquiagem perfeita. Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha quando sussurrou: "Você... você está sangrando."<
Peter"Leonardo Martinucci, atingido! Finalmente, aquele bastardo sentiu o gosto do medo!" A gargalhada ecoou antes que eu pudesse contê-la. Reclinei-me na cadeira de couro, cruzando os pés sobre a mesa. Cada detalhe da notícia era um presente.Moris, meu advogado, me encarava do outro lado da mesa de mogno, seu rosto franzido em preocupação. Mas eu não me importava, a sensação de vitória corria em minhas veias como champanhe."Que dia glorioso!" bati na mesa, fazendo os porta-retratos tremeram. "Aquele bastardo está pagando por ter me deixado algumas horas na cadeia. Algumas horas! Como ele ousa?""Senhor Calton," Moris ajeitou a gravata, claramente desconfortável.
Amber"Quanto brinquedos ainda faltam, meu Deus?" perguntei ao vazio enquanto recolhia os brinquedos espalhados pela sala.O barulho veio de repente, algo como vidro quebrando muito abaixo de nós. Na cobertura, os sons chegavam abafados, quase irreais. Parei com um ursinho na mão, tentando entender o que estava acontecendo."Que barulho foi esse?" Uma das babás saiu do quarto, me olhando de forma interrogativa."Não sei," tanto eu quanto ela fomos até a sacada, mas dali, não dava para ver nada."Parece que foi no hotel." Aretah falou e eu confirmei.De repente a porta se abriu com violên
LeonardoO mundo voltou em fragmentos confusos. Primeiro veio o cheiro de hospital, antisséptico e artificial. Depois, a dor no braço esquerdo, uma queimação constante que pulsava no ritmo do meu coração. Tentei me mover e descobri que estava imobilizado.Abri os olhos devagar, piscando contra a luz fraca do quarto. A primeira coisa que vi foi Martina dormindo numa poltrona próxima à cama. Seu pescoço estava em um ângulo estranho, o vestido vermelho amassado. A visão me trouxe sentimentos contraditórios, raiva por não ser quem eu queria ver ali, alívio por saber que ela não estava no hotel causando problemas para Amber."Martina," minha voz saiu rouca. " Martina..." esperei até que
AmberO relógio do meu celular marcava, 4:30 da manhã, mas eu não tinha conseguido dormir um minuto sequer. Passei a noite toda andando de um lado para outro na sala, checando as crianças a cada meia hora, como se elas pudessem desaparecer a qualquer momento e pensando em como o Leonardo estava. Eu queria poder fazer mais, queria estar lá, mas eu era a responsável por tudo. Se fosse até o hospital, traria mais problemas.Quando o telefone de Magnus tocou, meu corpo inteiro ficou em alerta. Me levantei do sofá num pulo, meu coração disparando no peito."Sim, chefe."A voz grave de Magnus fez minhas pernas fraquejarem de alívio. Era ele. Leonardo estava acordado.