— Eu não achei que seria esse tumulto...
— Sim — Harry suspira novamente. — É assim que eles são o tempo todo, então, quando eu te pedir para fazer algo, me escute.
Engulo em seco, concordando com a cabeça.
— Não faça isso de novo — Harry diz depois de ligar o carro. Forço um sorriso e respondo:
— Desculpe. Eu só... eu só queria ir embora.
— Então você deveria ter me dito.
Respiro fundo e pergunto:
— Quem era ela?
— Tiffany... eu costumava sair com ela, antes de... antes de tudo.
— Ela era a sua namorada?
Harry para no sinal vermelho e olha para mim.
— Não. Nunca tive uma namorada antes de você... ela era alguém que eu chamava quando queria sexo — Harry responde. Fico em silêncio e olho para a janela. — O que elas disseram? —pergunta, ainda olhando para mim. — Quero dizer, o que fez você querer sair daquele jeito?
— Isso não é importante — sussurro.
— É importante para mim.
<Londres, Inglaterra Sábado, 15 de setembro de 2018 A porta do elevador está prestes a se fechar nas costas de Harry quando entro, e depois que ela se fecha, e antes que eu possa impedir minha loucura, aperto o botão de parar. — Grace, você está louca? — Harry pergunta. — Você realmente precisa que eu responda a essa pergunta? — Eu preciso lembrar que você tem pavor de pequenos lugares apertados? — Não, não tem necessidade — resmungo, olhado ao redor — estou muito ciente. — Grace — Harry diz, com gentileza. — E se nós permitirmos que o elevador se mova de novo, antes que você tenha uma pane mental? Afasto a ideia da minha cabeça. Tenho outras coisas em mente. — Me desculpe — digo. — Tudo bem — Harry diz, sem entender. — É só apertar o botão... — Não, não por isso. Pelo que eu disse antes. Sinto muito que eu tenha feito você se sentir como se não fosse sufici
Volto para casa de Hannah, com Harry me seguindo, somente para devolver o carro e então volto com Harry para o apartamento dele. Quando chego, vou direto deitar em sua cama enquanto ele vai ao banheiro. Faz semanas desde que eu dormi com ele, então sua cama é um conforto bem-vindo. Acho que vai ser sempre um conforto para mim. Eu ainda tenho problemas para dormir sozinha. Mesmo com as pílulas para dormir que comprei, minhas noites são inquietas e muitas vezes tenho flashes daquela casa quando eu fecho meus olhos. Os flashes não são quase tão ruins quanto os pesadelos, mas eles ainda são um lembrete constante da turbulência na minha vida. Depois que nos acomodamos para dormir, tenho dificuldade para manter meu cérebro desligado. Toda vez que fecho meus olhos, vejo Derek na minha frente. O homem que eu matei com um tiro na cabeça. Quanto mais eu tento e luto contra os pensamentos, mais vivos eles se tornam. Ele está bem aqui comigo, dentro da minha mente. Então a figur
Londres, Inglaterra Domingo, 16 de setembro de 2018 Na manhã seguinte, Harry me leva até a casa de Hannah. Agora ele está sentado em frente ao balcão, comendo os donuts que compramos no caminho, em um silêncio confortável. O episódio da madrugada foi quase esquecido, por enquanto. Sei que Harry vai me fazer ir para uma consulta com o terapeuta mais tarde. Eu estava me servindo uma xícara de café quando ouvi a porta da frente sendo aberta, e os passos que parecem de elefante pelo corredor. — Grace! — Jenny grita. — Grace, estamos em casa! Você sentiu nossa falta? Tia Ju me mostrou suas fotos no computador! Você se divertiu no show? Por que você deixou Harry tocar em você?! Você provavelmente tem piolhos agora! Você devia ir ao médico! As fotos que tiraram ontem já estão na internet? Abro um sorriso, e Harry faz uma careta, enquanto Jenny e Katherine invadem a cozinha. — Oh
Londres, Inglaterra Quarta-feira, 19 de setembro de 2018 Eu sabia que já era hora de eu me recompor e conseguir ajuda, porque tudo o que eu queria fazer era desaparecer. A primeira vez que fui ver a Dra. Thompson, foi o dia depois do meu ataque no apartamento do Harry. Nós decidimos que eu iria vê-la duas vezes por semana, na segunda e na quarta-feira. Durante a primeira sessão, lhe disse tudo o que tinha acontecido desde maio: Brasil, minha família, Hannah e as meninas, o sequestro, Harry e as mortes que vi ou causei. Contei tudo, sobre como foi minha infância e porque eu não procurei a terapia no início, quando os sonhos com Harry começaram a me tirar da realidade. A Dra. Thompson está me ajudando a ver que, o que Chase fez não foi culpa minha. Eu ainda abrigo a culpa sobre isso, mas não tanto quanto eu costumava fazer. Ela está me ajudando a aprender a tolerar as minhas emoçõ
Londres, Inglaterra Quinta-feira, 20 de setembro de 2018 Sr. Moo estava escondido embaixo do meu braço quando acordei, com uma confusão de lençóis tão enrolados em torno de mim que eu não conseguia me mover. A primeira coisa que notei ao abrir os olhos, foi que Katherine não estava aqui. Ela dormiu nos meus braços na noite passada. Nos meses em que eu estive em Londres, não houve uma manhã que eu acordei sem Jenny e Katherine batendo na minha porta. Então eu sei que nada de bom poderia vir de uma manhã em que acordei sozinha. Eu estava massageando meu pescoço quando comecei a descer as escadas. Dormir na cama de Katherine não me fez bem. Mesmo antes de ver o rastro de migalhas que está fazendo um caminho da cozinha até a sala, eu sabia de onde as risadinhas estavam vindo. É por isso que não fico surpresa quando vejo Jenny e Katherine em pé ao lado do sofá, com canetinhas hidrográficas em uma de suas mãos e coo
Londres, Inglaterra Sexta-feira, 21 de setembro de 2018 Gabriel queria fazer aulas de judô. — Eu gosto disso — Gabe sussurra. — Mas a mamãe não quer... — Gabriel, você precisa falar com ela... — Mas eu estou falando, Gracie — ele suspira. Se eu estivesse vendo-o agora, ele provavelmente jogou a cabeça contra o travesseiro tão forte, que a cabeceira da cama bateu contra a parede. — Você só tem dez anos! A única coisa que você precisa focar é em suas notas na escola. Você ainda tem muito tempo pela frente... Sei que ele não tem certeza sobre as coisas, mas isso é normal. Havia tanta pressão sobre o seu futuro que é natural que ele mude o foco das coisas. — Olha, eu sei que minhas notas não são tão boas, mas eu queria... — Queria o quê? — Não sei... Eu só quero ser feliz. Fecho meus olhos. Se eu não p
Eu não falei com Harry desde quinta-feira de manhã. Quero dizer, hoje é sexta-feira, então tinha sido apenas um dia, mas ainda assim. Ele mandou uma mensagem de texto para mim ontem à noite, e disse que passaria me buscar às 8h da noite hoje. Eu estava tão nervosa que tudo o que consegui escrever de volta foi um rápido “ok”. — Quando seu namorado vem te buscar? — Daqui a pouco — respondo. — O que foi? — Hannah pergunta. Suspiro. — Ele está estranho... não falou comigo desde que saiu daqui ontem de manhã. Hannah ri e diz: — Você não precisa se preocupar com isso, amor. A maioria dos homens são assim. — Sinto que ele está escondendo algo... Hannah abre a boca para me responder, quando ouvimos a voz de Jeny ecoar pelo corredor: — Graaaciiie... Você se parece com Hannah Montana — diz ela com um sorriso, assim que chega na cozinha. — Sério? Se eu pudesse cantar como ela. — Aposto que el
Respiro fundo e passo entre as pessoas, pedindo desculpas quase inaudíveis e tentando evitar pisar nos pés dos outros. Quando finalmente chego ao bar, Harry está se virando para mim, bebendo um longo gole de sua cerveja. Na outra mão, vejo um drink rosa. Ele a estende para mim, sem nenhuma palavra. — Obrigada, meu amor — sorrio, bebo um gole e o sigo até a mesa em que estão nossos amigos. Louis começou uma história sobre Natan cair em uma poça de lama, mas levanto-me para ir ao banheiro. Depois que termino de usar o banheiro, retoco o batom usando a câmera do meu celular como espelho. Quando volto, vejo uma garota ao lado de Harry, inclinada para falar com ele, com a mão dela nas costas da cadeira em que ele está. Eu não quero interromper, então vou para o bar e peço outro drink. Termino minha bebida em um só gole, e decido tomar outra. Porque eu tenho que levantar com as garotas pela manhã, me limito a três. — Gata, é seu aniversário hoje