— Então, onde você mora? — pergunto.
— Oh, quartos de hotéis diferentes — diz ela, dando de ombros. — Eu tenho viajado o mundo por alguns anos...
— Uau — digo. — Isso deve ser...
— Cansativo — suspira. — Mas mantém minha mente ocupada.
— Qual é o melhor lugar em que você já esteve até agora?
— Paris — responde rapidamente. — E eu sou, uh... uma aspirante a designer de moda.
— Ah, que lindo — digo, impressionada.
— Mas agora conte-me sobre você: de onde é esse sotaque?
— Bem, eu sou do Brasil — digo.
— Que legal. Já estive lá algumas vezes. E o que você faz?
— Eu sou babá.
— E vocês dois são... — Rebecca sorri.
— Sim, Rebecca, cresça —
Londres, InglaterraQuinta-feira, 11 de outubro de 2018Acordo queimando na manhã seguinte.Minha garganta está seca e dolorida, meu nariz está entupido e minha pele está em chamas.— Você está acordada, finalmente — Harry diz, preocupado. Ele está vestido com uma camisa branca e seu jeans preto, e se senta ao meu lado na cama.— Estou horrível — resmungo, e tento engolir para aliviar a dor da minha garganta.— Você estava queimando, mas eu não queria acordar você — Harry me entrega um termômetro. Alguns minutos depois, o termômetro apita e Harry o lê rapidamente. — 38 graus — diz, colocando-o na mesa de cabeceira. — Você não vai a lugar nenhum hoje. Já liguei para a Hannah, ela vai para a fazenda da mãe dela com as crianças. Voc&e
— Meu pai gostava de administrar a casa como fazia quando era sargento no exército. Ele era muito dominador. E ele foi muito cruel com Harry. Quando Harry completou seis anos, começou os treinos, do amanhecer ao anoitecer. — Os olhos de Rebecca começam a lacrimejar e os meus também. Ela respira fundo e continua:— Ele tinha apenas seis anos... E ele gostava muito de ler e escrever, e nosso pai odiava isso. Então Harry lia escondido... um dia, ele viu Harry com o livro e bateu muito nele. Depois o castigou, fazendo-o correr em volta da casa por uma hora, sem parar, enquanto gritava com ele. — Ela limpa as lágrimas, as mãos trêmulas. Respira fundo e continua: — Mamãe chegou e tentou interferir. Ele bateu tão forte nela, que ela desmaiou com um só golpe. Não foi a primeira vez, é claro. E eu? Eu fiquei parada olhando, paralisada de medo... fui uma covarde o tem
Harry fica comigo por um bom tempo, seus dedos se movendo suavemente para cima e para baixo no meu rosto. Ele começa a cantarolar baixinho, e sua voz profunda é tão linda.Acredito que depois de uma hora, finalmente reúno forças para abrir meus olhos. Harry está sentado na cama ao meu lado, seus olhos preocupados fixados em mim. Ele não trocou de roupa, e suas mangas estão enroladas até os cotovelos. Consigo sorrir para ele e ele sorri de volta. Quase aliviado ao ver que estou acordada.— Droga, Grace, por que você sempre me deixa preocupado? — Tento sorrir e sento-me devagar. — Você está se sentindo melhor?— Um pouco — respondo.— Bom, isso é melhor que nada. Está com fome? Rebecca está fazendo o jantar.— Você falou com ela? — pergunto, embora já esteja ciente da resposta.&mda
Na hora do almoço, Harry reclama sobre como foi horrível dirigir com Natan ontem, e que nunca irá usar o carro dele novamente. Rebecca ri, obviamente feliz em ver seu irmão mais à vontade perto dela, e pergunta sobre o trabalho dele.Harry solta o garfo no prato e encara Rebecca. Depois olha para mim. Levanto minhas sobrancelhas. Se ele quiser contar, por mim tudo bem.Então, ele conta tudo. Desde quando ele foi sequestrado por Chase. Ele contou sobre ter sido uma cobaia de laboratório, de como ele foi drogado tantas vezes, que perdeu a memória. Contou sobre como foi devastador quando sua memória voltou, quando ele reviveu todas as lembranças ruins. E então ele fala sobre mim, sobre como nos conhecemos e como conseguimos sair de lá.— Agora Chase quer vingança, e ele sempre está um passo à nossa frente. — Harry termina, e eu pergunto:&mdas
Harry se move e sai do reflexo no espelho, permitindo que eu veja de relance a morena encostada na parede. Seu rosto brilha de suor e sangue escorre do ferimento da bala na coxa. Ela tenta estancar o fluxo com as mãos. Seu rosto bronzeado está contorcido de agonia e raiva. Ela cospe no chão, desafiadoramente.— É só um ferimento superficial — Harry diz.Me aproximo mais na fresta da porta. Vejo um par de mãos abertas perto dos pés dela: um dos homens que Harry acabou de matar. Engulo em seco e tento acalmar a respiração. A porta se move quando encosto o corpo nela, e inspiro rapidamente. A mulher vira a cabeça para o lado e olha para o espelho. Ela sabe que estou escondida aqui e então ela me vê. Um sorriso se espalha por seu rosto.— Saia daí, Grace — diz ela. — Chase está com saudade.Eu não me mexo. Ela tira os olhos de
Londres, InglaterraSexta-feira, 12 de outubro de 2018Estamos na estrada há mais de uma hora. Antes que eu pergunte, Harry esclarece:— Quero ter certeza de que não fomos seguidos. Natan tem uma casa extra. Iremos para lá.— E onde Natan está?— Organizando tudo na mansão... tirando os corpos de lá e aumentando a segurança.Um arrepio percorre o meu corpo e concentro o meu olhar na janela do carro.***Chegamos na casa em Hampstead Lane no norte da cidade. O lugar está silencioso. Só ouço o vento passando pelas árvores que contornam o lado direito da casa.Harry tira uma chave do bolso e abre a porta. A casa de Natan cheira a limpeza. Parece que todas as janelas foram abertas, permitindo que a brisa noturna de verão se espalhe pela casa. É grande, com três andares. Nã
Londres, InglaterraDomingo, 14 de outubro de 201813h43 Paro o carro no estacionamento ao lado da estrada. Meu telefone está tocando, mas não reconheço o número. Atendo e ouço uma voz familiar:— Aposto que já estava pensando sobre quando iria ter notícias minhas. — Chase. Quando não respondo, ele continua: — Não se dê ao trabalho de localizar a chamada. Esse telefone é descartável e de qualquer maneira, consigo desaparecer rapidinho.— Onde você está? — pergunto.Chase solta uma risada.— Eu não sou tão previsível como você queria, não é? Acredite em mim, sou tudo menos previsível. Não estou perto, estou muito longe de Londres agora, mas ele está um pouco mais perto.
— Como sabe que tem mais?— Me conte.— Tinha mais uma nota: “A vingança não vai reduzir ou prevenir o mal, porque ele já aconteceu. Mas a pergunta é: o mal já aconteceu para você, Grace?” Talvez eu não seja mais do que um fantoche nas mãos de Chase — falo, tristemente.Harry me encara.— Não fale assim. Nós vamos resolver isto. Estamos nisto juntos. Eu não vou deixá-lo chegar perto de você.Eu queria que as palavras de Harry me confortassem, mas as preocupações estão me deixando pior.Inclino-me para ver melhor o corpo cravejado de balas da vítima, dentro do carro, sentado no banco de motorista. Está anoitecendo e uso a lanterna do celular. Os olhos abertos da jovem morta parecem estar me fitando, como se perguntasse: Por quê? Como eu desejo ter uma resp