O sul era frio, a paisagem monótona, os sons perturbadores. Mas Alexandre já tinha enfrentado coisas piores. Teve aquela vez que viajou escondido no convés de um barco, não se lembra porque fez aquilo, mas lembrava da água do mar corroendo sua pele, da fome corroer seu estômago e do Rum corroer sua mente. Dias difíceis aqueles. Uma mulher tinha sido a razão. Não qualquer mulher, mas uma mulher muito bonita que tinha uma boca maravilhosa. A lembrança o fez sorrir.
–Como consegue sorrir numa situação como essa? –Alex resmungou.
–Lembrando de outras situações – continuou a sorrir.
A garoa que caia o fazia lembrar do templo pai onde cresceu. A água escorria pela aba do chapéu e caia nos braços que estavam escorados ameia da grande fortaleza. A água fazia sua pele ganhar um tom ligeiramente cinzento, o fazendo lembrar que não pertencia àquele mundo, mas também não fazia parte do mundo submerso. O fazia lembrar que não pertencia a mundo nenhum. Era alguém que não tinha lugar no mundo dos homens. Nem mesmo era um homem.Tudo que sabia sobre sua origem era que sua mãe foi encontrada no norte, estava grávida dele, e por não ter uma aliança no dedo, foi executada por fornicação. Foi na fonte do templo pai que descobriu que podia ficar muito mais tempo de
O plano era simples.Ana e Tomas criariam uma distração. David e Iara regatariam o príncipe e Maria. Conseguiriam despistar os xamãs rápidos, uma vez que a região era desconhecida para eles.Era noite de lua cheia. Ana observava Iara e David ficarem em posições. Só conseguia velos porque sabia onde procurar. As capas que David fizera os deixavam praticamente invisíveis sob as sombras da noite. Tomas estava o seu lado, tinha várias dinamites nas mãos, no momento certo as jogaria na fogueira que dançava no meio do acampamento dos xamãs, causando a distração necessária, caso não fosse o suficiente, Ana ergueria um campo de for&cce
Alexandre deixava o sul para trás, os olhos no horizonte, via mais do que o norte, via Ana correndo perigo. Sentiu medo, mas não durou muito, lembrando do período de treinamento da jovem aprendiz; ela era forte – não de força física –, a força dela estava no coração, na alma. Um espirito impetuoso, com uma violência que ele tanto gostava. Gostava também do sorriso dela, sentia falta do sorriso dela. E foi ele quem a ensinou a sorrir. Será que estava sorrindo naquele momento? Não se estivesse correndo perigo. Mas poderia não estar. Gatinha, pense antes de agir e pense rápido, ele aconselhou mentalmente. Ele olhou para trás e pela segunda vez se assustou com o que viu.&n
–Vamos para ponta dourada – o príncipe Gustavo disse. – Em ponta dourado meu pai tem um exército, e já vimos que os mantos brancos estão sendo controlados. Talvez toda a igreja. Era a primeira vez que o príncipe falava desde que partiram. Ele e seus homens estavam sentados na carroça que Tomas puxava. Era incrível a força do recruta, parecia nunca se cansar, o único custo era fome que tinha. Comera o resto do cervo sozinho, mas com isso conseguia carregar cinco homens sem muito esforço. Ana refletiu sobre o comentário de Gustavo. Para ela fazia sentindo. –O que você acha? –ela
David conhecia o atalho por onde o príncipe os guiava. Fora ensinado a respeito deles durante o treinamento, porém nem os agulhas negras conheciam toda a extensão das ramificações. Tuneis subterrâneos, cujas lendas diziam ter sido feitos por vermes gigantes. David agora cogitava a hipótese de terem sido elementares de terra, mas aquilo não importava no momento. O olhos de brasa teve que ser amarrado e amordaçado, foi o único jeito de conseguir traze-lo. Ele estava profundamente perturbado dentro dos tuneis, cuja a terra com grandes quantidade de metais impossibilitava que ele conseguisse ver através da terra, o que era um bom sinal, estavam relativamente seguros contra outros olhos de brasas. Tomas carregava Tedy na costas, ele se mantinha perto de Ana que iluminava os tuneis irregulares a frente, s
Ponta dourada se estendia à sua frente. Às suas costas, o exército de agulhas negras. Ao seu lado, o irmão, além de outros lampiões.Alexandre observava a fronteira do norte. O branco e vermelho de um exército de bispos se destacava à frente da fortaleza de pedra. Alexandre sabia que além da fortaleza, e do exército, se encontrava um porto com vários navios veleiros. Por vezes sonhara em embarcar em um daqueles frondosos navios e ir para terras desconhecidas. Mas até que conseguisse livrar o povo da enganação da igreja, tinha que permanecer ali. Numa ilha esquecida por Deus.Os mantos brancos se agitavam diante da ameaça do exército de agulhas negras. O poder
Ela sentia o corpo sacolejar nos braços que já eram tão familiares para ela. Abriu os olhos e com a visão ainda embaçada, viu o rosto azul de Tomas. Ela sacudiu a cabeça tentando afastar a vertigem. –Tomas –ela murmurou.Ele olhou para baixo, e forçou um sorriso.–Oi, você está bem?–Quero ficar em pé –ela respondeu.&nb
O Fera atirou várias vezes na porta de madeira, em seguida desferiu um chute frontal e adentrou a sala da torre norte. Foi seguido por Alex e Alexandre.Sabiá do Norte estava sentado de costas para eles, acariciando as teclas de um piano. Quatro homens cuidavam de sua segurança. As vestes douradas os marcavam como homens da guarda real. Alexandre iluminou o rosto dos homens, mas ficou claro que eles estavam ali por vontade própria. Sabiá tocou uma nota.Os quatro homens tinha revólveres nos quadris, diferente dos mantos brancos. Um deles acendeu um charuto com o dedo, deixando claro que era um elementar. Alexandre soube naquele instante que eram a representação dos quatro elementos.