Quem te fez, demônio que é? Se quem te fez também fez os anjos e toda a vida, então qual era a face dele quando te criou?
O conselho dos anciãos, composto por 28 entes poderosos e de ares determinados, estava reunido numa pequena clareira às margens de um murmurante rio. Seus semblantes se mostravam sérios e preocupados, e não sem motivo. Havia rumores fortes demais vindos do oeste.
E quem mais parecia ter conhecimentos sobre eles era um dos poucos anciãos com os quais os anjos mantinham contato.
Mehrarin era um nefelin, um sujeito grande e de aspecto poderoso, um raro nefelin demônio, cruzamento de uma anaquera com um ellos, o que pode ter diminuído a influência demoníaca, a ponto de fazê-lo admitido como um conselheiro ancião, apesar de sua idade madura. Ele tinha o corpo esguio e forte de um anaquera, bem como seus olhos negros e uma sombra que parecia estar sempre a envolvê-lo. No entanto, a boca não era tão larga e seu aspecto não era tão maligno quanto o de um anaquera puro.
Do pai herdara, além das orelhas longas, do corpo esguio e harmonioso e de uma agilidade invejável, a grande nobreza dessa raça de seres, provavelmente por ter sido criado pelos ellos, visto que os anaqueras não possuem tantos cuidados com sua prole. Também do pai herdara suas tatuagens, na face esquerda e no ombro direito, que escorriam para suas costas, formando um desenho simples e rustico de gavinhas de cor avermelhada, o que lhe conferia um aspecto ainda mais feroz.
A verdade é que as qualidades de seus pais, conjugadas, criaram um ser único, que lhe deu as condições preciosas para que, em pouco tempo, fosse reconhecido como um guerreiro a ser temido, mas muito mais que isso, a ser respeitado. Por causa disso, quase sempre suas habilidades e capacidades eram solicitadas, e normalmente nas situações mais perigosas. Provável ter sido por isso que os anjos o procuraram algum tempo atrás, momento em que lhe abriram a capacidade de enxergar o passado e o treinaram em artes secretas, até mesmo para os anciãos mais nobres e poderosos.
Quando sentiram, no dia anterior, uma forte perturbação, uma concussão pequena e sutil viajando pelo mundo, quase que somente pressentida, curiosos se perguntaram o que poderia ser. Nada encontrando que pudesse explicar o que sentiam de perturbador o chamaram, a ele e a Zeban e Aidanua, os outros dois com as mesmas capacidades de cingir o tempo e com o mesmo treino dele.
Eles se concentraram e observaram, e o que viram os deixou assustados.
- Os demônios estão nesse mundo – falou o anaquera Zeban, os olhos um tanto assombrados e amedrontados.
Mehrarin tocou seu braço, incutindo-lhe controle.
- Demônios dominaram as terras altas – falou, a voz tranquila e um tanto distante. – São visões um pouco desfocadas e embaralhadas, e muito assustadoras.
- O que viram? – perguntou Anu, um grande e feroz lobisomem guerreiro, que ocupava lugar no conselho.
Durante bom tempo eles passaram aos outros tudo que haviam visto e sentido. A cada palavra dos três consultores a preocupação tomava os conselheiros. Então rapidamente decidiram enviar espiões para as terras altas. Tinham urgência em saber o que se passava por lá.
Quase duas luas novas depois eles retornaram. Eles estavam mais magros e seus semblantes bem mais graves do que quando saíram.
Eles contaram sobre maravilhas que viram, como incríveis ocas e tabas feitas de pedras; sobre construções imensas e estranhas que procuravam atingir o céu; de imensas e vastas construções que chamavam de cidades, instaladas onde o ar faltava, que driblavam mascando folhas de uma planta que lhes facilitava a respiração; de longas, perigosas e diáfanas pontes que, como as teias das aranhas, se estendiam sobre precipícios profundos; de templos tintos de sangue construídos aos seus deuses, porque os tinham em grande quantidade; das vestimentas coloridas que gostavam de usar, talvez por causa do frio terrível que fazia nas terras altas, tal como os ellos, as maniras e outras criaturas gostavam de cobrir os corpos e como, pendurados no vazio, nos flancos das montanhas mais íngremes, cavavam jardins e imensas hortas em plataformas de incrível leveza.
E contaram sobre o que mais os deixou maravilhados, sobre uma cidade em especial, enorme, toda feita de pedras, de onde saiam as ordens. Ela ficava muito no alto, na borda de um lago gigantesco, onde viram um portentoso portal cavado num único e gigantesco bloco de pedra encravado no meio de uma praça. E, entre os pórticos desse portal, contaram ter visto um mundo tenebroso todo enevoado e cinza onde viviam seres que pareciam folhas largas e envelhecidas, cinzentas, que vagavam no ar pesado. Eram eles que tramavam contra a existência dos seres, desejosos de sugar até sua última seiva de vida. O portal era a passagem entre os mundos, do qual se serviam os invasores para ir e vir, afirmaram.
Contaram também que alguns desses seres nunca antes vistos, desse mundo cinza e perigoso, já estavam no mundo de cá, vagando como fumaça no ar, e que se proclamavam deuses. Foram eles que haviam enganado aquele povo das alturas e o dominado, e que era deles o desejo de a todos submeter. Deles vinha o temor que se espalhava pelas terras.
- Encontraram algum grupo dissidente? – perguntou o jurupari Aidanua, os olhos luminosos, esperançosos.
- Sim, encontramos alguns grupos. Através deles soubemos que há mais revoltosos lá em cima.
- Que bom...
- Eles também nos contaram que não existe só aquele portal. Contaram que existem muitos outros, que os anjos ocultam. Eles estão em encostas e vales, e não são fáceis de serem encontrados.
- Viram algum? – quis saber Zeban.
- Não... Os anjos ocultam esses portais, até mesmo dos homens das terras altas, que se dizem chamar thiahus.
Vendo que os espiões nada mais podiam acrescentar, Anu os despediu. Então se virou e encarou os três videntes.
- O que mais há?
- O mundo passou um ponto em que mudanças violentas estão em andamento, e não poderão mais ser impedidas – declarou Mehrarin, a voz grave e pensativa. – O velho se mostrara e entrara em agonia, para o que é novo surja.
Aidanua cismou pensativo por algum tempo.
- Vocês ouviram sobre a cidade das terras altas, sobre as montanhas – falou após algum segundos. – Ela está lá, com seu portal, com sua ligação com mundos demoníacos.
- É de lá que veio essa perturbação que sentimos há algumas luas atrás – confirmou Zeban. - Um baque surdo como esse que sentimos só pode dizer que um portal foi testado, e o único portal ainda aberto e disponível está nas mãos dos demônios, na cidade amaldiçoada.
Mehrarin olhou na direção do oeste, os olhos vazios, sondando.
- Creio que sim. A perturbação é pontual, aparentemente de um local único.
- Você também sentiu, não sentiu? – quis saber um velho conselheiro, olhando diretamente para Mehrarin.
- Senti! – confirmou. – Quase certo que o portal foi aberto. Os demônios passaram.
Um silêncio assustado caiu sobre o lugar, os entes encarando o vazio, tentando buscar todas as repercussões que aquilo poderia trazer.
- Então, a guerra não tarda - falou um dos outros, um sujeito humano forte com jeitão distraído.
– Acha que pode explodir a guerra? - perguntou outro diretamente para Meharin.
O nefelin ficou em silêncio, avaliando.
- Ela está a caminho – confirmou, os olhos estreitados.
- O que acha, quero dizer, da reação dos anjos?
Mehrarin ficou em silêncio por um momento, os olhos novamente vagos.
- Eles sentem o perigo - falou saindo do alheamento.
- Vão intervir? – perguntou um conselheiro, extremamente gordo e suarento.
- Não, ao que tudo indica não irão, por agora. Eles acreditam que o momento para intervir ainda não chegou – respondeu Aidanua.
- Por Tupã... – exasperou-se o mais jovem dos conselheiros, a cara enrugada ficando ainda mais carrancuda. – O que será que eles estão esperando? Será que esperam que a guerra exploda de uma vez e coloque em risco toda esta terra?
- Calma! – tentou tranquilizar Zeban, mostrando a face tranquila. – Tudo tem seu tempo. Eles sabem, mais do que nós, avaliar o momento correto para intervir.
- Tenho minhas dúvidas! – irritou-se um nefelin curupira. – Consegue ao menos ler a mente de algum deles?
- Se eu me denunciar, talvez, mas a janela para isso será mínima. Não seria vantajoso arriscar assim – avaliou Mehrarin.
- Eu vejo – falou Aidanua, - pessoas e humanos e nefelins dominados que, não demora, logo serão usados para ativar mais fortemente o portal. São poucos esses seres dominados, por enquanto, e são extremamente importantes para os planos deles.
- Está certo! – conformou-se um conselheiro. – Então, alguém tem alguma ideia do que podemos fazer? Vocês três, que conseguem contatar os anjos, o que dizem?
- Quanto a nós três, o que podemos, sem que nos arrisquemos a ficar expostos, é introduzir e fortalecer sentimentos adequados naqueles moradores – falou Zeban. - Há muitos descontentes e muitos apavorados com aqueles demônios que poderiam ser usados para replicar e semear.
- Isto pode dar certo, sim – concordou Mehrarin, após ter sondado mais uma vez o distante horizonte. – Podemos aumentar o medo, semear o pânico. Isso dá para fazer - anteviu com nítido prazer.
– Na verdade, será apenas algo mais, porque os anjos, mesmo que sutilmente, já estão fazendo isso.
- Os demônios poderão identificar a origem e ver o que estamos planejando?
- Poderão, mas duvido que irão desconfiar.
- Por que diz isso?
- Simplesmente porque eles já examinaram os que fugiram, e o que viram foi que os seres estavam fugindo por pura desconfiança e medo. Depois que sentiram isso perderam o interesse, e não se importaram mais com os fugitivos.
- Estranho... O que eles estão planejando para não se importarem com os que estavam em fuga?
- Não se importaram com eles porque conseguiram o que precisavam, que são os entes que já dominam e que lhes fornecerão a energia suficiente para dominar aqueles altos. O momento em que poderiam ser impedidos já se foi, o momento tão temido por eles já passou. Eles começaram a multiplicar a influência que possuem, e isso irá de modo contínuo, agora. Cada dia ficarão mais fortes, e com a energia que vão amealhar dos que capturaram vão dar mais poder ao portal e trazer para este mundo mais demônios, multiplicando assim a dominação dos seres, o que lhes dará mais poderes para dominar muitos mais, e assim por diante. O processo já foi iniciado, e para impedi-los agora só através de guerra.
- Mas não é possível que os anjos...
- Eles não vão atacá-los, ao menos não demonstram essa intenção, por hora – atalhou Mehrarin.
- Por isso se torna importante reforçar o medo, reforçar o pânico. Precisamos criar uma legião de revoltosos, uma forte resistência – falou uma pessoa pequena e magra, mas de olhos vívidos e inteligentes.
- E o tempo? – cismou um deles.
- Ah, o bom e velho tempo – sorriu Aidanua. – Teremos tempo sim. E esse tempo será crucial para que arregimentemos guerreiros e os treinemos. Temos que nos preparar para a guerra – declarou.
- Será longo esse tempo? – perguntou um conselheiro magro e espadaúdo.
- Os demônios ficaram por longo tempo com fome, e agora irão se chafurdar na energia que conquistarão – avaliou Mehrarin. - Eles irão exaurir toda a região em volta, e um dia se pegarão enfraquecidos. Tempo chegará que aprenderão a necessidade que têm deles, mas isso está mais à frente. Teremos algum tempo para alcançar os revoltosos e reforçar essa tendência neles.
- Compreendo a importância deles como uma força de equilíbrio. Mas não vejo importância além disso – cismou um jovem de olhar confuso.
- Está enganado – retornou Zeban. - Seria frágil o plano se ele se resumisse apenas a isso. Temos que nos lembrar de que poucos anjos conseguem chegar lá em cima, e que não temos nenhuma força organizada, nem de ataque, defesa ou mesmo de intimidação. Assim, eles serão fundamentais para a guerra que se aproxima, e não só como força dispersiva e dissuasiva, mas como desestabilizadora. E há ainda os outros portais, que não podem cair nas mãos dos demônios. Esses revoltosos devem descobrir os outros portais e os manter ocultos e fora do alcance dos demônios.
- Na verdade – falou Mehrarin – o ideal seria ensinar a eles algumas técnicas para identificar e proteger os portais, como fazemos aqui com nossos totens de poder, porque em algum momento os anjos não conseguirão mais protege-los. Eles ainda conseguirão mantê-los ocultos, mas não poderão protegê-los.
- E como sabe disso, que os anjos não irão conseguir protegê-los?
- Por que eles me avisaram sobre isso, como me aconselharam que seria bom que os revoltosos tivessem acesso a algumas técnicas ocultas.
- Então os anjos liberarão os portais para os revoltosos? – estranhou Aidanua, a preocupação franzindo a testa.
- Não, acredito que não. Eles falaram apenas que eles devem ter a informação.
- Você contata os anjos com frequência? – estranhou um dos jovens de olhar luminoso, sob os olhares surpresos dos outros.
- Sim, eu converso com eles, sempre que isso se mostra necessário.
- Tenha cuidado com eles, Meharin – avisou um nefelin saci. – Você poderá perder sua força e determinação, e ficar totalmente dependente deles.
- Isso não acontecerá – sorriu. – Esqueceu-se de quem sou filho?
Planos em planos, vidas em vidas, entrelaçados todos, como teias que capturam as frágeis gotas de água em frágeis tramas. Vidas frágeis em frágeis tramas, todas as nossas vidas, todas as nossas tramas.O sacerdote viu o exato momento em que o paraíso foi destruído.Num momento os deuses brancos aguardavam os seres em meio à luz e ao mundo verdejante coroado de gelo, e no momento seguinte, logo após o último thiahu transpor o portal, viu tudo explodir em cinza pesado; deuses em monstros escuros; mundo luminoso e colorido em penumbras de variados tons de cinza, e as imensas e coloridas cordilheiras em cordilheiras serrilhadas e mortas.Os gritos de espanto e horror escaparam das gargantas dos seres assim que viram, em frente à horrível e deformada p
O que foi que você libertou, demônio?Os anjos, bem mais que as pessoas e os outros seres, haviam sentido a concussão, que denunciava que o portal fora reaberto. Mas não era surpresa que os demônios finalmente conseguissem isso, como não era surpresa que uma nova e perigosa guerra estava em formação. Na verdade, ela era esperada e, até mesmo, ansiada por muitos, porque havia uma tensão no mundo que não cessava de crescer, como acontece com os assuntos mal resolvidos, como mal resolvidas foram as guerras anteriores. As condições para a deflagração dessa guerra já se mostravam, e o tempo se mostrava propício para a expulsão definitiva dos demônios, era opinião geral entre os anjos, como também de que grande sofrimento inundaria todo o mundo.Na planície abaixo Denatiel via a verdade em toda sua crueza
Há uma solidão presa no tempo, uma saudade indefinível. Os tempos se vão, se renovando, se recriando, recriando toda a vida, e nesse recriar se esquece do que construiu, num eterno repensar, recriando a solidão, aumentando a saudade, se refazendo em cada novo recomeço.Como rebanho, sob a direção do sacerdote e a influência de cinco voadores, multidões foram levadas para a frente do portal, à frente do qual se sentaram, sorridentes e em paz.O mundo que podiam ver lá dentro se movia lentamente, como carícia no ar. Uma neblina espessa escorria lá, e de vez em quando se revolvia mansamente ou se enrodilhava, constantemente mudando de forma. Apesar do aspecto triste havia mansidão ali. Não se ouvia qualquer som lá dentro, como se lá tivesse sido proibido de entrar.Feliz, o sacerdote postou-se renovado e vibrante em fre
Quando deixamos de acreditar nos sonhos prometidos, eles se transformam em pesadelos.Os grandes seres se moveram lentamente, se aproximando com grande majestade da massa que girava lentamente, parecendo hipnotizada e imperturbável nos giros contínuos. Lentamente os gigantes de sombras foram se posicionando num anel em torno da massa, magnânimos, em profunda concentração como monges em transe, exercendo sobre a massa um poder tal que a mantinha tranquila e pacífica.Tudo o que se via era idílico, parecendo destinado a durar para sempre. Mas era tudo uma ilusão, uma perigosa ilusão que vivia dentro de um turbilhão disfarçado. Subitamente, quando os corações estavam calmos e satisfeitos, tudo se perdeu assim que o último gigante se posicionou.Num passe de mágica as caudas desapareceram enquanto o cinza daqueles corpos adensava-se. Repenti
Por que a vida procura se servir da vida, sacrificando-a para que possa dela se beneficiar ainda mais? Por que a vida não reconhece a divindade da outra vida e passa a cuidar dela?Um sacerdote mais velho avançou e se postou de costas para Escuridão, os olhos vidrados e loucos para a multidão, seus movimentos lembrando um boneco de cordas.- Os deuses chegaram e vão cuidar de nós - anunciou numa voz poderosa e sem vida. - Cabe a nós conseguirmos mais seres para eles, porque nossa submis
O que se procura, quando se tenta dominar a alma do outro? O que se procura capturar, aprisionar? Por que causar dor e profunda tristeza? O que se procura na outra alma, que tanta falta sentimos na nossa?Apontando para as majestosas florestas aos pés das montanhas os grandes sombras ordenaram aos seus exércitos que as tomassem, e a todos os seres que nelas vivessem.Determinados e confiantes urdiram planos e tramaram contra os povos das florestas. Seguindo pelo norte os contornos de uma grande e monstruosa serpente, que despencava para as florestas para se tornar o maior rio da terra, eles desceram em cascatas ameaçadoras.Porém, os seres das florestas já sabiam que algo ignominioso acontecia sobre as montanhas desde a abertura do portal e que, em silêncio, tramava sua destruição.Desejosos de saber exatamente o que teciam contra seus povos enviaram espiões
Olhei nos olhos do demônio, depois que todos se foram. Com o coração apertado chorei, porque tive pena dele.Os dois poderosos exércitos se chocaram num impacto formidável, tanto na terra quanto no ar. A terra parecia movediça tão grande era o número de guerreiros, e o céu parecia tomado de fumaça de algum imenso incêndio nalgum lugar do sol.Com muito custo o exército dos danatuás foi prevalecendo, apesar da luta desesperada dos thianahus que, sem forças para suportarem a fúria indignada, acabaram se dispersando dentro da cidade, com o maior contingente se aglomerando em torno da porta do sol. No céu, batidos pelas harpias e pelas flechas, os condores e uns poucos mantas iam diminuindo em quantidade.De casa em casa, de ruela em ruela a luta foi penosamente se desenvolvendo, com a batalha mais encarniçada sendo travada em v
Nunca, realmente, se perde algo. Coisas o tempo destrói, como os corpos e o que foi construído. É a alma, que deveria ser nossa fonte de atenção.- Depressa – gritou Emaliel singrando o ar, - tome-a e proteja-a. Ela é mais importante do que pensa – gritou ainda, esquivando-se de um golpe extremamente poderoso de Trevas.Otempele mais que depressa a tomou do chão e a escondeu em suas roupas. Espantado observou que os inimigos se jogavam na batalha com fúria redobrada, buscando recuperar o que haviam perdido, tudo convergindo diretamente sobre si. A batalha tornara-se ainda mais dura e violenta.Trevas e Escuridão, desesperados pelo que acontecera, lançavam terra e céu sobre Otempele e seu exército. O pequeno anjo foi atirado longe, mas logo voltou à carga, impedindo Trevas de jogar-se sobre Otempele. A batalha estava desesperada e parecia ter ating