CAPÍTULO 40
Pouco antes do meio-dia chegaram a Torrões. Após as apresentações, eles foram conduzidos para uma espécie de sala de visitas. A mobília não era luxuosa, mas, era limpa e conservada. Jeane, a esposa de Natanael, aparentemente gostou da visita, as amigas da época de solteira pouco a visitavam. Melissa ficou calada. Após o nivelamento de informações entre Natal e Galeano, ela se posicionou.
— Pelo que entendi Verônica é uma golpista. Amante, e não filha de Vicente. Provavelmente eles mataram Manoel para ficarem com todos os bens dele.
— Talvez seja como a senhora fala, mas, para isto temos que ter provas.
— E todos os documentos que Galeano me mostrou?
— Todas as provas apontam para Vicente, exceção para a gravação que Galo gravou em Santo Antonio com a mãe dela — explicou Natanael.
— Só tem uma coisa que não entendo. Ela é natural de Santo Antonio, assim como eu, mas não tenho lembranças de tê-
CAPÍTULO 41 O tempo entre duas pessoas não existe. Uma porta entreaberta da esperança de quem sabe sobre os assuntos emblemáticos que conspiram a favor ou contra qualquer tema. A ausência física ultrapassa a racionalidade de um ser humano já cansado de sofrer após inúmeras derrotas. Cada queda não a faz querer lutar, apenas definhando com as sucessivas manobras daquilo que se chama destino. Melissa não poderia imaginar que aquela viagem mudaria novamente a rota de sua vida. Sabia que era preciso retirar cada pedra do meio do caminho, naquele momento até as rosas tinham espinhos. Acabara a luta de Severino, fora vencido pelo Mal de Alzheimer. Pouco antes de ela sair de Santo Antonio recebera a noticia que Severino havia perdido a luta para a doença. Não lembrava com nitidez o que acontecera na sequencia. Só sabia que estava ali, saindo do cemitério de Silvestre, deixand
CAPÍTULO 42 Havia se passado três dias. Aos poucos normalizava a rotina. Sentia-se vazia. Os diálogos entre eles eram amistosos, técnicos. Em nenhum momento tiveram contato físico. Era como se estivessem se conhecendo agora. Estavam sentados na calçada. O silêncio reinava absoluto, fato frequente ultimamente entre eles. A lua estava no quarto crescente. Ambos olhavam na mesma direção. A beleza da lua era ímpar, ela tinha um poder extraordinário sobre eles. — Qual efeito a lua tem sobre a terra? — perguntou Melissa rasgando a barreira do silêncio. Ele sentiu-se feliz por aquele momento. Era uma oportunidade única para tentar uma reaproximação. Virou-se para ela e encontrou seus brilhantes olhos sob o efeito da luz da lua. — Sei pouca coisa sobre os efeitos da lua, mas sei o efeito que ela faz quando estamos ao lado da pessoa amada. Efeito sentido pelos poetas e compositores. — Poetas fingem muito. Não acredito nu
CAPÍTULO 43 — Tome cuidado, não se exponha. Eles são perigosos. — Fique tranquila, serei cauteloso — falou Galeano abraçando o corpo feminino. — Você volta antes da noite de lua cheia? — Volto — respondeu Galeano. — Promete não cair na tentação do charme daquela pomba do povoado? — perguntou Melissa se referindo a Márcia. — Prometo. Beijaram-se pela última vez antes que ele fosse embora, deixando a mulher apreensiva pelo ciúme. Foram dias apaziguadores, mesmo assim Melissa não se sentia tranquila. Temia que algo acontecesse ao amado. O dia estava radiante. Aos poucos se recuperava da perda de Severino. Não podia perder tempo, tinha uma semana inteira pela frente até a noite de lua cheia, data marcada para visitarem a igreja de pedra. Precisava acreditar na palavra de Galeano se quisesse ter uma semana tranquila. Ao longe avistou Carlos de mãos entrelaçadas com uma mulher, ouvira boatos qu
CAPÍTULO 44 Quem passa pelas ruas de Silvestre no domingo pela manhã nem desconfia que seja o dia de feira livre. As pessoas da localidade já se acostumaram com o ritmo do povoado. Parece um dia normal, por volta das dez horas o comércio fervilha de gente tal qual um formigueiro quando é provocado. Bancas são erguidas do nada. Vendedores ambulantes fazendo suas propagandas verbais. Bugigangas são encontradas em qualquer lugar. Bares e lanchonetes não comportam o número excessivo de clientes. Desde cedo Galeano buscava sua presa. Precisava encontrá-la urgentemente. O rumo do caso dependia exclusivamente daquele encontro, fruto de um acaso provocado. Estava quase desistindo quando a viu entrar no supermercado. De posse de uma cesta observava a variedade de produtos nas prateleiras. Encaminhou-se para a sessão de produtos de higiene pessoal e cosméticos. Se alguém quiser encontrar uma mulher num supermercado com certeza vai encontrá-la naquela al
CAPÍTULO 45 — Eu era jovem e ingênua. Estava apaixonada por meu noivo. A gente se conhecia desde crianças. Éramos felizes. Ele foi meu primeiro namorado e eu a primeira namorada dele. Juramos amor eterno. Tudo estava perfeito demais, após o noivado logo marcamos a data do casamento. Estava realizando o sonho de menina. Casar vestida de branco com véu e grinalda. A igreja estava lotada e ele não aparecia. Geralmente quem chega atrasada é a noiva. Quando entrei, notei que ele não se encontrava perto do altar. Mesmo assim fiquei esperançosa que a qualquer momento ele surgisse, pedisse desculpa pelo atraso e tudo estaria bem. Ele não apareceu, mandou um recado por um primo, que estava desistindo do matrimônio — falava Verônica sentada na sala de sua casa com Galeano e Natanael no papel de confidentes. A luz vermelha piscando indicava que tudo estava sendo gravado. Ela enxugou os olhos antes de continuar o relato. — Quase enlouqueci. Numa tentativa
CAPÍTULO 46 A paz finalmente reinava. A rotina não mudara, mas, sentia-se alegre e interiormente feliz. Faltavam apenas três noites para a lua ser cheia. Se Galeano cumprisse sua promessa estaria com ela neste período. Arrumou a casa como há muito não fazia. Jogou fora antigas lembranças. Organizou o escritório. Melissa queimou todos os documentos, cartas, fotos e coisas pessoais que pertenciam a Manoel. Fez do casebre, onde Severino morava, um armazém para depositar sementes, legumes e a ração dos animais. Mesmo sabendo que perderia a fazenda para o Banco, não poderia ficar parada. Trabalhava arduamente para ocupar a mente. Necessitava ser útil.
CAPÍTULO 47 — Após a morte de Manoel fiquei desesperada. Novamente voltaria para a sarjeta, sem teto para morar e com um filho pequeno, tarefa bem mais difícil para uma mulher sem marido e sem emprego. — Quem matou Manoel? — perguntou Natanael. — Isto eu não sei. Juro que realmente não sei. — Onde você estava na noite que ele caiu do penhasco? — Aqui, nesta casa. Naquele final de semana ele não apareceu. Não estranhei sua ausência, já que ele tinha duas famílias para dar atenção. — Não poderia ter sido Vicente, por vingança? — Ele sempre jurou que nada teve com o episódio. — Por que você permitiu que Vicente voltasse para a sua vida? — Fiquei desesperada com a possibilidade de ficar novamente na rua. Precisava fazer alguma coisa, principalmente para o meu filho. Fiquei aguardando que a verdadeira viúva aparecesse munida de uma ordem de despejo. Caso isso acontecesse não contestari
CAPÍTULO 48 Galeano estava saindo da pousada quando foi abordado por Teresa. — Deixaram hoje cedo para o senhor — ela lhe passou um papel dobrado. — Obrigado. Já na rua, Galeano desdobrou o papel e leu a seguinte mensagem: Amanhã a noite haverá passagem de gado entre os dois estados. Acesso: povoado de Serra das Almas. Assinado: Verônica. Só então Galeano acordara para a realidade. Aquele território dividia os estados de Pernambuco e Paraíba e Serra das Almas era um vilarejo pequeno e sem proteção policial, além de ficar próxima da fronteira. A notícia mudou totalmente seu rumo. Precisava entrar em contato urgente com Natanael. — Delegacia de Polícia de Tavares, Sandra, bom dia — ouviu a voz meiga da atendente do outro lado. — Poderia falar com o policial Natanael? — Quem deseja?