CAPÍTULO 43
— Tome cuidado, não se exponha. Eles são perigosos.
— Fique tranquila, serei cauteloso — falou Galeano abraçando o corpo feminino.
— Você volta antes da noite de lua cheia?
— Volto — respondeu Galeano.
— Promete não cair na tentação do charme daquela pomba do povoado? — perguntou Melissa se referindo a Márcia.
— Prometo.
Beijaram-se pela última vez antes que ele fosse embora, deixando a mulher apreensiva pelo ciúme. Foram dias apaziguadores, mesmo assim Melissa não se sentia tranquila. Temia que algo acontecesse ao amado. O dia estava radiante. Aos poucos se recuperava da perda de Severino. Não podia perder tempo, tinha uma semana inteira pela frente até a noite de lua cheia, data marcada para visitarem a igreja de pedra. Precisava acreditar na palavra de Galeano se quisesse ter uma semana tranquila.
Ao longe avistou Carlos de mãos entrelaçadas com uma mulher, ouvira boatos qu
CAPÍTULO 44 Quem passa pelas ruas de Silvestre no domingo pela manhã nem desconfia que seja o dia de feira livre. As pessoas da localidade já se acostumaram com o ritmo do povoado. Parece um dia normal, por volta das dez horas o comércio fervilha de gente tal qual um formigueiro quando é provocado. Bancas são erguidas do nada. Vendedores ambulantes fazendo suas propagandas verbais. Bugigangas são encontradas em qualquer lugar. Bares e lanchonetes não comportam o número excessivo de clientes. Desde cedo Galeano buscava sua presa. Precisava encontrá-la urgentemente. O rumo do caso dependia exclusivamente daquele encontro, fruto de um acaso provocado. Estava quase desistindo quando a viu entrar no supermercado. De posse de uma cesta observava a variedade de produtos nas prateleiras. Encaminhou-se para a sessão de produtos de higiene pessoal e cosméticos. Se alguém quiser encontrar uma mulher num supermercado com certeza vai encontrá-la naquela al
CAPÍTULO 45 — Eu era jovem e ingênua. Estava apaixonada por meu noivo. A gente se conhecia desde crianças. Éramos felizes. Ele foi meu primeiro namorado e eu a primeira namorada dele. Juramos amor eterno. Tudo estava perfeito demais, após o noivado logo marcamos a data do casamento. Estava realizando o sonho de menina. Casar vestida de branco com véu e grinalda. A igreja estava lotada e ele não aparecia. Geralmente quem chega atrasada é a noiva. Quando entrei, notei que ele não se encontrava perto do altar. Mesmo assim fiquei esperançosa que a qualquer momento ele surgisse, pedisse desculpa pelo atraso e tudo estaria bem. Ele não apareceu, mandou um recado por um primo, que estava desistindo do matrimônio — falava Verônica sentada na sala de sua casa com Galeano e Natanael no papel de confidentes. A luz vermelha piscando indicava que tudo estava sendo gravado. Ela enxugou os olhos antes de continuar o relato. — Quase enlouqueci. Numa tentativa
CAPÍTULO 46 A paz finalmente reinava. A rotina não mudara, mas, sentia-se alegre e interiormente feliz. Faltavam apenas três noites para a lua ser cheia. Se Galeano cumprisse sua promessa estaria com ela neste período. Arrumou a casa como há muito não fazia. Jogou fora antigas lembranças. Organizou o escritório. Melissa queimou todos os documentos, cartas, fotos e coisas pessoais que pertenciam a Manoel. Fez do casebre, onde Severino morava, um armazém para depositar sementes, legumes e a ração dos animais. Mesmo sabendo que perderia a fazenda para o Banco, não poderia ficar parada. Trabalhava arduamente para ocupar a mente. Necessitava ser útil.
CAPÍTULO 47 — Após a morte de Manoel fiquei desesperada. Novamente voltaria para a sarjeta, sem teto para morar e com um filho pequeno, tarefa bem mais difícil para uma mulher sem marido e sem emprego. — Quem matou Manoel? — perguntou Natanael. — Isto eu não sei. Juro que realmente não sei. — Onde você estava na noite que ele caiu do penhasco? — Aqui, nesta casa. Naquele final de semana ele não apareceu. Não estranhei sua ausência, já que ele tinha duas famílias para dar atenção. — Não poderia ter sido Vicente, por vingança? — Ele sempre jurou que nada teve com o episódio. — Por que você permitiu que Vicente voltasse para a sua vida? — Fiquei desesperada com a possibilidade de ficar novamente na rua. Precisava fazer alguma coisa, principalmente para o meu filho. Fiquei aguardando que a verdadeira viúva aparecesse munida de uma ordem de despejo. Caso isso acontecesse não contestari
CAPÍTULO 48 Galeano estava saindo da pousada quando foi abordado por Teresa. — Deixaram hoje cedo para o senhor — ela lhe passou um papel dobrado. — Obrigado. Já na rua, Galeano desdobrou o papel e leu a seguinte mensagem: Amanhã a noite haverá passagem de gado entre os dois estados. Acesso: povoado de Serra das Almas. Assinado: Verônica. Só então Galeano acordara para a realidade. Aquele território dividia os estados de Pernambuco e Paraíba e Serra das Almas era um vilarejo pequeno e sem proteção policial, além de ficar próxima da fronteira. A notícia mudou totalmente seu rumo. Precisava entrar em contato urgente com Natanael. — Delegacia de Polícia de Tavares, Sandra, bom dia — ouviu a voz meiga da atendente do outro lado. — Poderia falar com o policial Natanael? — Quem deseja?
CAPÍTULO 49 — Provavelmente o gado foi roubado de uma fazenda no município de Santo Antonio. Seguindo por uma estreita estrada de terra, passando por Serra das Almas, onde se encontra as GTAs — Guias de Trânsito Animal e as Notas Fiscais falsas em poder de um Técnico da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado, comprovando que aquele rebanho está sadio e apto para o comércio. Este recebe a quantia negociada pelo serviço e libera o rebanho para entrar no estado vizinho — explicava Natanael a Galeano enquanto o veículo em alta velocidade tentava encurtar a distância que os separavam dos malfeitores. — Se os cálculos estiverem exatos, chegaremos a Serra das Almas antes da boiada. Lá assumiremos o lugar do Técnico do Estado. O que acha do plano? — Perfeito demais para dar certo — resmungou Galeano. — Você está muito pessimista. — Realista meu amigo. Realista. *** A lua grávida, quase cheia, pe
CAPÍTULO 50 Queria continuar dormindo, mas, precisava cumprir a promessa que fizera a Melissa. Aquela noite seria o ápice da lua cheia. Olhou para o pulso. O relógio marcava dez horas. Saltou da cama e correu direto para o banheiro. Deixou a água fria escorrer pelo corpo. Sentia os músculos relaxando. Enrolou-se na toalha e quando voltava para o quarto encontrou Márcia deitada de bruços, sem roupa. — O que faz aqui? — Matar a saudade. Já estou totalmente curada. — Você corre perigo. — Ao seu lado estou protegida. Galeano tentava desviar o olhar para outra direção. Sem êxito. Estava desistindo de lutar quando foi salvo por uma batida na porta. — Galo, sou eu Natal. Abra a porta. Galeano estranhou receber a visita do amigo. Ele não podia ver Márcia. — Fique trancada no banheiro — falou Galeano quase cochichando para a moça. Quando abriu a porta fez um sinal para o amigo que precisav
CAPÍTULO 51 A noite ameaçava invadir o dia. Sentia-se triste. A promessa seria quebrada. Confiara além do limite num homem que nunca prometera ficar naquele pedaço de chão. Nem ela sabia o que iria acontecer quando o caso fosse encerrado. Sofria por não ter contado toda a verdade. Levaria para o túmulo o segredo. Jamais teria coragem de contar. Melissa meditava com os próprios botões ou com as ervas daninhas que teimavam em resistir à ação do tempo. O foco estava em outra direção. Olhou para o imenso céu azul sem a presença das nuvens. Era como se um buraco azulado estivesse sob a cabeça. Estava desanimada. Iria passar mais uma noite sozinha, apenas na companhia de pérola, que não entendia os sentimentos humanos. Não era uma noite qualquer, era a noite marcada para assistirem o show da lua cheia. Porém, as coisas não aconteciam como ela desejava. Ouviu pérola sair correndo e latindo. Alguém estava chegando. Não sabia se era a mesma moto que el