CAPÍTULO 45
— Eu era jovem e ingênua. Estava apaixonada por meu noivo. A gente se conhecia desde crianças. Éramos felizes. Ele foi meu primeiro namorado e eu a primeira namorada dele. Juramos amor eterno. Tudo estava perfeito demais, após o noivado logo marcamos a data do casamento. Estava realizando o sonho de menina. Casar vestida de branco com véu e grinalda. A igreja estava lotada e ele não aparecia. Geralmente quem chega atrasada é a noiva. Quando entrei, notei que ele não se encontrava perto do altar. Mesmo assim fiquei esperançosa que a qualquer momento ele surgisse, pedisse desculpa pelo atraso e tudo estaria bem. Ele não apareceu, mandou um recado por um primo, que estava desistindo do matrimônio — falava Verônica sentada na sala de sua casa com Galeano e Natanael no papel de confidentes. A luz vermelha piscando indicava que tudo estava sendo gravado. Ela enxugou os olhos antes de continuar o relato. — Quase enlouqueci. Numa tentativa
CAPÍTULO 46 A paz finalmente reinava. A rotina não mudara, mas, sentia-se alegre e interiormente feliz. Faltavam apenas três noites para a lua ser cheia. Se Galeano cumprisse sua promessa estaria com ela neste período. Arrumou a casa como há muito não fazia. Jogou fora antigas lembranças. Organizou o escritório. Melissa queimou todos os documentos, cartas, fotos e coisas pessoais que pertenciam a Manoel. Fez do casebre, onde Severino morava, um armazém para depositar sementes, legumes e a ração dos animais. Mesmo sabendo que perderia a fazenda para o Banco, não poderia ficar parada. Trabalhava arduamente para ocupar a mente. Necessitava ser útil.
CAPÍTULO 47 — Após a morte de Manoel fiquei desesperada. Novamente voltaria para a sarjeta, sem teto para morar e com um filho pequeno, tarefa bem mais difícil para uma mulher sem marido e sem emprego. — Quem matou Manoel? — perguntou Natanael. — Isto eu não sei. Juro que realmente não sei. — Onde você estava na noite que ele caiu do penhasco? — Aqui, nesta casa. Naquele final de semana ele não apareceu. Não estranhei sua ausência, já que ele tinha duas famílias para dar atenção. — Não poderia ter sido Vicente, por vingança? — Ele sempre jurou que nada teve com o episódio. — Por que você permitiu que Vicente voltasse para a sua vida? — Fiquei desesperada com a possibilidade de ficar novamente na rua. Precisava fazer alguma coisa, principalmente para o meu filho. Fiquei aguardando que a verdadeira viúva aparecesse munida de uma ordem de despejo. Caso isso acontecesse não contestari
CAPÍTULO 48 Galeano estava saindo da pousada quando foi abordado por Teresa. — Deixaram hoje cedo para o senhor — ela lhe passou um papel dobrado. — Obrigado. Já na rua, Galeano desdobrou o papel e leu a seguinte mensagem: Amanhã a noite haverá passagem de gado entre os dois estados. Acesso: povoado de Serra das Almas. Assinado: Verônica. Só então Galeano acordara para a realidade. Aquele território dividia os estados de Pernambuco e Paraíba e Serra das Almas era um vilarejo pequeno e sem proteção policial, além de ficar próxima da fronteira. A notícia mudou totalmente seu rumo. Precisava entrar em contato urgente com Natanael. — Delegacia de Polícia de Tavares, Sandra, bom dia — ouviu a voz meiga da atendente do outro lado. — Poderia falar com o policial Natanael? — Quem deseja?
CAPÍTULO 49 — Provavelmente o gado foi roubado de uma fazenda no município de Santo Antonio. Seguindo por uma estreita estrada de terra, passando por Serra das Almas, onde se encontra as GTAs — Guias de Trânsito Animal e as Notas Fiscais falsas em poder de um Técnico da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado, comprovando que aquele rebanho está sadio e apto para o comércio. Este recebe a quantia negociada pelo serviço e libera o rebanho para entrar no estado vizinho — explicava Natanael a Galeano enquanto o veículo em alta velocidade tentava encurtar a distância que os separavam dos malfeitores. — Se os cálculos estiverem exatos, chegaremos a Serra das Almas antes da boiada. Lá assumiremos o lugar do Técnico do Estado. O que acha do plano? — Perfeito demais para dar certo — resmungou Galeano. — Você está muito pessimista. — Realista meu amigo. Realista. *** A lua grávida, quase cheia, pe
CAPÍTULO 50 Queria continuar dormindo, mas, precisava cumprir a promessa que fizera a Melissa. Aquela noite seria o ápice da lua cheia. Olhou para o pulso. O relógio marcava dez horas. Saltou da cama e correu direto para o banheiro. Deixou a água fria escorrer pelo corpo. Sentia os músculos relaxando. Enrolou-se na toalha e quando voltava para o quarto encontrou Márcia deitada de bruços, sem roupa. — O que faz aqui? — Matar a saudade. Já estou totalmente curada. — Você corre perigo. — Ao seu lado estou protegida. Galeano tentava desviar o olhar para outra direção. Sem êxito. Estava desistindo de lutar quando foi salvo por uma batida na porta. — Galo, sou eu Natal. Abra a porta. Galeano estranhou receber a visita do amigo. Ele não podia ver Márcia. — Fique trancada no banheiro — falou Galeano quase cochichando para a moça. Quando abriu a porta fez um sinal para o amigo que precisav
CAPÍTULO 51 A noite ameaçava invadir o dia. Sentia-se triste. A promessa seria quebrada. Confiara além do limite num homem que nunca prometera ficar naquele pedaço de chão. Nem ela sabia o que iria acontecer quando o caso fosse encerrado. Sofria por não ter contado toda a verdade. Levaria para o túmulo o segredo. Jamais teria coragem de contar. Melissa meditava com os próprios botões ou com as ervas daninhas que teimavam em resistir à ação do tempo. O foco estava em outra direção. Olhou para o imenso céu azul sem a presença das nuvens. Era como se um buraco azulado estivesse sob a cabeça. Estava desanimada. Iria passar mais uma noite sozinha, apenas na companhia de pérola, que não entendia os sentimentos humanos. Não era uma noite qualquer, era a noite marcada para assistirem o show da lua cheia. Porém, as coisas não aconteciam como ela desejava. Ouviu pérola sair correndo e latindo. Alguém estava chegando. Não sabia se era a mesma moto que el
CAPÍTULO 52 Uma semana havia se passado. Galeano e Melissa viviam como se estivessem em lua de mel. Carlos e a esposa haviam se tornado um bom exemplo de boa vizinhança. Nos finais de tarde ele aparecia para conversar com Galeano. Comportavam-se como se ambos se conhecessem há muito tempo. Tudo estava perfeito demais para ser verdade. Ele ficava alerta com possíveis obstáculos. Naqueles dias não voltara ao povoado, ficara por tempo integral na fazenda. Acreditava que tudo estava correndo bem, caso contrário Natanael sabia onde encontrá-lo. Porém, no final daquele dia a rotina foi alterada com a chegada do amigo policial. Era notícia ruim, disto Galeano não tinha dúvidas. — Que ventos o trouxeram aqui meu amigo? Bons ou maus? — Espero que esclarecedores — falou Natal nada amistoso. Foi convidado a entrar e tomar assento à mesa de jantar. Ao final da refeição Galeano quis saber o real motivo da visita in
CAPÍTULO 53 O sol ainda não havia nascido quando Natanael se despediu da anfitriã, se colocando à disposição para qualquer eventualidade. Antes de subir na moto se voltou para o amigo — Passa em minha casa antes de viajar para a capital? — Tem a minha palavra. No máximo em uma semana estarei partindo para prestar contas ao chefe. — Você está bem? — Estou. — Não conseguiu aquilo que desejava? Não cumpriu sua missão, de salvar sua amada da condenação? — Você não achou Melissa excessivamente comedida? — Analisando bem, ela quase não comentou sobre o caso. — Meu amigo, talvez ela saiba mais coisas que supomos. — Tome cuidado para não cometer injustiças. — Não se preocupe. Qualquer novidade eu entro em contato. No minuto seguinte a moto levava embora o amigo, deixando-o realizado com o re