CAPÍTULO 34
Tentava juntar todas as informações do quebra-cabeça. Analisava mentalmente cada palavra dita por Márcia na noite anterior. Depois que ela saiu da casa de Verônica, eles foram direto para a pousada. Daquela vez não aconteceu como das vezes anteriores. Ela soluçava como uma criança assustada.
— Verônica não é filha de Vicente, eles são amantes. A certidão de nascimento é falsa, assim como os demais documentos das propriedades e procurações — disse-lhe Márcia.
— Como você sabe dessas coisas?
— Eu conheço Verônica desde o primário. Estudamos na mesma sala e lembro perfeitamente quando o pai dela morreu. Até faltou aula neste dia para ir ao velório do pai em Santo Antonio.
— Ela nasceu em Santo Antonio?
— Sim, mas ainda era pequena quando veio morar aqui no povoado.
— E com quem ela morava aqui em Silvestre?
— Com a avó materna — Márcia tossiu várias vezes repetidamente antes de p
CAPÍTULO 35 Há mais de meia hora que estava ali sentado. Esperava Teresa, única pessoa autorizada a entrar no quarto de Márcia. Para a sorte dela o atirador tinha a mira ruim. As balas lhe feriram o ombro e o braço esquerdos. Dois policiais monitoravam o quarto. Para o delegado, Márcia era peça fundamental na investigação. Galeano soube, através de um colega seu, que estava na equipe policial, que foi encontrado em poder de Márcia um bilhete com as iniciais de Vicente Nogueira. Tanto o bilhete como a arma foram encaminhados para a perícia. O resultado seria responsável pelo rumo das investigações. Ele tentava se concentrar, mas era quase impossível isso acontecer quando alguém se encontra no corredor de um hospital. Assim que saísse dali, deixaria Teresa na companhia de Padre Lucas e faria uma visita a Vicente, detido na cadeia pública de Torrões. *** Após deixar Teresa na Casa Paroquial ele se encaminhou à delegacia. Era mesmo
CAPÍTULO 36 O objetivo de todo químico é entender exatamente como as transformações ocorrem, conhecer os princípios básicos que regem as transformações para poder prever quando uma transformação é possível ou não e quando sua reprodução em grande escala é viável. Ainda não conhecera um químico capaz de desvendar a fórmula do amor. Galeano tentara inúmeras vezes ocupar a mente com a investigação, mas, perdera a luta para as questões do coração. O peito ardia, confundindo com sintomas de uma gastrite nervosa. A pulsação ludibriava suas reais condições físicas e psicológicas. O seu amor por Melissa se encaixava perfeitamente nos conceitos de matéria e corpo, era como se os seus sentimentos tivessem criado corpo e matéria ocupando todas as esferas possíveis de sua vida. Não controlava mais a racionalidade. Dia após dia se via obrigado a inventar obstáculos que o impedisse de cometer uma loucura indo à fazenda Cedro. *** Já passavam
CAPÍTULO 37 — Onde a senhora estava no exato momento em que o seu pai praticava a tentativa de homicídio contra a senhorita Márcia? — perguntou o delegado. — Em casa, dormindo — respondeu Verônica. — Pode provar o álibi? — questionou o delegado. — O álibi da senhora Verônica foi confirmado pela empregada que naquela noite dormia com ela — informou Natanael que acompanhava o interrogatório. O delegado Cláudio pigarreou. Sorveu mais um pouco de café. Olhou diretamente nos olhos da moça e falou. — A senhora sabe qual motivo levou seu pai a cometer tal crime? — Não tenho ideia. Que eu saiba, ele nunca teve rixa com Márcia. Bem, pelo menos é isso que sei. Após inúmeras perguntas sem respostas satisfatórias Verônica foi liberada, mas proibida de sair do povoado sem avisar a polícia, até que o caso fosse definitivamente solucionado. — O que achou de tudo isso Natanael? — perguntou o dele
CAPÍTULO 38 O delegado Cláudio estava no povoado. Segundo o bilhete que Teresa lhe entregara no início da noite. Natal pedia que ele averiguasse. Não havia nenhum veículo estacionado nos fundos da igreja. Galeano circulou por várias ruas e nem sinal do referido carro citado no bilhete. Para não levantar suspeitas — já alguém poderia está observando seus movimentos —, manteve a rotina e só subiu para o quarto após o jantar. Se o delegado resolvesse voltar estaria atento. Não entrou no quarto passou para a janela no final do corredor. Manteve-se oculto pelas sombras. Era quase meia noite quando voltava para a Pousada. Talvez Natal tenha se enganado. Frustrado pelo fracasso caminhava lentamente. O vento gélido varria a poeira da rua de leste a oeste. O silêncio era sinônimo que a população estava recolhida nas residências. Nuvens negras se aproximavam rapidamente. Um prenúncio de chuva não o fez aumentar a velocidade dos passos. Estava pr
CAPÍTULO 39 Arrumara a bagagem. Na manhã seguinte partiria para visitar o sogro em Santo Antonio. Na sua ausência o rapaz Pedro ficaria cuidando da fazenda. Fora liberado pelo patrão para tal serviço. Melissa não tinha uma amizade sólida, mas conquistara a simpatia de Genaro. Nunca vendera o leite para outro, assim como também nunca fora cliente de outra mercearia. Havia uma reciprocidade entre eles. Recebera o recado do padre Lucas lhe informando que mandaria um veículo lhe apanhar na manhã do domingo. Não conseguia ocultar a ansiedade. Há muito que não visitava sua terra natal. A mente a jogou nas recordações de infância. Era feliz e não sabia. Geralmente só se dar valor quando se perde aquilo que temos. Foi despertada pelo ronco do motor de uma moto. Estranhou receber visita, se estava marcada sua partida para o dia seguinte. Apressou-se em atender ao recém-chegado. Não escondeu a surpresa ao ver Galeano na porteira. “O que ele
CAPÍTULO 40 Pouco antes do meio-dia chegaram a Torrões. Após as apresentações, eles foram conduzidos para uma espécie de sala de visitas. A mobília não era luxuosa, mas, era limpa e conservada. Jeane, a esposa de Natanael, aparentemente gostou da visita, as amigas da época de solteira pouco a visitavam. Melissa ficou calada. Após o nivelamento de informações entre Natal e Galeano, ela se posicionou. — Pelo que entendi Verônica é uma golpista. Amante, e não filha de Vicente. Provavelmente eles mataram Manoel para ficarem com todos os bens dele. — Talvez seja como a senhora fala, mas, para isto temos que ter provas. — E todos os documentos que Galeano me mostrou? — Todas as provas apontam para Vicente, exceção para a gravação que Galo gravou em Santo Antonio com a mãe dela — explicou Natanael. — Só tem uma coisa que não entendo. Ela é natural de Santo Antonio, assim como eu, mas não tenho lembranças de tê-
CAPÍTULO 41 O tempo entre duas pessoas não existe. Uma porta entreaberta da esperança de quem sabe sobre os assuntos emblemáticos que conspiram a favor ou contra qualquer tema. A ausência física ultrapassa a racionalidade de um ser humano já cansado de sofrer após inúmeras derrotas. Cada queda não a faz querer lutar, apenas definhando com as sucessivas manobras daquilo que se chama destino. Melissa não poderia imaginar que aquela viagem mudaria novamente a rota de sua vida. Sabia que era preciso retirar cada pedra do meio do caminho, naquele momento até as rosas tinham espinhos. Acabara a luta de Severino, fora vencido pelo Mal de Alzheimer. Pouco antes de ela sair de Santo Antonio recebera a noticia que Severino havia perdido a luta para a doença. Não lembrava com nitidez o que acontecera na sequencia. Só sabia que estava ali, saindo do cemitério de Silvestre, deixand
CAPÍTULO 42 Havia se passado três dias. Aos poucos normalizava a rotina. Sentia-se vazia. Os diálogos entre eles eram amistosos, técnicos. Em nenhum momento tiveram contato físico. Era como se estivessem se conhecendo agora. Estavam sentados na calçada. O silêncio reinava absoluto, fato frequente ultimamente entre eles. A lua estava no quarto crescente. Ambos olhavam na mesma direção. A beleza da lua era ímpar, ela tinha um poder extraordinário sobre eles. — Qual efeito a lua tem sobre a terra? — perguntou Melissa rasgando a barreira do silêncio. Ele sentiu-se feliz por aquele momento. Era uma oportunidade única para tentar uma reaproximação. Virou-se para ela e encontrou seus brilhantes olhos sob o efeito da luz da lua. — Sei pouca coisa sobre os efeitos da lua, mas sei o efeito que ela faz quando estamos ao lado da pessoa amada. Efeito sentido pelos poetas e compositores. — Poetas fingem muito. Não acredito nu